Manifestação, a favor de que se mantenha a separação entre religião e política no país, ocorre em meio a polêmica sobre votação para escolher o próximo presidente
ISTAMBUL - Dezenas de milhares de pessoas participam neste domingo, 29, de uma manifestação em Istambul, na Turquia, pedindo que se mantenha a separação tradicional entre a religião e a política no país.
A manifestação ocorre em um momento no qual é elevada a tensão entre o governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan e as poderosas Forças Armadas. O comando militar defende um Estado laico e acusa o atual governo de "tolerar ou alentar" atividades nos círculos islâmicos radicais.
"A Turquia é laica e continuará sendo laica", gritavam os cerca de 300 mil manifestantes, agitando bandeiras. Muitos dos participantes viajaram de outras partes do país até Istambul para participar do ato. Eles entoaram canções nacionalistas e exigiram a renúncia do governo. Os participantes chegaram a chamar de "traidor" o primeiro-ministro Erdogan.
A oposição acusa o partido Justiça e Desenvolvimento, no poder desde 2002, de ter uma suposta agenda islâmica, o que é negado pelo premiê Recep Tayyip Erdogan.
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Governo
Uma outra grande manifestação pelo secularismo já havia ocorrido há duas semanas na capital do país, Ancara, o que teria levado Erdogan a desistir de concorrer ao cargo de presidente e apontar o chanceler Abdullah Gul para o cargo de presidente. Na noite de sexta-feira o comando militar turco manifestou-se "preocupado" e mostrou disposição de participar mais abertamente do processo político.
Os secularistas turcos, incluindo os generais do Exército, temem que, se o ministro das Relações Exteriores for eleito, a escolha possa prejudicar a estrita separação entre Estado e religião na Turquia.
Gul, do partido islâmico Justiça e Desenvolvimento, afirma estar comprometido com o Estado secular e disse que não abandonará sua candidatura, apesar das pressões da oposição e dos militares. Em votação na sexta-feira, Gul ficou a apenas dez votos de atingir a maioria necessária para ser eleito já em primeira votação.
O secularista Partido Republicano do Povo (CHP, na sigla em turco), que boicotou a votação de sexta-feira, disse que questionará a eleição presidencial porque o quórum para a votação não teria sido atingido.
A segunda rodada de votação está marcada para quarta-feira, e a corte disse que tentará analisar o recurso antes disso.
Islâmicos
A manifestação dos militares foi interpretada por analistas como um ultimato ao governo de raiz islâmica.
No sábado, a União Européia advertiu as Forças Armadas, que no passado já promoveram golpes de Estado no país, a não intervir na política turca. Também os Estados Unidos pediram que a Constituição turca seja respeitada, dizendo que a eleição de um novo presidente representa "um teste" sobre o respeito à democracia.
No passado recente, os militares turcos promoveram diversos golpes de Estado. Em 1997, o Exército liderou uma campanha que resultou na queda de um governo islâmico do qual Erdogan e Gul faziam parte.
O atual governo deu apoio às escolas islâmicas e tentou levantar a proibição ao uso do véu em escritórios públicos. Gul não conseguiu ser eleito na primeira votação no Parlamento, na sexta-feira, por causa de um boicote da oposição. Restam ainda duas rodadas de votação.
in: http://www.estadao.com.br/ultimas/mundo ... /29/60.htm