Postado originalmente em 8/8/2003 17:51:39
por Acauan
Quando uma vontade muito forte encontra muitas vontades fracas, surge um novo líder;
Quando uma crença muito forte encontra muitas crenças fracas, surge uma nova fé;
Quando estes dois encontros ocorrem simultaneamente, surge uma nova religião.
ACAUAN DOS TUPIS
Cristianismo e Islamismo nasceram e se desenvolveram em ambientes históricos e sociais muito diferentes, mas a consolidação de ambos como religiões hegemônicas em seus respectivos mundos deve-se em grande parte a pontos que têm em comum:
a) O surgimento de uma liderança carismática;
b) A fragmentação e fraqueza das religiões até então dominantes;
c) A obstinada decisão dos seguidores da nova religião de propagá-la pelo mundo.
Os cristãos primitivos possivelmente eram vistos pelos romanos cultos como um grupo exótico e insignificante. Os Patrícios deveriam considerar loucura a decisão fanática deles de conquistar o Império Romano e promover a chegada do dia em que mesmo César se ajoelharia diante de seu obscuro líder, um infame qualquer que foi crucificado nas províncias do oriente.
Séculos depois da chegada do cristianismo a Roma, na península arábica um auto-proclamado profeta e seus seguidores, uns poucos parentes e pessoas próximas, iniciam sua jornada para destruir a idolatria e implantar o monoteísmo entre os árabes. Expulsos de sua cidade natal refugiam-se em outra, centenas de quilômetros distante, decididos a converter seus anfitriões à sua nova religião e retornar triunfantes à sua terra de origem para convertê-la também.
O final destas duas histórias é conhecido. As várias explicações de como o contexto histórico-social favoreceu estes desfechos também.
O problema é que é fácil para um historiador, centenas e centenas de anos depois, analisar o contexto histórico e concluir que ele era favorável.
Outra coisa é alguém com uma idéia considerada maluca pela maioria juntar meia dúzia de gatos pingados, desafiar um sistema incomensuravelmente mais forte do que eles e sair vitorioso.
Quem quiser achar que Deus deu uma mãozinha que ache, mas se ele favoreceu igualmente Cristianismo e Islamismo deve ter algum tipo de distúrbio dissociativo da identidade, já que estas doutrinas são excludentes entre si.
Seja lá o que for, no centro dos acontecimentos que decidiram os rumos de duas civilizações estava a vontade dos protagonistas. Homens que ignoraram todos os sinais de que sua missão era fadada ao fracasso, desafiaram a História e construíram um destino considerado impossível.
Ironicamente, da vitória das grandes religiões destaca-se não o triunfo da vontade de Deus e sim o triunfo da vontade humana.
* n.A. (nota do Acauan): “TRIUNFO DA VONTADE” é o título do filme de Leni Riefenstahl, que documentou o encontro do Partido Nacional-Socialista, em Nuremberg, em 1934.
Execrado como propaganda nazista, o filme até hoje pode ser visto como um assustador alerta de como uma vontade poderosa consegue manipular as massas, para o bem, ou como no caso daqueles retratados por Leni, para o mais sinistro dos males.