Viagem a Cuba
Enviado: 04 Fev 2009, 12:49
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Viagem a Cuba
Viagem a Cuba
Uma amiga minha muito querida fez um curso de verão na escola de cinema de Santo Antonio de los Baños, em Cuba, e me relatou hoje algumas coisas bem interessantes sobre esse paraíso do socialismo.
Ela confirmou o que já sabemos, que o povo cubano é extremamente alegre e acolhedor, e que Cuba é um lugar excelente pra visitar. Ela aproveitou os finais de semana pra passear em Havana, e adorou o bairro de Habana Vieja, cheio de cafés, artistas de rua, etc.
Por outro lado, ela relatou fatos bastante negativos.
a) além dos estudantes de cursos de curta duração ("talleristas"), a escola de cinema tem os alunos do cursos regular, de três anos. Ela falou do caso de uma aluna que contraiu o vírus HIV e foi expulsa da escola e deportada para seu país apenas por causa disso.
Detalhe: todos os estudantes do curso regular têm que fazer obrigatoriamente exames anti-HIV de seis em seis meses, e caso seja detectado o vírus eles recebem o mesmo destino, a expulsão e deportação.
b) a grande maioria dos cubanos não gosta de Fidel e fala disso reservadamente, sem no entando citar seu nome. Quando querem falar dele, fazem um gesto desenhando uma barba com as mãos. Eles têm medo de ser identificados como opositores.
Houve até um caso pitoresco (e que quem contou a ela jura que é real) de um cara que estava pra ser assaltado numa rua escura de Havana e gritou "Abajo Fidel", porque tinha certeza que esse grito atrairia um policial
Parece que não tinha nenhum gambé por perto e ele acabou sendo assaltado mesmo. A minha amiga estava na escola e foi repetir a piada, falando "Abajo Fidel" bem baixinho, mas mesmo assim o amigo dela que contou a história mandou, muito nervoso, ela calar a boca.
c) os cubanos chamam os integrantes dos CDRs (comitês de defesa da revolução) de "olhos", porque eles vigiam qualquer movimento "suspeito". Eles dizem que "cada rua tem um olho".
d) absolutamente todos os estabelecimentos comerciais têm a regra: "não tem, mas tem". Ou seja, não têm determinados produtos, porque estão racionados, mas sempre os têm para vender por baixo dos panos, se o cliente estiver disposto a pagar mais. O mercado negro é onipresente na ilha.
e) como se sabe, os cubanos compram gêneros de primeira necessidade em pesos "podres", mais baratos, e os turistas compram os mesmos produtos em pesos convertíveis, os CUCs, com paridade no dólar. Mas as bebidas alcoólicas, mesmo as produzidas em Cuba (com exceção de uma única modalidade de rum) são obrigatoriamente vendidas em CUCs, mesmo para os cubanos.
Ela perguntou para alguns cubanos como é que ela via eles tomando cerveja, se uma cerveja é 1 CUC e o salário médio é em torno de 30 dólares. A resposta deles sempre é um enigmático... "a gente dá um jeito".
f) lojas expõem nas vitrines (e conseguem vender!) televisores de tela plana de 500, 700 dólares. Quem os compra, é um mistério. Provavelmente pessoas que ganham gorjetas em dólar de turistas ou recebem dinheiro de parentes no exterior. Teoricamente seria impossível a um cubano comprar essas coisas. Aparentemente, essas duas categorias são a nova elite econômica da ilha.
g) cubanos são proibidos de ter internet em casa, e não podem usar os cybercafés dos locais turísticos mesmo que tenham dinheiro pra pagar. A única opção deles é usar os telecentros estatais, que têm filas enormes.
h) se um cubano casar com uma estrangeira, ele pode (depois de um longuíssimo processo burocrático) conseguir visto de saída para morar com ela em outro país, mas, caso ela queira morar com o marido em Cuba, não recebe visto permanente e tem que ficar periodicamente saindo e voltando ao país para renovar o visto de turista.
i) a imprensa cubana não publicou nada a respeito da deserção dos atletas do país nos Jogos Panamericanos. Minha amiga soube pela internet e foi conversar com os cubanos sobre isso, mas nenhum deles sabia do fato.
j) os cubanos são extremamente desinformados sobre a economia de seu próprio país. Vou dar um exemplo. Aqui no Pará há muita pesca, mas o peixe é caro, porque é de ótima qualidade e há muitos clientes de fora comprando pra exportação; com isso os preços sobem. Qualquer paraense sabe disso. Já em Cuba, onde o peixe também é caro, apesar de ser uma ilha, a minha amiga foi perguntar o porquê disso a alguns cubanos, e nenhum deles tinha a menor idéia dos motivos.
Eu não sei por que causa tanto escândalo entre determinadas pessoas de esquerda a constatação simples de que, mesmo uma imprensa conservadora como a nossa, ainda deixa o nosso povo "explorado" muito mais bem informado sobre as mazelas do país do que os retumbantes editoriais dessa relíquia do jornalismo chamada Granma.
k) existe um ditado entre os cubanos que diz que "o lugar mais feliz é o aeroporto, porque se alguém vai lá, ou está recebendo a visita de um estrangeiro, ou está indo embora".
Mesmo que o cubano consiga permissão de saída, existe no aeroporto uma tal câmara escura onde a pessoa entra pra confirmar os seus dados e ser liberada, e só depois de sair dela que tem certeza que vai poder viajar. As famílias que vão deixar seus entes queridos para viajar ficam extremamente apreensivas antes de ele entrar na câmara, porque são razoavelmente comuns casos em que, do nada, a pessoa responsável impede o cara de viajar.
Eu já falei aqui várias vezes a respeito dessa absurda excrescência que é o governo ter que dar permissão para o cidadão sair do país. O que a minha amiga sentiu foi uma angústia real, principalmente entre os mais instruídos, de saber que dependem da boa vontade do governo para poder viajar.
Ah, sim, esqueci de relatar uma coisa.
Ela ficou uns três dias hospedada na casa de um professor (algo que é proibido; é preciso autorização do governo para hospedar estrangeiros). O filho desse professor é meio hacker e tinha uma gambiarra pra acessar a internet da sua própria casa (não me perguntem como, não tenho a menor idéia).
Ele baixou o "Sicko", do Michael Moore, e confirmou pra ela aquilo que já foi comentado por aí: o atendimento prestado àquela turma de ex-voluntários norte-americanos, no hospital cubano, não é o atendimento padrão que os cubanos recebem, mas aquele reservado aos estrangeiros, que pagam. Por exemplo, o Maradona, que foi pra lá se tratar do vício em drogas.
(no caso dos norte-americanos, eles não pagaram nada, foram convidados pelo governo cubano)
A situação geral da saúde em Cuba é boa mas não é aquela excelência mostrada no filme, e Moore não informa o público disso.
Comenta-se que o filme não deve ser exibido no país, porque poderia indispor os espectadores contra o governo.