Forced eXistence escreveu:
(...)
A fé mais autêntica no meu modo de entender, é crer sem avaliar consequências; sem reconhecer que pode haver verdades antagônicas; é pensar somente em sí e em suas idéias sem comparar outras realidades que possivelmente possam existir e fazer um juízo suspendendo ao menos em parte seu juízo próprio de valor. A fé mais verdadeira ou autêntica não pode aceitar pensamentos opostos por excelência. A fé é a que se aproxima do crer ou acreditar sem nenhum exercício reflexivo. É assim o meu modo de entender e aceito sugestões ou críticas sobre este conceito do crer, acreditar e ter fé.
(...)
Caro Forced eXistence, você está se baseando em um conceito de fé usado pelos teístas e ateus mais crentes, algo que é em parte falso e contrario ao estudo e pratica de qualquer coisa, principalmente da religião.
Se a pessoa não questiona, como ela pode praticar sua religião e acreditar no que dizem seus livros sagrados?
Se ela não questiona, está fadada a ter a mais cega crença, não na religião em si, ou no que dizem os livros "sagrados", mas sim na sua própria distorção sobre o que eles "acham" que os textos dizem, ou pior, vai acreditar cegamente na sua própria interpretação das distorções do pastor da igreja X, sobre o que ele "acha" que dizem os livros sagrados.
Assim a pessoa se afasta da religião que tem entre seus mandamentos, compreender as escrituras e praticar o que é ensinado. (e entre as praticas, está o desapego e o não ter paixões, isso inclui as paixões ideológicas, o apego a crenças)
A bíblia, por exemplo, não é um livro e sim uma coleção de livros de muitos autores que, por vezes, contradizem uns aos outros, uma coleção de livros que inclui contos antes transmitidos via tradição oral e que não podem ser interpretados literalmente, do contrario, perde-se o ensinamento contido em tais contos.
A religião também não se limita ao cristianismo, religiões como o budismo e hinduísmo incentivam o ceticismo e alertam sobre o Maya/Mara, a ilusão que cobre o mundo. De fato isso remete ao diabo (o pai da mentira) no cristianismo.
Cristo mesmo era um contestador, pregou ativamente contra as distorções do judaismo pregadas pelos religiosos e clérigos de sua época e alertou sobre a "viga" que temos em nossos olhos e que deve ser removida de modo que possamos ver com clareza.
A fé nas muitas religiões ganha três grandes aspectos:
1 - A fé como significando crença no que é ensinado, não crença cega, pois sem pensar não vai entender o que está ali, mas a crença de que se seguir o que ensinam, vai resolver o problema que tem e remover a "viga" dos olhos, bem como vai observar e entender o que eles estão tentando mostrar.
Essa é uma crença que inclusive pode ser justificada com base no que a pessoa já conhece, e, quem pratica, vai ver que a cada passo que dão, descobrem as razões para cada coisa ensinada e passam a ver e entender melhor sobre o que estão falando.
É com base nessa fé que, pelas palavras acho que de Pedro, as pessoas entendem a fé como crença cega nas coisas que não se vê.
O problema é que muitos pregadores esperam que a pessoa pela crença, pratique o que não entende e pela pratica passe a observar e entender as coisas sobre as quais eles falam. Não precisa ser assim, mas com alguns parece ser mesmo a única forma de lidar com o assunto e é isso que mais confunde os ateus.
Como disse anteriormente, não precisa ser assim, pode ser apenas uma crença justificada naquilo que a pessoa já vê algumas coisas e na lógica que ela já entende em parte.
É a crença mais como um: "Acredite na lógica que te falo para que, acreditando em mim, pratique o que ensino, assim, pela pratica, vai poder ver por si próprio o que estou tentando te mostrar"...
Acredite para praticar e pratique para ver por si próprio.
2 - A fé como significando confiança em Deus, na vida e em si mesmo.
As coisas estão ruins, mas seja forte, confie em Deus, na vida, em si mesmo e siga em frente (mesmo porque não tem mais por onde ir).
3 - A fé como suspensão das duvidas, medos e ansiedade, a fé como controle da razão.
O ceticismo não nos mostra a realidade, nos leva a perceber que não a conhecemos e a questionar e, muitas vezes temer, suas infinitas possibilidades.
Como a religião trata de dar ao praticante o controle de cada aspecto de sua mente, isso inclui eliminar os medos e também as perguntar infinitas que não podem ser respondidas, então é preciso segurar as duvidas (e isso não significa acreditar em nada) para poder controlar a razão. do contrario ela fica ansiosa questionando infinitas possibilidades que não pode falsear.
As religiões são só mais uma fonte de conhecimento entre outras, como as filosofias, artes e ciências.
A religião fala sobre estarmos em um estado de consciência inferior semelhante ao estado de sono-REM, um estado onde distorcemos a realidade. A função dela é ensinar as praticas que nos levam a um estado mais desperto, onde não distorcemos a realidade da mesma forma que fazemos durante a vigília e um estado onde controlamos melhor nossa própria mente.
Só que é uma fonte que exige questionamento e investigação, além de ceticismo na leitura dos textos, por outros três motivos não citados anteriormente, um pelo fato de falar sobre coisas que, por desconhecermos, não entendemos direito nem na hora de interpretar o texto, então é preciso a pratica para conhecer o que estão dizendo e então sim usar do texto para aprofundar o conhecimento naquilo que já conhecemos (a linguagem usada na religião, nos textos antigos, também não é muito "explicativa" é bem resumida). O segundo ponto é que a religião teve por muito tempo (e ainda tem em alguns lugares) o papel de politica.
Era em torno de instituições religiosas que giravam as politicas em sistemas tribais teocráticos e em estados teocráticos (isso ocorre hoje no islã e parcialmente em israel), então nos textos religiosos, não temos apenas o que se poderia chamar de religião pura, aquela que trata da mente e de leva-la da vigilia a um estado mais desperto, temos também textos que não são nada além de um código penal primitivo de uma época, algo que já foi superado.
Por fim temos o que se poderia chamar de filosofia espiritualista (outros chamam de masturbação metafisica), com textos que podem ser contos, textos pouco explicativos (no caso de muitos dos antigos) ou ainda textos novos bem explicativos, mas que tratam tanto de coisas reais que não vemos ainda no estado de vigília, quanto de especulações metafisica (poderia chamar de teologia) sobre "possibilidades" lógicas que nem sempre correspondem com a realidade dos fatos.
Alguns textos são escritos por pessoas com muito conhecimento, outros com base nos ensinamentos de pessoas que atingiram tal estado mais desperto e outros ainda, escrito por pessoas sem conhecimento real do assunto, que especulam não com base em conhecimento de fatos, mas com base no que leram de outros falando sobre tais temas. Além disso é claro temos os charlatões que só querem vender livros e cobrar dízimos.
A religião exige então, ceticismo e racionalidade na leitura, além de estudo, muito estudo, e, acima de tudo, investigação direta através da pratica coerente e persistente do que é ensinado.
Quando encarada com a postura certa, é uma fonte de conhecimento tão boa quanto qualquer outra e complementar a elas.
O problema é que muitos ainda "acreditam" nos Edir´s Macedos da vida, deixam pilantras como ele, dizerem a eles o que é a religião.
Cristo foi crucificado por pregar ferozmente contra as distorções dos equivalentes de sua época.