Fayman escreveu:Fernando escreveu:Só pra explicar sobre o Fayman. Ele NUNCA aceitou isso que vc diz. Pelo menos não em discussões comigo. Pois no fundo eu sei que existe uma metafísica materialista por detrás da forma que defende a mecânica quântica. A unidade articuladora da pluralidade é, para ele, o átomo, e com isso os problemas quânticos. Os problemas quânticos são aqueles que dizem respeito de forma mais descolada possível e menos passível de interpretações ao funcionamento do mundo. A realidade é quantica pq o mundo, em seu estado mais FUNDAMENTAL (olha a noção de fundamento aparecendo no radical de uma expressão muito utilizada por ele), a realidade é o conjunto de reações quânticas.
Se vc olhar o tópico que ele abriu sobre a realidade quântica vc verá que a mecância quântica é a ciência mais fundamental, pois é a que está maix próxima do mundo. Tudo bem, isso não pretende desvalorizar as outras ciências experimentais. Mas tem sim no fundo uma pretensão metafísica de falar no sentido último da realidade que são os problemas quânticos.
Uma visão muito diferente dessa é a de que embora toda a natureza seja constituída de átomos, o sentido unificador da pluralidade é outra coisa que não o átomo propriamente. Assim os problemas da MQ seriam relativos à MQ e não à extrutura do real. A MQ falaria da extrutura da matéria, não da realidade.
É este avanço de estabelecer uma hierarquia das ciências colocando a MQ como ciência mais fundamental que dá a ela a pretenção metafisica. É isso que precisa ser tornado mais claro.
Junte-se isso ao pressuposto materialista fundamental de que a realidade é a matéria e bingo. A MQ pode exercer livremente o papel que a Metafísica exercia para os modernos.
Puxa!
Até fiquei curioso para saber o que o Flávio Costa diria sobre isto!
Bem, eu diria o seguinte:
Primeiro, o Fernando está usando um conceito de átomo meio "primeiro grau". A Física Quântica não estuda o átomo como partícula fundamental, e sim outras partículas muito menores. Aliás, o entendimento de que o átomo é relativamente "grande" vem de bem antes da MQ. Porém, creio que o Fernando sabe disso e falou em átomo na verdade pensando "qualquer coisa que a Física Quântica diga que são partículas fundamentais".
Depois, existem alguns problemas quânticos que parecem não ter explicação. Pois o que explicaria o comportamento dual partícula-onda que os elétrons apresentam? Não-localidade, realidade dependente da observação, etc. OK, mas o que isso diz sobre o sentido último da realidade? Acho que não diz tanto assim. A MQ fala sim de partículas fundamentais, talvez pode haver algum viés materialista nisso, mas não vejo nisso um "sentido último". Talvez a MQ nos traga a decomposição definitiva da realidade material, mas quem disse que isso diz tudo o que há para ser dito sobre "o sentido último da realidade"? A Física Quântica pode ser a decomposição mais fundamental da Física, mas a Física, por si só, não explica tudo aquilo que entendemos por realidade.
O que eu digo é que muitos cientistas reconhecem que há questões filosóficas
por trás das questões puramente físicas. Por exemplo, se a dualidade do elétron se deve ao papel da observação sobre o fenômeno, o que isso quer dizer? É um tipo de poder da subjetividade? É uma dimensão superior? É um elemento desconhecido? A busca da resposta para essas questões envolve um grande esforço filosófico.
O que me parece é que o Fayman está bem consciente disso, o que ele coloca é que o esforço filosófico não é suficiente, mas que as conclusões precisam ser testadas e, principalmente,
prever novos fenômenos ou propriedades destes. Estamos falando justamente da ciência como ferramenta derivada do trabalho filosófico com o objetivo de explicar fenômenos
dentro dos modelos científicos (que não necessariamente são
a realidade, mas fazem sentido no universo conceitual definido) e, eventualmente, produzir benefício e possibilidades para os seres humanos.