Objeções à consideração da Pesquisa Psi como ciência
A primeira objeção clássica é obtida a partir da própria definição de Psi. Esta indica o estudo de fenômenos aparentemente extra-sensório-motores. A definição não apresenta exatamente o que Psi estuda, mas o que aparenta ser. Como estudar algo que não se sabe o que é?
Outras objeções podem ser apontadas.
* As evidências de ocorrência destes fenômenos são suficientes para se constituir uma ciência?
* Estas evidências respeitam os parâmetros e critérios utilizados nas diversas ciências?
* Se não se sabe exatamente o que se está estudando, porque e como constituir uma ciência para investigar o assunto?
Resposta dos pesquisadores psi
O primeiro passo em uma análise de fenômenos Psi é determinar se o processo é extra-sensório-motor. A inclusão do aparentemente na definição de Psi, deve-se a necessidade de que não seja feito pré julgamento, ou seja, todos os aparentes fenômenos devem ser analisados, sejam eles verdadeiros ou não. Sempre se deve ter em mente a possibilidade de fraude, voluntária ou involuntária.
Se as pesquisas evidenciam a ocorrência de interações extra-sensório-motoras, por que não investigá-las cientificamente?
Bases do pensamento científico
Para verificarmos a cientificidade da Pesquisa Psi, vamos apontar as bases nas quais o pensamento científico desenvolveu-se.
Ciência significa conhecimento, saber, informação. Pode também ser definida como o conhecimento exato e racional de coisa determinada. E em que está baseado o pensamento científico? Nas premissas newtoniano-cartesianas.
Isaac Newton afirma que tudo no universo é composto por partículas materiais indivisíveis e regidas por leis precisas. E ainda que o tempo é independente do mundo material. René Descartes instaura a premissa da objetividade, da autonomia entre o observador e a realidade. Em conseqüência, a reprodução experimental tornou-se um importante instrumento de compreensão da natureza e um valioso parâmetro para se verificar a cientificidade de uma disciplina.
Já no séc. XVII, a observação seria considerada uma espécie de espelhamento da realidade e um método eficaz e suficiente para apreender a realidade como ela é. A matéria teria qualidades primárias e qualidades secundárias, quer estas fossem, respectivamente, diretamente mensuráveis ou percebidas pela mente.
Com base nas premissas apontadas desenvolveu-se o pensamento científico moderno que em resumo tem as seguintes características.
* Dicotomia entre o sujeito e o objeto.
* Distinção entre qualidades mensuráveis e não mensuráveis.
* A observação como espelhamento da realidade.
* Leis determinísticas absolutas, baseadas no atomismo e ratificadas pela replicação.
* Tempo absoluto independente do mundo material.
Estas características estão presentes nas ciências modernas e com base nestes conceitos estão formados os cientistas das diversas áreas.
Características da Pesquisa Psi
Com base nas diretrizes do pensamento científico moderno, são as seguintes as características da Pesquisa Psi.
* Estuda experiências humanas, não diretamente observáveis.
* Os fenômenos são subjetivos e não permitem medição.
* Implicam na interação entre mentes e entre mente e matéria.
* Não respeitam a independência espaço/tempo e a continuidade do fluxo de tempo, do passado para o futuro.
* Não podem ser reproduzidos.
Observamos que todas as características estão fora do escopo abrangido pelo pensamento científico clássico e nestas condições os fenômenos não poderiam ser estudados cientificamente.
De qualquer forma, consideramos que a Pesquisa Psi nasceu formalmente com a fundação em Londres da SPR - Society for Psychical Research, em 1882. Esta era formada por renomados cientistas da época e teve por objeto o estudo, em bases científicas, dos alegados fenômenos inexplicáveis na ótica da ciência constituída.
Aqui podemos nos perguntar, até que ponto os conceitos científicos e em conseqüência, as concepções científicas dos cientistas devem ser mantidas imutáveis? Não estariam estas concepções impermeáveis à consideração de novas condicionantes? Ou simplesmente deveríamos ignorar o extenso rol de fenômenos Psi registrados, porque com base na ciência clássica não poderiam existir?
A evolução das bases da ciência
O físico e filósofo Thomas Kuhn, em seu livro A Estrutura das Revoluções Científicas (1962), nos indica a solução para as questões acima.
Segundo Kuhn, para um dado estágio de evolução científica, tem-se os fenômenos considerados normais e com base nestes estão formadas as teorias científicas. Quando ocorre alguma anomalia, ou seja, fenômeno para o qual não há teoria científica aceita, a ciência, dita, normal, rejeita as anomalias como legítimas. Com a presença contínua das anomalias, as teorias vigentes sofrem certa transformação ou acomodação para justificá-las. Com a identificação de novas anomalias, as teorias vigentes tornam-se insustentáveis e forçosamente novas teorias surgem, em um processo identificado como revolução científica, onde estas novas teorias permitem a eclosão de ciências emergentes.
No que diz respeito ao princípio da observação como um perfeito espelhamento da realidade, ainda no séc. XVIII o filósofo Immanuel Kant questionou-o. Para Kant a mente (observador) está sempre ativa e influencia o que percebemos.
Ainda contrariando a visão clássica da ciência, as teorias de Mecânica Quântica de Max Planck e Geral da Relatividade de Albert Einstein, revolucionaram, conforme definido por Kuhn, os conceitos de atomismo e de independência tempo/espaço/matéria.
Estes conceitos demonstram que embora as ciências constituídas possuam uma inércia natural e protetora contra novas teorias, somente o estudo e a pesquisa adequados permitiram a evolução do conhecimento.
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