Anatomia do Agnosticismo
Enviado: 14 Nov 2006, 17:17
Anatomia do Agnosticismo
Postado originalmente em 31/7/2003 13:59:47
Por Acauan
A definição clássica para a palavra “agnóstico” é “aquele que não conhece”, ou seja, pessoas que confrontadas com a questão “Deus” e tudo que lhe é diretamente correlato, a começar da existência ou não dele, declaram simplesmente que não possuem as respostas.
O problema desta definição é ser abrangente demais e baseada numa negativa. Não se definem posturas intelectuais baseado no que as pessoas não sabem.
Seria o mesmo que dizer que o astrônomo pesquisador que declara não saber se existe vida em outros planetas e o xamã aborígine que afirma coisa semelhante pertencem a um mesmo grupo.
Melhor que definir agnósticos como pessoas que declaram não saber se Deus existe ou não, ou mesmo como pessoas que consideram que Deus é incognoscível, é identificar que postura as pessoas agnósticas mantém diante daquilo que não conhecem ou que entendem como impossível de ser conhecido.
Diante do desconhecido, pode-se tomar duas atitudes:
- Estudá-lo e buscar formas de compreendê-lo;
- Ignorá-lo, por ter o assunto como irrelevante ou inviável.
Uma categoria de agnósticos surge da segunda situação, pessoas que entendem que Deus é irrelevante em suas vidas, que a existência ou inexistência dele não lhes diz respeito e, portanto não vêem motivos para investir tempo e inteligência no discernimento desta questão.
Esta linha de pensamento é algo incompleta: se Deus existe, não há como ele ser irrelevante. Diante de um ser definido como uma consciência de atributos infinitos e perfeitos, só é possível negar logicamente sua relevância se este ser não existir, uma vez que a infinitude e a perfeição não são características desprezíveis.
Assim o agnóstico que segue a filosofia do “se Deus existe, o problema é dele” descartou a possibilidade da existência de Deus, reduziu esta probabilidade à um mínimo insignificante ou redefiniu o conceito de Deus de modo a considerá-lo irrelevante.
Na prática não existe muita diferença entre esta forma de agnosticismo e o ateísmo puro.
Também é indistinguível do ateísmo a postura agnóstica que parte da PREMISSA que Deus é incognoscível.
Muitos argumentos podem apoiar a CONCLUSÃO de que Deus é incognoscível, mas tomar tal idéia como um pressuposto a torna desprovida de justificativa lógica, coisa só admissível às manifestações auto-evidentes da realidade.
Ora, se Deus é incognoscível pode-se considerar com alguma segurança que seus atributos e manifestações também o são, logo não podem ser auto-evidentes.
Quando se parte da premissa que Deus é incognoscível, estabelece-se que nenhum de seus atributos ou manifestações podem ser percebidos ou analisados pela razão, o que para todos os efeitos práticos é o mesmo que partir da premissa que ele não existe, tal qual o “dragão na garagem”, confrontado por Carl Sagan.
Tanto o agnóstico que considera Deus irrelevante, como o que assumiu em definitivo a posição de que Deus é incognoscível fecharam questão sobre o assunto.
Outra categoria de agnósticos entende Deus como um desafio intelectual.
Um desafio que não consiste, necessariamente, em chegar a uma conclusão sobre se Deus existe ou não, se é incognoscível ou não, e sim em descobrir como PENSAR esta questão.
Deus e sua existência são para este agnóstico uma questão em aberto, não uma questão abandonada ou irrelevante.
O que caracteriza esta modalidade do agnosticismo e ao mesmo tempo a distancia das escolas de pensamento religioso é a absoluta ausência do elemento FÉ.
O pensador agnóstico não decreta, como o ateu, a inexistência de Deus, mas tal qual o ateu não tem FÉ nele, o que significa que independente de Deus existir ou não, o agnóstico, ao contrário do pensador religioso, não alimenta qualquer vínculo afetivo com o objeto de seu estudo.
Esta ausência do que os religiosos chamam de “amor a Deus” é o que talvez defina o agnóstico. Um agnóstico é alguém que não ama a Deus, mesmo admitindo que Deus possa existir.
O pensamento agnóstico entende a existência de um ser infinito e perfeito como teoricamente possível, sem considerar que esta possibilidade de existência implique necessariamente num compromisso de adoração e obediência dos homens com relação a este ser.
Visto desta forma, são incorretas as representações que ilustram a religiosidade e o ateísmo como posicionamentos extremos e o agnosticismo como uma posição indefinida, situada em algum ponto entre as extremidades.
Mais correto seria representar esta relação como um sistema de eixos, um fixo e outro móvel, situando-se a religião no cruzamento dos eixos, o ateísmo na extremidade do eixo fixo e o agnosticismo na extremidade do eixo móvel.
O movimento do eixo pode aproximar ou afastar entre si ateísmo e agnosticismo, mas manterá sempre uma distância mínima entre agnosticismo e religião, distância esta fixada pela ausência da Fé e pela substituição do desejo de comunhão com Deus pela busca do entendimento de seu significado.
Postado originalmente em 31/7/2003 13:59:47
Por Acauan
A definição clássica para a palavra “agnóstico” é “aquele que não conhece”, ou seja, pessoas que confrontadas com a questão “Deus” e tudo que lhe é diretamente correlato, a começar da existência ou não dele, declaram simplesmente que não possuem as respostas.
O problema desta definição é ser abrangente demais e baseada numa negativa. Não se definem posturas intelectuais baseado no que as pessoas não sabem.
Seria o mesmo que dizer que o astrônomo pesquisador que declara não saber se existe vida em outros planetas e o xamã aborígine que afirma coisa semelhante pertencem a um mesmo grupo.
Melhor que definir agnósticos como pessoas que declaram não saber se Deus existe ou não, ou mesmo como pessoas que consideram que Deus é incognoscível, é identificar que postura as pessoas agnósticas mantém diante daquilo que não conhecem ou que entendem como impossível de ser conhecido.
Diante do desconhecido, pode-se tomar duas atitudes:
- Estudá-lo e buscar formas de compreendê-lo;
- Ignorá-lo, por ter o assunto como irrelevante ou inviável.
Uma categoria de agnósticos surge da segunda situação, pessoas que entendem que Deus é irrelevante em suas vidas, que a existência ou inexistência dele não lhes diz respeito e, portanto não vêem motivos para investir tempo e inteligência no discernimento desta questão.
Esta linha de pensamento é algo incompleta: se Deus existe, não há como ele ser irrelevante. Diante de um ser definido como uma consciência de atributos infinitos e perfeitos, só é possível negar logicamente sua relevância se este ser não existir, uma vez que a infinitude e a perfeição não são características desprezíveis.
Assim o agnóstico que segue a filosofia do “se Deus existe, o problema é dele” descartou a possibilidade da existência de Deus, reduziu esta probabilidade à um mínimo insignificante ou redefiniu o conceito de Deus de modo a considerá-lo irrelevante.
Na prática não existe muita diferença entre esta forma de agnosticismo e o ateísmo puro.
Também é indistinguível do ateísmo a postura agnóstica que parte da PREMISSA que Deus é incognoscível.
Muitos argumentos podem apoiar a CONCLUSÃO de que Deus é incognoscível, mas tomar tal idéia como um pressuposto a torna desprovida de justificativa lógica, coisa só admissível às manifestações auto-evidentes da realidade.
Ora, se Deus é incognoscível pode-se considerar com alguma segurança que seus atributos e manifestações também o são, logo não podem ser auto-evidentes.
Quando se parte da premissa que Deus é incognoscível, estabelece-se que nenhum de seus atributos ou manifestações podem ser percebidos ou analisados pela razão, o que para todos os efeitos práticos é o mesmo que partir da premissa que ele não existe, tal qual o “dragão na garagem”, confrontado por Carl Sagan.
Tanto o agnóstico que considera Deus irrelevante, como o que assumiu em definitivo a posição de que Deus é incognoscível fecharam questão sobre o assunto.
Outra categoria de agnósticos entende Deus como um desafio intelectual.
Um desafio que não consiste, necessariamente, em chegar a uma conclusão sobre se Deus existe ou não, se é incognoscível ou não, e sim em descobrir como PENSAR esta questão.
Deus e sua existência são para este agnóstico uma questão em aberto, não uma questão abandonada ou irrelevante.
O que caracteriza esta modalidade do agnosticismo e ao mesmo tempo a distancia das escolas de pensamento religioso é a absoluta ausência do elemento FÉ.
O pensador agnóstico não decreta, como o ateu, a inexistência de Deus, mas tal qual o ateu não tem FÉ nele, o que significa que independente de Deus existir ou não, o agnóstico, ao contrário do pensador religioso, não alimenta qualquer vínculo afetivo com o objeto de seu estudo.
Esta ausência do que os religiosos chamam de “amor a Deus” é o que talvez defina o agnóstico. Um agnóstico é alguém que não ama a Deus, mesmo admitindo que Deus possa existir.
O pensamento agnóstico entende a existência de um ser infinito e perfeito como teoricamente possível, sem considerar que esta possibilidade de existência implique necessariamente num compromisso de adoração e obediência dos homens com relação a este ser.
Visto desta forma, são incorretas as representações que ilustram a religiosidade e o ateísmo como posicionamentos extremos e o agnosticismo como uma posição indefinida, situada em algum ponto entre as extremidades.
Mais correto seria representar esta relação como um sistema de eixos, um fixo e outro móvel, situando-se a religião no cruzamento dos eixos, o ateísmo na extremidade do eixo fixo e o agnosticismo na extremidade do eixo móvel.
O movimento do eixo pode aproximar ou afastar entre si ateísmo e agnosticismo, mas manterá sempre uma distância mínima entre agnosticismo e religião, distância esta fixada pela ausência da Fé e pela substituição do desejo de comunhão com Deus pela busca do entendimento de seu significado.