Professores do Rio criticam conteúdo de livro didático indicado pelo MEC
Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Professores da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro estão preparando um documento a ser enviado ao Ministério da Educação (MEC) criticando o conteúdo do livro "Geografia-sociedade e cotidiano", da editora Escala Educacional.
O material faz parte da lista do Programa Nacional do Livro Didático, enviada pelo MEC às escolas públicas para que elas escolham os livros que desejam adotar no ano seguinte e os recebem gratuitamente. A obras questionada destina-se a turmas da 6º série do Ensino Fundamental.
Segundo a Secretaria Municipal de Educação, os professores alegam que, em um dos capítulos, o livro apresenta um mapa do Rio de Janeiro com a indicação de qual facção criminosa comanda cada uma das favelas cariocas.
"Esse livro não pode ser adotado. Trata-se de um livro antipedagógico, é uma agressão ao povo do Rio e não condiz com o que nós queremos, que é clareza na tarefa ensino-aprendizagem", justifica o professor Arnaldo Niskier - que foi ministro da Educação e secretário estadual de Educação.
Para a coordenadora do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), Maria Beatriz Rios, o assunto é delicado, mas merece uma abordagem séria e responsável em sala de aula.
"Não tem como esconder essa realidade [do tráfico] dos alunos. Eles vêem isso o tempo todo na televisão e nos jornais. Muitos deles até convivem com essa realidade nas comunidades onde vivem. Temos que ver apenas a maneira como tudo isso será abordado em sala de aula".
Segundo ela, o sindicato ainda não se reuniu para analisar a questão, mas os profissionais da educação estão se mobilizando para avaliar que medida pode ser tomada.
O Ministério da Educação informou que não vai se pronunciar sobre o caso. A assessoria de imprensa do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), responsável pela compra e pela distribuição dos livros, explicou como é feita a seleção dos títulos.
Editoras de todo o país inscrevem suas obras em um cadastro no FNDE, que encaminha a lista geral para a Secretária de Ensino Básico, também do MEC. Essa secretaria seleciona uma equipe de professores ligados a universidades, especialistas em cada disciplina para avaliar os livros. Ao final, eles decidem a lista definitiva a ser encaminhada às escolas públicas.
O ex-ministro critica os métodos de escolha do material didático. "É preciso haver maior transparência nos métodos de escolha pelo MEC. Esses livros são escolhidos de maneira misteriosa, e isso é um problema grave. Ninguém conhece os critérios de avaliação, quem são os avaliadores, por que um deve e outro não deve ser aprovado".
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticia ... 4513214483
Ensino do crime
Helter Duarte
Um livro aprovado pelo Ministério da Educação para crianças da sexta série das escolas públicas do Rio mostra como a cidade está dividida entre áreas de atuação de traficantes.
O livro, de geografia, está sendo distribuído a professores, para que avaliem o conteúdo. A prefeitura da cidade protestou.
O livro - Geografia, Sociedade e Cotidiano - foi escrito para alunos de sexta série, crianças entre 10 e 12 anos. Logo no primeiro capítulo, os autores apresentam um mapa do município do Rio. A ilustração mostra as áreas onde atuariam as quadrilhas que comandam o tráfico de drogas.
Os pontos são distribuídos pelo mapa de acordo com as regiões da cidade. Há ainda uma foto que mostra uma operação da Polícia Civil numa favela.
O Ministério da Educação diz que todo livro didático, antes de ser aprovado e entrar para a lista oficial, é analisado por uma equipe de especialistas. E, segundo os critérios estabelecidos pelo próprio ministério, são retirados dessa lista os livros que tenham informações erradas, preconceito ou discriminação de qualquer natureza.
O prefeito do Rio, César Maia, criticou o livro num texto divulgado pela internet. Ele questiona se o Ministério da Educação analisou o material e diz que o conteúdo “é um atentado ao ensino de geografia para crianças de doze anos”.
A psicóloga e pedagoga Eloiza de Oliveira estranha o fato de o livro ter sido aprovado pelo ministério.
“O exemplo é profundamente infeliz. Por que não mostrar outros critérios e não aqueles ligados à violência e à constituição quase de uma guerrilha urbana, como é o que acontece com o tráfico? A segunda questão é o impacto muito forte da violência. Parece que não há mais nada no estado. Eu jamais colocaria isso num livro didático”, diz a diretora da Faculdade de Educação da UERJ.
Um dos autores diz que nada foi inventado e que tudo foi resultado de pesquisa. “Esses dados foram divulgados pela imprensa, todas as imagens também, e o mapa, inclusive, não é uma criação nossa. É um mapa que saiu na imprensa. Nós estamos colocando num livro didático uma informação que faz parte da realidade do país. Infelizmente não tem como a gente omitir isso, afinal, a Geografia estuda uma realidade”, defende-se Márcio Vitielo, co-autor do livro.
A assessoria de imprensa do Ministério da Educação disse que, por enquanto, ninguém vai comentar as críticas ao livro.
http://jg.globo.com/JGlobo/0,19125,VTJ0 ... 44,00.html