Igreja manda à França padre que engravidou ex-aluna
25 de abril de 2010 • 12h57 •
Fabiana Leal
Direto de Porto Alegre
Há quatro anos, José Edson da Silva, 41 anos, espera para se casar com Lúcia Moura, 48 anos. Os dois estão juntos há nove anos, e têm duas filhas, de 13 e 6 anos. A demora matrimonial não deve ser atribuída ao noivo ou à noiva, mas à Igreja. Como é padre, Silva depende da liberação do Vaticano para se casar.
"Dizem que isso só ocorre para uma faixa etária de 45 a 50 anos. Lá, o processo é demorado e tem muitos aguardando por uma decisão", afirma ele, que é casado com uma ex-aluna de Teologia, que engravidou quando ele ainda exercia o sacerdócio.
Atualmente, Silva preside o Movimento Nacional das Famílias dos Padres Casados, iniciativa que começou com um grupo de casais reunidos em Salvador (BA) em 1978. Entre suas propostas, o grupo original defendia um "diálogo possível e respeitoso com a hierarquia da Igreja" e uma democratização e abertura maior no segmento. Ainda hoje, esta plataforma é mantida pelo movimento.
"Eu tenho esperança de que um dia a liberação do casamento dos padres possa acontecer. Tinha mais esperança com o perfil do (antigo papa) João Paulo II, que era muito carismático", diz Silva, que não vê muita disposição nesse sentido do Santo Padre atual, Bento XVI, considerado por ele "mais conservador e mais rígido" que o papa anterior.
Apoio
Apesar do desânimo, o líder dos padres casados do Brasil se diz confiante de que uma mudança de mentalidade da Igreja virá pela pressão social. Apesar disso, reclama do tratamento dispensado aos padres que largam a batina pela força do coração. "Em nenhum momento há um diálogo para conversar com padres casados, é como se fossemos os excluídos."
Não que isso o impeça de realizar seus desejos de alguma forma. "Enquanto a liberação do Vaticano não vem, vou vivendo minha vida normalmente. Não vou esperar um papel para ser feliz", afirma.
Temporada na França Quando os superiores de Silva descobriram que ele engravidara a atual mulher, apenas um ano após ter se ordenado padre, aconselharam-no ficar uma temporada na França. "Eles me orientaram a ir para lá e me organizar. Não é comum essa conversa; o mais comum é, a partir de um escândalo, o padre ser obrigado a sair, e, com isso, perder a dignidade. Formar alguém em oito anos é um investimento. Eles queriam me segurar", diz.
Em vez de ficar dois anos na França como previsto (de 1998 a 2000), Silva retornou ao Brasil em seis meses e foi para a paróquia São Camilo, em Brasília. Na capital federal, foi coordenador nacional da Pastoral da Saúde. Ele ficou cinco anos em Brasília e, logo após ter a segunda filha, resolveu sair da Igreja Católica.
Lembranças
"O momento mais difícil foi a decisão (de deixar a batina). Para conseguir, foram necessários dois anos de ajuda de uma psicóloga, pois estava jogando para o alto 16 anos da minha vida. E valeu a pena. Me sinto livre de azia e de úlcera e sou realizado", afirmou.
Ao contrário do que geralmente acontece, Silva não saiu brigado com sua instituição - e recebeu dela, inclusive, apoio. Durante a faculdade de Psicologia, ele foi estagiário em um hospital da Ordem dos Camilianos em Fortaleza (CE) e, hoje, é chefe de recursos humanos do local. Ele ainda dá aulas de sociologia, filosofia da educação e ética na Universidade Estadual Vale do Acaraú.
Segundo Silva, sua própria mãe olha para ele hoje e diz: "como é feio padre casado". De acordo com o padre que deixou a batina por amor, a matriarca tem a impressão de que a atitude "sujou a pureza" do filho. "Mas somos frutos de quê? Não é de uma relação sexual?", questionou.
http://noticias.terra.com.br/brasil/not ... aluna.htmlPor um instante, pensei que fosse denúncia de abuso, mas é o relato do lider do movimento.
Se pastores podem casar, e antigamente os padres podiam, porque agora não podem?