Acauan escreveu:zumbi filosófico escreveu: Acauan escreveu:Nada disto se aplica a óvulos e espermatozóides, a menos que reduzamos a realidade a cada célula em si, o que é estúpido ou louco.
Gostaria de saber porque é estúpido ou louco reduzir a realidade a cada célula ou objeto em si, mas é são reduzir aos genótipo de uma célula singular, menos no caso dela se dividir em duas separadas, aí então sendo reduzida a realidade das duas a cada uma em si.
É louco reduzir a realidade a cada célula ou objeto porque a lógica que permite compreender o que ocorre nelas, delas ou a elas só pode ser estabelecida além das próprias. Mesmo que restrita a abordagem aos aspectos físicos, químicos e biológicos. Se considerados os desdobramentos morais e filosóficos, a coisa vai longe.
Quanto à segunda parte do parágrafo e do questionamento, não entendi bulhufas.
A gente tem mesmo jeitos meio incompatíveis de se expressar... freqüentemente vocÊ diz que não entende o que eu digo...
De todo caso, o que quis dizer é que, apesar de dizer que é loucura ou estupidez, o seu argumento é exatamente a favor do mesmo, e/ou pior.
zumbi filosófico escreveu:Vamos ver, quanto as coisas referidas não se aplicam mesmo ao ovócito II antes da fecundação:
Ou seja, não se pode falar de uma existência humana individual antes da concepção, mas se pode falar depois, uma vez que as possibilidades se restringiram do infinito a uma (o que não é pouca coisa em termos existenciais).
Ambas as afirmações estão incorretas. Mesmo após a concepção há a possibilidade de gêmeos - as possibilidades não são restritas a uma a menos que se suponha que gêmeos, dois ou seis, sejam só uma pessoa porque têm o mesmo genótipo.
Se retomar aos meus comentários originais verá que, obviamente, já sabia da existência de gêmeos e fiz referência a eles, inclusive, caso não se lembre, corrigindo um erro seu quanto à terminologia aplicável ao fenômeno.
Putz, vai até vir com pedância para cima de mim. Você que fala de "feto" para tudo desde o espermatozóide até os 45 anos de idade.
Para sua informação, eu estava correto, e deixei quieto, porque é de menor importância, e não tem utilidade alguma essa guerrinha de ficar dando alfinetadas de quem sabe mais termos técnicos e etc. Se bem me lembro, você "corrigiu" que os gêmeos não são resultantes da divisão do embrião em dois, mas são. Google se quiser.
Eu não me lembro como você respondeu ao problema dos gêmeos antes, e não fez novamente agora, retornando ao assunto.
Você usa o critério genético - que "salvaria" o óvulo para o zigoto, negando simplesmente a individualidade física do óvulo como importante (aparentemente ignorando que ele tenha individualidade genética também, outra coisa que preferi deixar passar), mas em caso de gêmeos, então tudo bem, aí já é individualidade física que conta. Salvou o zigoto, descartou o ovócito II, dane-se a consistência.
zumbi filosófico escreveu: Ainda assim, há o raciocínio circular: já define que o óvulo não é gente, e portanto que o seu estado genético natural - e único, individual - não é só um estado natural da genética individual, que tende a mudar, tal como o fenótipo vai mudar no decorrer da vida, em que podem ocorrer até mesmo alterações genéticas.
Também não entendi bulhufas.
Para você, a a fecundação é uma mudança superfenomenalmegahiperultrafantástica. O desenvolvimento posterior todo, desde o unicelular até o maquinário complexo do cérebro mais complexo conhecido, "humpf", grande coisa, é uma só uma mera continuidade. Zigoto, adulto, qual a diferença.
Se para você é a mesma coisa apesar de todas essas modificações, poderia muito bem ser, olha só, não sei se estou sendo radical demais, que mesmo mudanças genéticas na mesma célua não fizessem com que ela fosse uma outra coisa completamente diferente!!! Afinal, é a mesma célula, mudaram os genes. E, se falando de seres humanos, pessoas, que andam por aí, ou bebes, que engatinham, o que são "células", o que são "genes"?
Mais ou menos, por exemplo, como a infecção por um vírus ou mutação. Tá, eu sei, a mudança de haploidia para diploidia É mais significativa que a mudança de uma infecção viral ou uma mutação somática. Mas isso é só uma ilustração.
Assim, um hipotético pró-vida pró-óvulo poderia aceitar a fecundação como uma continuidade, grande, pequena, maior ou menor que o desenvolvimento ontológico posterior, tanto faz. Mas uma continuidade. Na verdade, QUALQUER UM pode aceitar, até você, mesmo que ache que de alguma forma, tem mesmo lá nos genes que vem do espermatozóide algo fundamental, que modificam a coisa, que, apesar de ser "a mesma", tem uma importância radical, mais ou menos como a importância que eu e você, que praticamente todos nós, damos à "vida cerebral" uma vez iniciada.
Aí você poderia dizer que sim, o óvulo não é uma coisa totalmente alheia ao óvulo fecundado, que ambos são "humanos", mas que o primeiro é menos importante, apesar de ser uma vida humana, se tratando de óvulos humanos vivos - a despeito de todos os livros didáticos dizendo que a "vida humana" "começa" na concepção.
Sei lá, mas talvez tenha muita importância toda aquela argumentação filosófica de que não podemos nunca de forma alguma deus-me-livre não valorizar a vida humana porque senão no outro dia estaremos vendendo bebês vivos nos restaurantes para serem abatidos e cozidos lá mesmo feito lagostas.
Eu acho que é apenas linguagem.
zumbi filosófico escreveu:Além disto, há a argumentação até agora sem resposta sobre a diferenciação entre possibilidades e objeto.
O feto é um objeto, não uma possibilidade. Existe física e biologicamente no contínuo do tempo.
Idem para o óvulo, novamente. Óvulos são objetos, não possibilidades.
Estabeleci, nesta citação específica, uma diferença entre objeto e possibilidade, não entre óvulo e feto, idéia que parece obcecá-lo ao ponto de não conseguir desvencilhar-lhe dela, mesmo quando o assunto passa longe léguas disto.[/quote]
Eu não disse que estabeleceu diferença entre feto e óvulo, mas que tal como o feto, o óvulo é real, não é uma idéia platônica ou sei lá o que mais que queiram fazer crer que ele seja de tão diferente do zigoto, um instante depois da fecundação. Se o que importa é ser "real", não só uma possibilidade, está lá o óvulo, real.
zumbi filosófico escreveu: Ou seja, além da restrição das possibilidades definirem uma única possibilidade de indivíduo, temos um objeto, existente e vivo, dando materialidade a estas possibilidades. Este objeto não é um ser que se transforma em outro ser ao longo do tempo.
Você define o óvulo como um ser que se transforma em outro ao longo do tempo porque seu critério arbitrário pessoal de pessoalidade é a genética, poderia ser qualquer outra molécula que só é codificada em algum momento determinado do desenvolvimento com igual validade.
Pelo amor de Mayra-Monã. Quantas vezes tenho que repetir que esta obsessão com a abordagem exclusivamente citológica do problema é tua e não minha?
Repeti mil vezes que minha abordagem é existencial, que inclui a científica, mas não se restringe a ela e você vem dizer que o meu critério arbitrário de pessoalidade é genético, como se em postagem anterior já não tivesse declarado, repetido e explicado que parto do princípio que não está definido o que nos faz humanos?
Será que eu escrevo em Tupi antigo?
Vamos lá ao seu argumento original
A essência dele aqui:
Se a identidade humana é um fato material, definida pela estrutura biológica do feto, todos os elementos materiais para a formação do sistema nervoso central já estão presentes no próprio feto, na forma de codificação genética.
Resumindo, genética (diplóide, CLARO)
Ora, se a identidade humana está no processo de formação de seus componentes constitutivos é lógico concluir que o processo precede e determina estes componentes, não o contrário.
OU
"os genes determinam o fenótipo"
Se o processo precede e determina os estágios de formação, então é o processo e não os estágios que deveriam definir materialmente a condição humana, sendo que todo este processo já está materialmente contido no código genético do feto.
OU
"o ser humano resulta do desenvolvimento embriológico, o desenvolvimento embriológico está determinado nos genes."
Se em condições normais todo o processo de formação do feto já está previamente definido em seu material genético, então os estágios do processo representam apenas o mesmo processo ao longo do tempo.
São, pois, condições determinadas e não condições determinantes.
Voilá.
Se o estágio de formação do feto é condição determinada pelo feto, não pode ser uma condição determinante do feto, logo é irracional afirmar que tal fator possa ser usado para se definir se o feto possui ou não identidade humana.
Remete a coisa d'o pensador. Traduzindo: "se o desenvolvimento está determinado nos genes, o estado de desenvolvimento embrionário não importa, porque ele é
determinado genéticamente, e não um Gene Determinador, e devemos respeito sagrado à determinação genética. Se há doenças genéticas das quais se pode saber previamente, não se evitar que apareçam, ou tentar amenizá-las; pois isso já está determiando pela Providência Genética. Bem, talvez possa, afinal isso não é parte integrante da posição pró-vida, então dane-se a consistência com a lógica depois..."
A partir daí estabelecemos a contradição da proposta materialista de que a identidade humana é definida e estabelecida pela formação ou funcionamento do sistema nervoso central, dado que esta formação e funcionamento é determinada pelo processo biológico do feto e não determinante dele.
"Ou, como não é o cérebro do feto que determina o seu desenvolvimento, ele não pode ser usado como critério, porque eu quero que o que seja o critério seja a determinação, e pronto."
Se adotarmos o relativismo para definir o conceito de dignidade humana, temos que incluir nesta relativização nossa própria dignidade.
Então tudo talvez seja construído em torno disso. Tudo tem que ser absoluto, não relativo, e então se a realidade por acaso se mostra meio relativa, então temos que dar uma espremidinha aqui, cortar aquela parte que não se encaixa, e alí até se enquadrar na nossa bela moldura de realidades perfeitas, absolutas, onde tudo é ou preto ou branco e não temos questões realmente difíceis de se ponderar na área cinza, que pode parecer mais clara do que realmente é se colocada perto de uma parte preta, ou mais escura se estiver próximo ao branco. É tudo certo ou errado, acabou.
(e claro, assim o óvulo é um fantasma, ele é só uma possibilidade, não tem a Sacrossanta Identidade Genética Total Diplóide (que só é relevante a partir do momento do zigoto, e depois não tem tanta importância assim; mutações não tiram a dignidade de ninguém, nem a maioria das aberrações cromossômicas), ninguém sabe se está vivo mesmo ou se é o espermatozóide que confere a vida, etc)
Do mesmo modo, quando se adota escalas de tempo para se decretar se um feto possui ou não dignidade humana, se lança mão justamente de um recurso aritmético, a contagem de unidades de medição que determinariam a partir de que momento específico a dignidade humana passa a incorporar aquilo que uma semana, um dia ou um segundo antes poderia ser considerado apenas um amontoado de células disponível para a extinção
E vamos de novo fazer de conta que o óvulo não existe, que não se poderia defendê-lo com essas mesmas palavras, desde que se fosse um pouco mais flexível com o culto aos genes.
Não vi nada de profundamente existencial e engrandecedor do óvulo a partir do momento que acrescido de algumas moléculas, algum tempo após o ato do coito, me desculpe.
zumbi filosófico escreveu: No entanto, duvido que realmente considere que mutações somáticas não fazem uma pessoa virar outra, ou como disse antes, que gêmeos sejam a mesma pessoa.
Se explicar como uma pessoa vira outra te digo o que considero a respeito.
Quanto aos gêmeos, já disse.
Esqueci de apagar o "não" enquanto alterava a frase. Era para ser "duvido que realmente considere que mutações somáticas
fazem uma pessoa virar outra"
O que seria consistente com o culto aos genes, no entanto, não é realmente o caso, é mais uma defesa tautológica e inconsistente de uma "crença vestigial" que faria algum sentido sob uma crença de base em "alma".
zumbi filosófico escreveu: E mesmo que fosse consistente com o critério de genótipo para individudalidade, e que pessoas que sofrem mutações viram "outras" pessoas, creio que defenderia que elas ainda seriam pessoas, e deveriam ter suas vidas protegidas. Por que o mesmo não é válido para o óvulo? Ainda mais sendo alterações genéticas completamente naturais nesse estágio da vida? Tão naturais como tudo que ocorre no desenvolvimento que se segue à fecundação.
Faça-me o favor de mostrar onde eu falei em "critério de genótipo para a individualidade"? Defini a formação da individualidade como conseqüência da redução contínua de possibilidades infinitas e você vem falar de bolinho de bacalhau, que pode não ser o que falou, mas dá na mesma, dado o afastamento entre o que se é dito e o que se responde nesta troca de mensagens.
Tudo bem, são as "determinações existenciais", que, por acaso, são genéticas quando a gente vai lá ver o que elas são no fim das contas.
Repetindo, as premissas exclusivamente biológicas são suas, não minhas.
Ou você prova que minhas premissas existenciais estão erradas ou prova erradas minhas inferências a partir das minhas premissas.
Você continua insistindo no erro lógico e crasso de refutar minhas inferências com base nas suas premissas.
Admito minha ignorância completa sobre as suas abordagens "existenciais" e como os genes seriam só detalhes menores. Da mesma forma, admito enorme ignorância sobre argumentações teológicas diversas sobre existência de deus, dessas que os teólogos sempre dizem que Dawkins e cia ignoram. Ambas de qualquer forma não me parecem mais do que versões pós-modernóides da "roupa nova do imperador".
zumbi filosófico escreveu:É o mesmo ser em diferentes estágios, logo sua identidade não se define pelos estágios, mas per si.
É isto, de novo e again.
O mesmo poderia ser defendido quanto ao óvulo, desde que não se pesasse (inconsistentemente) os genes como definidores de uma única indentidade, em vez da unidade física
E genética do óvulo não-fecundado (como é definida a individualidade de gêmeos).
Não poderia pois entre os dois objetos há um instante de tempo, claramente definido, em que um segundo objeto atua e altera drasticamente as propriedades do primeiro objeto.
Bem, eu acho bem mais drástica a diferença do zigoto ao bebê do que do óvulo não-fecundado ao óvulo fecundado, e desconfio que seja bastante quantificável que estou certo. É estritamente incorreta a noção de que a "ontogenia recapitula a filogenia", mas é praticamente isso, como se passasse de um ser unicelular até diversos "rankings" taxonômicos dos mais elevados. Se você considera essa mudança toda como continuidade, é perfeitamente argumentável que a mudança entre óvulo e óvulo fecundado seja também uma continuidade.
A diferença entre um embrião e um óvulo é auto-evidente, surgindo dúvida apenas quando reduzimos a observação aos seus aspectos bioquímicos, o que em última instância faz que não exista diferença essencial entre quaisquer compostos orgânicos, sejam eles elefantes ou feijoadas.
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Realmente eu tenho dificuldade tremenda em entender células e alterações bioquímicas como muito mais que isso, nesse estágio; não consigo engrandecê-lo dessa forma. E acho sinceramente que está no mesmo nível que fazer algo similar para o óvulo simplesmente ovulado, que também tem diferenças que eu poderia dizer enormes e auto-evidentes por trás de malabarismos "existenciais", e etc, mas te pareceriam tão ridículas para você quanto me parece a idéia de seres humanos unicelulares. Talvez porque nunca tenha sido tradicionalmente significativa a idéia de que a vida "começa" na ovulação, já que o estro humano é oculto, e a relação causal mais aparente é o coito, não a ovulação.