Categorizando as críticas ao naturalismo
Categorizando as críticas ao naturalismo
Estou interessado em separar críticas feitas ao naturalismo/fisicalismo. Em linhas gerais, argumentos que alegam que apenas processos físicos são insuficientes para se explicar certa particularidade do Universo.
Por enquanto, estou interessado só em definir categorias.
- Argumentos ontológicos e cosmológicos - desde a própria existência em um sentido mais brando até exigências de existir o não-natural para sustentar modelos cosmológicos (na minha opinião os melhores argumentos se encontram aqui)
- Argumentos biológicos, que alegam que a vida não pode ter tido uma origem e/ou desenvolvimento naturalística
- Argumentos neurológicos que alegam que consciência e identidade pessoal não podem ser explicados somente por processos físicos
- Argumentos éticos e estéticos que alegam que a moralidade e senso de beleza precisam ter uma origem transcendente
- Argumentos históricos que alegam que a interferência do sobrenatural está registrada em nossa história
- Argumentos religiosos que alegam que milagres e experiências religiosas ocorrendo no presente demonstram o sobrenatural
Fiz isso agora, quem quiser formalizar ainda mais essas categorias faria uma grande contribuição. Que tipo de crítica e levantamento ainda não pode ser reduzido a uma dessas categorias?
Por enquanto, estou interessado só em definir categorias.
- Argumentos ontológicos e cosmológicos - desde a própria existência em um sentido mais brando até exigências de existir o não-natural para sustentar modelos cosmológicos (na minha opinião os melhores argumentos se encontram aqui)
- Argumentos biológicos, que alegam que a vida não pode ter tido uma origem e/ou desenvolvimento naturalística
- Argumentos neurológicos que alegam que consciência e identidade pessoal não podem ser explicados somente por processos físicos
- Argumentos éticos e estéticos que alegam que a moralidade e senso de beleza precisam ter uma origem transcendente
- Argumentos históricos que alegam que a interferência do sobrenatural está registrada em nossa história
- Argumentos religiosos que alegam que milagres e experiências religiosas ocorrendo no presente demonstram o sobrenatural
Fiz isso agora, quem quiser formalizar ainda mais essas categorias faria uma grande contribuição. Que tipo de crítica e levantamento ainda não pode ser reduzido a uma dessas categorias?
Re.: Categorizando as críticas ao naturalismo
Sobre a subjetividade... há alguma coisa que invalide o argumento de que descrever a posição de cada átomo do cérebro vai incluir a descrição e compreensão do que é ver a cor verde... ou de que é saborear chocolate?
Se não se encontra essas coisas numa descrição fisicalista... então está algo em falta... ainda que fisicamente tudo tenha sido descrito em pormenor.
Se não se encontra essas coisas numa descrição fisicalista... então está algo em falta... ainda que fisicamente tudo tenha sido descrito em pormenor.
Os argumentos biológicos não se incluem nos cosmológicos?
Alguns argumentos:
- as leis físicas se encaixam tão bem que não poderiam ter surgido naturalmente; se uma delas fosse um pouco diferente, a vida não seria possível; (creio que essa se encaixe nos argumentos cosmológicos ou biológicos)
- a abiogênese é muito improvável para ter acontecido naturalmente; (biológicos)
- os qualia não podem ser atualmente explicados por processos físicos; (neurológicos)
Alguns argumentos:
- as leis físicas se encaixam tão bem que não poderiam ter surgido naturalmente; se uma delas fosse um pouco diferente, a vida não seria possível; (creio que essa se encaixe nos argumentos cosmológicos ou biológicos)
- a abiogênese é muito improvável para ter acontecido naturalmente; (biológicos)
- os qualia não podem ser atualmente explicados por processos físicos; (neurológicos)
Re.: Categorizando as críticas ao naturalismo
Snake... a questão que eu levantei é sobre o qualia. O Steven Pinker (que é fisicalista)... reconhece que não faz ideia nenhuma de como abordar a questão. O próprio Dawkins (esse ateu materialista xiita) também acha o mesmo.
Eu pessoalmente acho que a explicação para a experiência subjetiva vai partir da área de sistemas complexos. O todo não é a soma das partes, as partes juntas possuem mais informação do que se analisadas individualmente.
Acho que a experiência subjetiva é mais um estado emergente, qualitativamente diferente, advindo de processos físicos. Como analogia existem propriedades de materiais não podem ser entendidas reduzindo-os aos seus componentes atômicos. Mesmo que elas sejam uma emergência bottom ---> up, nós não podemos descrevê-las corretamente fazendo simplesmente o caminho inverso.
Dennett julga que não existem qualia, que o termo é sem sentido mas não conheço sua argumentação mais rigorosamente.
De qualquer forma, acho que muitos dos questionamentos ao fisicalismo advindo da neurologia são apelos à ignorância. Os misterianos por exemplo julgam que estaremos sempre ignorantes à respeito dos hard problems da consciência. Talvez esse pronunciamento seja precipitado.
Acho que a experiência subjetiva é mais um estado emergente, qualitativamente diferente, advindo de processos físicos. Como analogia existem propriedades de materiais não podem ser entendidas reduzindo-os aos seus componentes atômicos. Mesmo que elas sejam uma emergência bottom ---> up, nós não podemos descrevê-las corretamente fazendo simplesmente o caminho inverso.
Dennett julga que não existem qualia, que o termo é sem sentido mas não conheço sua argumentação mais rigorosamente.
De qualquer forma, acho que muitos dos questionamentos ao fisicalismo advindo da neurologia são apelos à ignorância. Os misterianos por exemplo julgam que estaremos sempre ignorantes à respeito dos hard problems da consciência. Talvez esse pronunciamento seja precipitado.
O Dennett acha que não há qualia? Acho que não é bem assim.
O Dennett costuma ser mal interpretado. Para o atacar muitos dizem que ele defende que não há consciência ou que tudo é determinado ou que não há livre arbitrio. Quando na verdade o que Dennett está a tentar fazer é renovar o materialismo, dizendo que o velho materialismo parte de definições pouco úteis... e vai por aí fora para conclusões falsas, como a ideia de que não existe livre arbitrio ou consciência ou sentido verdadeiro. Em relação ao Qualia... acho apenas que ele não acha essa questão muito relevante. Mas se a subjetividade existe (e ele diz que existe) então a qualia é real por definição.
O Dennett costuma ser mal interpretado. Para o atacar muitos dizem que ele defende que não há consciência ou que tudo é determinado ou que não há livre arbitrio. Quando na verdade o que Dennett está a tentar fazer é renovar o materialismo, dizendo que o velho materialismo parte de definições pouco úteis... e vai por aí fora para conclusões falsas, como a ideia de que não existe livre arbitrio ou consciência ou sentido verdadeiro. Em relação ao Qualia... acho apenas que ele não acha essa questão muito relevante. Mas se a subjetividade existe (e ele diz que existe) então a qualia é real por definição.
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Re.: Categorizando as críticas ao naturalismo
Antônio Damásio também defende que não há qualia.
*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.
*Deus deixou seu único filho morrer pendurado numa cruz, imagine o que ele fará com você.
*Deus deixou seu único filho morrer pendurado numa cruz, imagine o que ele fará com você.
Re.: Categorizando as críticas ao naturalismo
Quando um problema é intratável... uma solução é dizer que não problema.
Re.: Categorizando as críticas ao naturalismo
Eu li mais alguns debates entre ateus e apologistas famosos e os argumentos mais usados à favor do teísmo são geralmente os mesmos; um argumento ontológico que tenta fazer um silogismo que mostre que a Natureza depende da existência de uma realidade externa, argumentos cosmológicos de fine-tuning do Universo, alguns arriscam no argumento do desígnio da vida, o argumento da moralidade humana e existência do mal é muito popular e geralmente fecham com argumentos históricos que tentam demonstrar a ressurreição de Cristo.
Eles nunca tocam na questão da mente, e quando confrontados tentam fazer um silogismo que mostre que se em um mundo possível pode existir uma mente imaterial (termo sem sentido) no nosso também pode.
Eles nunca tocam na questão da mente, e quando confrontados tentam fazer um silogismo que mostre que se em um mundo possível pode existir uma mente imaterial (termo sem sentido) no nosso também pode.
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Re: Re.: Categorizando as críticas ao naturalismo
Azathoth escreveu:..
Eles nunca tocam na questão da mente, e quando confrontados tentam fazer um silogismo que mostre que se em um mundo possível pode existir uma mente imaterial (termo sem sentido) no nosso também pode.
Problema facilmente resolvido ao se proceder uma reformulaçâo conceitual de mente suprema imaterial para material.
Re.: Categorizando as críticas ao naturalismo
"Mente imaterial" é um termo totalmente sem sentido, tudo o que concebemos até o presente momento como "mente" não só depende de matéria mas de uma configuração extremamente complexa da matéria. São Tomás concebia o espírito como uma substância pura e una mas não há forma conhecida de imaginar uma mente que não seja formada por uma quantidade enorme de partes menores. Como Daniel Dennett disse, nós temos uma alma mas ela é composta por minúsculos robôs.
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Re.: Categorizando as críticas ao naturalismo
Críticas ao relativismo moral que pode decorrer do naturalismo, ao meu ver, são as mais importantes.
"Let 'em all go to hell, except cave 76" ~ Cave 76's national anthem
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Re: Re.: Categorizando as críticas ao naturalismo
Azathoth escreveu:"Mente imaterial" é um termo totalmente sem sentido, tudo o que concebemos até o presente momento como "mente" não só depende de matéria mas de uma configuração extremamente complexa da matéria. São Tomás concebia o espírito como uma substância pura e una mas não há forma conhecida de imaginar uma mente que não seja formada por uma quantidade enorme de partes menores. Como Daniel Dennett disse, nós temos uma alma mas ela é composta por minúsculos robôs.
Concordo.E tenho por mim o Espírito é uma substância material complexa,ao contrário do que Tomás de Aquino pensava.
Re.: Categorizando as críticas ao naturalismo
As críticas "se o teísmo é falso, logo não existem padrões absolutos de moralidade" e derivadas são muito populares. Um exemplo:
Moral Argument
But what makes us obliged not to mistreat humans? After all, if naturalism is true, "a human being is a biological animal,"[16] as naturalist Julian Baggini admits. But unless humans have unique moral worth not had by beasts, it seems objective moral truth wouldn't exist. It wouldn't, for instance, be immoral to rape or kill, for animals do so to each other regularly with no moral significance.[17]
Paul Draper pinpoints the problem such properties would cause for naturalism: "every human being has a special sort of inherent value that no animal has, and every human has an equal amount of this value. Such equality is possible despite the great differences among humans, because the value in question does not supervene on any natural properties. It is a nonnatural property that all (and only) humans possess."[18] The great naturalist philosopher J.L. Mackie, and myriad others, agree.
Unfortunately, to defend naturalism, Draper and Mackie (like Carrier) have to absurdly deny that humans have such unique inherent worth.[19] Carrier even says some animals are more morally valuable than certain humans in virtue of their superior intellect, rationality, etc.[20] But such positions are obviously false. Humans have moral worth not found in animals, regardless of their comparative capabilities, and the failure to recognize this is simply a lack of moral insight.
But since these moral properties obviously do exist in human beings and aren't natural, they must have a supernatural source. And since moral properties exist only in persons, the source of moral properties must be a supernatural person.
The moral order, then, is evidence of a supernatural person who grounds moral truth. Additionally, at least some moral truths are necessary, and thus their foundation must be a necessary being grounding moral facts in all possible worlds.[21]
Re: Re.: Categorizando as críticas ao naturalismo
o pensador escreveu:Concordo.E tenho por mim o Espírito é uma substância material complexa,ao contrário do que Tomás de Aquino pensava.
Incluindo Deus, a "grande mente"?
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Re.: Categorizando as críticas ao naturalismo
Bom, os problemas de um Deus material eterno são a rigor os mesmos problemas de um Universo eterno e mais o problema de sua inteligência.
Re.: Categorizando as críticas ao naturalismo
Outra coisa; como uma mente atemporal pode ter estados cognitivos?
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Re: Re.: Categorizando as críticas ao naturalismo
Azathoth escreveu:Bom, os problemas de um Deus material eterno são a rigor os mesmos problemas de um Universo eterno e mais o problema de sua inteligência.
Bem,Um Deus infinito tem infinita energia e portanto nâo pode ser consumido pela entropia.Quais seriam os outros problemas?
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Re: Re.: Categorizando as críticas ao naturalismo
Azathoth escreveu:Outra coisa; como uma mente atemporal pode ter estados cognitivos?
Em minha concepçâo Deus nâo é atemporal.Se existe na qualidade de sistema material,é temporal.Porém,sua temporalidade é eterna.