O fracasso do neoliberalismo

Fórum de discussão de assuntos relevantes para o ateísmo, agnosticismo, humanismo e ceticismo. Defesa da razão e do Método Científico. Combate ao fanatismo e ao fundamentalismo religioso.
Avatar do usuário
spink
Mensagens: 3106
Registrado em: 08 Nov 2005, 11:10
Gênero: Masculino
Contato:

O fracasso do neoliberalismo

Mensagem por spink »

link


26/01/2008
O fracasso do neoliberalismo

Phillip Blond*
Em Lancaster, na Inglaterra

Parece cada vez mais que no século 21 estamos retornando à economia do século 19, quando a riqueza estava tremendamente concentrada nas mãos de alguns poucos proprietários e especuladores astutos.

Nem a direita nem a esquerda parecem ser capazes de criar uma sociedade na qual todos se beneficiem do aumento da prosperidade e da segurança econômica.

As alegações da direita de que os mercados livres enriquecerão todos os setores da sociedade são visivelmente falsas, enquanto o tradicional welfare state, ou Estado de bem-estar social, europeu parece penalizar a inovação e a criação de riqueza, condenando desta forma os pobres e os profissionalmente desqualificados à pobreza e ao desemprego institucionalizados.

Assim, na nova era da globalização, ambas a ideologias criam o mesmo fenômeno: uma subclasse presa entre a assistência social e os baixos salários, uma classe média pesadamente endividada cada vez mais sujeita a inseguranças no que se refere ao trabalho e às pensões e uma nova classe de super-ricos que se esquivam de todas às regras relativas aos impostos e à comunidade.

Foi no Reino Unido que o neoliberalismo emergiu pela primeira vez na sua forma decisiva. Defrontando-se com a militância sindical e a aparente falência do welfare state, o Partido Conservador, sob o controle de Margaret Thatcher, foi eleito em 1979. Nos Estados Unidos, Ronald Reagan assumiu a Casa Branca em 1981, e desde então os dois países anglo-saxões passaram a buscar e defender a liberalização do mercado.

Atualmente, esta filosofia se estende até a China comunista, que, embora despreze a liberdade política, prega fervorosamente a liberalização econômica. Neste ano até mesmo os franceses reconheceram a supremacia do mercado livre, elegendo um presidente que denunciou persistentemente os custos do welfare gaulês, e elogiou as vantagens econômicas do modelo anglo-saxão.

Mas os benefícios da liberalização do mercado dependem de quem você é, de onde você está e da quantidade de dinheiro ou de bens iniciais que você possui.

Em termos de desenvolvimento econômico, o fundamentalismo do mercado livre tem sido um desastre. As soluções de mercado livre aplicada na Rússia durante os anos Yeltsin só causaram o empobrecimento maciço, a criação de uma classe oligárquica tremendamente rica e a ascensão de um governo autoritário.

De forma similar, os índices de crescimento na América Latina e na África, que costumavam ser maiores do que os das outras nações em desenvolvimento, caíram mais de 60% depois que os países dessas regiões abraçaram o neoliberalismo patrocinado pelo Fundo Monetário Internacional na década de 1980. Atualmente essas economias encontram-se praticamente paralisadas.

No nível do trabalhador individual, a história é similar. Os aumentos salariais reais nos 13 principais países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico estão abaixo da taxa de inflação desde aproximadamente 1970.

Assim, já faz 30 anos que os assalariados - e não os proprietários de bens de capital - enfrentam uma persistente pressão negativa sobre o seu padrão de vida. Não foi nenhuma surpresa descobrir que a era dourada do trabalhador assalariado, expressa como uma fatia percentual do produto interno bruto, ocorreu entre 1945 e 1973, e não na época da liberalização econômica.

Ninguém questiona que o comércio aumenta a prosperidade, e que a liberalização de crédito e serviços financeiros permite que grupos até então excluídos suplementem os seus salários comprando ações ou casas e, desta forma, participando da economia de bens de capital.

Mas a verdadeira história do sucesso do neoliberalismo não é a disseminação dos bens para todos, mas sim a enorme e desproporcional parcela de prosperidade obtida pelos muito ricos. Nos Estados Unidos, entre 1979 e 2004, o grupo formado pelos 1% mais ricos da população experimentou uma elevação de 78% da sua fatia da renda nacional, enquanto 80% da população amargou uma redução média da sua parcela de renda da ordem de 15%. Isto representa uma transferência de riqueza da grande maioria para uma minúscula minoria de cerca de US$ 664 bilhões.

A esquerda tradicional entrou em pânico face à hegemonia neoliberal e falou na década de 1980 sobre redistribuição, maiores impostos e restrições às transferências de capital. Mas, fora da Escandinávia, eles estavam assoviando ao vento: as tradicionais economias reguladas pelo Estado pareciam amarradas ao desemprego elevado e ao crescimento reduzido.

Um novo caminho para a esquerda foi fornecido pelo país que primeiro experimentou a nova direita: o Reino Unido. Ao final da década de 1990, o Reino Unido estava exausto do Thatcherismo; os seus serviços públicos não funcionavam bem e o país estava social e economicamente fragmentado. Assim, em 1997 o Novo Trabalhismo foi eleito.

Sob a batuta de Tony Blair e de Gordon Brown, os novos progressistas prometeram que os benefícios da prosperidade crescente seriam aplicados ao setor público e aos pobres. A exclusão social seria combatida com a educação e com a ampliação das oportunidades para todos. Mais uma vez o resto do mundo parou para ver a experiência social que ocorria no Reino Unido. Será que este aparentemente exclusivo círculo neoliberal poderia ser ajustado para beneficiar a todos?

Infelizmente, após dez anos a conclusão é que não.

Na era Thatcher a pobreza dobrou no Reino Unido, e este número tornou-se permanente sob o Novo Trabalhismo. A parcela da riqueza, excluindo habitação, desfrutada pela metade inferior da pirâmide social caiu de 12% em 1976 para apenas 1%, número registrado hoje. Atualmente 13 milhões de pessoas viem em estado de pobreza relativa. A mobilidade social caiu para níveis anteriores ao da Segunda Guerra Mundial.

Os filhos menos capazes dos 20% mais ricos da população atualmente superam os filhos mais capazes dos 20% mais pobres por volta dos sete anos de idade. Quase a metade do grupo mais rico obtém diplomas universitários enquanto apenas 10% dos mais pobres conseguem se formar.

É óbvio que a Nova Esquerda consolidou a divisão de classes de forma ainda mais intensa do que a direita neoliberal.

Resumindo, eis o problema: tanto a esquerda quanto a direita parecem incapazes de desafiar o capitalismo monopolista. Nem o welfare state nem o estatismo são capazes de transformar as vidas dos pobres, e, ao que parece, o neoliberalismo também é incapaz de promover tal transformação. Somente uma economia compartilhada pode corrigir a tendência natural do mercado livre de favorecer os monopólios.

Mas só é possível compartilhar quando todos são proprietários. Portanto, existe uma possibilidade radical, mas ainda inexplorada - a da propriedade e uso generalizados e amplamente distribuídos de bens, créditos e capital. Isso dissolveria o conflito entre capital e trabalho, já que haveria um mercado sem monopólio e um Estado no qual o trabalhador assalariado - sendo ele também proprietário de capital - não necessitaria do welfare state.
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

Avatar do usuário
SickBoy
Mensagens: 2693
Registrado em: 17 Nov 2006, 20:27

Re: O fracasso do neoliberalismo

Mensagem por SickBoy »

spink escreveu:Nos Estados Unidos, entre 1979 e 2004, o grupo formado pelos 1% mais ricos da população experimentou uma elevação de 78% da sua fatia da renda nacional, enquanto 80% da população amargou uma redução média da sua parcela de renda da ordem de 15%. Isto representa uma transferência de riqueza da grande maioria para uma minúscula minoria de cerca de US$ 664 bilhões.


riqueza estática?

Avatar do usuário
Fernando Silva
Administrador
Mensagens: 20080
Registrado em: 25 Out 2005, 11:21
Gênero: Masculino
Localização: Rio de Janeiro, RJ
Contato:

Re.: O fracasso do neoliberalismo

Mensagem por Fernando Silva »

Se não há um sistema perfeito, fiquemos com o menos pior.

Avatar do usuário
Aranha
Mensagens: 6595
Registrado em: 18 Out 2005, 22:11
Gênero: Masculino
Localização: Nova York
Contato:

Re: Re.: O fracasso do neoliberalismo

Mensagem por Aranha »

Fernando Silva escreveu:Se não há um sistema perfeito, fiquemos com o menos pior.


- E nos conformamos?

- Não deveríamos buscar aperfeicoá-lo?

Abraços,
"Grandes Poderes Trazem Grandes Responsabilidades"
Ben Parker

Avatar do usuário
Wallace
Mensagens: 2482
Registrado em: 10 Ago 2007, 16:59
Gênero: Masculino

Re: Re.: O fracasso do neoliberalismo

Mensagem por Wallace »

Abmael escreveu:
Fernando Silva escreveu:Se não há um sistema perfeito, fiquemos com o menos pior.


- E nos conformamos?

- Não deveríamos buscar aperfeicoá-lo?

Abraços,


De fato as ciências politicas foram aquelas que menos evoluiram em todas as ciências humanas... Em relação as outras ela se encontra quase no patamar de quando foram concebidas... O interessante, no tocante ao tópico, é que o neoliberalismo é uma evolução do liberalismo, logo, mais moderna!!!!

Avatar do usuário
user f.k.a. Cabeção
Moderador
Mensagens: 7977
Registrado em: 22 Out 2005, 10:07
Contato:

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

SickBoy escreveu:
spink escreveu:Nos Estados Unidos, entre 1979 e 2004, o grupo formado pelos 1% mais ricos da população experimentou uma elevação de 78% da sua fatia da renda nacional, enquanto 80% da população amargou uma redução média da sua parcela de renda da ordem de 15%. Isto representa uma transferência de riqueza da grande maioria para uma minúscula minoria de cerca de US$ 664 bilhões.


riqueza estática?



Perfeito o quote.

Esse e exatamente o tipo de cretinice convincente do discurso esquerdista, que embrulha um grande engodo num papel de presente de verdades parciais.

Embora a estatistica apresentada possa ter alto teor de veracidade, ela nao passa de um dado parcial.

"Os 1% mais ricos" nao sao um grupo isolado de pessoas especificas, mas uma fatia dinamica da sociedade, com altas taxas de variacao ao longo de anos e decadas. Dizer que "eles ficaram mais ricos" e simplesmente falso, pois nao se tratam das mesmas pessoas, nem mesmo as mesmas familias, como se costuma crer. O mesmo vale para os X % mais pobres.

A America apresenta uma das maiores mobilidades sociais do mundo, sendo a maioria dos seus grandes bilionarios de hoje, os filhos e netos de imigrantes miseraveis.

Ninguem tem um ticket que diz que ela esta nos 1% de maior renda.

O outro engodo e o de fazer pensar que a riqueza e estatica, um bolo equivalente que esta sendo pior divido. Ninguem se preocupa em verificar se o nivel de vida desses mais pobres aumentou, e constatar que sim.

Querem berrar um pseudo-fracasso do "neoliberalismo" simplesmente lhe atribuindo culpa por um mal que ele nem se propunha a consertar, e que sequer se trata de um mal efetivo, mas apenas um trambique estatistico conveniementemente apresentado.
"Let 'em all go to hell, except cave 76" ~ Cave 76's national anthem

Avatar do usuário
Acauan
Moderador
Mensagens: 12929
Registrado em: 16 Out 2005, 18:15
Gênero: Masculino

Re.: O fracasso do neoliberalismo

Mensagem por Acauan »

Sobre os 1% mais ricos, como o Cabeção comentou, vide That "Top One Percent", By Thomas Sowell.
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

Avatar do usuário
spink
Mensagens: 3106
Registrado em: 08 Nov 2005, 11:10
Gênero: Masculino
Contato:

Mensagem por spink »

cabeção; é um dos jornais mais conservadores da europa!
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

Avatar do usuário
Huxley
Mensagens: 2035
Registrado em: 30 Out 2005, 23:51

Mensagem por Huxley »

O problema da desigualdade salarial nos governos neoliberais é real. Não sei se os principais gurus do Neoliberalismo tem fé que a dessindicalização e rebaixamento dos salários mínimos trazem progresso. Mas Friedrich Hayek já disse que “os poderes excessivos dos sindicatos é que têm causado um declínio da produtividade e constituído os maiores obstáculos ao desenvolvimento econômico e social” (http://www.vemconcursos.com/opiniao/ind ... age_id=922 ). Milton Friedman não fica atrás, já que em “Capitalismo e Liberdade” disse algo como “tudo o que o salário mínimo faz é gerar mais miséria”. Os EUA nos últimos trintas anos sofreram um processo de dessindicalização, além de que de 1981 a 1989 o salário mínimo real caiu ano após ano (SACHS, Jeffrey; LARRAIN, Felipe. “Macroeconomia: edição atualizada e revisada”. São Paulo: MAKRON Books, 2000). E o governo de Thatcher praticamente aboliu o salário mínimo.

O que de resultado tivemos nessa "era neoliberal"? No manual de Macroeconomia que costumo usar na universidade (Macroeconomia: teoria e política econômica. 2.ed. do Olivier Blanchard, Editora Campus), tem alguns dados sugestivos quando analisamos um período de aproximadamente uma década. No Reino Unido durante os fins da década de 70 até o início da década de 90, os 25% trabalhadores ingleses com menos escolaridade sofreu redução de 14% no salário real e o desemprego saltou de 3,1% para 5,3% (p. 479), o último dado uma involução pior do que o da Alemanha, por exemplo. Nos EUA, a taxa de desemprego no mesmo grupo e na mesma época se manteve estável em 3,5%, enquanto os salários reais caíram 13%. Para os trabalhadores de horário integral nos EUA, os salários subiram 17,7% no período 1963-1979, contra uma queda de 11,2% no período 1979-1995 (p.283), numa paper que o Blanchard citou no livro que indiquei.

Recentemente, saiu uma reportagem na Carta Capital (19 de dezembro de 2007) que mostrou uma resenha sobre o livro mais recente de Paul Krugman, “The Conscience of a Liberal”. Nela, há dados impressionantes. Krugman mostra que de 1979 para os dias de hoje, os salários dos 20% mais pobres só se elevaram 6,1%, o dos 20% dos estratos medianos se elevaram apenas 12,3 % e a renda dos 20% mais ricos se elevaram 70%. Já que só os aumentos de produtividade da economia americana na fase dourada dos anos 90 foi de 2,5% em média, os dados acumulados trabalhadores menos qualificados e dos medianos são decepcionantes. Ele compara que no período da sindicalização apoiada por Roosevelt o trabalhador americano situado nos estratos médios da população tinha um salário real que em 1973 que era o dobro do de 1948. O Governo de George W. Bush não deixa por menos. Segundo o State of Working America, os rendimentos dos trabalhadores americanos situados nos estratos médios da pirâmide encolheram 3%. Pelo que me lembro da reportagem, o governo Clinton conseguiu um resultado bem melhor neste aspecto.

Os EUA são a terra das oportunidades? O EUA tem uma mobilidade social ligeiramente superior aos dos países da Europa Ocidental, mas para os estratos mais pobres (sobretudo os 20% menos ricos) os europeus levam visível vantagem (segundo um trabalho de Edward Glaeser e Alberto Alesina, ver capítulo 7 de “O futuro chegou” de Maílson da Nóbrega). E como vocês devem se lembrar de um artigo recentemente postado aqui (de Olivier Appiax: http://diplo.uol.com.br/2004-07,a958 ), pessoas pouco acima da linha da pobreza não tenham direito ao Medicare e, como conseqüência, existem várias populações afro-americanas com expectativa de vida comparável a da Indonésia e da Guatemala. E como já disse a Exame (http://portalexame.abril.com.br/revista ... 44793.html):

"Em seu primeiro ano de mandato, Bill Clinton tentou aprovar uma reforma na saúde, mas seu projeto foi metralhado no Congresso pelos republicanos, liderados por Newt Gingrich -- a tentativa entrou para a história como o maior fracasso legislativo de seu governo"

E o Chile, país que aboliu o salário mínimo na era Pinochet? Eu não tenho dados semelhantes para a comparação com o Reino Unido e os EUA. Mas é bom lembrar de dados do PNUD mostram que seu coeficiente Gini saltou de 0,45 em 1970 para 0,57 em 1993 (http://www.econ.puc-rio.br/gfranco/Paulani1.htm), o que significa uma piora no índice de distribuição de renda em 27%. Não é estranho que a abolição de algo que supostamente pioraria a situação da desigualdade de renda ser uma medida incapaz de evitar tamanha piora no coeficiente Gini?

Para complementar, aqui vai alguns posts de um blogueiro português sobre o suposto "milagre chileno" na Era Pinochet:


“Taxa de crescimento do PNB p.c. de vários países latino-americanos, de 1980 a 1991 (fonte - o Caderno de Macroeconomia II do ISEG*):
Peru………2,4%
Chile………1,6%
Colômbia....1,2%
Costa Rica………0,7%
Brasil………0,5%
Rep.Dominicana………-0,2%
El Salvador………-0,3%
Uruguai………-0,4%
México………-0,5%
Honduras………-0,5%
Equador………-0,6%
Paraguai………-0,8%
Venezuela………-1,3%
Argentina………-1,5%
Guatemala………-1,8%
Panamá………-1,8%
Bolívia………-2,0%
Nicarágua………-4,4%

Parece uma boa classificação, não é? No entanto, no mesmo periodo, Portugal teve um crescimento de 3,1%, a França de 1,8%, o Canadá 2%, etc. Ou seja, em termos de PNB p.c., não houve propriamente um "milagre" no Chile - o que houve, nos anos 80, foi uma "maldição" na América Latina, que fez o Chile, com um crescimento médio, fazer parecer um grande sucesso.

http://ventosueste.blogspot.com/2006/12 ... ileno.html


"Crescimento do salário por empregado na indústria em 1980-90 (a fonte é a mesma):
Brasil 4,8%
Panamá 2,2%
Colômbia 1,6%
Honduras 0,9%
Uruguai 0,8%
Argentina -0,8%
Chile -1,0%
Equador -1,5%
Guatemala -1,9%
Costa Rica -2,2%
Peru -3,5%
México -3,9%
Venezuela -5,2%
Bolivia -6,4%

Mantém-se o padrão - na catástrofe sul-americana, o Chile não se saiu muito mal, mas em termos absolutos não me parece grande milagre.

http://ventosueste.blogspot.com/2006/12 ... no-ii.html


"Em atenção a um comentador do primeiro post, aqui vão o que me parecem ser as taxas de crescimento anual do PIB, em vários paises latino-americanos, de 1974 a 1989 (calculei-as indo a estes dados do FMI e a partir das taxas anuais de crescimento do PIB real)
Paraguai 5,88%
Brasil 4,25%
Rep. Dominicana 4,08%
Colômbia 4,06%
Equador 3,87%
México 3,78%
Costa Rica 3,61%
Honduras 3,52%
Chile 3,18%
Guatemala 2,63%
Panamá 2,42%
Uruguai 2,18%
Venezuela 1,93%
Bolívia 1,41%
Peru 1,28%
El Salvador 0,83%
Argentina -0,06%
Nicarágua -1,35%

http://ventosueste.blogspot.com/2006/12 ... no-iv.html

Note-se que, neste período, grande parte dos países em questão tinham regimes similares ao chileno, logo esta estatística interessa pouca para avaliar dos méritos relativos das democracias representativas e das ditaduras (penso que só a Costa Rica e a Venezuela foram sempre democracias "normais" neste período; já agora, o então ditador do Paraguai - que, se as minha contas estiverem certas, foi o campeão do crescimento - também morreu este ano)"


*ISEG: Instituto Superior de Economia e Gestão, uma universidade portuguesa. Bem, os portugas desse fórum poderiam me dizer se esta é uma fonte confiável, porque não sei nada sobre essa universidade.
Editado pela última vez por Huxley em 27 Jan 2008, 00:42, em um total de 2 vezes.
“A boa sociedade é aquela em que o número de oportunidades de qualquer pessoa aleatoriamente escolhida tenha probabilidade de ser a maior possível”

Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)

"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."

John Maynard Keynes

mi9
Mensagens: 153
Registrado em: 12 Jan 2008, 20:35

Mensagem por mi9 »

Não sei. Não percebo nada de economia.
Faz tu as contas e vê se o gajo acertou :emoticon16:

Avatar do usuário
user f.k.a. Cabeção
Moderador
Mensagens: 7977
Registrado em: 22 Out 2005, 10:07
Contato:

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

mi9 escreveu:Não sei. Não percebo nada de economia.
Faz tu as contas e vê se o gajo acertou :emoticon16:



E simples entender o que o Huxley disse, se voce souber como o "salario real" e calculado.

Ele e uma media da relacao entre o salario pago pelas empresas e os precos dos produtos no mercado.

O interesse desse indicador e medir o poder de consumacao dos empregados em uma economia.

Mas esse indicador nao leva em consideracao os desempregados, que receberiam um salario de zero (e produziriam zero tambem).

Assim, antes de Tatcher e Reagan introduzirem as reformas que diminuiram o poder dos sindicatos, estes monopolizavam a oferta de mao de obra, definindo os salarios pagos pelas empresas e estabelecendo regras de rigidez salarial que impediam reajustes para baixo nos casos necessarios (quando as empresas vao mal, numa recessao, por exemplo). Alem disso, os poderosos sindicatos exigiam diversos beneficios extra-salariais que aumentavam significativamente o custo de cada funcionario, como por exemplo, plano dentario familiar.

Com isso, menos mao de obra podia ser empregada pelas empresas, ja que ela passava a custar muito mais caro do que no mercado de trabalho livre de sindicatos.

Mas a mao de obra ja empregada recebia salarios reais mais altos do que receberia em livre mercado, e por isso esses indicadores antes de Tatcher e Reagan eram altos.

Com as politicas de flexibilizacao do mercado e brutalizacao das mafias sindicais, mais mao de obra pode ser empregada, levando a um crescimento substancial da renda per capta nos anos 80, nos dois paises. Os desempregados que viviam da ajuda do governo no periodo Jimmy Carter voltaram a ser elementos produtivos da sociedade, e aumentaram suas rendas, e tambem passaram a entrar na estatistica do "salario real".

Contudo, eles nao foram contratados pelos salarios maravilhosos estabelecidos pelos sindicatos, obviamente. E com essa entrada de pessoas no mercado de trabalho, ganhando salarios menores, houve a queda no "salario real" alardeada, mesmo numa situacao onde todos ganharam, exceto os sindicatos de insiders e seus protegidos.

Para todos os efeitos, houve aumento na produtividade per capta, devido a melhor alocacao da forca produtiva e melhor estrutura salarial decorrente do mercado mais livre.

A unica questao de ideologia aqui e a de saber se e isso que realmente importa, ou se sao os salarios conquistados pelos sindicatos para uma minoria privilegiada dentro de uma economia de estagflacao (o unico resultado real do Sindicalismo e Keynesianismo).

Alem e claro, daquilo que eu discuti no primeiro post: dado o crescimento da renda e do poder de compra geral, o que interessa saber se a faixa dos 1% mais ricos se tornou mais rica ainda, se e obvio que nao foi as custas da faixa mais pobre, que se tornou mais rica tambem? E por que tomar tais faixas artificiais como parametros se todos sabem que elas sao dinamicas, e que de decada para decada, na America, dois tercos ou mais de seus antigos integrantes ja nao estao mais la?

Como eu disse, a forca do discurso esquerdista reside na ocultacao compulsiva de informacoes vitais por tras de verdades parciais, e de lidar com sentimentos baixos como raiva , cobica, e inveja.
"Let 'em all go to hell, except cave 76" ~ Cave 76's national anthem

Avatar do usuário
Fenrir
Mensagens: 1107
Registrado em: 01 Fev 2008, 22:38
Gênero: Masculino

Re.: O fracasso do neoliberalismo

Mensagem por Fenrir »

Ja que falaram em PIB e crescimento, li em algum lugar, que os Emirados Árabes (mais especificamente Dubai) cresce a uma taxa de 16 ou 19%. O que diabos está acontecendo por lá?

A cidade parece mais um canteiro de obras de Arranha-Céus
"Man is the measure of all gods"
(Fenrígoras, o sofista pós-socrático)

"The things are what they are and are not what they are not"
(Fenrígoras, o sofista pós-socrático)

"As mentes mentem"
(Fenrir, o mentiroso)

Avatar do usuário
O ENCOSTO
Mensagens: 16434
Registrado em: 02 Nov 2005, 14:21
Localização: Ohio - Texas (USA)
Contato:

Re: Re.: O fracasso do neoliberalismo

Mensagem por O ENCOSTO »

Abmael escreveu:
Fernando Silva escreveu:Se não há um sistema perfeito, fiquemos com o menos pior.


- E nos conformamos?

- Não deveríamos buscar aperfeicoá-lo?

Abraços,



[comunistóide babão on] Precisamos melhorar somando as coisas boas do comunismo e do capitalismo [comunistóide babão off]

[nerd pseudo-intelectual e hipócrita on] A Social Sociedade Socialista-democratica europeia só evoluiu socialmente graças à sociedade, que socializou as ferramentas sociais de distribuição social da renda por toda a sociedade. [nerd pseudo-intelectual e hipócrita off]
O ENCOSTO


http://www.manualdochurrasco.com.br/
http://www.midiasemmascara.org/
Onde houver fé, levarei a dúvida.

"Ora, a fé é o firme fundamento das coisas infundadas, e a certeza da existência das coisas que não existem.”

Avatar do usuário
RicardoVitor
Mensagens: 2597
Registrado em: 07 Set 2006, 20:04
Localização: Esquerdolândia

Re.: O fracasso do neoliberalismo

Mensagem por RicardoVitor »

Acreditar que o valor pago a quem fornece sua mão-de-obra possa ser determinado através de decretos é muita ingenuidade. Enquanto não for vantajoso para si, o empregador preferirá demitir ou não contratar ao invés de obedecer ao mando dos "iluminados" que se julgam capazes de determinar arbitrariamente o tal valor, o que resulta no desemprego dessas pessoas que poderiam, em outra situação, estar produzindo e gerando renda. Quer dizer, a esquerda prefere o desemprego em massa e a estagnação da economia em nome da tal "igualdade salarial" que, mesmo após décadas e décadas de tentativas, continua sendo um fracasso completo.
Logical, responsible, practical.
Clinical, intellectual, cynical.
Liberal, fanatical, criminal.
Acceptable, respectable, presentable, a vegetable!

Avatar do usuário
Herf
Mensagens: 1178
Registrado em: 03 Mar 2007, 15:38

Re: Re.: O fracasso do neoliberalismo

Mensagem por Herf »

RicardoVitor escreveu:Acreditar que o valor pago a quem fornece sua mão-de-obra possa ser determinado através de decretos é muita ingenuidade. Enquanto não for vantajoso para si, o empregador preferirá demitir ou não contratar

Mas vamos supor que ele realmente faça um esforço e contrate um empregado legalmente, pagando um salário maior (mais os benefícios) do que o que ele estaria disposto a pagar caso não fosse obrigado. No final das contas, essa despesa não acaba sendo passada para o consumidor na forma de preços maiores? Se por um lado as pessoas ganham mais, por outro os preços não tendem a subir na mesma medida?

Avatar do usuário
RicardoVitor
Mensagens: 2597
Registrado em: 07 Set 2006, 20:04
Localização: Esquerdolândia

Re.: O fracasso do neoliberalismo

Mensagem por RicardoVitor »

ClaudioLoredo escreveu:
André TJ escreveu:
RicardoVitor escreveu:1 - Enquanto não for vantajoso para si, o empregador preferirá demitir ou não contratar ao invés de obedecer ao mando dos "iluminados" que se julgam capazes de determinar arbitrariamente o tal valor


1 - A solução seria instituir, democraticamente, uma lei que garantisse aos empregados o direito social de serem contratados sem precisar discutir a questão salarial com seus exploradores. É justo, pois é uma decisão contra uma minoria social (os conservadores-exploradores) a favor de uma maioria (os trabalhadores). E com isso com certeza teremos uma queda nos índices de desemprego e, consequentemente, uma queda na quantidade desses favelados traficantes, que deixarão de me roubar. Seria uma melhoria social, com apoio democrático, que possibilitaria a vitória social da Justiça Social frente ao Mercado Explorador. Tudo isso, claro, tem que ser feito democraticamente, com apoio da sociedade, pois eu sou um socialista democrata, assim como Orwell também era.




E isso faria o meu coração mais feliz.

Logical, responsible, practical.
Clinical, intellectual, cynical.
Liberal, fanatical, criminal.
Acceptable, respectable, presentable, a vegetable!

Avatar do usuário
RicardoVitor
Mensagens: 2597
Registrado em: 07 Set 2006, 20:04
Localização: Esquerdolândia

Re: Re.: O fracasso do neoliberalismo

Mensagem por RicardoVitor »

Procedure escreveu:
RicardoVitor escreveu:Acreditar que o valor pago a quem fornece sua mão-de-obra possa ser determinado através de decretos é muita ingenuidade. Enquanto não for vantajoso para si, o empregador preferirá demitir ou não contratar

Mas vamos supor que ele realmente faça um esforço e contrate um empregado legalmente, pagando um salário maior (mais os benefícios) do que o que ele estaria disposto a pagar caso não fosse obrigado. No final das contas, essa despesa não acaba sendo passada para o consumidor na forma de preços maiores? Se por um lado as pessoas ganham mais, por outro os preços não tendem a subir na mesma medida?


Sim, enquanto existirem pessoas dispostas a pagar pelos preços... Pois são estas que determinam os valores.
Logical, responsible, practical.
Clinical, intellectual, cynical.
Liberal, fanatical, criminal.
Acceptable, respectable, presentable, a vegetable!

Avatar do usuário
O ENCOSTO
Mensagens: 16434
Registrado em: 02 Nov 2005, 14:21
Localização: Ohio - Texas (USA)
Contato:

Re: Re.: O fracasso do neoliberalismo

Mensagem por O ENCOSTO »

Procedure escreveu:
RicardoVitor escreveu:Acreditar que o valor pago a quem fornece sua mão-de-obra possa ser determinado através de decretos é muita ingenuidade. Enquanto não for vantajoso para si, o empregador preferirá demitir ou não contratar

Mas vamos supor que ele realmente faça um esforço e contrate um empregado legalmente, pagando um salário maior (mais os benefícios) do que o que ele estaria disposto a pagar caso não fosse obrigado. No final das contas, essa despesa não acaba sendo passada para o consumidor na forma de preços maiores? Se por um lado as pessoas ganham mais, por outro os preços não tendem a subir na mesma medida?


Inflação.
O ENCOSTO


http://www.manualdochurrasco.com.br/
http://www.midiasemmascara.org/
Onde houver fé, levarei a dúvida.

"Ora, a fé é o firme fundamento das coisas infundadas, e a certeza da existência das coisas que não existem.”

Avatar do usuário
Huxley
Mensagens: 2035
Registrado em: 30 Out 2005, 23:51

Mensagem por Huxley »

As pessoas ainda não se deram conta das consequências do Reaganeconomics (1982-1989) e do Thatcherismo (1979-1990). Essas suas correntes de política econômica aplicaram algumas idéias da ideologia da Escola de Chicago e da Escola de Viena. A questão é que se houvesse boas razões para crer numa lei inexorável que determina que rebaixamento de salários mínimos e enfraquecimento dos sindicatos aumentam a oferta de emprego para os trabalhadores pobres de forma a compensar a queda salarial, tais proposições fariam parte de nossa visão racional e científica do mundo. Mas, como não há boas razões para acreditar nisso, quem o faz está em franco conflito com os dados empíricos.

O problema que ocorreu neste período não foi apenas de "desigualdade salarial", mas também de PERDA do poder aquisitivo dos salários dos trabalhadores mais pobres sem a contrapartida do aumento da oferta de emprego para os mesmos. No caso de Thatcher, o caso foi ainda mais grave porque durante seu governo ela conseguiu a "proeza" de DOBRAR a taxa de pobreza no período de sua gestão (http://online.wsj.com/article_email/SB1 ... DI4Wj.html).

O mito da Reaganomics também não fica por menos. A prosperidade norte-americana até 2007 foi iniciada pelas reformas econômicas de Reagan? A taxa de crescimento da produtividade (a variável que, a longo prazo, determina a prosperidade de um país) não parece ter sido significativamente maior no seu mandato no que no periodo anterior. Querem a prova? Vejam este gráfico:

Imagem

http://ventosueste.blogspot.com/2006/02 ... icana.html

Se fôssemos atribuir a "prosperidade americana" a um presidente, talvez o escolhido fosse Bush pai ou Clinton.

Outro mito sobre a Reaganeconomics é que Reagan foi o grande benfeitor do povo americano que salvou os EUA da estagflação keynesiana com uma política de "supply side economics". Já quanto à "supply side economics", o próprio William Niskanen descreve na Concise Encyclopedia of Economics o fracasso no cumprimento das metas estabelescidas:

http://www.econlib.org/LIBRARY/Enc/Reaganomics.html

Uma das metas do governo Reagan era reduzir os gastos públicos. Mas os gastos não diminuíram em relação a média do governo Carter:

Year Receipts Spending
-------------------------
Carter
1978 18.5% 21.3%
1979 19.1 20.7
1980 19.6 22.3
1981 20.2 22.9
Reagan
1982 19.8 23.9
1983 18.1 24.4
1984 18.0 23.1
1985 18.5 23.9
1986 18.2 23.5
1987 19.2 22.5
1988 18.9 22.1
1989 19.2 22.1


Fonte: http://www.huppi.com/kangaroo/L-carterreagan.htm

E que tal o mito que a década de 70 foi, num contexto mundial, a década perdida dos estagnacionistas keynesianos e a década de 80 foi a década dos "neoliberais pró-crescimento"?Vejam:

Crescimento da economia mundial (% ao ano):

1961/1970: 4,7
1971/1980: 3,9
1981/1990: 3,1
1991/2000: 3,3

Fonte: FMI (citado por Fábio Giambiagi em "Reforma da previdência", Editora Campus).

Vejam só. Para piorar, na época em que os "estagflacionistas" Paul Samuelson e James Tobin eram os economistas mais influentes, o crescimento médio do produto per capita de EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido e França foi de 4,4% no período de 1950-1973, contra 1,9% no período 1973-1998 (informações do livro do Blanchard que já citei neste tópico, p. 208-211). O período de 1950-1973 foi de inflação alta e desemprego alto nos países desenvolvidos? Piada isso...Como se não bastasse, Krugman citou um dado de Hymen Minsky no seu livro que o salário do trabalhador americano nos estratos medianos de 1973 era o DOBRO do 1948. Haja desespero para os trabalhadores sindicalizados daquele período.

Vamos passar para outro mito. O mito da "inflação keynesiana" e dos monetaristas salvadores da pátria no período da década de 80. O grande personagem desse mito é Paul Volcker, o suposto grande benfeitor monetarista que tirou os EUA das garras malvadas do keynesianismo cartiano.

Um primeiro questionamento a visão monetarista da moeda emitida pelo governo como causa única da inflação diz respeito ao agregado monetário mais adequado para ser associado ao processo inflacionário, posto que a moeda é um conceito difícil de definir com precisão. A visão convencional associa o processo inflacionário à criação da moeda pelo governo; enfatiza, portanto, a emissão de agregados monetários sob maior controle governamental como o M1 (=papel-moeda em poder do público+ depósitos a vista nos bancos comerciais) ; tais agregados poderiam ser controlados com mais facilidade pelos instrumentos tradicionais de política monetária disponíveis ao governo. Neste caso, se houver inflação, portanto, a responsabilidade pela sua existência costuma ser atribuída exclusivamente ao governo. Mas a visão keynesiana associa o processo inflacionário à geração de liquidez (conceito mais amplo), e não necessariamente apenas de moeda; a moeda é apenas um pólo extremo em um gradiente de ativos de maior ou menor liquidez. Alguns ativos não são moedas, mas fazem um papel semelhante, já que podem ser trocados por moeda a um custo reduzido, tais como cotas de fundos mútuo de mercado monetário, depósitos em mercado monetário e depósitos a prazo. O M1 se junta a esses ativos para formar o "M2". Conseqüentemente, enfatiza o respaldo ao processo inflacionário gerado pelo aumento de agregados monetários cuja criação é resultante de decisões de agentes privados, estando portanto mais distantes do controle dos instrumentos mais tradicionais da política monetária governamental. Portanto, a sanção monetária da inflação é muitas vezes originária do próprio setor privado, e não do governo. A criação de liquidez por parte do sistema bancário pode, dentro de amplos limites, sustentar um processo inflacionário iniciado em outros setores da economia. Segundo o livro de Blanchard que já citei neste tópico, o Fed tem TOTAL controle sobre o M1, mas o mesmo não ocorre com o M2, agregado que inclui além do M1, os ativos de quase-moeda. Se há um choque inflacionário de CUSTOS (mero aumento de preços), isso leva os agentes aumentar a demanda por moeda por motivo transação, mas como o “M2” NÃO é tido como dado pela política monetária, a inflação pode dá uma "subida". Neste caso, o governo é o refém da inflação, não o vilão.

No link que já indiquei, William Niskanen diz:

"Similarly, the "monetarist experiment" to control inflation was initiated in October 1979, following Carter's appointment of Paul Volcker as chairman of the Federal Reserve Board."

Eis aí a série de inflação, para quem ainda quiser falar que foi o "keynesiano" Carter quem começou tudo:

Year Inflation Unemployment (1)
-------------------------------
1961 1.0% 6.7%
1962 1.0 5.6
1963 1.3 5.6
1964 1.3 5.2
1965 1.6 4.5 < Vietnam war spending increases
1966 2.9 3.8
1967 3.1 3.8
1968 4.2 3.5
1969 5.5 3.5
1970 5.7 5.0
1971 4.4 6.0
1972 3.2 5.6
1973 6.2 4.9
1974 11.0 5.6 < First oil crisis
1975 9.1 8.5
1976 5.8 7.7
1977 6.5 7.1
1978 7.6 6.1
1979 11.3 5.9 < Second oil crisis
1980 13.5 7.2
1981 10.3 7.6
1982 6.2 9.7
1983 3.2 9.6
1984 4.3 7.5


Fonte: http://www.huppi.com/kangaroo/L-carterreagan.htm

Os anos em negrito correspondem aos períodos próximos aos dois choques do petróleo, que geraram inflação de custos para os países que mais consumiam este produto. Ou a visão keynesiana sobre as causas da inflação está correta ou então... a visão monetarista está certa e Paul Volcker deu uma banana para a "regra de Friedman"! Inflação "keynesiana" ? Palhaçada...

Por fim, temos o mito de Hayek que "o poder sindical é essencialmente o poder de privar alguém de trabalhar aos salários que estaria disposto a aceitar". Em alguns casos, isto pode está certo. Quando os sindicatos se organizam em grandes monopólios do trabalho em nível industrial, estes isolam os salários dos que são sindicalizados (“os de dentro”) dos efeitos dos distúrbios econômicos, ao preço de uma menor oferta de emprego aos não-sindicalizados (“os de fora”). O que dizem as evidências empíricas? No livro do Sachs e do Larrain que já citei neste tópico, os dados mostram que o desemprego é mais baixo e se ajusta com rapidez onde a centralização e a descentralização (como aquela que ocorre em nível de fábrica) das negociações salariais são muito altas, tendo pior desempenho níveis de organizações intermediárias entre elas (p.539).Cabe explicar o porquê. Em muitos países com estrutura sindical descentralizada, há a existência de concorrência entre diferentes sindicatos da mesma categoria, o que valoriza a afiliação e tornaria a organização sindical mais responsável perante sua clientela e as negociações salariais levam em consideração as condições da empresa, da economia e do mercado de trabalho de forma a manter o pleno emprego. No caso dos países com alta centralização sindical, parece que os sindicatos agem de maneira mais responsável porque os "de dentro" formam a maioria da PEA. Veja o caso da Suécia. Lá o índice de sindicalização é altíssimo (95%), mas existe um sindicato “nacional” que negocia diretamente com o sindicato dos empregadores. O desemprego da Suécia em 2006 foi de apenas 5,6% ( http://www.indexmundi.com/pt/suecia/tax ... prego.html) . Para quem quiser insistir no mito que qualquer país europeu é a terra do desemprego na faixa dos dois dígitos, deveria ficar sabendo que vários países como Áustria, Dinamarca, Holanda, Irlanda, Noruega e Suíça têm custos indiretos de encargos sociais e níveis sindicalização mais altos que nos EUA e suas taxas de desemprego são menores ou semelhantes ao dos americanos: http://www.oecd.org/dataoecd/36/30/35024561.pdf

Enfim, muita mitologia e poucos fatos sobre o suposta superioridade dos governos com monetarismo, supply side economics ou tendência de direcionamento a minarquia.
“A boa sociedade é aquela em que o número de oportunidades de qualquer pessoa aleatoriamente escolhida tenha probabilidade de ser a maior possível”

Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)

"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."

John Maynard Keynes

Avatar do usuário
Samael
Mensagens: 13718
Registrado em: 19 Out 2005, 13:31
Gênero: Masculino
Contato:

Re.: O fracasso do neoliberalismo

Mensagem por Samael »

Hum. Parece que contra fatos não há argumentos.

Trancado