"The Female Brain": como as mulheres pensam

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First Knight
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"The Female Brain": como as mulheres pensam

Mensagem por First Knight »

Robin Marantz Henig


A pior coisa a fazer quando minha mãe estava de mal humor era falar que ficava chata quando menstruava. "Eu não sou só um monte de química!", gritava. Meu irmão, que mesmo aos 12 anos já acreditava na santidade dos dados, decidiu manter um diário escrito de quando minha mãe ficava irritada, para ver se havia alguma relação com seu ciclo menstrual. Era difícil contradizer a evidência circunstancial: quando nossa mãe ficava menstruada, também ficava mais difícil de se conviver.



Leia abaixo o texto


Meu irmão cresceu e virou um epidemiologista. Eu cresci e virei escritora de ciências. E sabendo das complexidades de tirar conclusões úteis dos dados e apresentá-los de forma clara para o leitor comum - o que é o trabalho dos escritores de ciência - fiquei frustrada com "The Female Brain", tentativa de Louann Brizendine em dissipar o que chama de o mito do "cérebro unissex". A maioria do livro soa como um artigo tirado de uma revista feminina, mesmo que Brizendine - neuropsiquiatra da Universidade da Califórnia, São Francisco - não queira nos sobrecarregar de fatos. Ao invés disso, ela oferece generalizações leves. "O cérebro feminino possui tremendas aptidões únicas - agilidade verbal, habilidade de conexão profunda em amizades, capacidade quase psíquica em decifrar expressões e tons de voz, emoções e estados de espírito, e a habilidade em evitar conflitos", escreve. Ela afirma que "tudo isso está instalado no cérebro feminino", um processo que vêm trabalhando para documentar, mas cujas implicações maiores não ficam claras.

A "instalação" ocorre durante o desenvolvimento fetal, quando o cérebro é exposto aos hormônios femininos ou masculinos, começando aproximadamente na oitava semana de gestação. A testosterona exclui as conexões nos centros de comunicação do cérebro, enquanto o estrogênio aumenta tais conexões, além das regiões do cérebro responsáveis pela linguagem e pela expressão de emoções. Tais diferenças, segundo Brizendine, torna as mulheres melhores negociadoras e conciliadoras, e homens, melhores lutadores e lobos solitários. (Isso também conta para alguns factóides preferidos da autora: por exemplo, de que os homens usam 7 mil palavras ao dia, e mulheres usam 20 mil). Mas será que as diferenças significam alguma coisa para, por exemplo, medir a aptidão das mulheres às profissões? Brizendine faz alusão à briga sobre Lawrence Summers, que foi forçado a deixar a presidência de Harvard após questionar as habilidades científicas inatas das mulheres. Sua conclusão: "Summers estava e não estava certo". No início da adolescência, meninos e meninas não mostram diferenças nas aptidões matemáticas ou científicas. Após as mudanças hormonais começarem, as "mulheres começam a focar intensamente em suas emoções e na comunicação, falando ao telefone e conversando com as amigas no shopping", enquanto os homens se tornam menos comunicativos e obcecados em marcar pontos - em jogos e no banco de trás do carro. Ela diz que Summers errou ao não reconhecer de que as garotas tendem a escolher carreiras não-científicas por conta de "decisões de valores moldadas pelos efeitos hormonais no cérebro feminino que exigem conexão e comunicação", e não por não possuírem aptidões inatas. Em outras palavras, diz, as mulheres não desejam ser cientistas porque é muito solitário - uma visão que pode ser contradita pelas pessoas que trabalham no ambiente cooperativo dos laboratórios de pesquisas.

Alguns podem se irritar e achar as idéias politicamente incorretas. Porém, o que me incomoda é que Brizendine não fez um bom trabalho em apresentar evidências científicas. Ao invés disso, ela colore seu texto com uma linguagem "bonitinha" - hormônios cerebrais são descritos como "a rainha" (estrogênio), o "sedutor persistente" (testosterona) e o "gatinho fofo" (oxitocina) - e piadas sobre sobre pacientes desinteressantes. Há também a irritantemente vaga metáfora do "escabeche", usada repetidamente para descrever o modo sobre o qual o cérebro é alterado pelos hormônios a que é exposto, para não mencionar o infinito uso de gírias ao descrever o cérebro da "garota adolescente" que "começa a pedir pela ótima droga da intimidade, a oxitocina".

Se você quiser dados que comprovem algumas das controversas afirmações de Brizendine, terá trabalho para encontrá-los. Pegue, por exemplo, a afirmação de que "estudos indicam que as meninas são motivadas - em nível molecular e neurológico - a amenizarem e prevenirem conflitos sociais". A nota de rodapé lista nove artigos formais, sem mais explicações. Pelos títulos (pelos quais o leitor deverá procurar a bibliografia), podemos deduzir que um dos esrudos foi conduzidos em camundongos do sexo feminino, outro (aparentemente) em macacas rhesus e outros seis em humanos. Porém só um desses estudos em seres humanos menciona explicitamente as "diferenças entre os sexos" no título. E os outros? Tais estudos são baseados em ressonâncias magnéticas, eletroencefalogramas ou conjecturas? Se Brizendine tivesse escolhido descrever melhor os experimentos, preferivelmente no próprio texto, ela poderia ter dado uma real contribuição para o nosso entendimento de como os cientistas chegaram a conclusão de que os cérebros dos homens e mulheres são diferentes, e como essas diferenãs se manifestam na vida cotidiana. Assim como está, não conseguimos julgar as evidências sozinhos. Até porque, se formos começar a debater sobre cientistas mulheres (e presidentes mulheres), precisaremos de toda a munição objetiva que conseguirmos.
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clara campos
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Re.: "The Female Brain": como as mulheres pensam

Mensagem por clara campos »

:emoticon45:
Só por existir, só por duvidar, tenho duas almas em guerra e sei que nenhuma vai ganhar... (J.P.)

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Spitfire
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Re.: "The Female Brain": como as mulheres pensam

Mensagem por Spitfire »

3 dias antes da minha esposa menstruar ela fica quase insuportável. Quando ela começa a "rançar" eu só olho para ela e pergunto "Vais ficar menstruada?"

Nem ela se aguenta... é obrigada a cair na gargalhada junto. :emoticon12:

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Najma
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Re.: "The Female Brain": como as mulheres pensam

Mensagem por Najma »

Mas é assim, uai... fazer o que? :emoticon14:
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Spitfire
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Re: Re.: "The Female Brain": como as mulheres pens

Mensagem por Spitfire »

Najma escreveu:Mas é assim, uai... fazer o que? :emoticon14:


Apenas não esquentar a cabeça e não se estressar junto... levar na esportiva e tentar encarar a situação de uma forma que não torne a convivência chata.

Sou adepto da idéia que o riso é o melhor remédio. :emoticon4:

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Lúcifer
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Re.: "The Female Brain": como as mulheres pensam

Mensagem por Lúcifer »

Quando a minha irmã está nesses dias, saio de casa e só volto (BEEEEEEMMMMMMM) tarde da noite. Quando ela já está dormindo. :emoticon12: :emoticon12:
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Re.: "The Female Brain": como as mulheres pensam

Mensagem por Lúcifer »

Quando a minha irmã está nesses dias, saio de casa e só volto (BEEEEEEMMMMMMM) tarde da noite. Quando ela já está dormindo. :emoticon12: :emoticon12:
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First Knight
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Re: Re.: "The Female Brain": como as mulheres pens

Mensagem por First Knight »

Spitfire escreveu:
Najma escreveu:Mas é assim, uai... fazer o que? :emoticon14:


Apenas não esquentar a cabeça e não se estressar junto... levar na esportiva e tentar encarar a situação de uma forma que não torne a convivência chata.

Sou adepto da idéia que o riso é o melhor remédio. :emoticon4:


A teoria é uma coisa tão bela.
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Najma
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Re: Re.: "The Female Brain": como as mulheres pens

Mensagem por Najma »

First Knight escreveu:
Spitfire escreveu:
Najma escreveu:Mas é assim, uai... fazer o que? :emoticon14:


Apenas não esquentar a cabeça e não se estressar junto... levar na esportiva e tentar encarar a situação de uma forma que não torne a convivência chata.

Sou adepto da idéia que o riso é o melhor remédio. :emoticon4:


A teoria é uma coisa tão bela.


Eu costumava ficar estupidamente irônica e sarcástica durante as TPMs. SE as pessoas com quem convivia soubessem rir do que eu falava, não teria tido tantos problemas... :emoticon8:
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