user f.k.a. Cabeção escreveu:" Desde a questão do ensino privado até a educação privada ", imagino que você tenha se confundido nessa frase, pois a noção de Estado mínimo abarca muito mais conceitos do que a privatização da educação.
Eu realmente acho que o ensino superior deva ser ou completamente privado ou, pelo menos, majoritariamente. Diversas vezes eu já expus os motivos para isso aqui, imagino que você os saiba de cor. Evitar o uso das instituições como ferramentas políticas, cortar privilégios de funcionários públicos, torná-las organismos independentes para que gerenciem melhor seus orçamentos e coibam por si só eventuais fraudes, fazer com que os alunos de alguma forma se comprometam a pagar pelo serviço que recebem, seja com dinheiro, ou com resultados ou trabalho. Muitas das falácias em torno da defesa dessas instituições consistem de uma repetição da falsidade de que o ensino superior é um direito, quando o mesmo não pode ser estendido a toda à população, nem sequer faz algum sentido fazê-lo, já que se trata de um serviço, que gera custos altíssimos. Institutos privados também teriam mais credibilidade para fazer parcerias com empresas privadas e criariam uma concorrência saudável. Você sabe tudo isso, não vou me estender mais.
Mas a concepção de Estado mínimo vai muito além da defesa da privatização do ensino superior. Eu pessoalmente, penso que o que deve ser mantido são as ferramentas fundamentais. Por exemplo, não podemos privatizar a justiça, o exército ou a câmara. E é exatamente isso que deve permanecer: os poderes judiciários, executivos e legislativos. Um Estado mínimo não se define como possuidor de empresas de mineração ou extração de petróleo, ou mesmo de telefonia, correio ou redes de televisão e estações de rádio. Também não deveria ser o possuidor das empresas de geração de energia, nem das distribuidoras, nem das companhias de águas, bancos comerciais, nem dos transportes coletivos e de cargas. Todos esses serviços podem ser prestados por empresas privadas de forma mais barata e eficiente, através da criação de concorrências, concessões contratuais, e mesmo naquelas onde só uma empresa pode oferecer o serviço, isso não significa que a atuação dela não possa ser fiscalizada e, se irregular, substituída pelos serviços de outra, através do estabelecimento de metas e regras para atuação. É reduzir a burocracia para os níveis mínimos, mantendo apenas os organismos fiscalizadores e certificadores essenciais. É o abandono de práticas assistencialistas que não são mais do que ferramentas políticas de curto-prazo, do que programas desenvolvementistas de longo-prazo.
Acho que Estado mínimo é isso. É também ser menos intrometido na economia, não ser dado a fabricar planos econômicos mirabolantes a cada três anos, funcionar sobre a dinâmica de câmbio flutuante, deixar de praticar subsídios para empresas lucrativas, abandonar políticas mercantilistas como a busca por um superávit comercial completamente artificial, quando é sabido que não é o saldo de vendas e compras que definirá o quão saudável está uma economia, mas sim como o nível das riquezas produzidas está se comportando ao longo do tempo. Isso seria um Estado não interventor, mas todos sabem que intervencionismo está muito relacionado ao tamanho do Estado.
Todas essas políticas postas em prática, além da abrupta redução da tributação devido ao corte de custos, também geram incentivos à livre iniciativa em diversos aspectos, aumentam a produtividade geral, pois menos gente trabalhará em empregos burocráticos sobrevivendo do volumoso repasse tributário e passará a trabalhar em atividades realmente produtivas, e, com certeza, gerando um alívio para a previdência no longo prazo.
Também aumenta a eficiência do Estado nas áreas em que ele é realmente necessário. Isso se trata de um conceito básico em administração: na medida que uma instituição amplia sua gama de atividades, a menos que ela se desmembre em administrações independentes, fatalmente perderá em eficiência e passará a ser menos competitiva. Especialização é crucial, o que puder ser terceirizado, deverá ser.
Discordo totalmente. Nenhum mercado existe sob o jugo de um Estado Mínimo. O capitalismo tende ao monopolismo e abismo de renda apenas cresce. Sendo o Estado um mantenedor de relações de produção, é simplesmente impossível pensar num Estado que não tenha qualquer interferência na economia. Chega a ser hipocrisia, visto que Estado nacional nenhum pratica isso.
A partir desse ponto, e da minha discordância do sistema liberal, já dá para se imaginar o "porquê" da minha discordância de toda e qualquer privatização: acesso. O medo de ocorrer aqui o que ocorre no Chile atualmente. (e olha que a sanha liberal já faz com que a UFMG chegue a esse extremo...). Além do acesso, a questão prática da democracia mesmo. Acho que a melhor solução para qualquer Estado é a manutenção de determinadas instituições públicas com QUALIDADE. A representação política, como ocorre atualmente, fica a cargo dos professores. Ao contrário de instituições privadas, onde você é obrigado a dar uma aula sob o escopo ideológico da instituição, na instituição pública você é "dono da sala de aula". A liberdade é sua.
user f.k.a. Cabeção escreveu:Keynes só foi realmente praticado no período mais conturbado da História do século vinte, tanto em termos políticos quanto em econômicos. Você realmente acha que o keynesianismo é mais importante para entender o desenvolvimento econômico das nações do que as práticas liberais, tanto no transcorrer dos séculos desde Smith até hoje, quanto na História recente das duas últimas décadas?
Se entende o desenvolvimento econômico de cada nação a partir da especificidade da mesma incluída na estrutura e no contexto global de um mundo quase totalmente capitalista e sob o ideário moral moderno. Keynes só é o marco da refutação ao liberalismo: sistemas econômicos deixados por si só quebram ou, no mínimo, geram desigualdades abruptas.
Quanto ao fato do "keynesianismo não ser aplicado atualmente", creio que você conhece a opinião quanto a isso, né? Os EUA, de liberais, não têm nada. Seja na forma de monopolismo vertical, seja na forma de subsídios econômicos, seja na forma de investimento militar, não vejo nada de liberal nos EUA.
E, quanto a "quem cresceu e quem minguou", não reduza as nações ao seu dito sistema econômico. O próprio "imperialismo" foi uma das práticas mais comuns dos séculos XIX e XX. Os países que ascenderam à condição de "desenvolvidos" não foram exatamente os "néo-liberais", mas sim, aqueles que encontraram brechas econômicas nas quais se apoiar, gerar e atrair capital. E nisso inclui-se o Japão e a China, por exemplo.
user f.k.a. Cabeção escreveu:O Estado deve restringir sua interferência na economia apenas a fiscalizar e aplicar às leis. Não deve ser proprietário/acionista, investidor ou credor. E deve tentar ser o mínimo consumidor (apenas deve consumir aquilo que for utilizar, de preferência os itens com melhor/custo benefício, e não um salva-vidas de empresários falidos ou padrinho em esquemas de privilégios).
Vou precisar repetir novamente a minha opinião, Vitor? Já repetimos esse debate umas vinte vezes...
user f.k.a. Cabeção escreveu:O crescimento da China é decorrente de uma série de fatores, desde a amplidão de oportunidades num mercado gigantesco recém aberto, hospitalidade ao capital, baixo custo da mão-de-obra e facilidade na obtenção de recursos.
É natural que com o crescimento da economia local, se preencham os espaços e a demanda diminua, junto com o próprio crescimento.
Já com relação a essas nações, seria mais produtivo se você as avaliasse comparativamente com nações listadas como pouco livres. Compare-nas com o Brasil. Nem todas são Estados mínimos, nem foi isso que eu disse. São economicamente mais livres. O tamanho do Estado é um dos critérios, não todos.
E é uma prova viva de que uma economia socialista totalitária pode funcionar. Não que eu, de fato, goste disso.
E, não, se eu apenas avaliar comparativamente vou cair na farsa da estatística, que não conta todas as caracterísitcas históricas que auxiliaram uma Noruega a ser o que é e não uma Venezuela.
user f.k.a. Cabeção escreveu:Ou seja, você concorda que a diferença entre a Venezuela e a Noruega devem mais a liberdade econômica do que a quantidade de petróleo? Ótimo, pois é isso que eu venho falando.
Parcialmente, sim. Primeiro, porque como eu disse, um sistema capitalista funcional necessita de um mínimo de liberdade. Mas nem eu afirmei que a quantidade de petróleo é a questão influente: a questão influente é a geração de riquezas e a diminuição da desigualdade de ambos. E, nisso, a liberdade econômica fica em segundo plano.
user f.k.a. Cabeção escreveu:Não. Eu disse que não é Marx quem determina como um indivíduo se realiza. Da mesma forma que temos pessoas se realizando socialmente, existem aquelas que buscam auto-conhecimento e auto-satisfação, e a realização destas é notoriamente individual.
A idéia que você deu é exatamente o que se vem falando sobre a concepção de "indivíduo" em Marx. Para Marx, não o indivíduo é um fenômeno particular do coletivo. Para o marxismo, não há valor no indivíduo que não seja todo ele manifestação coletiva, e que na mesma medida, não possa ser extinguido.
E Marx diria: não é aquilo que você chama de indivíduo que diz como cada PESSOA se realiza, mas sim, a sua realidade material, a sua determinação histórica, o seu contexto de existência que dizem que ele vem a ser. Mesmo se esse indivíduo inovar em algo, será com o uso das ferramentas já dadas pela sua própria realidade material, no sistema dito dialético.
E não, esse valor não pode ser extinguido pelo simples fato de que o valor individual é um valor coletivo. Mesmo a liberdade de opinião, as divergências ideológicas, todas as diferenças pessoais sintetizam uma existência COLETIVA. Atacar uma pessoa individualmente é atacar o coletivo. Daí, o totalitarismo ser uma doença social.