Alguns Problemas de Descrição nos Fenômenos Espíritas
Enviado: 31 Mar 2006, 16:37
Alguns Problemas de Observação, Caracterização e Descrição nos Fenômenos Espíritas
Por Acauan
Desde suas origens o Espiritismo Kardecista reivindica para si o status de ciência, cujo objeto de estudo seria os espíritos e suas interações com o mundo material.
Como toda ciência tem seu fundamento na observação, caracterização e descrição de fenômenos, desenvolver estas atividades dentro do rigor do método é indispensável para que as proposições delas resultantes sejam consideradas cientificamente válidas.
Se a metodologia de observação, caracterização e descrição dos fenômenos não for adequada do ponto de vista científico, quaisquer hipóteses e teorias subseqüentes igualmente não o serão, partindo da definição de teoria científica dada por Karl Popper:
Uma boa observação de um fenômeno começa por identificar e isolar o que será observado.
O que parece ser uma atividade banal exige uma forte dose de conhecimento, critério e crítica, uma vez que a identificação e isolamento do fenômeno é um ato arbitrário, ou seja, o observador decide quais são as fronteiras do fenômeno que vai observar.
Há o risco de que a decisão inicial do observador científico sobre o quê observar esteja contaminada por hipóteses ou mesmo teorizações precoces, que podem direcionar suas observações para os elementos que potencialmente validem seus pressupostos.
A boa observação deve, portanto, ser isenta, ampla e detalhada, colhendo o máximo de dados sobre o fenômeno e sua vizinhança imediata, antes de fechar questão sobre quais são as fronteiras que separam estes dois elementos.
Um exemplo de observação científica avançada que atende a este requisito apenas parcialmente são as pesquisas em Física Quântica utilizando aceleradores de partículas.
Por mais sofisticados que sejam estes equipamentos e por melhores que sejam os dados por eles obtidos, os aceleradores de partículas fornecem apenas os dados que foram projetados para fornecer. Ou seja, não temos uma isenta e ampla observação dos fenômenos quânticos, mas uma observação pré-selecionada e restrita aos limites tecnológicos do aparelho, que foram projetados para atender pressupostos teóricos sobre o que é relevante observar nos fenômenos quânticos.
Quando escolhemos as variáveis a ser observadas com base em teorizações precoces que estabelecem um direcionamento preferencial à observação, corremos o risco de cair no que a estatística chama de amostragem viciada, amostras que não representam adequadamente seu universo real, mas uma distorção produzida pela pré-seleção das amostras utilizadas.
Para que os fenômenos espíritas possam ser reconhecidos como científicos têm que passar pelo crivo da avaliação dos critérios e práticas de observação, caracterização e descrição que sustentam as teorias elaboradas para explicá-los.
Quando observamos um fenômeno gravitacional simples, como a queda de um corpo, isolamos o corpo que cai como objeto da observação.
As observações de repetidas quedas registram que o corpo sempre cai em direção à Terra, numa trajetória perpendicular ao plano horizontal de referência definido por ela.
Observações isoladas não indicam, a priori, que a Terra influencia o fenômeno, uma vez que a superfície do planeta não mostra qualquer alteração que possa ser causa da queda do objeto.
Observando o fenômeno em diferentes condições, identificando e medindo variáveis e padrões, reunimos dados que levam à conclusão de que os corpos caem sempre com a mesma taxa de aceleração constante em uma mesma altitude e latitude terrestre, que o módulo da aceleração da queda varia conforme a altitude e latitude e corpos pesados ou leves, rarefeitos ou densos de qualquer formato, repetem as mesmas variáveis, descontado o efeito da resistência do ar.
Se as massas, tamanhos, formas e densidades dos corpos não afetam as variáveis que caracterizam suas quedas, mas as altitude e latitudes terrestres sim, chegamos à conclusão que a causa da queda dos corpos reside mais na Terra que no objeto que cai.
Ou seja, a observação e caracterização do fenômeno "queda dos corpos" leva por suas próprias medições objetivas a padrões que indicam a ação da Terra como causa do fenômeno.
O próximo passo do cientista é desenvolver uma teoria que explique como se dá esta ação e codifica-la de modo que previsões possam ser feitas e testadas a partir dela.
Como sabemos que tudo isto foi detalhadamente descrito nos Philosophiae Naturalis Principia Mathematica de sir Isaac Newton, temos lá um dos mais belos roteiros de como se conduzir uma perfeita observação, caracterização e descrição de fenômenos antes de sua teorização.
Uma adequada observação, caracterização e descrição dos fenômenos espíritas deve atender a critérios semelhantes de isolamento do fenômeno, observação de seu comportamento, medição de suas variáveis sob diferentes condições e identificação de seus padrões para então, e só então, redigir a descrição do fenômeno que permita a teorização sobre ele.
Um problema inicial é que a simples denominação "fenômenos espíritas" traduz uma conclusão final sobre suas causas.
No exemplo do fenômeno gravitacional, se partiu do isolamento e observação do objeto que cai para, através dos dados coletados pela observação, caracterizar e descrever o fenômeno citando a Terra como causa.
Se nos propomos a observar fenômenos espíritas temos que suas causas já estão estabelecidas antes da observação, definindo assim a teorização precoce citada anteriormente.
Convém que a denominação de fenômeno espírita seja dada a posteriori à observação e teorização, não a priori.
O primeiro requisito de observação de fenômenos a ser cumprido é decidir quais objetos devem ser isolados para a identificação e medição de variáveis e padrões.
Nos chamados fenômenos espíritas, mais especificamente nos chamados fenômenos mediúnicos, o objeto observado em isolamento geralmente é o chamado médium, a pessoa na qual e/ou através da qual os fenômenos se manifestam.
Uma das alegadas manifestações mais freqüentes da mediunidade é a chamada psicografia, na qual o médium sob a influência dos espíritos escreveria mensagens ditadas ou inspiradas por eles.
A observação deste fenômeno se dá sobre o objeto isolado, uma pessoa escrevendo.
As descrições espíritas em geral citam duas fontes de dados neste fenômeno, os conteúdos da mensagem escrita e as atividades psico-motoras do médium.
Uma descrição correta do fenômeno a partir da análise dos conteúdos de mensagens e das atividades psico-motoras do médium exige abordagens diferentes de identificação de variáveis e padrões, razão para que o fenômeno original seja desdobrado em dois.
O fenômeno psico-motor pode ter suas variáveis identificadas e medidas através dos instrumentais médicos disponíveis, que tornam possível mapear e quantificar as ocorrências neurológicas e motoras do médium, identificar padrões incomuns e abrir caminho para uma correlação entre estes padrões e seus potenciais efeitos e causas.
Voltando ao exemplo do fenômeno gravitacional da queda do corpo, vimos que a medição de suas variáveis mostrou que a massa, forma, tamanho ou densidade dos corpos não afetam as características da queda, mas a variação da altitude e latitude terrestre em que se localiza o corpo afeta diretamente o módulo da aceleração constante com que o corpo cai, logo, conclui-se que a Terra tenha influência maior sobre as causas do fenômeno do que o corpo.
A falta desta correlação direta e simples entre os padrões identificados nas medições das variáveis e as relações de causa e efeito concluídas constituem outro problema na descrição dos fenômenos espíritas. Algo do tipo "as variações dos padrões de eletroencefalograma do médium durante a psicografia demonstram a ação direta de um espírito sobre ele porque..."
Insistindo no comparativo entre a descrição do fenômeno gravitacional e a descrição dos fenômenos espíritas, quando a ciência diz que a causa da queda dos corpos reside principalmente na Terra, aponta como sujeito desta causa um objeto cuja existência não está em dúvida, uma vez que a materialidade, magnitude e principais características do planeta podem ser constatadas, aferidas e quantificadas por meios objetivos.
Mesmo que um exame dos padrões eletroencefalográficos do chamado médium, ou qualquer outra variável medida, apresentasse leituras incomuns de origem desconhecida, associar tais leitura à influência de um espírito dependeria do conhecimento das variáveis e padrões do espírito que podem interagir com os padrões do médium, da mesma forma como sabemos que a massa da Terra interage gravitacionalmente com a massa dos corpos numa razão direta.
Só que não há qualquer coisa próxima de um consenso científico sobre um conjunto de variáveis mensuráveis que defina o que é um espírito e quais são suas características.
Nestes termos, não é possível, dentro da ciência, caracterizar como causa de fenômenos um objeto que não possui caracterização.
Neste ponto, é possível aventar que determinadas subpartículas atômicas consideradas pelas teorias quânticas são tão imateriais quanto os espíritos no que se refere à validação objetiva.
Bem, isto estabelece um questionamento da física quântica e não um referendo do espiritismo.
No mais, as teorias quânticas foram validadas por previsões confirmadas com notável acurácia, o que lhes confere credibilidade científica.
Passando à observação dos chamados fenômenos espíritas de psicografia com base no conteúdo das mensagens, temos que tal, por si só, não oferece variáveis mensuráveis objetivamente ou padrões que possam ser identificados, que não os prosaicos ligados ao ato de escrever.
A caracterização do fenômeno se dá pela comparação entre os padrões identificados no conteúdo das mensagens e os padrões considerados típicos do chamado médium.
Geralmente a descrição destes fenômenos expõe esta comparação e conclui que as diferenças são melhor explicadas pela atuação dos espíritos.
São freqüentes as citações a conteúdos registrados pelo chamado médium, que seriam impossíveis a ele conhecer por si só e provados verdadeiros por algum método de confirmação.
É possível medir com alguma objetividade as variáveis do conteúdo de uma mensagem, como lingüística, estilo ou dados, cujos padrões podem ser identificados para caracterização e os dados confirmados por algum tipo de investigação.
O problema com estas descrições é que geralmente não informam como foram determinados objetivamente os padrões característicos do chamado médium de modo a eliminar a hipótese mais simples de ser ele, e não os espíritos, o autor dos conteúdos.
Tomemos as redações de obras literárias que reproduziriam o estilo de determinado autor falecido que são frequentemente caracterizadas e descritas como fenômenos espíritas de psicografia.
Como a imitação de estilo é uma habilidade comumente demonstrada por tradutores, escritores, redatores, revisores literários ou mesmo autodidatas leigos, temos que a conclusão "os estilos são iguais, logo a obra foi ditada pelo espírito do falecido autor" não é cientificamente válida, pois uma coisa não prova a outra e há explicações muito mais simples e passíveis de verificação objetiva.
São comuns as descrições destes fenômenos informarem as evidências de o porquê seria impossível ao chamado médium reproduzir os padrões apresentados, mas tais evidências tendem a ser antes pressupostos que validações objetivas do ponto científico.
O fato de alguém não possuir escolaridade formal não prova, por exemplo, que ele seja ignorante de determinados conteúdos disciplinares, assim como o fato de alguém nunca ter exercido determinada profissão não o impede de ter desenvolvido habilidades que lhes são típicas.
Concluindo, temos o problema de que as descrições dos fenômenos espíritas dão pouca margem à elaboração de previsões claras, o que dificulta a experimentação reprodutível dos fenômenos.
Uma alegação freqüente dos espíritas quanto a isto é que os espíritos são indivíduos inteligentes e com vontade própria, embora incorpóreos, e como tais não estão à disposição da vontade dos pesquisadores.
Neste caso, os problemas de descrição dos fenômenos espíritas continuarão pendentes até o dia que tal disposição se manifestar metodicamente.
Por Acauan
Desde suas origens o Espiritismo Kardecista reivindica para si o status de ciência, cujo objeto de estudo seria os espíritos e suas interações com o mundo material.
Como toda ciência tem seu fundamento na observação, caracterização e descrição de fenômenos, desenvolver estas atividades dentro do rigor do método é indispensável para que as proposições delas resultantes sejam consideradas cientificamente válidas.
Se a metodologia de observação, caracterização e descrição dos fenômenos não for adequada do ponto de vista científico, quaisquer hipóteses e teorias subseqüentes igualmente não o serão, partindo da definição de teoria científica dada por Karl Popper:
"Uma teoria científica é um modelo matemático que descreve e codifica as observações que fazemos. Assim, uma boa teoria deverá descrever uma vasta série de fenômenos com base em alguns postulados simples como também deverá ser capaz de fazer previsões claras as quais poderão ser testadas."
Uma boa observação de um fenômeno começa por identificar e isolar o que será observado.
O que parece ser uma atividade banal exige uma forte dose de conhecimento, critério e crítica, uma vez que a identificação e isolamento do fenômeno é um ato arbitrário, ou seja, o observador decide quais são as fronteiras do fenômeno que vai observar.
Há o risco de que a decisão inicial do observador científico sobre o quê observar esteja contaminada por hipóteses ou mesmo teorizações precoces, que podem direcionar suas observações para os elementos que potencialmente validem seus pressupostos.
A boa observação deve, portanto, ser isenta, ampla e detalhada, colhendo o máximo de dados sobre o fenômeno e sua vizinhança imediata, antes de fechar questão sobre quais são as fronteiras que separam estes dois elementos.
Um exemplo de observação científica avançada que atende a este requisito apenas parcialmente são as pesquisas em Física Quântica utilizando aceleradores de partículas.
Por mais sofisticados que sejam estes equipamentos e por melhores que sejam os dados por eles obtidos, os aceleradores de partículas fornecem apenas os dados que foram projetados para fornecer. Ou seja, não temos uma isenta e ampla observação dos fenômenos quânticos, mas uma observação pré-selecionada e restrita aos limites tecnológicos do aparelho, que foram projetados para atender pressupostos teóricos sobre o que é relevante observar nos fenômenos quânticos.
Quando escolhemos as variáveis a ser observadas com base em teorizações precoces que estabelecem um direcionamento preferencial à observação, corremos o risco de cair no que a estatística chama de amostragem viciada, amostras que não representam adequadamente seu universo real, mas uma distorção produzida pela pré-seleção das amostras utilizadas.
Para que os fenômenos espíritas possam ser reconhecidos como científicos têm que passar pelo crivo da avaliação dos critérios e práticas de observação, caracterização e descrição que sustentam as teorias elaboradas para explicá-los.
Quando observamos um fenômeno gravitacional simples, como a queda de um corpo, isolamos o corpo que cai como objeto da observação.
As observações de repetidas quedas registram que o corpo sempre cai em direção à Terra, numa trajetória perpendicular ao plano horizontal de referência definido por ela.
Observações isoladas não indicam, a priori, que a Terra influencia o fenômeno, uma vez que a superfície do planeta não mostra qualquer alteração que possa ser causa da queda do objeto.
Observando o fenômeno em diferentes condições, identificando e medindo variáveis e padrões, reunimos dados que levam à conclusão de que os corpos caem sempre com a mesma taxa de aceleração constante em uma mesma altitude e latitude terrestre, que o módulo da aceleração da queda varia conforme a altitude e latitude e corpos pesados ou leves, rarefeitos ou densos de qualquer formato, repetem as mesmas variáveis, descontado o efeito da resistência do ar.
Se as massas, tamanhos, formas e densidades dos corpos não afetam as variáveis que caracterizam suas quedas, mas as altitude e latitudes terrestres sim, chegamos à conclusão que a causa da queda dos corpos reside mais na Terra que no objeto que cai.
Ou seja, a observação e caracterização do fenômeno "queda dos corpos" leva por suas próprias medições objetivas a padrões que indicam a ação da Terra como causa do fenômeno.
O próximo passo do cientista é desenvolver uma teoria que explique como se dá esta ação e codifica-la de modo que previsões possam ser feitas e testadas a partir dela.
Como sabemos que tudo isto foi detalhadamente descrito nos Philosophiae Naturalis Principia Mathematica de sir Isaac Newton, temos lá um dos mais belos roteiros de como se conduzir uma perfeita observação, caracterização e descrição de fenômenos antes de sua teorização.
Uma adequada observação, caracterização e descrição dos fenômenos espíritas deve atender a critérios semelhantes de isolamento do fenômeno, observação de seu comportamento, medição de suas variáveis sob diferentes condições e identificação de seus padrões para então, e só então, redigir a descrição do fenômeno que permita a teorização sobre ele.
Um problema inicial é que a simples denominação "fenômenos espíritas" traduz uma conclusão final sobre suas causas.
No exemplo do fenômeno gravitacional, se partiu do isolamento e observação do objeto que cai para, através dos dados coletados pela observação, caracterizar e descrever o fenômeno citando a Terra como causa.
Se nos propomos a observar fenômenos espíritas temos que suas causas já estão estabelecidas antes da observação, definindo assim a teorização precoce citada anteriormente.
Convém que a denominação de fenômeno espírita seja dada a posteriori à observação e teorização, não a priori.
O primeiro requisito de observação de fenômenos a ser cumprido é decidir quais objetos devem ser isolados para a identificação e medição de variáveis e padrões.
Nos chamados fenômenos espíritas, mais especificamente nos chamados fenômenos mediúnicos, o objeto observado em isolamento geralmente é o chamado médium, a pessoa na qual e/ou através da qual os fenômenos se manifestam.
Uma das alegadas manifestações mais freqüentes da mediunidade é a chamada psicografia, na qual o médium sob a influência dos espíritos escreveria mensagens ditadas ou inspiradas por eles.
A observação deste fenômeno se dá sobre o objeto isolado, uma pessoa escrevendo.
As descrições espíritas em geral citam duas fontes de dados neste fenômeno, os conteúdos da mensagem escrita e as atividades psico-motoras do médium.
Uma descrição correta do fenômeno a partir da análise dos conteúdos de mensagens e das atividades psico-motoras do médium exige abordagens diferentes de identificação de variáveis e padrões, razão para que o fenômeno original seja desdobrado em dois.
O fenômeno psico-motor pode ter suas variáveis identificadas e medidas através dos instrumentais médicos disponíveis, que tornam possível mapear e quantificar as ocorrências neurológicas e motoras do médium, identificar padrões incomuns e abrir caminho para uma correlação entre estes padrões e seus potenciais efeitos e causas.
Voltando ao exemplo do fenômeno gravitacional da queda do corpo, vimos que a medição de suas variáveis mostrou que a massa, forma, tamanho ou densidade dos corpos não afetam as características da queda, mas a variação da altitude e latitude terrestre em que se localiza o corpo afeta diretamente o módulo da aceleração constante com que o corpo cai, logo, conclui-se que a Terra tenha influência maior sobre as causas do fenômeno do que o corpo.
A falta desta correlação direta e simples entre os padrões identificados nas medições das variáveis e as relações de causa e efeito concluídas constituem outro problema na descrição dos fenômenos espíritas. Algo do tipo "as variações dos padrões de eletroencefalograma do médium durante a psicografia demonstram a ação direta de um espírito sobre ele porque..."
Insistindo no comparativo entre a descrição do fenômeno gravitacional e a descrição dos fenômenos espíritas, quando a ciência diz que a causa da queda dos corpos reside principalmente na Terra, aponta como sujeito desta causa um objeto cuja existência não está em dúvida, uma vez que a materialidade, magnitude e principais características do planeta podem ser constatadas, aferidas e quantificadas por meios objetivos.
Mesmo que um exame dos padrões eletroencefalográficos do chamado médium, ou qualquer outra variável medida, apresentasse leituras incomuns de origem desconhecida, associar tais leitura à influência de um espírito dependeria do conhecimento das variáveis e padrões do espírito que podem interagir com os padrões do médium, da mesma forma como sabemos que a massa da Terra interage gravitacionalmente com a massa dos corpos numa razão direta.
Só que não há qualquer coisa próxima de um consenso científico sobre um conjunto de variáveis mensuráveis que defina o que é um espírito e quais são suas características.
Nestes termos, não é possível, dentro da ciência, caracterizar como causa de fenômenos um objeto que não possui caracterização.
Neste ponto, é possível aventar que determinadas subpartículas atômicas consideradas pelas teorias quânticas são tão imateriais quanto os espíritos no que se refere à validação objetiva.
Bem, isto estabelece um questionamento da física quântica e não um referendo do espiritismo.
No mais, as teorias quânticas foram validadas por previsões confirmadas com notável acurácia, o que lhes confere credibilidade científica.
Passando à observação dos chamados fenômenos espíritas de psicografia com base no conteúdo das mensagens, temos que tal, por si só, não oferece variáveis mensuráveis objetivamente ou padrões que possam ser identificados, que não os prosaicos ligados ao ato de escrever.
A caracterização do fenômeno se dá pela comparação entre os padrões identificados no conteúdo das mensagens e os padrões considerados típicos do chamado médium.
Geralmente a descrição destes fenômenos expõe esta comparação e conclui que as diferenças são melhor explicadas pela atuação dos espíritos.
São freqüentes as citações a conteúdos registrados pelo chamado médium, que seriam impossíveis a ele conhecer por si só e provados verdadeiros por algum método de confirmação.
É possível medir com alguma objetividade as variáveis do conteúdo de uma mensagem, como lingüística, estilo ou dados, cujos padrões podem ser identificados para caracterização e os dados confirmados por algum tipo de investigação.
O problema com estas descrições é que geralmente não informam como foram determinados objetivamente os padrões característicos do chamado médium de modo a eliminar a hipótese mais simples de ser ele, e não os espíritos, o autor dos conteúdos.
Tomemos as redações de obras literárias que reproduziriam o estilo de determinado autor falecido que são frequentemente caracterizadas e descritas como fenômenos espíritas de psicografia.
Como a imitação de estilo é uma habilidade comumente demonstrada por tradutores, escritores, redatores, revisores literários ou mesmo autodidatas leigos, temos que a conclusão "os estilos são iguais, logo a obra foi ditada pelo espírito do falecido autor" não é cientificamente válida, pois uma coisa não prova a outra e há explicações muito mais simples e passíveis de verificação objetiva.
São comuns as descrições destes fenômenos informarem as evidências de o porquê seria impossível ao chamado médium reproduzir os padrões apresentados, mas tais evidências tendem a ser antes pressupostos que validações objetivas do ponto científico.
O fato de alguém não possuir escolaridade formal não prova, por exemplo, que ele seja ignorante de determinados conteúdos disciplinares, assim como o fato de alguém nunca ter exercido determinada profissão não o impede de ter desenvolvido habilidades que lhes são típicas.
Concluindo, temos o problema de que as descrições dos fenômenos espíritas dão pouca margem à elaboração de previsões claras, o que dificulta a experimentação reprodutível dos fenômenos.
Uma alegação freqüente dos espíritas quanto a isto é que os espíritos são indivíduos inteligentes e com vontade própria, embora incorpóreos, e como tais não estão à disposição da vontade dos pesquisadores.
Neste caso, os problemas de descrição dos fenômenos espíritas continuarão pendentes até o dia que tal disposição se manifestar metodicamente.