docdeoz escreveu:O que você acha que eu penso não interessa. E comparar seleção natural com gravidade não tem sentido!
A comparação foi no sentido de que ambos não são processos inteligentes, com uma intenção, um objetivo. Você fala de seleção natural esperando que ela fosse fazer o que seria esperado do ponto de vista de um inventor, de uma dona pensante que inventa os melhores seres como uma espécie de hobby.
Seleção natural não passa de conversa mole.
Pois é. Toda e qualquer mutação vai gerar exatamente a mesma aptidão em todo e qualquer ambiente!
Diferenças fenotípias baseadas em diferenças genéticas não causam NUNCA, NENHUMA, qualquer variação de aptidão. Toda e qualquer variação genética nunca vai variar a CONSTANTE UNIVERSAL que é a taxa de reprodução de todos os seres!
Veja o exemplo abaixo do SCIAM BR sobre o processo evolutivo. As torneiras seriam as "fontes"-material genético, que segue padrões- pentadatilia, por exemplo, e as peneiras seriam os processos-seleção natural, extinção em massa... (pelo que eu entendi):
http://docdeoz.multiply.com/photos/hi-r ... o%2F10%2F2Tudo poderia ser explicado termodinamicamente- máquinas vivas que não possuem energia para se movimentar, param...
Tudo é nucleotídeo, nucleotídeo é ATP e ATP é energia...
Uma perspectiva termodinâmica do que é a seleção natural, ou a artificial, ou o a erosão de uma montanha, em muitos casos não ajuda em nada a compreensão do processo. Eu não sei no que ajuda aqui.
Aleatório ou não, o processo vai nessa direção, segundo os cientistas:
(note-se que no indivíduo não há acréscimo de informação, na evolução há)
No individuo há sim acréscimo de informação, no decorrer do desenvolvimento. Não há acréscimo de informação genética, mas epigenética. As modificações epigenéticas no decorrer do desenvolvimento são informação que muda a forma como é expresso o mesmo genoma inalterado em um novo "contexto".
Esse gráfico é para ilustrar que a evolução não se dá alla pokemon. Se vê muitos criacionistas e pessoas menos informadas de modo geral achando que a evolução se trata de coisas como por exemplo, um macaco, no decorrer da sua vida, se transformar num ser humano ou um cachorro aprender a falar.
A pergunta é: por que o deslocamento para seres mais complexos:
Bactéria-mais apta, mais entropia, menos informação, menos complexo, gasta menos energia---->Homem, menos apto, mais complexo, mais informação, menos entropia!
Porque, deusducéu:
1 - "bactéria" é toda uma classe de organismos, não um organismo só. Existem diversos níveis de complexidade e aptidão em bactérias;
2 - Você cai nas falácias de generalização e ad hoc ergo propter hoc: vê humanos, mais complexos e menos atpos, e micróbios, menos complexos porém mais aptos, e pensa que então que a menor aptidão é por causa da complexidade, e sempre que houver maior complexidade, isso implicará em menor aptidão.
Como mencionei no ponto 1, micróbios são vários tipos de seres, não apenas bactérias, e nem bactérias são "apenas" bactérias. E para cada situação, diferentes níveis de complexidade podem representar algo diferente em termos de aptidão.
Vai lá reclamar com microorganismos coloniais com Volvox que, eles estão "rumando" para maior complexidade ao se associar e especializar indivíduos da colônia de forma similar à especialção celular em seres pluricelulares, que isso "devia" ser ruim para eles por causa do seu entendimento de termodinâmica, de nucleotídeos ou qualquer que for o problema.
O fato é que a complexidade não traz inerentemente menor aptidão, assim há situações em que os seres se beneficiam de maior complexidade, e essa vai se popularizar, se reproduzir mais que aqueles seres mais simples - da mesma população: "sobram" outros seres vivendo de forma mais simples em outros nichos, em outros lugares e etc.
Em bactérias, há uma boa dose de transferência horizontal de genes. Em alguns casos, essa transferência horizontal traz algum tipo de resistência, permite sobreviver num novo ambiente ou se alimentar de um outro tipo de coisa inexplorada (como as bactérias que se alimentam do nylon, tenha sido esse um caso de HGT ou mutação normal, não sei). Pronto, é um exemplo.
E uma vez que acontece isso, que ocorre a mutação que torna mais complexo E produz maior aptidão, então a população se torna "dependente" dessa complexidade maior.
E no decorrer de milhões de anos, não é surpreendente que, uma parte consideravelmente ínfima dos seres, tenha se tornado gradualmente dependente em níveis maiores de complexidade para sua adaptação mais básica. Você não pode "simplificar" um vertebrado removendo o coração, por exemplo, e esperar que ele possa se reproduzir mais. Simplicidade não se iguala universalmente à maior aptidão. Ou mesmo remover algo não tão vital, como as patas, na maioria dos casos - não para as patas traseiras das baleias ou todas as patas das cobras ou de alguns tipos de lagartos que parecem cobras por não terem patas ou terem patas extremamente diminutas. E num exemplo inverso, para peixes que se beneficiassem de uma locomoção melhor em terra do que a possível com nadadeiras lobadas, a complexidade que representaria nadadeiras um pouco mais parecida com patas também não seria deletéria, justamente o contrário.
Bem, espero ter conseguido deixar claro que você faz um monte de generalizações que estão causando a sua confusão.
Você vê o homem e bactérias, e como homens se reproduzem menos que bactérias, acha que a seleção natural deveria ter impedido a evolução de seres complexos como homens.
Mas se esquece que essa evolução toda se deu em inumeráveis passos, acumulando gradativamente essa complexidade, por situações nas quais a maior complexidade foi benéfica.
A seleção natural não tem o poder de adivinhar - como já disse inúmeras vezes - que milhões de anos depois que um grupo de micróbios coloniais que começavam a "ensaiar" a pluricelularidade, seus descendentes teriam uma taxa reprodutiva menor que a desses seres ou a dos ancestrais desses, e então "inventado" alguma situação natural na qual eles fossem selecionados negativamente. Não é assim que funciona. Esses seres, esses seres relativamente excepcionais, excepcionalmente se beneficiaram desse aumento de complexidade.
E assim foi se repetindo diversas vezes no decorrer de milhões de anos, até que, como o Gould aponta, houvesse um bando de "aberrações" de maior complexidade ao lado de uma vasta maioria de organismos muito mais simples.
Assim, "a vida"
nunca desenvolveu-se na direção do menos apto. Sempre, por definição, se dá na direção do mais apto, que o é por ser mais adaptado para uma dada situação - mesmo que isso implique em ser menos apto de modo geral.
Por exemplo, mesmo se tratando de bactérias, há aquelas com taxas de reprodução absurdamente baixas, como batérias hipotermofílicas que vivem em lagos congelados, e podem passar até mais de cem anos sem se reproduzir. Mas apesar disso, elas são mais aptas, nesse contexto, nesse nicho, que outas bactérias que, apesar de mais aptas de forma "absoluta", não podem viver lá. Não é por isso que a dona seleção natural iria "proibir" a evolução de bactérias capazes de suportar essas condições.