Flavio Costa escreveu:Fernando, pelo que eu entendi do que você entendeu de Espinoza, é realmente precipitado classificá-lo como ateu. Porém, sem debruçar-se em textos obscuros conhecer sua visão parece ser uma tarefa difícil, e talvez até mesmo lendo esses textos.
A impressão que dá, entretanto, é que ele consideraria o Protestantismo mainstream como uma visão muito empobrecida e fanática da Bíblia. E se ele reconhece o problema interpretativo da Bíblia como livro essencialmente imaginativo, ele está fincando a estaca de prata nas pretensões protestantes de sola scriptura, como se a mera leitura dos livros assegurasse seu correto entendimento. É a crítica que a ICAR faz ao Protestantismo em geral e a mesma crítica que qualquer pessoa com verdadeiro respeito à verdade faria.
Quando ele coloca o Alcorão como contraditório e a Bíblia como não contraditória (algo do que tenho sérias dúvidas, mas é a opinião dele), ele está dando certo aval tanto ao Cristianismo, quanto ao Judaísmo. Porém, é bem possível que a opinião dele não seja muito diferente da de Nietzsche: que as palavras de Jesus são boas, o problema é a religião que criaram a partir delas. Nietzsche era muito mais anti-cristão que anti-Cristo.
Se aprofundando nesses temas, talvez você se descubra tão pouco cristão quanto esses dois filósofos.
Está aí outro problema interessantíssimo! O que é, de fato o cristianismo? O Nietzsche gosta muito de falar do cristianismo como uma ideologia opressora responsável pelo rancor da sociedade ocidental. Mas ele não leva em consideração as mais diversas correntes cristãs contraditórias entre si presentes no período medieval. Existe um livro, de Alain de Libera que fala sobre o assunto.
Agente acaba percebendo que existem problemas atrás de problemas. Seriam precisas várias vidas para poder muito vagamente abranger vagamente toda riqueza cultural produzida pelo período medieval. O Espinoza não é aquele que descobriu tudo, a rigor, não sou seu discípulo. Ele é apelas o meu primeiro ponto de apoio para compreender uma imensidão de problemas filosóficos muitíssimo consistentes levantados pela filosofia cristã.
Escolhi ele como primeiro pelo seu rigor, sua clareza e pela consistência de sua filosofia. Mas certamente estudarei outros posteriormente.