Quem merece viver e morrer?
- Deise Garcia
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- Registrado em: 30 Out 2005, 13:35
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Quem merece viver e morrer?
Apesar de não gostarmos de admitir isso, o homem é um ser de visão bastante estreita em se tratando de assuntos como a vida, a doença e a morte. Apesar disso, quando fazemos algum avanço, nos arvoramos em detentores da verdade, tentamos reduzir o universo em uma casca de noz, forçando a natureza a caber em nossos parcos conhecimentos. Este movimento egoísta e pretensioso é típico do ser humano, principalmente daqueles que têm um conhecimento técnico maior e mais amplo que a maioria de nós, mas que têm uma visão monocromática da vida e da natureza humana.
Esta arrogância já foi experimentada diversas vezes e a história da humanidade nos conta estes tristes episódios que, infelizmente, aconteceram em abundância. Apesar disso, podemos notar que não aprendemos quase nada com isso tudo, já que mantemos hoje um holocausto velado, que não se faz mais nos campos de concentração insalubres e pútridos, mas nas ricas e bem decoradas clínicas onde se propala uma “medicina fetal” cuja arma “terapêutica” mais utilizada é a morte, chamada cinicamente de “subtração”.
Sob o falso argumento de proteger a mãe e seus direitos, muitas mulheres são induzidas à “subtração” de seus fetos diante de diagnósticos de má formação ou de síndromes genéticas. Diante da impotência da Medicina e de seus praticantes em dar uma solução a determinadas doenças ou más formações, a saída é eliminá-las, evitando que o “fracasso” e a “incompetência” anunciada se materialize.
De início as más-formações graves, depois os sindrômicos, em seguida aqueles com genes que trarão doenças graves no futuro ou, então, para garantir que “nada de ruim” possa acontecer com aquela família. Depois poderemos escolher a altura, a cor dos olhos ou dos cabelos, o grau de inteligência, quem sabe? Na Holanda já estão matando os fetos com espinha bífida (má-formação da coluna vertebral).
Tudo isso tem um nome, eugenia, o homem escolhendo, segundo seus interesses ou convicções quem merece viver e quem merece morrer. Depois de tanto tempo, tantas experiências dolorosas, continuamos a incidir no mesmo erro, já que o poder sobre a vida de nossos semelhantes exorta nosso egoísmo, e passamos a uma prática de lógica imediatista que gera dor e sofrimento e cuja origem é bastante óbvia: os interesses de uma pessoa ou de um grupo se impondo aos demais.
Argumentos imediatistas, utilitaristas, escondem a crueldade daqueles que não conseguem colocar o valor da vida humana em seu devido lugar, mas não podemos nos deixar enganar por esta falácia que prioriza razões materiais e políticas e ignora as razões espirituais.
Ofereça a um destes médicos, que estão julgando em suas ricas clínicas quem merece viver e quem merece morrer, a possibilidade de diagnosticar uma criança que terá uma doença chamada esclerose lateral amiotrófica, uma doença que provoca uma destruição gradual das células do cérebro e da medula espinhal que controlam os músculos do corpo, levando a uma paralisia que impede o seu portador de se mover, de se comunicar, tornando-o prisioneiro de seu próprio corpo, capaz de pensar mas incapaz de se expressar, até que a doença atinja seus músculos respiratórios levando à morte em no máximo três anos. Certamente, ele lhe dirá que é melhor “subtrair” este feto, afinal de contas, quem gostaria de ter um filho assim?
Facilmente, este nosso hipotético médico convenceria a família. Posso até imaginar os argumentos:- Vocês podem tentar novamente, não há necessidade de passar por tudo isso, em alguns minutos tudo estará bem e vocês poderão ir para casa e seguir suas vidas.
Entretanto, vamos oferecer a este mesmo médico um outro caso, onde seria possível prever que uma criança se tornaria um grande cientista, provavelmente um dos maiores físicos do mundo, professor em Cambridge na mesma cadeira que pertenceu a Isaac Newton, escritor de livros incríveis que iriam popularizar a Física e os conhecimentos de nossa era às pessoas comuns. O que este médico diria aos pais?
- Vocês terão um gênio, seu filho trará grande contribuição à humanidade, meus parabéns, vamos cuidar para que a gestação corra sem problemas e a criança nasça bem.
Pois bem, os dois casos são um só, trata-se da mesma pessoa, Dr. Stephen Hawking, que teve diagnosticada sua doença aos 21 anos de idade, antes de se tornar um doutor, antes de formular suas teorias sobre os buracos negros, antes de escrever seus livros, antes de se casar, de ter filhos, de assombrar a todos vivendo por mais de 42 anos com uma doença que deveria matá-lo aos 24 anos de idade. A ciência está muito próxima de fazer prognósticos como o do primeiro caso, mas nunca será capaz de fazer prognósticos como o do segundo caso. Sendo assim, Dr. Hawking não teria chance alguma de nascer.
A morte nunca é uma saída.
* Décio Iandoli é vice-presidente da Associação Médico-Espírita de Santos (SP)
Esta arrogância já foi experimentada diversas vezes e a história da humanidade nos conta estes tristes episódios que, infelizmente, aconteceram em abundância. Apesar disso, podemos notar que não aprendemos quase nada com isso tudo, já que mantemos hoje um holocausto velado, que não se faz mais nos campos de concentração insalubres e pútridos, mas nas ricas e bem decoradas clínicas onde se propala uma “medicina fetal” cuja arma “terapêutica” mais utilizada é a morte, chamada cinicamente de “subtração”.
Sob o falso argumento de proteger a mãe e seus direitos, muitas mulheres são induzidas à “subtração” de seus fetos diante de diagnósticos de má formação ou de síndromes genéticas. Diante da impotência da Medicina e de seus praticantes em dar uma solução a determinadas doenças ou más formações, a saída é eliminá-las, evitando que o “fracasso” e a “incompetência” anunciada se materialize.
De início as más-formações graves, depois os sindrômicos, em seguida aqueles com genes que trarão doenças graves no futuro ou, então, para garantir que “nada de ruim” possa acontecer com aquela família. Depois poderemos escolher a altura, a cor dos olhos ou dos cabelos, o grau de inteligência, quem sabe? Na Holanda já estão matando os fetos com espinha bífida (má-formação da coluna vertebral).
Tudo isso tem um nome, eugenia, o homem escolhendo, segundo seus interesses ou convicções quem merece viver e quem merece morrer. Depois de tanto tempo, tantas experiências dolorosas, continuamos a incidir no mesmo erro, já que o poder sobre a vida de nossos semelhantes exorta nosso egoísmo, e passamos a uma prática de lógica imediatista que gera dor e sofrimento e cuja origem é bastante óbvia: os interesses de uma pessoa ou de um grupo se impondo aos demais.
Argumentos imediatistas, utilitaristas, escondem a crueldade daqueles que não conseguem colocar o valor da vida humana em seu devido lugar, mas não podemos nos deixar enganar por esta falácia que prioriza razões materiais e políticas e ignora as razões espirituais.
Ofereça a um destes médicos, que estão julgando em suas ricas clínicas quem merece viver e quem merece morrer, a possibilidade de diagnosticar uma criança que terá uma doença chamada esclerose lateral amiotrófica, uma doença que provoca uma destruição gradual das células do cérebro e da medula espinhal que controlam os músculos do corpo, levando a uma paralisia que impede o seu portador de se mover, de se comunicar, tornando-o prisioneiro de seu próprio corpo, capaz de pensar mas incapaz de se expressar, até que a doença atinja seus músculos respiratórios levando à morte em no máximo três anos. Certamente, ele lhe dirá que é melhor “subtrair” este feto, afinal de contas, quem gostaria de ter um filho assim?
Facilmente, este nosso hipotético médico convenceria a família. Posso até imaginar os argumentos:- Vocês podem tentar novamente, não há necessidade de passar por tudo isso, em alguns minutos tudo estará bem e vocês poderão ir para casa e seguir suas vidas.
Entretanto, vamos oferecer a este mesmo médico um outro caso, onde seria possível prever que uma criança se tornaria um grande cientista, provavelmente um dos maiores físicos do mundo, professor em Cambridge na mesma cadeira que pertenceu a Isaac Newton, escritor de livros incríveis que iriam popularizar a Física e os conhecimentos de nossa era às pessoas comuns. O que este médico diria aos pais?
- Vocês terão um gênio, seu filho trará grande contribuição à humanidade, meus parabéns, vamos cuidar para que a gestação corra sem problemas e a criança nasça bem.
Pois bem, os dois casos são um só, trata-se da mesma pessoa, Dr. Stephen Hawking, que teve diagnosticada sua doença aos 21 anos de idade, antes de se tornar um doutor, antes de formular suas teorias sobre os buracos negros, antes de escrever seus livros, antes de se casar, de ter filhos, de assombrar a todos vivendo por mais de 42 anos com uma doença que deveria matá-lo aos 24 anos de idade. A ciência está muito próxima de fazer prognósticos como o do primeiro caso, mas nunca será capaz de fazer prognósticos como o do segundo caso. Sendo assim, Dr. Hawking não teria chance alguma de nascer.
A morte nunca é uma saída.
* Décio Iandoli é vice-presidente da Associação Médico-Espírita de Santos (SP)
Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.
- Apo
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Re: Quem merece viver e morrer?
Esta é apenas uma visão da morte como saída. Não corresponde à verdade alguma. Em assuntos de vida e morte, quem sabe o que vale a pena é cada indivíduo, ou estamos sendo monocromáticos, como diz o vice-presidente espírita ( o que ele é, afinal? médico?).
Para muitos a vida só vale a pena se for digna, boa e satisfatória ( cada um que julgue o que é satisfatório e o que é insuportável).
Se isto que ele diz fosse a única e absoluta verdade sobre a vida ou a morte, ninguém se suicidaria, não existiria sofrimento atroz, pedidos de socorro e solicitações de eutanásia nos tribunais.
Deve-se respeitar os limites do ser humano e suas dores particulares. Tenho asco de quem se arvora a determinar o que se passa dentro do corpo e da mente dos demais. Além de burra, é uma posição egoísta e cruel.
A morte pode ser o conforto para muitos. É difícil entender isto? Então lembrem-se: quando um ente querido se vai, depois de muito martírio, costuma-se usar a célebre e consoladora frase:
- Coitado, finalmente descansou.
Parece que tem gente que não consegue entender a dor humana.
Para muitos a vida só vale a pena se for digna, boa e satisfatória ( cada um que julgue o que é satisfatório e o que é insuportável).
Se isto que ele diz fosse a única e absoluta verdade sobre a vida ou a morte, ninguém se suicidaria, não existiria sofrimento atroz, pedidos de socorro e solicitações de eutanásia nos tribunais.
Deve-se respeitar os limites do ser humano e suas dores particulares. Tenho asco de quem se arvora a determinar o que se passa dentro do corpo e da mente dos demais. Além de burra, é uma posição egoísta e cruel.
A morte pode ser o conforto para muitos. É difícil entender isto? Então lembrem-se: quando um ente querido se vai, depois de muito martírio, costuma-se usar a célebre e consoladora frase:
- Coitado, finalmente descansou.
Parece que tem gente que não consegue entender a dor humana.

- Deise Garcia
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Re: Quem merece viver e morrer?
[quote="Apo"]Esta é apenas uma visão da morte como saída. Não corresponde à verdade alguma. Em assuntos de vida e morte, quem sabe o que vale a pena é cada indivíduo, ou estamos sendo monocromáticos, como diz o vice-presidente espírita ( o que ele é, afinal? médico?).
Sim, ele é médico!
Para muitos a vida só vale a pena se for digna, boa e satisfatória ( cada um que julgue o que é satisfatório e o que é insuportável).
Se isto que ele diz fosse a única e absoluta verdade sobre a vida ou a morte, ninguém se suicidaria, não existiria sofrimento atroz, pedidos de socorro e solicitações de eutanásia nos tribunais.
Parece-me que Decio Iandole reporta-se tão somente ao aborto. Ou será que perdi alguma coisa?
Deve-se respeitar os limites do ser humano e suas dores particulares. Tenho asco de quem se arvora a determinar o que se passa dentro do corpo e da mente dos demais. Além de burra, é uma posição egoísta e cruel.
Não pense que a maioria das pessoas desejam morrer. Esta é a opinião daqueles que não saem do conforto da suas casas.
A morte pode ser o conforto para muitos. É difícil entender isto?
Vide acima.
Então lembrem-se: quando um ente querido se vai, depois de muito martírio, costuma-se usar a célebre e consoladora frase:
- Coitado, finalmente descansou.
Parece que tem gente que não consegue entender a dor humana.
Realmente, tem gente que só consegue ver a vida dentro da suas próprias limitações.
Sim, ele é médico!
Para muitos a vida só vale a pena se for digna, boa e satisfatória ( cada um que julgue o que é satisfatório e o que é insuportável).
Se isto que ele diz fosse a única e absoluta verdade sobre a vida ou a morte, ninguém se suicidaria, não existiria sofrimento atroz, pedidos de socorro e solicitações de eutanásia nos tribunais.
Parece-me que Decio Iandole reporta-se tão somente ao aborto. Ou será que perdi alguma coisa?
Deve-se respeitar os limites do ser humano e suas dores particulares. Tenho asco de quem se arvora a determinar o que se passa dentro do corpo e da mente dos demais. Além de burra, é uma posição egoísta e cruel.
Não pense que a maioria das pessoas desejam morrer. Esta é a opinião daqueles que não saem do conforto da suas casas.
A morte pode ser o conforto para muitos. É difícil entender isto?
Vide acima.
Então lembrem-se: quando um ente querido se vai, depois de muito martírio, costuma-se usar a célebre e consoladora frase:
- Coitado, finalmente descansou.
Parece que tem gente que não consegue entender a dor humana.
Realmente, tem gente que só consegue ver a vida dentro da suas próprias limitações.
Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.
Re: Quem merece viver e morrer?
Se algum ser humano com espinha bífida foi morto na holanda é porque o espírito do pobre diabo tinha contas a quitar ou porque escolheu tal destino com qualquer outro motivo à vista para seu crescimento espiritual ou o crescimento de outrem.
Logo, pergunto por que um espírita haveria de se horrorizar com isto?
Porque um espirita haveria de se horrorizar mesmo com a eugenia baseada em parâmetros do tipo cor do olho? Afinal um destino destes não teria sido determinado para aquele espírito antes mesmo que encarnasse em um humano com olhos da cor errada, pois não?
Logo, pergunto por que um espírita haveria de se horrorizar com isto?
Porque um espirita haveria de se horrorizar mesmo com a eugenia baseada em parâmetros do tipo cor do olho? Afinal um destino destes não teria sido determinado para aquele espírito antes mesmo que encarnasse em um humano com olhos da cor errada, pois não?
"Man is the measure of all gods"
(Fenrígoras, o sofista pós-socrático)
"The things are what they are and are not what they are not"
(Fenrígoras, o sofista pós-socrático)
"As mentes mentem"
(Fenrir, o mentiroso)
(Fenrígoras, o sofista pós-socrático)
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Re: Quem merece viver e morrer?
Não entendi onde a Deise quer chegar, mas se alguém em suplício profundo me pedir para aliviar a dor através do desligamento do fio que o liga à vida, eu devo dar-lhe as costas e fazer que não é comigo? Isto é dar direito à vida? Muito ética esta escolha.... 


Re: Quem merece viver e morrer?
Apo escreveu:Não entendi onde a Deise quer chegar, mas se alguém em suplício profundo me pedir para aliviar a dor através do desligamento do fio que o liga à vida, eu devo dar-lhe as costas e fazer que não é comigo? Isto é dar direito à vida? Muito ética esta escolha....
Ela está falando contra o aborto, não contra a eutanásia.
Apesar de muitas pessoas colocarem esses dois assuntos no mesmo saco (principalmente os opositores de ambos), um não tem nenhuma relação com a outra. A eutanásia pode ser consentida pelo objeto que a sofre, enquanto o aborto, não.
Não vou sair muito do tópico, então paro por aqui, heh!
O texto tem duas partes:
A primeira é uma falácia da descida escorregadia. (se permitimos o aborto em casos excepcionais, logo estaremos permitindo em todos os casos!)
E a segunda é um misto de algumas falácias de apelo à emoção, com determinismo histórico, generalização apressada e sei lá o que mais! (Se permitimos o aborto mesmo em casos excepcionais, os pais de Hawking iriam abortá-lo. Hawking é um gênio, logo seria ruim se ele tivesse sido abortado. Conclusão, aborto sempre é ruim.)
Textos propagandistas são um campo minado mesmo!
O que achei engraçado é que ele critica justamente Hawkings no começo texto por sua arrogância.
E se não existissem perguntas hipotéticas?
- Deise Garcia
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Re: Quem merece viver e morrer?
Alguém entendeu alguma coisa do meu post? "Não" é a resposta com 100% de probabilidade. Ótimo! Postarei novamente na próxima encarnação.
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