Página 1 de 1

A Problemática da Tradução da Bíblia.

Enviado: 22 Dez 2006, 16:43
por Apocaliptica
Umas das questões mais polêmicas quando se trata de documentos históricos é a interpretação da escrita em toda a sua amplitude. Não é a toa que aprendemos desde cedo a tentar extrair dos textos na escola o siginificado mais adequado
para aquilo que o autor realmente quis transmitir.
Mesmo assim, quantas conversas acaloradas surgem mais tarde, nos bancos acadêmicos em torno de livros e artigos de autores vivos ainda ou que já não podem nos clarear determinadas passagens.
As línguas são seres vivos e em constante evolução. A linguagem é rica de figuras, permite que façamos verdadeiros malabarismos com ela.
Várias escolas literárias já surgiram (sob ventos variados e momentos históricos), e contextos que se insurgiram contra a simplicidade e contra os excessos da forma.
E os textos técnicos? Nem esses escapam às transgressões de época. É preciso estar atento ainda às mentes que produzem tais escritos, documentos ou literatura.

Lembro-me agora de que minha monografia de conclusão de curso na Faculdade era em parte técnica, em parte um estudo de caso e em parte uma avaliação pessoal.
Hoje, fico olhando, lendo e relendo, e pensando que pouco dali se aproveita. O contexto era outro, a tecnologia era outra, as pessoas pensavam de forma diversa, minha avaliação acerca daqueles acontecimentos difere em quase tudo do que penso ou avalio agora
Eu também já escrevi poesias, com estilos diferentes, com métricas simples e complicadas. Já analisei e vi o mundo de outra forma. Já interpretei o pensamento alheio de modo totalmente estranho ao que imagino agora.
Mesmo assim, ainda duvido da minha capacidade de entender fatos, a vida, algumas circunstâncias e a própria história.
É uma dúvida baseada na observação de dificilmente existe unanimidade no pensamento coletivo.
Porque isso é individual e humano.
Porque as palavras são armas e são instrumentos.
Porque a junção ou a superposição delas, ou a omissão, ou a manipulação, podem ser um jogo e uma brincadeira.
Posso fazer isso de sã consciência, com intenções variadas.
Posso também, colocar nas palavras cargas emocionais ou políticas ou subliminares intencionalmente ou inconscientemente.
Posso estar eu perturbada mentalmente...assim como muitos daqueles que produziram documentos e textos que chegam até nós.
Não quer dizer que não fossem capazes de um momento de bom senso e lucidez...mas daí a interpretá-los e extrair o exato valor de suas idéias vai um desafio e tanto.

Eu sempre fui a favor da liberdade de pensamento e de expressão. Desde que não agrida, não contamine, não tente
modificar de forma prepotente ou aliciante a percepção a respeito do mundo que os outros tem.
Acontece que isso acaba ocorrendo, queiramos ou não, pois é esse o processo de troca e assimilação que fazemos ao longo de nosso desenvolvimento.
Cada qual na sua capacidade e intensidade e cada um dentro de seus modelos mentais.


Prolixos ou concisos, imparciais ou radicais, servindo ou não a interesses políticos de momento, desvairados, melodramáticos, frios ou descompromissados....assim tem sido feita a história.

Nada disso é desconhecido de vocês aqui.

Mas sempre me questiono sobre a problemática das tais metáforas e parábolas e outras simbologias constantes na Bíblia e outros livros religiosos.
Principalmente porque eles tem propósitos também discutíveis.

E me questiono mais ainda , quando penso em quantas mãos terão passado esses documentos sagrados.
E mais ainda, quando imagino o que pode ter acontecido com os livros como a Bíblia cristã , que dizem ter sido escrita por pessoas variadas, em épocas diferentes, sofreram modificações após a morte dos autores e ainda - pensem nisso - foram traduzidas de língua para língua ao redor do mundo.
Considere aqui que cada língua também tem sua evolução particular e que os próprios tradutores podem ter sofrido toda a sorte de pressões, enganos, interpretações e manipulações emocionais e intelctuais.

Achei num site a história das traduções da Bíblia para a língua portuguesa. Não sei já postaram aqui...mas achei interessante.

_____________________________________________________


Lançada no ano 2000, a Bíblia Sagrada - Nova Tradução na Linguagem (NTLH) mantém-se fiel aos textos originais - hebraico, aramaico e grego - e, ao mesmo tempo, adota a estrutura gramatical e a linguagem falada pelo brasileiro. Desenvolvida pela Comissão de Tradução da SBB, a NTLH é voltada às pessoas que ainda não tiveram nenhum (ou pouco) contato com a Palavra de Deus e, por isso, é muito indicada como ferramenta de evangelização.
Quando foi publicada a primeira edição desta Bíblia, em 1988, imediatamente a Comissão de Tradução da SBB continuou o trabalho de acompanhamento e revisão da tradução, prestando atenção às sugestões e críticas que surgiam e procurando aperfeiçoar o trabalho realizado. Além disso, a Língua Portuguesa, por ser uma língua viva, continuou a sofrer mudanças significativas desde o lançamento da publicação. Assim, depois de doze anos dedicados a pesquisas profundas e revisões, a SBB lançou a Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH). Esta edição é, na verdade, uma revisão da Bíblia na Linguagem de Hoje, já conhecida desde 1988. Porém, a NTLH recebeu uma revisão tão profunda que pode ser considerada, realmente, como uma nova tradução das Escrituras Sagradas

Comissão de Tradução

A Comissão de Tradução da SBB é formada por seis integrantes, cada um com uma especialidade diferenciada:

Rudi Zimmer - pastor luterano, é especialista em hebraico e aramaico e responsável pela coordenação da Comissão de Tradução da SBB. Doutor em Teologia e Licenciado em Letras, atuou como professor de Grego, Latim, Hebraico, Teologia e História das Religiões.
Roberto G. Bratcher - pastor batista, é especialista em grego, lingüística e crítica textual. Representa a Comissão de Tradução junto às Sociedades Bíblicas Unidas (SBU). Doutor em Teologia, atuou durante 39 anos como tradutor e consultor das Sociedades Bíblicas Unidas (SBU), envolvendo-se em inúmeros projetos de tradução das Escrituras. É autor da primeira tradução do Novo Testamento em inglês moderno produzida pelas SBU, "Good News for Modern Man", lançada nos EUA, em 1966. Há mais de 34 anos dedica-se à tradução da Bíblia para o português.
Werner Kaschel - pastor batista, é especialista em Hebraico e Estilo. Mestre em Teologia e Doutor em Filosofia e Divindades, dedicou-se durante vários anos ao ensino do Hebraico e do Antigo Testamento.
Josué Xavier - pastor presbiteriano independente, é bacharel em Teologia, Licenciado em Filosofia e Letras e pós-graduado em Antigo Testamento. É o responsável pela revisão gramatical na Comissão da SBB, garantindo o uso correto da língua portuguesa nos textos bíblicos.
Selma Junia Vassão Giraldi - é presbiteriana e cursou Sociologia e Política. Tradutora, especializou-se em Estilo e Facilidade de Compreensão da Linguagem.
Vilson Scholz - pastor luterano, é especialista em Novo Testamento. Doutor em Teologia, é professor de Grego, Hermenêutica e Novo Testamento.
__________________________________________________

História da Tradução para a lìngua Portuguesa

Os mais antigos registros de tradução de trechos da Bíblia para o português datam do final do século XV. Porém, centenas de anos se passaram até que a primeira versão completa estivesse disponível em três volumes, em 1753. Trata-se da tradução de João Ferreira de Almeida. A primeira impressão da Bíblia completa em português, em um único volume, aconteceu em Londres, em 1819, também na versão de Almeida. Veja a seguir a cronologia das principais traduções da Bíblia completa publicadas na língua portuguesa.


· 1753 - Publicação da tradução de João Ferreira de Almeida, em três volumes.
· 1790 - Versão de Figueiredo - elaborada a partir da Vulgata pelo Padre católico Antônio Pereira de Figueiredo, publicada em sete volumes, depois de 18 anos de trabalho.
· 1819 - Primeira impressão da Bíblia completa em português, em um único volume. Tradução de João Ferreira de Almeida.
· 1898 - Revisão da versão de João Ferreira de Almeida, que recebeu o nome de Revista e Corrigida. A tradução de Almeida foi trazida para o Brasil pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, em data anterior à fundação da SBB. Naquela época, a tradução de Almeida foi entregue a uma comissão de tradutores brasileiros, que foram incumbidos de tirar os lusitanismos do texto, dando a ele uma feição mais brasileira.
· 1917 - Versão Brasileira. Elaborada a partir dos originais, foi produzida durante 15 anos por uma comissão de especialistas e sob a consultoria de alguns ilustres brasileiros. Entre eles: Rui Barbosa, José Veríssimo e Heráclito Graça.
· 1932 - Versão de Matos Soares, elaborada em Portugal.
· 1956 - Versão Revista e Atualizada, elaborada pela Sociedade Bíblica do Brasil. Quando em 1948, a SBB foi fundada, uma nova revisão de Almeida, independente da Revista e Corrigida, foi encomendada a outra equipe de tradutores brasileiros. O resultado desse novo trabalho, publicado em 1956, é o que hoje conhecemos como a versão Revista e Atualizada.
· 1959 - Versão dos Monges Beneditinos. Elaborada a partir dos originais para o francês, na Bélgica, e traduzida do francês para o português.
· 1968 - Versão dos Padres Capuchinhos. Elaborada no Brasil, a partir dos originais, para o português.
· 1988 - Bíblia na Linguagem de Hoje. Elaborada no Brasil, pela Comissão de Tradução da SBB, a partir dos originais.
· 1993 - 2a Edição da versão Revista e Atualizada, de Almeida, elaborada pela SBB.
· 1995 - 2a Edição da versão Revista e Corrigida, de Almeida, elaborada pela SBB.
· 2000 - Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Elaborada pela Comissão de Tradução da SBB


Fonte:http://www.sbb.org.br/bibliaemportugues/historia.asp

Re.: A Problemática da Tradução da Bíblia.

Enviado: 23 Dez 2006, 13:45
por Fernando Silva
1. O A.T. foi quase todo escrito em hebraico que, por escrever apenas as consoantes, depende do contexto para a devida interpretação. Por exemplo, MLK pode ser melek (rei) ou molok (o deus que exigia sacrifícios humanos). Até hoje, ler a Torah é um exercício de interpretação.

2. A Bíblia foi escrita numa língua que morreu e ressuscitou artificialmente. O hebreu usado hoje em Israel não é necessariamente o mesmo de 3 mil anos atrás, assim como aconteceria com o latim se voltasse a ser usado. A "alma" da língua, que estava na cabeça e na cultura das pessoas que a falavam, se perdeu. Muitas coisas que eram ditas nas entrelinhas ou dependiam de conhecimentos que não estão na Bíblia se perderam junto com a cultura do povo que a escreveu.

3. A Bíblia começou a ser escrita por volta de 700 a.C. Até então, sua transmissão era oral, o que certamente acarretou perdas e modificações ao passar de uma geração para outra. Cada época interpretava o que ouvia de acordo com sua cabeça e assim passava adiante. Uma sociedade nômade entendia as coisas de forma diferente de uma sociedade urbana.

4. Até ser fixado o cânon, os textos que viriam a compor o N.T. não eram considerados "sagrados e intocáveis" e cada um os modificava conforme a conveniência. Mesmo depois de fixado, havia várias versões diferentes dos vários livros. A coisa só começou a se estabilizar lá pelo ano 500 e a versão final do cânon só foi definida no concílio de Trento, no século XV.

Re.: A Problemática da Tradução da Bíblia.

Enviado: 23 Dez 2006, 13:49
por Apocaliptica
Fernando Silva,

Obrigada pela esmola natalina. Pelo menos 1 post. Já tá bom. :emoticon1:

Re: Re.: A Problemática da Tradução da Bíblia.

Enviado: 23 Dez 2006, 13:51
por Fernando Silva
Apocaliptica escreveu:Fernando Silva,

Obrigada pela esmola natalina. Pelo menos 1 post. Já tá bom. :emoticon1:

Por acaso, o assunto me interessa :emoticon7:

Re: Re.: A Problemática da Tradução da Bíblia.

Enviado: 23 Dez 2006, 13:53
por Apocaliptica
Fernando Silva escreveu:
Apocaliptica escreveu:Fernando Silva,

Obrigada pela esmola natalina. Pelo menos 1 post. Já tá bom. :emoticon1:

Por acaso, o assunto me interessa :emoticon7:


Certo. Também gosto do assunto porque acho o cúmulo que um livro como esse seja a palavra da verdade para tantas pessoas que se norteiam por ele.

Re.: A Problemática da Tradução da Bíblia.

Enviado: 23 Dez 2006, 14:20
por Fernando Silva
Há milhares de anos, as lendas, mentiras, besteiras, mitos e costumes primitivos de uma pequena tribo de
nômades semi-selvagens foram reunidos e escritos em pergaminhos. Ao longo dos séculos estes textos
foram modificados, mutilados, truncados, floreados e divididos em pequenos pedaços que foram então
embaralhados várias vezes. Em seguida, este material foi mal traduzido para várias línguas e vários povos
o adotaram como a expressão da verdade, a palavra de Deus definitiva e irretocável.