"Para a ciência,não existem raças"
Enviado: 21 Jul 2007, 09:36
Quando decidiu matricular-se num curso sobre evolução na Universidade Harvard, a jornalista americana Ann Gibbons achou que teria pela frente um belo passatempo. Mas descobriu que a teoria da evolução era “uma lente maravilhosa para ver o mundo”. A partir daí, ela passou a escrever artigos para a revista americana Science e diversos livros sobre o tema. Tornou-se uma celebridade na comunidade científica por traduzir as complicadas minúcias das teorias evolucionistas numa linguagem fácil de entender. Ela respondeu às seguintes perguntas enviadas pelos leitores de Época.
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Com o que se sabe hoje sobre a evolução humana, é possível dizer que há uma raça superior em relação às demais?
Marcelo de Oliveira Mundim, Minas Gerais
Ann Gibbons – Não. Há muito menos diferenças genéticas entre dois humanos que entre dois grupos de chimpanzés ou gorilas, por exemplo. Isso significa que as diferenças “raciais” têm somente a profundidade da pele. Raças não existem do ponto de vista científico. As diferenças raciais são o resultado de uma adaptação aos diferentes am-bientes da Terra. A baixa estatura de um esquimó é uma adaptação para viver no frio intenso. A cor de pele clara é uma adaptação recente nos povos europeus. Não há uma raça superior. Algumas culturas são mais avançadas, mas isso não se deve à superioridade genética.
A Bíblia afirma que a humanidade teve sua origem em algum lugar da Mesopotâmia. Ela está certa? Há alguma pesquisa séria que comprove isso?
Léo Barbosa, São Paulo
Ann – Os primeiros capítulos da evolução humana, ou, se você preferir, a verdadeira gênese, aconteceram na África. Os fósseis de ancestrais humanos que viveram entre 2 milhões e s 6 milhões de anos atrás são encontrados exclusivamente no continente africano. Há evidências de que o berço da civilização, este sim, é o Oriente Médio. Não podemos igualar as duas coisas. O Velho Testamento diz que os humanos foram criados nos últimos 6 mil anos. Mas as evidências dos fósseis e dos estudos genéticos revelam que os humanos evoluíram durante os últimos 5 milhões a 7 milhões de anos. O Velho Testamento é válido como registro histórico, traz uma memória de eventos importantes. Isso não significa que devemos aceitá-lo como evidência científica.
Quais são as principais lacunas na teoria da evolução? O que falta ser esclarecido para saber de onde viemos?
Marcos Alexandre Rizzo, Rio de Janeiro
Ann – Há alguns períodos que precisam de mais dados. A primeira lacuna é entre 5 milhões e 7 milhões de anos atrás, de quando temos apenas alguns poucos fósseis – embora um deles, batizado de Chad, seja um crânio 95% completo que fornece uma quantidade tremenda de informações. Precisamos de mais indivíduos desse período para identificar o primeiro membro da família humana. Precisamos também de fósseis do ancestral comum que dividimos com os chimpanzés, mais de 6 milhões de anos atrás.
Qual a melhor forma de falar sobre evolução nas escolas?
Vanda Francisco, São Paulo
Ann – Acho que o criacionismo não deveria ser ensinado nas escolas, como acontece nos Estados Unidos. Se você ensina o criacionismo, que é uma visão de cristãos fundamentalistas, você tem de ensinar os mitos de criação de outras culturas, como o islamismo, o hinduísmo e o budismo. Eles podem ser ensinamentos éticos maravilhosos, mas não são ciência. Apenas a ciência deve ser ensinada em aulas de Ciência. Cientistas cometem erros. Ainda assim, o método científico funciona. É inegável.
Na vida prática, o que mudaria se descobríssemos a origem da vida na Terra?
Carlos Enrique Rosa, São Paulo
Ann – Seria como descobrir um novo planeta ou resolver uma elegante equação matemática. Isso não mudaria nosso cotidiano, mas enriqueceria nossa vida. Talvez fosse bom lembrar nossas origens modestas e nossa íntima afinidade com outros primatas. Talvez isso possa nos lembrar de proteger nossos parentes mais próximos, chimpanzés e outros macacos, que estão ameaçados de extinção. A evolução pode ser uma chave para os pesquisadores da área médica que tentam entender a evolução de vírus como o da aids.
Daquilo que você aprendeu estudando a evolução humana, o que aplica em sua vida?
Walter Barbosa Junior, São Paulo
Ann – Fiz um curso sobre evolução humana na Universidade Harvard em 1988. Um amigo havia me recomendado as aulas e eu as tomei como um passatempo. Mas, estudando sobre evolução, comecei a perceber que o assunto era uma lente maravilhosa para ver a natureza. Isso me fez entender melhor o comportamento humano e animal e como nos tornamos o que somos hoje. De lá para cá, venho escrevendo sobre evolução. Hoje, acho que a evolução ajuda a explicar as diferenças entre meus filhos gêmeos de 8 anos. Ou por que nossas costas ou joelhos doem. Quando começamos a andar eretos, há 4 milhões de anos, isso gerou pontos de estresse em nosso corpo, que havia evoluído para viver em árvores. A teoria evolucionária explica muito.
A senhora acredita que, em algum momento, a teoria de Darwin será superada?
Ana Rezende, Distrito Federal
Ann – Não. Há muitas evidências de várias linhas de pesquisa que são a base das idéias de Darwin sobre a seleção natural. Os pesquisadores observam, hoje, a seleção natural acontecendo nas populações de muitos animais e até humanos. As pessoas que vivem em altas altitudes no Tibete, por exemplo, estão sob a pressão da seleção natural para se tornar mais eficientes a absorver o oxigênio em seu corpo. De fato, os bebês de mulheres que têm uma melhor absorção de oxigênio têm maior chance de sobreviver.
Se o homem veio do macaco, por que o macaco não evolui e vem tomar um chá com seu primogênito?
José Roberto Delfino Junior, Paraná
Ann – Nossos parentes mais próximos são os chimpanzés. Isso não significa que nossos ancestrais eram chimpanzés. Nossos ancestrais separaram-se dos ancestrais dos chimpanzés em algum momento entre 5 milhões e 7 milhões de anos atrás. Os chimpanzés adaptaram-se com sucesso a um ambiente com árvores e não precisaram mudar. Nós, humanos, descemos das árvores e começamos a caminhar eretos. Nossos ancestrais lideraram um trajeto que nos levou, nos últimos 50 mil anos, a um comportamento notavelmente sofisticado. Contudo, os chimpanzés também têm uma cultura. Podem até fazer ferramentas de pedra. Em resumo, macacos podem ser treinados para beber em uma xícara. Só não sei se vão gostar de chá.
FONTE: Época
Abraços
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Com o que se sabe hoje sobre a evolução humana, é possível dizer que há uma raça superior em relação às demais?
Marcelo de Oliveira Mundim, Minas Gerais
Ann Gibbons – Não. Há muito menos diferenças genéticas entre dois humanos que entre dois grupos de chimpanzés ou gorilas, por exemplo. Isso significa que as diferenças “raciais” têm somente a profundidade da pele. Raças não existem do ponto de vista científico. As diferenças raciais são o resultado de uma adaptação aos diferentes am-bientes da Terra. A baixa estatura de um esquimó é uma adaptação para viver no frio intenso. A cor de pele clara é uma adaptação recente nos povos europeus. Não há uma raça superior. Algumas culturas são mais avançadas, mas isso não se deve à superioridade genética.
A Bíblia afirma que a humanidade teve sua origem em algum lugar da Mesopotâmia. Ela está certa? Há alguma pesquisa séria que comprove isso?
Léo Barbosa, São Paulo
Ann – Os primeiros capítulos da evolução humana, ou, se você preferir, a verdadeira gênese, aconteceram na África. Os fósseis de ancestrais humanos que viveram entre 2 milhões e s 6 milhões de anos atrás são encontrados exclusivamente no continente africano. Há evidências de que o berço da civilização, este sim, é o Oriente Médio. Não podemos igualar as duas coisas. O Velho Testamento diz que os humanos foram criados nos últimos 6 mil anos. Mas as evidências dos fósseis e dos estudos genéticos revelam que os humanos evoluíram durante os últimos 5 milhões a 7 milhões de anos. O Velho Testamento é válido como registro histórico, traz uma memória de eventos importantes. Isso não significa que devemos aceitá-lo como evidência científica.
Quais são as principais lacunas na teoria da evolução? O que falta ser esclarecido para saber de onde viemos?
Marcos Alexandre Rizzo, Rio de Janeiro
Ann – Há alguns períodos que precisam de mais dados. A primeira lacuna é entre 5 milhões e 7 milhões de anos atrás, de quando temos apenas alguns poucos fósseis – embora um deles, batizado de Chad, seja um crânio 95% completo que fornece uma quantidade tremenda de informações. Precisamos de mais indivíduos desse período para identificar o primeiro membro da família humana. Precisamos também de fósseis do ancestral comum que dividimos com os chimpanzés, mais de 6 milhões de anos atrás.
Qual a melhor forma de falar sobre evolução nas escolas?
Vanda Francisco, São Paulo
Ann – Acho que o criacionismo não deveria ser ensinado nas escolas, como acontece nos Estados Unidos. Se você ensina o criacionismo, que é uma visão de cristãos fundamentalistas, você tem de ensinar os mitos de criação de outras culturas, como o islamismo, o hinduísmo e o budismo. Eles podem ser ensinamentos éticos maravilhosos, mas não são ciência. Apenas a ciência deve ser ensinada em aulas de Ciência. Cientistas cometem erros. Ainda assim, o método científico funciona. É inegável.
Na vida prática, o que mudaria se descobríssemos a origem da vida na Terra?
Carlos Enrique Rosa, São Paulo
Ann – Seria como descobrir um novo planeta ou resolver uma elegante equação matemática. Isso não mudaria nosso cotidiano, mas enriqueceria nossa vida. Talvez fosse bom lembrar nossas origens modestas e nossa íntima afinidade com outros primatas. Talvez isso possa nos lembrar de proteger nossos parentes mais próximos, chimpanzés e outros macacos, que estão ameaçados de extinção. A evolução pode ser uma chave para os pesquisadores da área médica que tentam entender a evolução de vírus como o da aids.
Daquilo que você aprendeu estudando a evolução humana, o que aplica em sua vida?
Walter Barbosa Junior, São Paulo
Ann – Fiz um curso sobre evolução humana na Universidade Harvard em 1988. Um amigo havia me recomendado as aulas e eu as tomei como um passatempo. Mas, estudando sobre evolução, comecei a perceber que o assunto era uma lente maravilhosa para ver a natureza. Isso me fez entender melhor o comportamento humano e animal e como nos tornamos o que somos hoje. De lá para cá, venho escrevendo sobre evolução. Hoje, acho que a evolução ajuda a explicar as diferenças entre meus filhos gêmeos de 8 anos. Ou por que nossas costas ou joelhos doem. Quando começamos a andar eretos, há 4 milhões de anos, isso gerou pontos de estresse em nosso corpo, que havia evoluído para viver em árvores. A teoria evolucionária explica muito.
A senhora acredita que, em algum momento, a teoria de Darwin será superada?
Ana Rezende, Distrito Federal
Ann – Não. Há muitas evidências de várias linhas de pesquisa que são a base das idéias de Darwin sobre a seleção natural. Os pesquisadores observam, hoje, a seleção natural acontecendo nas populações de muitos animais e até humanos. As pessoas que vivem em altas altitudes no Tibete, por exemplo, estão sob a pressão da seleção natural para se tornar mais eficientes a absorver o oxigênio em seu corpo. De fato, os bebês de mulheres que têm uma melhor absorção de oxigênio têm maior chance de sobreviver.
Se o homem veio do macaco, por que o macaco não evolui e vem tomar um chá com seu primogênito?
José Roberto Delfino Junior, Paraná
Ann – Nossos parentes mais próximos são os chimpanzés. Isso não significa que nossos ancestrais eram chimpanzés. Nossos ancestrais separaram-se dos ancestrais dos chimpanzés em algum momento entre 5 milhões e 7 milhões de anos atrás. Os chimpanzés adaptaram-se com sucesso a um ambiente com árvores e não precisaram mudar. Nós, humanos, descemos das árvores e começamos a caminhar eretos. Nossos ancestrais lideraram um trajeto que nos levou, nos últimos 50 mil anos, a um comportamento notavelmente sofisticado. Contudo, os chimpanzés também têm uma cultura. Podem até fazer ferramentas de pedra. Em resumo, macacos podem ser treinados para beber em uma xícara. Só não sei se vão gostar de chá.
FONTE: Época
Abraços