user f.k.a. Cabeção escreveu:
Nao me surpreendo que a analogia nao seja direcionada aos meus argumentos
Você veio com a pérola do "abortistas especulam que os embriões prefeririam nem nascer", para compensar então?
user f.k.a. Cabeção escreveu: dado que voce confessou nao ler o que eu escrevo.
Não. O que ocorreu, e o que eu disse foi que, numa situação em particular, eu não li por supor que fosse, como é comum, repetição de uma outra crítica que você também já tinha feito.
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e este fato e o de que ovulos e zigotos sao efetivamente diferentes embora na sua opiniao essa diferenca nao seja grande. O ponto de vista que escora essa sua opiniao ja foi comentado anteriormente, quando eu disse que o fato de duas coisas serem parecidas sob alguns aspectos nao as torna analogas ou equivalentes em todos os demais, e que nao e sobre as eventuais semelhancas especificas, mas sobre a natureza e relevancia das diferencas reais que nos devemos nos concentrar.
E a diferenca entre um ovulo e um zigoto manifesta-se em varios niveis, tanto nos niveis bioquimicos que voce gosta de se restringir, quanto nos potenciais de ambos e na condicao existencial de um como o resultado de um processo fisiologico natural e involuntario e o outro como produto da acao humana e consciente. E quando se trata de Etica, e sobretudo nessa diferenca que nos devemos basear a nossa analise.
Tudo bem que em ética seja importante a questão de ação humana/voluntariedade e etc. Mas se esses princípios descambam em coisas ridículas como em valorizar legalmente células individuais como se fossem seres humanos, não podermos cortar nenhuma árvore, etc, são necessários adendos ou interpretações diferentes.
Até porque uma ética ridícula que põe como mais importante células ou aglomerados de tecidos do que humanos propriamente ditos dificilmente pode ser racionalmente aceita como realmente ética - ainda que haja todo tipo de esquisitice nesse mundo, como mutilação genital feminina, etc, consideradas como corretas por algum conjunto de critérios.
Uma ejaculacao nao produzira uma crianca a menos de uma fecundacao. Quando duas pessoas resolvem fazer sexo, elas devem cientes das consequencias eventuais de seus atos. Se elas nao desejam que essas consequencias eventuais se transformem em factuais elas devem tomar as precaucoes visando minimizar os riscos, e ainda assim estarem cientes de que a fatalidade dessas precaucoes nao funcionarem nao as eximira das responsabilidades.
"Uma rua vazia, sem pedestres a atravessando, não produziria um atropelamento. Quando as pessoas resolvem atravessar a rua, elas devem estar cientes das conseqüências eventuais de seus atos. Se elas não desejam que essas conseqüências eventuais se transformem em factuais elas devem tomar as precauções visando minimizar os riscos, e ainda assim estarem cientes de que a fatalidade dessas precauções não funcionarem não as eximirá das responsabilidades". E assim, os atropelados tem que arcar com a responsabilidade de terem saído pela rua, porque os motoristas tem o pleno direito de dirigirem os carros pela rua, e esse direito não pode ser revogado porque alguma pessoa sobre a qual ele não tem responsabilidade alguma simplesmente entrou na frente do carro, tal como a mulher estuprada não tem responsabilidade pelo filho do estuprador, e pode assim matá-lo.
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"Uma skate vazio, sem ninguém andando nele, não produziria uma fratura. Quando as pessoas resolvem andar de skate, elas devem estar cientes das conseqüências eventuais de seus atos. Se elas não desejam que essas conseqüências eventuais se transformem em factuais elas devem tomar as precauções visando minimizar os riscos, e ainda assim estarem cientes de que a fatalidade dessas precauções não funcionarem não as eximirá das responsabilidades". E assim ossos quebrados ou esfolados num tombo de skate não podem ser tratados.
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"Órgãos sexuais sozinhos, sem algum tipo de atividade sexual entre duas pessoas, não contraem DSTs. Quando as pessoas resolvem fazer sexo, elas devem estar cientes das conseqüências eventuais de seus atos. Se elas não desejam que essas conseqüências eventuais se transformem em factuais elas devem tomar as precauções visando minimizar os riscos, e ainda assim estarem cientes de que a fatalidade dessas precauções não funcionarem não as eximirá das responsabilidades". E assim as pessoas não podem se tratar de DSTs, se as contraírem.
Nada disso faz sentido. Só faz sentido se consideramos que há pessoas para sofrerem as conseqüências dos atos ou omissões. Se não consideramos que todos os estágios do desenvolvimento embrionário são pessoas de fato, então não há uma questão aqui. Se adotamos um conceito ridículo como pessoas serem pessoas desde um estado unicelular, então é puramente arbitrário, e poderia-se tanto defender um óvulo (mesmo que geralmente não gostem) como humano, e ele deveria ter sim, sua vida protegida, a despeito de uma hipotética (mas falsa) incapacidade da mulher de evitar a sua morte (se não por gravidez, por anti-ovulatórios).
Se ter que fazer sexo para salvar o óvulo é ridículo como se prostituir para salvar um bengali faminto, não poder interromper uma gravidez para salvar o embrião que "preferiria nascer" é ridículo como não poder se tratar de alguma doença ou evitar uma situação indesejada qualquer porque pode se julgar que se deveu a irresponsabilidade ou mesmo a acidente na tentativa de evitar.
Como sempre, tautologia. Só há problemas com o aborto se for considerado que os óvulos são humanos a partir da fecundação. Isso é dificílimo de ser defendido, é praticamente dizer que "as vacas são sagradas" e dar isso como verdade incontestável.
Ao mesmo tempo, tenta-se fugir disso, de tentar defender a humanidade do zigoto e de todos estágios embrionários arrumando alguma desculpa como a uma noção aberrante de "responsabilidade" sobre a gravidez, ou de que conceitos mais abrangentes são invariavelmente melhores que os mais específicos. Mas as duas estratégias tem como pressuposto a idéia de que é algo razoável que se considere células individuais e conjuntos de tecido sem atividade cerebral como "humanos", e só funcionam a partir daí.
O que os anti-abortistas defendem e apenas a compreensao de que se duas pessoas sao adultas o suficiente para manter relacoes sexuais elas tambem o sao para assumir as consequencias destas. Nao se trata de uma condenacao do sexo, como voce procura fazer parecer, mas uma condenacao da conduta irresponsavel nesse quesito.
E os "anti-socorro-medicistas" também pensam da mesma forma. Não se trata de querer que as pessoas não atravessem as ruas ou não andem, ou mesmo façam acrobacias com skate, mas que assumam a responsabilidade por seus atos.
Ja o que os abortistas defendem e que existe um limite de tolerancia arbitrario para a execucao da irresponsabilidade, e esse limite e "determinado" por um grau de semelhanca estimado entre o feto e uma crianca recem-nascida.
Os pró-vida também, apenas esse grau de semelhança é muito menor, basta haver uma célula diplóide que já é o bastante.
Acho interessante que voce ainda fale de "inicio da atividade cerebral", quando alguns posts mais tarde voce reconheceu que o tal "inicio" era na verdade um padrao de atividade escolhido como suficientemente similar ao nosso (e coincidentemente na mesma altura de desenvolvimento fetal onde ja se pretendia [i]a priori[/] permitir o aborto), e uma fase de "reproducao neuronal acelerada". E verdade que "inicio" soa bem menos arbitrario, mas o que voce quer dizer na verdade com ele nao.
Não há uma conspiração de neurocientistas-abortistas, é *realmente* uma coincidência que os critérios adotados pela defesa do aborto adotados em um caso que deu o precedente para a legalização nos EUA resultem na mesma data que se considera que faça sentido por outros motivos completamente diferentes. (E o início da atividade cerebral se dá num padrão que já é tido como humano, ainda que não seja de humano adulto-acordado, que é mais ativo. Também não é reprodução neuronal, mas sinapses. Antes os neurônios estão desconectados uns dos outros.)
Eu nunca defendi o critério de permissibilidade de aborto por inviabilidade de vida fora do útero, e não sei se alguém aqui (além do Acauan, ainda que apenas em caso de estupro) o fez.
Em todo caso, mesmo que consiga sustentar a idéia de que os "abortistas", desde o início de sua seita malévola, são um grupo coeso que tem antes de tudo o objetivo de permitir o aborto a qualquer custo, por qualquer justificativa de fachada que possam inventar, isso por si só não faz da idéia de "humanidade" a partir do zigoto algo melhor do que apenas com a atividade cerebral, que "por acaso" me parece ser o único critério defendido por aqui.
Os conhecimentos que os cientistas adquirem acerca da formacao do sistema nervoso e da consciencia durante o desenvolvimento humano sao preciosos e legitimos, sim, mas nao como forma de estabelecer um criterio arbitrario escorado em jargao tecnico para se decidir quando se pode ou nao matar uma pessoa.
Bem, esses critérios tem necessariamente que vir de algum lugar. E melhor que venham de uma noção científica, real, do que é a "humanidade", do que de algo que resultasse em aberrações como "humanos unicelulares", humanos sem cérebro, e humanos cujo assassinato é tolerável se nos forem inconvenientes e não tivermos responsabilidade por eles.
Segundo os conhecimentos científicos e valores bastante universais, a atividade cerebral como critério para "humanidade"/dignidade da vida humana faz muito mais sentido do que meramente celular, e uma vez que se pense dessa forma, é simplesmente ridícula a idéia de que as mulheres tenham necessariamente que ter filhos apenas porque houve fecundação, sem que fosse por estupro.
Tanto pela idéia de defender tecidos humanos sem atividade cerebral como se já fossem pessoas mesmo, quanto por conseqüências diversas disso, até potencialmente piores para as crianças que seriam "salvas" em estágio embrionário. O que claro, só é pior uma vez que não consideramos que elas já eram "pessoas mesmo" como embriões, tal como óvulos, não sendo correspondante à idéia de infanticídio para poupar a criança do sofrimento de ser um filho indesejado e/ou não planejado. Apenas se consideramos que desde o zigoto já há algo que é uma pessoa que a comparação faz sentido.
Se a acao direta das pessoas nao e importante para determinar responsaveis, eu digo pra voce que na Africa existem milhoes de criancinhas com cerebros enormes e passando fome, e que voce e culpado por essa situacao, mesmo nunca tendo feito nada contra elas.
Há duas situações aqui, relacionadas com a "responsabilidade", e nos dois casos, há problemas na sua lógica.
Para exceção da permissão do aborto, no caso de uma mulher que estivesse grávida de um estuprador, ou de um infame partenoto, abortar seria fazer algo contra o embrião-pessoa, partindo do princípio que embriões são pessoas. Não me parece importar que ela não "fez" as pessoas, da mesma forma que, ainda que eu não seja culpado pelo sofrimento dos africanos, eu não posso matá-los se eles de repente representarem algum contratempo para mim.
Já com a responsabilidade do produto imediato de uma fecundação não resultante de estupro, só faz sentido se, novamente, partimos do pressuposto que há humanos unicelulares ou sem atividade cerebral. Se estivéssemos falando de qualquer outra coisa, a "responsabilidade" não importaria de maneira análoga, como exemplifiquei anteriormente. Se uma maluca implantasse um embrião de um cachorro no útero para gestar o próprio animal de estimação e depois mudasse de idéia, não haveria problema, mesmo que o implante tivesse sido proposital.
A "responsabilidade", ou a ação direta/consciente/voluntária não é então o que determina a necessidade de proteção desde o zigoto em diante. Antes disso, vem a consideração dele como um humano, mas que pode ser morto se não houver responsabilidade da mulher da qual ele depende para viver. Sem essa consideração como pressuposto, não é possível falar em "responsabilidade" pelo zigoto, muito embora ainda se possa perfeitamente falar em responsabilidade pela pa/maternidade.
O conceito de "protecao de individuos" dos abortistas e simplesmente fantastico. Para eles, proteger equivale a exterminar. Como se eles tivessem alguma forma de saber se o feto prefere nao nascer a nascer num lar pobre. Eu nem sei se isso deve ser comentado, de tao absurdo.
Não é tão difícil de entender se você aceitar por um momento a analogia com o óvulo, apenas para tentar entender o que se passa na cabeça dos "abortistas".
Para você, é provavelmente perfeitamente cabível se falar em momentos melhores ou piores para se engravidar, tendo em mente a qualidade de vida do filho resultante da fecundação.
Ao mesmo tempo, você não se importa com a questão do óvulo preferir ou não nascer num lar pobre ou indesejado, principalmente porque não é "alguém" para poder preferir qualquer coisa (ou talvez também porque mesmo que fosse alguém, seus pais não decidiram que devesse viver, e podem deixá-lo morrer[?!]). Provavelmente não te importaria que se fosse fecundado e a gravidez corresse bem, a pessoa que nascesse em 99,9% das vezes preferiria existir a não ter sido concebida, qualquer que fosse a situação em que viesse ao mundo, já que querer viver é natural.
Se não consideramos que antes da atividade cerebral há um ser humano mais significativo que há quando só se tem um óvulo, é essencialmente a mesma lógica.
Ninguem esta aqui defendendo o direito de matar. Voce compreende errado o ponto de vista de um anti-abortista. Uma mae estuprada NAO tem o direito de matar quem quer que seja. Apenas no caso dela poderia ser, mediante um estudo minucioso de caso, tolerada uma intervencao na gravidez dado que elas nao tem obrigacao alguma para com o feto que carrega.
Não tem obrigação com ele, podendo matá-lo.
E claro que se essa intervencao ocorrer numa altura ja avancada da gravidez e o feto tenha chances de viver fora do utero, essa deve ser a decisao.
Bem, então pelo menos dois os que defendem a tolerância com o aborto pelo critério de viabilidade.
E sobretudo, nao quer dizer que voce esteja autorizado a matar quem quer que seja que nao esteja sobre a sua responsabilidade. Isso e uma estupidez enorme, que nem merece resposta.
Sim, apenas se eu fosse uma mulher grávida de um estuprador, e em nenhuma outra situação análoga.
E e obvio que tudo que eu digo sobre abortistas se aplicaria a mim caso eu ainda fosse um abortista, e se aplicava na epoca que eu era. E obvio que eu nao reduzo as pessoas a uma opiniao em particular, sobretudo em uma tema controverso, mas na epoca em que eu era abortista eu tinha muito menos interesse em descobrir o que era realmente etico e estava mais preocupado na utilidade que o aborto teria, tanto para mim, caso um dia engravidasse uma menina, quanto para o "mundo", livre de criancas pobres e indesejadas, "potenciais marginais". Demorou um certo tempo para eu perceber que a solucao que seria mais adequada para mim, ou para o meu conceito limitado de "mundo", nao era necessariamente o Bem.
Bem, o "bem", para mim ainda parece muito distante do conceito pró-vida, e muito melhor garantido por uma legislação que permitisse o aborto, porque eu verdadeiramente considero que só faz sentido se falar em gente a partir da atividade cerebral, não antes de começar ou depois de acabar..