Acauan escreveu:Botanico escreveu:Uma DOUTRINA tem, USUALMENTE, conteúdos intrínsecos FUNDAMENTAIS, ou seja, sem eles não é a dita doutrina, e digamos assim, PERFUMARIA, ou seja, conteúdos acessórios, às vezes usados para explicar situações de momento, mas que se retirados, não farão falta à dita doutrina.
É exatamente o caso do Espiritismo por aqui discutido. O racismo naqueles textos de Kardec NÃO É UM PONTO FUNDAMENTAL DE DOUTRINA ESPÍRITA. Era simplesmente um reflexo do racismo de sua época, baseado na realidade óbvia ululante do momento e apoiada cientificamente. Mas como a realidade mudou, os fundamentos daquele racismo estavam comprovadamente errados, então fazemos o que Kardec dizia: _ Caminhemos com a Ciência.
A insignificância numérida do Espiritismo não é o fator pelo qual o racismo não produziu conseqüências: simplesmente não havia como prevalecer diante do sistema reencarnacionista onde não se previa exceções e onde se declara que somos julgados pelos nossos atos e não pela nossa crença. Se o racismo fosse ponto essencial de doutrina, então ele seria valorizado, independente de sermos meia-dúzia de gatos pingados.
É isso.
1.Acauan, em 05/06/2006 às 13:22, escreveu:A Doutrina Espírita não é necessariamente racista quanto às suas origens filosóficas (cujas autorias lhes são externas), mas é potencialmente racista em decorrência destas mesmas origens.
Uma das bases do Espiritismo é o determinismo, a tese de que os fatores causais dos eventos não são aleatórios e sim obedientes a uma ordem definida que visa um determinado objetivo.
Toda ideologia racista se fundamenta em algum tipo de determinismo, sendo o mais comum o racismo baseado no determinismo biológico, segundo o qual o indivíduo humano é produto exclusivo da genética, idéia com variantes exploradas pelas doutrinas que pregam a superioridade das "raças puras", que teriam alcançado e preservado um melhor conteúdo genético que as outras raças.
O Kardecismo prega um determinismo espiritual, que, conforme a vertente doutrinária, pode incluir ou não um determinismo biológico.
Mas todas as vertentes espíritas defendem um determinismo moral, ou seja, que os espíritos possuem um grau de evolução moral que lhes é inerente e característico e este grau de evolução determina seus compromissos com relação ao karma.
Trocado em miúdos, é inerente à doutrina Espírita a idéia de que algumas pessoas ao nascer já são melhores do que outras.
Esta premissa pode ou não derivar para interpretações racistas.
Mas determinismos que diferenciam os homens desde o berço sempre margeiam um pântano ideológico perigoso e extremamente suspeito.
Fico com a impressão que você já havia postado esse texto alguma vez e eu respondi, mas tudo bem, vamos lá outra vez.
Acauan, a aplicação de uma doutrina racista EXIGE PREDIZIBILIDADE E DETERMINAÇÃO CIENTÍFICA. Sem isso, tal política é inviável. Por que a Ku-Klux_Klan e qualquer outra associação racista cristã pode exigir políticas racistas? Porque seus parâmetros são simples e diretos: a cor da pele, textura do cabelo, cara de latino americano nojento... Uma vez que tais parâmetros são herdados pela descendência e se houver casamentos interraciais, vale o pior (havia uma lei americana, extinta apenas nos anos 1960, onde determinava que um trisavô negro tornava negra toda a descendência do camarada. Por essa razão, os estudos genéticos mostram a tão pobre miscigenação entre o povo americano). Pode-se incluir aí mais alguns parâmetros comportamentais: religião judia, religião católica, falar italiano, falar espanhol... Quer dizer: há um parâmetro "seguro", a partir do qual a aplicação da política racista seria certa.
No caso do determinismo espírita, como se produzir uma política racista? Digamos então que um espírito indiciplinado, criminoso, reencarne numa família "legal". Estaria ele determinado a ser o que já foi em vidas anteriores? Não necessariamente, pois no período da infância, notadamente entre os 4 e 7 anos, é possível a criança ser melhor moldada. E se moldada na disciplina, a resolver as coisas com calma e paciência, isso lhe servirá de base para o seu comportamento futuro. E aí começa o espírito a mudar seu jeito de ser. Portanto não temos um determinismo de resultados por aqui.
Um determinismo seria se um espírito bom reencarna e não pode se degenerar, ou seja, NÃO SE TORNARIA MAU. Significa que ele não possa ser obrigado a matar ou a ferir? Se forçado, sem opções, é a coisa a fazer. Lembra-me um dos capítulos da série Kung-Fu, onde o mestre Pô instruia o Kwai Chan Kei sobre o que era estar em paz ou em guerra:
_ Se no espírito e no coração de uma pessoa, não há abrigo para o ódio e a violência, ela estará em paz, muito embora seu corpo lute. Se a pessoa abriga em si o ódio e a violência, estará em guerra, muito embora seu corpo esteja sentado e imóvel.
A impossibilidade de saber se quem nasce é melhor do que outro, inviabiliza a política racista portanto, meu caro Acauan. A não lembrança das vidas passadas é a bênção para não se possibilitar uma política dessas.
É isso.