Falam mal da energia nuclear, mas, apenas nos EUA, 13 mil pessoas morrem por ano devido a problemas respiratórios causados pelas usinas a carvão, sem falar em um número muito maior que não morre, mas tem que ser hospitalizado.
Usinas hidroelétricas podem causar (e causam) terremotos, seja por acomodação de terreno ou por forçar falhas geológicas devido ao peso da água. Um caso recente, na China, matou centenas de milhares e os europeus estão repensando as hidroelétricas por medo de terremotos.
Usinas geotérmicas (uso do vapor d'água gerado por fontes termais) têm causado terremotos nos EUA, onde são exploradas em vários lugares.
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Os prós e os contras dos diferentes tipos de geração de energia para o Brasil
RIO - O terremoto seguido de tsunami no Japão no mês passado danificou seriamente a usina nuclear de Fukushima, fazendo pairar sobre o mundo o fantasma de um novo acidente nos moldes do de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, que lançou uma nuvem radioativa sobre boa parte da Europa.
A crise nuclear japonesa reforçou o debate sobre a segurança desse tipo de instalação, levando países como a Alemanha a desligar temporariamente seus reatores. Até a China, que está construindo 25 novas usinas, mais do que qualquer outro país, suspendeu a aprovação de projetos nucleares.
A verdade, no entanto, é que quando o assunto é geração de eletricidade "não existe almoço grátis", como dizia o economista e ganhador do Prêmio Nobel Milton Friedman. Toda energia é suja e sua produção tem impactos e riscos para o meio ambiente e os seres humanos.
- Para qualquer fonte de energia há um dano ambiental, nem que seja para produzir a tecnologia que ela usa - diz Roberto Schaeffer, professor de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ. - Mesmo nos casos das energias eólica e solar este impacto não é zero, embora ainda seja bem menor que nas outras opções.
Schaeffer lembra que, no Brasil, cerca de 90% da eletricidade consumida vem de hidrelétricas, que representam mais de 80% da capacidade instalada de geração no país. A operação dessas usinas praticamente não tem impacto sobre o meio ambiente e as populações em seu entorno, fazendo com que sejam consideradas uma das opções mais "limpas" disponíveis.
O mesmo, no entanto, não pode ser dito de sua construção. Seus reservatórios ocupam grandes extensões de território, forçando a remoção de cidades inteiras, destruindo florestas nativas, matando milhares de animais e inutilizando terrenos agriculturáveis. De acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia 2009-2019 da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao Ministério de Minas e Energia, os lagos das novas usinas que serão construídas no período cobrirão um total de 7.687 quilômetros quadrados, dos quais quase 5 mil são de florestas.
E isso sem contar o risco de rompimento das barragens. Embora raros, estes eventos podem provocar desastres de proporções gigantescas, como no caso da represa chinesa de Banqiao, em que uma falha catastrófica em 1975 provocou a morte de ao menos 171 mil pessoas, sendo 26 mil nas inundações provocadas pela liberação repentina de seu reservatório e outras 145 mil em epidemias subsequentes.
- Não existe a chamada energia limpa - considera Jayme Buarque de Hollanda, diretor-geral do Instituto Nacional de Eficiência Energética (Inee). - Todo tipo de geração é de alguma forma prejudicial ao ambiente e, por isso, temos a obrigação de usar bem a energia.
Enquanto a crise nuclear japonesa coloca países como a França e o próprio Japão contra a parede na busca por alternativas à sua dependência deste tipo de geração, o Brasil é abençoado em opções, destaca Roberto Schaeffer. Para ele, o fato de o país ter uma das maiores reservas de urânio do mundo não é argumento válido para defender um maior investimento em usinas nucleares e seus riscos inerentes. Atualmente, o único projeto em andamento é o de Angra III, no sul do estado do Rio de Janeiro e entre as duas maiores megalópoles do país. Com potência de 1.405 MW, ela deverá entrar em operação em 2015.
- O cálculo de risco não se faz só sobre a probabilidade de acontecer um acidente, mas essa probabilidade multiplicada pela magnitude do impacto de um acidente - explica. - Assim, quando acontece um acidente com uma usina nuclear, o dano pode ser tão grande que, mesmo multiplicado por uma probabilidade pequena, o risco ainda será alto.
O alto custo das usinas nucleares também faz delas uma pior opção para o Brasil, avalia Schaeffer. Apesar de grande parte da eletricidade do país já vir de usinas hidrelétricas, ainda há um enorme potencial hidráulico a ser explorado. Some-se a isso as oportunidades para a construção de novas usinas térmicas a gás e biomassa, "fazendas" eólicas, sistemas de captação solar e aproveitamento de onda e marés oceânicas, escolhas é que não faltam, afirma o professor da Coppe.
Segundo Schaeffer, no caso das hidrelétricas, o Brasil só usa um terço do potencial disponível. O problema é que, dos dois terços restantes, cerca da metade está na Amazônia, onde o relevo muito plano faz com que seus reservatórios sejam proporcionalmente maiores, ampliando o impacto ambiental e social dos projetos. Assim, o país enfrenta casos como o da usina de Belo Monte, cuja construção no Rio Xingu, no Pará, só começou após mais de 30 anos de estudos.
- Não é razoável imaginar que algum dia o Brasil vá explorar todo o seu potencial hidráulico. Não vamos embarreirar todos os rios do país - diz. - E a Amazônia é uma região complicada. Por ser muito plana, as barragens alagam grandes áreas, e ela também está distante dos grandes centros consumidores, exigindo linhas de transmissão muito longas.
Por isso, conta Schaeffer, atualmente há apenas três grandes projetos de hidrelétricas na Amazônia - Belo Monte, Santo Antônio e Jirau -, e todas a fio d'água. Se por um lado isso minimiza os danos ambientais, por outro é uma menor garantia de geração.
Outra boa opção que despontou no horizonte brasileiro de geração de energia são as termelétricas a gás natural. Segundo o professor da Coppe, com a exploração do petróleo do pré-sal o Brasil vai sair da situação de país com pouco gás disponível para um com muito gás.
As térmicas a gás, no entanto, estão no centro de uma grande polêmica nos EUA, pois estão espalhadas em pequenos bolsões em rochas e só podem ser explorados por meio de uma técnica apelidada de fracking, em que água e compostos químicos sob alta pressão são injetados sob a terra para "expulsar" o gás. O método, que pode provocar a contaminação de fontes subterrâneas de água e desestabilizar o solo, foi tema do documentário "Gasland", um dos candidatos ao Oscar deste ano. Além disso, estudo que será publicado na edição de maio do periódico "Climatic Change Letters" afirma que o fracking faz com que até 8% do metano do gás natural vazem para o ambiente.
Ainda na lista de oportunidades para o Brasil na geração térmica está a biomassa. Segundo Luciano Basto, pesquisador da Coppe, apenas o aproveitamento dos resíduos da produção agrícola, como palha de cana, milho e soja, tem o potencial para gerar 14 mil MW, ou mais do que uma hidrelétrica como Itaipu, sem prejudicar a fertilização do solo, que utiliza parte destes restos. Já os resíduos da pecuária e da criação de aves e suínos poderiam somar outros 2,5 mil MW à matriz energética brasileira, enquanto a queima do lixo urbano alcançaria até 1 mil MW, e do biogás do esgoto, mais 150 MW.
A energia da biomassa também tem a vantagem de ser neutra em carbono, lembra Schaeffer:
- São térmicas de queima limpa, pois o carbono que ela está emitindo é o que a própria planta absorveu em seu desenvolvimento.
Já do ponto de vista dos riscos e danos ambientais da geração térmica, eles dependem do combustível usado. Mas o grande vilão da geração térmica é mesmo o carvão. De acordo com estudo da Clean Air Task Force, uma organização não-governamental americana que luta por uma atmosfera mais respirável, a fuligem produzida pelas quase 500 usinas a carvão em funcionamento nos EUA provoca a morte prematura de mais de 13 mil pessoas por ano, além de problemas respiratórios que levam à internação de quase 10 mil e ataques cardíacos em outras 20,4 mil, gerando prejuízos econômicos da ordem de US$ 100 bilhões de dólares anuais.
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