o anátema escreveu:videomaker escreveu:Tem gente morrendo porque cheira cocaina com pó de marmore! logo devemos cobrar do governo cocaina de boa qualidade e assim evitar mas mortes! a logica é essa? :emoticon5:
Não, a lógica é que:
- o óvulo e o zigoto são muito similares, mudam numas configurações de ácidos nucléicos, e nisso, são iguais à quaisquer das inúmeras células do corpo de qualquer um, que morrem todos os dias, sem que hajam implicações morais;
- o óvulo pode morrer, e ninguém liga, inclusive as pessoas comumente defendem a morte de óvulos em oposição à tantas gravidezes consecutivas quantas forem possíveis;
- alguns tipos de tumores que se formam duma "auto-fecundação" do óvulo, com genoma indistinguível daquele de um embrião ou feto, também podem ser "abortados" sem que as pessoas liguem - não é feito qualquer esforço para tentar salvá-lo;
- fetos anencefálicos também podem ser abortados de acordo com muitos;
- a maioria das pessoas considera que pessoas com morte cerebral podem ser desligadas de seus aparelhos de suporte à vida;
- abortos espontâneos não são considerados homicídios culposos (não intencionais), nem mesmo "abortos culposos", ainda que o que esteja ocorrendo seja essencialmente o mesmo, e pudesse ser evitado, ainda que não engravidando, em caso de quaisquer dúvidas.
Por isso, seria também lógico que não fosse crime o aborto nesses estágios em que o organsimo em desenvolvimento é suficientemente análogo ao óvulo, ou a algo incompleto, semi-morto ou malformado.
Adicionalmente, se não fosse crime, é argumentável que muitas pessoas teriam melhor qualidade de vida. É um posicionamento, contrário daquilo que costuma ser colocado, muito mais ético e responsável do que aquele de se dizer que as pessoas tem que "assumir a responsabilidade" de uma gravidez indesejada e dar um jeito. Não está se assumindo a responsabilidade apenas pela própria vida, mas pela de outra(s) pessoa(s).
O a defesa daquilo que costumam chamar de "assumir a responsabilidade" é na verdade a defesa de um orgulho irresponsável.
Paterniadade/maternidade não é brincadeira, não pode ser algo assumido, apesar do despreparo, só pela honra de assumir, por vaidade; da mesma forma que se você acidentalmente fere alguém gravemente não é de forma alguma responsável que mesmo sem treinamento médico tente remediar a situação como puder, no improviso, lembrando do que já viu no seriado "plantão médico".
Claro, isso é uma opinião minha apenas, e não é de forma alguma necessariamente ligado à situação hipotética do aborto ser legalizado. Poderia ser, e nem por isso as pessoas teriam que abortar apenas por se encontrem despreparadas para ter o filho, continuar batendo no peito estufado e assumindo a trepada, e depois se virando como puder para tentar cuidar do filho, que tomara que tenha sorte.