A homeopatia parte do princípio de que, quanto menos concentração de seu princípio ativo, mais fará efeito. Isso contraria toda a lógica da química, que demonstra que quanto mais substância, aí sim haverá mais efeito sobre a doença.
As leis da química declaram que existe um limite para que uma diluição possa ser feita sem que ocorra a perda completa da substância original. Este limite, chamado número de Avogadro, corresponde às potências homeopáticas de 12C ou 24X (1 parte em 1024). O próprio Hahnemann percebeu que potencialmente não havia nenhuma chance de que mesmo uma molécula da substância original pudesse restar após diluições extremas. Mas ele acreditava que a agitação ou pulverização vigorosas em cada passo da diluição deixava para trás uma essência “como um espírito”—“deixando de ser perceptível aos sentidos”—que cura por reviver a “força vital” do corpo. Os proponentes modernos asseguram que mesmo quando a última molécula se foi, uma “memória” da substância é retida. Essa noção é sem fundamento. Além do mais, se isso fosse verdade, toda substância que entrasse em contato com uma molécula de água poderia imprimir uma “essência” que exerceria poderosos (e imprevisíveis) efeitos medicinais quando ingerida.
Muitos proponentes alegam que os produtos homeopáticos lembram as vacinas porque ambos oferecem um pequeno estímulo que dispara uma resposta imunológica. Essa comparação não é válida. As quantidades dos ingredientes ativos nas vacinas são muito maiores e podem ser mensuradas. Além disso, as imunizações produzem anticorpos cujas concentrações no sangue podem ser medidas, mas os produtos homeopáticos intensamente diluídos não produzem nenhuma resposta mensurável. E as vacinas são usadas preventivamente, não para tratar sintomas.
Stan Polanski, um médico assistente que trabalha na saúde pública perto de Asheville, Carolina do Norte, mostrou-nos insights adicionais:
* Imagine quantos componentes devem estar presentes, em uma molécula ou mais de cada dose de uma droga homeopática. Mesmo sob condições de higiene o mais estritas possível, poeiras transportadas pelo ar no local da fabricação devem carregar milhares de moléculas de origem biológica diferente derivadas de fontes locais (bactérias, vírus, fungos, gotículas respiratórias, células escamadas da pele, fezes de insetos) bem como de fontes distantes (pólens, partículas do solo, produtos de combustão), junto com partículas minerais de origem terrestre ou mesmo extraterrestre (poeira de meteoros). Similarmente, os diluentes “inertes” usados no processo devem ter sua própria biblioteca de microcontaminantes.
* O processo de diluição/potenciação na homeopatia envolve uma diluição repetida levada a extremos fantásticos, com um processo de “sucucção” entre cada diluição. O sucucção envolve o ato de sacudir ou agitar o conteúdo de uma certa maneira. Durante cada uma das etapas do processo da diluição, como se espera que a droga que emerge da preparação saiba qual das incontáveis substâncias no recipiente é a que vai dar conta do recado? Como é que milhares (milhões?) de compostos químicos sabem que eles precisam ficar quietinhos ali do lado enquanto o Composto Potente é ungido ao status de ser capaz de curar? Um cenário assim que pudesse levar a produtos distintos notavelmente adaptados para tratar uma doença em particular é mais que implausível.
* Deste modo, até que os apologistas da homeopatia consigam fornecer um mecanismo aceitável (não mágico) para a “potenciação” através da diluição de precisamente uma das muitas substâncias em cada um de seus produtos, é impossível aceitar que eles tenham corretamente identificado os ingredientes ativos em seus produtos. Qualquer estudo alegando demonstrar a eficácia de uma medicação homeopática deveria ser rejeitado de imediato a menos que incluísse uma lista de todas as substâncias presentes em concentrações iguais ou superiores ao ingrediente ativo proposto em cada estágio do processo de diluição, junto com uma explicação para rejeitar cada um deles como suspeito.
* O processo de “provas” através do qual os homeopatas decidem qual remédio combina com qual sintoma não é mais razoável. As provas envolvem o uso de várias substâncias registrando cada espasmo, espirro, dor ou coceira que ocorrer após a aplicação da substância—freqüentemente por vários dias. Os seguidores da homeopatia dão como certo que cada sensação relatada foi causada por qualquer que tenha sido a substância administrada, e que doses extremamente diluídas desta substância poderiam então simplesmente ser o remédio exato para tratar qualquer pessoa com aqueles sintomas específicos.
Também podemos explicar a homeopatia através do efeito placebo.Efeito placebo é o efeito mensurável ou observável sobre uma pessoa ou grupo, ao qual tenha sido dado um tratamento placebo.
Um placebo é uma substância inerte, ou cirurgia ou terapia “de mentira”, usada como controle em uma experiência, ou dada a um paciente pelo seu possível ou provável efeito benéfico. O por quê de uma substância inerte, uma assim chamada “pílula de açúcar,” ou falsa cirurgia ou terapia fazerem efeito, não está completamente esclarecido.
Embora os remédios homeopáticos sejam ineficazes, a homeopatia em si é bastante eficaz, ou não teria sobrevivido e crescido nos últimos 200 anos. Ela é muito popular na Europa, especialmente na família real da Grã Bretanha. Há escolas de homeopatia em todo o mundo. Afirma-se que a homeopatia é uma indústria de 200 milhões de dólares por ano nos EUA. “O fato de que ela seja tachada de não-científica por alguns médicos ortodoxos é, para muitas pessoas, um mérito positivo, não uma crítica” (Campbell).
O principal dano causado pela homeopatia clássica provavelmente não vem de seus remédios, que são provavelmente seguros, mas ineficazes, embora isso esteja mudando à medida em que a homeopatia se torna indistinguível do herbalismo em alguns lugares. Um dos perigos em potencial é o incentivo ao auto-diagnóstico e tratamento. Outro perigo reside na atitude de não se receber tratamento adequado de um médico convencional nos casos em que o paciente poderia ser beneficiado por um tratamento como esse, como numa infecção de bexiga ou infecção por fungos, ou num câncer. A homeopatia poderia funcionar no sentido de ajudar algumas pessoas se sentirem melhor algumas vezes. Ela não funciona, porém, no sentido de explicar patologias ou suas curas numa forma que não só tenha conformidade com os dados, mas que prometa nos trazer uma maior compreensão da natureza da saúde e da doença.
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