Estou torcendo por Israel

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Acauan
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Estou torcendo por Israel

Mensagem por Acauan »

Estou torcendo por Israel

Por Acauan

Eu era uma criança quando Egito e Síria atacaram o Estado de Israel no Yom Kippur.

Lembro de ter comentado com meus amigos: Estou torcendo por Israel.

Por resposta tive "todos estamos".

Bons tempos aqueles em que meninos discutiam geopolítica internacional.

Dias depois daquele, as forças de Israel avançavam decididas rumo a Damasco.
Foram detidas, não por qualquer resistência militar dos sírios, mas pelo ultimato da União Soviética, que deixara claro que interveriria para impedir que seus aliados no Oriente Médio sofressem mais uma derrota humilhante.

Eu e os demais meninos bem informados da época não sabíamos que, por conta do tal ultimato, enquanto estudávamos nossas lições as forças armadas dos Estados Unidos da América haviam entrado em DEFCOM 3, o estado de alerta que colocava o mundo a dois passos da guerra termonuclear global.

Hoje, diante das declarações do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad de que Israel deve ser varrido do mapa, me lembro e pergunto por que crianças que deveriam estar mais interessadas nas aventuras do super-herói do momento se posicionavam a favor de uma nação da qual sabiam tão pouco.

No meu caso, complementa-se esta com a pergunta de por que tal simpatia por um pequeno país com o qual não tinha a mais mínima afinidade cultural se manteve até hoje.

Demorou décadas até ter a resposta simples, tirada das palavras recentes do presidente do Irã.

O Estado de Israel é uma democracia que não prega que qualquer outro país ou povo deva ser varrido do mapa.
Isto explicaria, em princípio, a simpatia.
Definitivamente para o Estado Judeu, um povo que foi sentenciado por um ditador paranóico a ser varrido do mapa, mas que sobreviveu e construiu um país que quer apenas sobreviver.

Eretz Israel.
A Terra de Israel.

Uma terra muito distante da inocência, como gritam as vítimas de Deir Yassin, Sabra e Chatila.

Mas ainda assim uma terra onde foi construído o improvável.
Nascida no deserto, uma nação próspera, erigida sob o ideal de que o Estado existe para garantir a liberdade e a autodeterminação do indivíduo e (por que não repetir?) o direito inalienável da busca da felicidade.

Nós, Índios.

Acauan Guajajara
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rapha...
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Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por rapha... »

[à parte] Acauan, aquele problema (http://rv.cnt.br/viewtopic.php?t=62) que você reportou, está resolvido? [/à parte]

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Ateu Tímido
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Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por Ateu Tímido »

Estou transferindo a resposta que dei ao tópico no fórum antigo.
Com exceção da resposta dada ao Cabeça, que, por enquanto, continua só lá...

Acauan, em 1973 eu também era uma criança que me interessava por problemas internacionais. Ainda que a ideologia absorvida posteriormente pudesse me fazer desejar que não tivesse sido assim, também torci por Israel na época.
Quanto às declarações do presidente do Irã, um radical religioso, penso que é meramente propaganda para consumo interno. O Irã não tem meios técnológicos, logísticos nem políticos de assumir a liderança de uma "jihad" contra Israel. A preocupação é que tem, isso sim, poder de fogo bastante para financiar um aumento das atividades terroristas, tornando mais distante a paz.
Ao contrário da sua, minha simpatia por Israel pouco sobreviveu à infância. Tenho minhas dúvidas sobre a correção histórica até mesmo do ato da Assembléia Geral da ONU (sob a presidência do Brasil) que aprovou a divisão do antigo protetorado britânico da Palestina, criando um estado árabe e outro judeu, sendo que os árabes se recusaram a aceitar a decisão e organizar o seu estado.
Não vou discutir as tentativas árabes (reais), desde o nasserismo, de destruir o Estado de Israel que já se encontrava então organizado e reconhecido internacionalmente. A verdade é que, questionável ou não, Israel tornou-se uma realidade e um democracia, ao menos internamente. Ainda me recordo de uma entrevista de Shimon Peres durante uma visita ao Brasil, nos anos 80, numa das muitas vezes em que foi chanceler, em que falava das "crianças que brincavam na língua dos profetas"...
O problema maior que vejo em Israel é o terrorismo de Estado, apoiado pelos Estados Unidos. O apoio irrestrito americano, hoje justificado principalmente por razões internas, eleitorais, faz com que os governos de Israel conheçam poucos limites à sua ação. Não se limitam a combater o terrorismo com as armas usadas pelos Estados Democráticos de Direito. Se valem de um misto de repressão estatal, postura de guerra contra estado (?) estrangeiro e atos de puro e simples terrorismo. O que não se justifica diante das regras da comunidade internacional.

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Acauan
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Re: Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por Acauan »

rapha... escreveu:[à parte] Acauan, aquele problema (http://rv.cnt.br/viewtopic.php?t=62) que você reportou, está resolvido? [/à parte]


Solução perfeita, como sempre Rapha.

Obrigado!
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Acauan
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Re: Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por Acauan »

Ateu Tímido escreveu:Tenho minhas dúvidas sobre a correção histórica até mesmo do ato da Assembléia Geral da ONU (sob a presidência do Brasil) que aprovou a divisão do antigo protetorado britânico da Palestina, criando um estado árabe e outro judeu, sendo que os árabes se recusaram a aceitar a decisão e organizar o seu estado.
Não vou discutir as tentativas árabes (reais), desde o nasserismo, de destruir o Estado de Israel que já se encontrava então organizado e reconhecido internacionalmente. A verdade é que, questionável ou não, Israel tornou-se uma realidade e um democracia, ao menos internamente. Ainda me recordo de uma entrevista de Shimon Peres durante uma visita ao Brasil, nos anos 80, numa das muitas vezes em que foi chanceler, em que falava das "crianças que brincavam na língua dos profetas"...
O problema maior que vejo em Israel é o terrorismo de Estado, apoiado pelos Estados Unidos. O apoio irrestrito americano, hoje justificado principalmente por razões internas, eleitorais, faz com que os governos de Israel conheçam poucos limites à sua ação. Não se limitam a combater o terrorismo com as armas usadas pelos Estados Democráticos de Direito. Se valem de um misto de repressão estatal, postura de guerra contra estado (?) estrangeiro e atos de puro e simples terrorismo. O que não se justifica diante das regras da comunidade internacional.


Bruno,

Todos os países árabes surgidos da dissolução do Império Otomano através dos protetorados britânico e francês tiveram suas fronteiras definidas arbitrariamente, riscando-se o mapa conforme os interesses políticos vigentes na época.
O Estado de Israel não é mais artificial sob este ponto de vista do que a Jordânia.

A injustiça com relação aos palestinos, que se tornaram refugiados na terra que até então ocupavam, não é maior que a injustiça com relação aos curdos, só que sempre houve muito menos gritaria quanto à ilegitimidade das fronteiras do Iraque e da Turquia do que quanto àquelas que circundam o território comparativamente muito menor do Estado de Israel.

E este papo de terrorismo de Estado é conversa mole para boi dormir. Uma expressão de propaganda política aplicada no caso para igualar o Estado de Israel aos criminosos que explodem seus ônibus urbanos.
Entenda que não estou defendendo o Estado de Israel quanto a isto (coisa que, como todos sabem, não tenho a menor vergonha de fazer quando é o caso). O governo israelense ao longo de sua ocupação dos territórios árabes cometeu muitas violações do direito internacional que podem ser enquadradas pela Convenção de Genebra.

Só que você, como advogado, sabe muito bem que não se pode nomear crimes visando produzir determinado efeito emocional no júri. Crimes comuns são definidos nos respectivos Códigos Penais e crimes internacionais pela legislação aplicável.
Se existe lei que nomeia claramente as violações cometidas por Israel, chama-los de terrorismo de Estado serve apenas aos interesses do Hamas, Jihad Islâmica, Brigada dos Mártires e seus simpatizantes.

E há muita propaganda enganosa quanto a estas violações.

Quanto ao apoio dos Estados Unidos da América a Israel, ele não é nem pode ser irrestrito.
O governo americano anda sobre o fio da navalha entre os limites legais e políticos em que a ajuda Israel pode ser mantida, mesmo que tal ajuda conte com o apoio da maioria do eleitorado.
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Aurelio Moraes
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Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por Aurelio Moraes »

Eu estou torcendo para o Flamengo cair.

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TempestStorm
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Mensagem por TempestStorm »

Os palestinos sofrem mais...

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Tranca
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Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por Tranca »

Um breve comentário.

Desde o início, parece patente que a vontade dos judeus foi construir um estado e a dos árabes que combatem o Estado de Israel foi destruí-lo e não dar apoio na construção de um Estado Palestino.

Se judeus e entidades judaicas européias e norte-americanas ajudam a financiar Israel, ótimo que o possam fazer.

Agora, se os governantes árabes que financiam os terroristas do Hammas e outros tantos se protificassem também a ajudar na construção do almejado Estado Palestino, talvez pudessem até contestar o modus operandi de Israel ao defender seu território, com suas duras retaliações aos ataques que sofrem.

Mas que fazer ao sofrer ataques de terroristas dentro e fora de suas fronteiras?

É fato que Israel seja uma ilha de prosperidade cercada por um mar de pobreza e fundamentalismo religioso. Isso só faz acirrar os ânimos daqueles que julgam os israelenses como responsáveis diretos por sua situação desesperançosa. Porém, estes ignoram (ou fazem de conta que ignoram) que os seus apenas contribuem para que a situação seja sempre tensa e quase nunca contribuam para a paz e a efetivação de um Estado Palestino com fronteiras definidas e todas as qualidades atinentes a um país de verdade.

Sendo assim, se os israelenses são duros, é porquê esta é a única linguagem que os seus oponentes entendem.
Palavras de um visionário:

"Seria uma ressurreição satânica retirarmos Lula e Brizola - esse casamento do analfabetismo econômico com o obsoletismo ideológico - do lixo da história para o palco do poder."

Roberto Campos

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Ateu Tímido
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Re: Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por Ateu Tímido »

Acauan escreveu:
Ateu Tímido escreveu:Tenho minhas dúvidas sobre a correção histórica até mesmo do ato da Assembléia Geral da ONU (sob a presidência do Brasil) que aprovou a divisão do antigo protetorado britânico da Palestina, criando um estado árabe e outro judeu, sendo que os árabes se recusaram a aceitar a decisão e organizar o seu estado.
Não vou discutir as tentativas árabes (reais), desde o nasserismo, de destruir o Estado de Israel que já se encontrava então organizado e reconhecido internacionalmente. A verdade é que, questionável ou não, Israel tornou-se uma realidade e um democracia, ao menos internamente. Ainda me recordo de uma entrevista de Shimon Peres durante uma visita ao Brasil, nos anos 80, numa das muitas vezes em que foi chanceler, em que falava das "crianças que brincavam na língua dos profetas"...
O problema maior que vejo em Israel é o terrorismo de Estado, apoiado pelos Estados Unidos. O apoio irrestrito americano, hoje justificado principalmente por razões internas, eleitorais, faz com que os governos de Israel conheçam poucos limites à sua ação. Não se limitam a combater o terrorismo com as armas usadas pelos Estados Democráticos de Direito. Se valem de um misto de repressão estatal, postura de guerra contra estado (?) estrangeiro e atos de puro e simples terrorismo. O que não se justifica diante das regras da comunidade internacional.


Bruno,

Todos os países árabes surgidos da dissolução do Império Otomano através dos protetorados britânico e francês tiveram suas fronteiras definidas arbitrariamente, riscando-se o mapa conforme os interesses políticos vigentes na época.
O Estado de Israel não é mais artificial sob este ponto de vista do que a Jordânia.

A injustiça com relação aos palestinos, que se tornaram refugiados na terra que até então ocupavam, não é maior que a injustiça com relação aos curdos, só que sempre houve muito menos gritaria quanto à ilegitimidade das fronteiras do Iraque e da Turquia do que quanto àquelas que circundam o território comparativamente muito menor do Estado de Israel.

E este papo de terrorismo de Estado é conversa mole para boi dormir. Uma expressão de propaganda política aplicada no caso para igualar o Estado de Israel aos criminosos que explodem seus ônibus urbanos.
Entenda que não estou defendendo o Estado de Israel quanto a isto (coisa que, como todos sabem, não tenho a menor vergonha de fazer quando é o caso). O governo israelense ao longo de sua ocupação dos territórios árabes cometeu muitas violações do direito internacional que podem ser enquadradas pela Convenção de Genebra.

Só que você, como advogado, sabe muito bem que não se pode nomear crimes visando produzir determinado efeito emocional no júri. Crimes comuns são definidos nos respectivos Códigos Penais e crimes internacionais pela legislação aplicável.
Se existe lei que nomeia claramente as violações cometidas por Israel, chama-los de terrorismo de Estado serve apenas aos interesses do Hamas, Jihad Islâmica, Brigada dos Mártires e seus simpatizantes.

E há muita propaganda enganosa quanto a estas violações.

Quanto ao apoio dos Estados Unidos da América a Israel, ele não é nem pode ser irrestrito.
O governo americano anda sobre o fio da navalha entre os limites legais e políticos em que a ajuda Israel pode ser mantida, mesmo que tal ajuda conte com o apoio da maioria do eleitorado.


Vamos por partes (como diria o ex-deputado Hildebrando Pascoal :emoticon81:)

Acauan,

Quando falo das minhas dúvidas sobre a decisão que criou o o Estado de Israel, elas não se limitam à questão das fronteiras ou dos refugiados. Sei que a criação de todos os países do oriente médio a partir de antigas províncias do Império Otomano foi arbitrária, atendendo principalmente os interesses das potências européias vitoriosas na 1ª Guerra e aos príncipes árabes eventualmente aliados a elas.
No caso de Israel em 1948, porém, se foi além. Foi concedido o status de nação a quem evidentemente não o tinha. O judaísmo naquela época não era mais que uma religião. Não havia realidade política em falar de "povo judeu". Havia judeus franceses, alemães, russos, tunisianos, argelinos, egípcios, etc., sem que constituíssem uma identidade nacional.
A resolução da ONU de 1948, tomada em grande parte devido ao sentimento geral favorável aos judeus após a 2ª Guerra, representou a vitória de um movimento político, o sionismo, que visava transformar o que era então apenas um grupo religioso numa nação. Conseguiram. Como eu disse no primeiro post, essa matéria é vencida. Israel hoje é uma nação e qualquer solução para a região tem que respeitar esse fato.

Terrorismo de Estado. Acho que posso chamar de "terrorismo de estado", sem o menor risco de cometer erros, os atos de um exército nacional voltados não contra outro exército, ou mesmo um grupo combatente, mas contra a população civil. Assim, qualifico de terrorismo de estado a destruição de casas que supostamente pertenceriam a famílias de onde saíram terroristas; a política de assassinatos "seletivos" em que não há o menor escrúpulo em acertar os que o acaso deixou perto do "alvo" em mira; o posicionamento da Suprema Corte de Israel, inadmissível em qualquer tribunal de um Estado de Direito, de permitir a tortura "moderada" de prisioneiros palestinos, com o objetivo de prevenir supostos atentados terroristas. Além dessas, já existiram outras práticas que, a meu ver, colocam o Estado de Israel na mesma posição que tinha a Líbia de Khaddaffi nos anos 80, por exemplo. E põem os países que apóiam as ações de Israel na mesma linha daqueles que (não sei se ainda é o caso da França), reconhecem o Hizbollah como uma "associação cultural".

Sobre o apoio americano, ele é incondicional, uma vez que não está condicionado a qualquer esforço de Israel em favor da paz. Quisesse o governo dos Estados Unidos, seria fácil pressionar Israel pela paz acenando com o corte da ajuda econômica e militar, ou mesmo com o bloqueio das remessas de dinheiro de organizações particulares, fontes das quais Israel depende para sobreviver. Tais medidas são normalmente tomadas contra outros estados que praticam terrorismo.

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Acauan
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Re: Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por Acauan »

Ateu Tímido escreveu: Acauan,

Quando falo das minhas dúvidas sobre a decisão que criou o o Estado de Israel, elas não se limitam à questão das fronteiras ou dos refugiados. Sei que a criação de todos os países do oriente médio a partir de antigas províncias do Império Otomano foi arbitrária, atendendo principalmente os interesses das potências européias vitoriosas na 1ª Guerra e aos príncipes árabes eventualmente aliados a elas.
No caso de Israel em 1948, porém, se foi além. Foi concedido o status de nação a quem evidentemente não o tinha. O judaísmo naquela época não era mais que uma religião. Não havia realidade política em falar de "povo judeu". Havia judeus franceses, alemães, russos, tunisianos, argelinos, egípcios, etc., sem que constituíssem uma identidade nacional.
A resolução da ONU de 1948, tomada em grande parte devido ao sentimento geral favorável aos judeus após a 2ª Guerra, representou a vitória de um movimento político, o sionismo, que visava transformar o que era então apenas um grupo religioso numa nação. Conseguiram. Como eu disse no primeiro post, essa matéria é vencida. Israel hoje é uma nação e qualquer solução para a região tem que respeitar esse fato.


Bruno,

Embora a religião seja o principal fator de ligação entre os judeus, não é totalmente correto defini-los apenas como pessoas que professam religião judaica. Se assim fosse, a expressão "judeu ateísta" seria absurda, só que você encontrará muitos membros da comunidade judaica que se definem assim, tanto em New York quanto em Tel' Aviv, para não falar do cabedal de intelectuais judeus marxistas, a começar do próprio.
No sentido inverso, se eu ou você decidirmos professar o judaísmo, cumprindo todas as mitsvot, mesmo assim não seremos judeus.

Também é temeroso definir os judeus como um ramo da etnia semita. Embora a proximidade genética do grupo seja grande, basta comparar um falasha etíope com o Woody Allen para saber do que estou falando.

A melhor definição para os judeus é que eles são Israel.
Um conceito supra-político de nação estabelecida pela História, unida pela cultura e preservada pela tradição.

Isto os torna um fenômeno único, que após o Holocausto tornou-se um problema único para a comunidade internacional e que, portanto, exigia uma solução única.
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Ateu Tímido
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Re: Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por Ateu Tímido »

Acauan escreveu:
Ateu Tímido escreveu: Acauan,

Quando falo das minhas dúvidas sobre a decisão que criou o o Estado de Israel, elas não se limitam à questão das fronteiras ou dos refugiados. Sei que a criação de todos os países do oriente médio a partir de antigas províncias do Império Otomano foi arbitrária, atendendo principalmente os interesses das potências européias vitoriosas na 1ª Guerra e aos príncipes árabes eventualmente aliados a elas.
No caso de Israel em 1948, porém, se foi além. Foi concedido o status de nação a quem evidentemente não o tinha. O judaísmo naquela época não era mais que uma religião. Não havia realidade política em falar de "povo judeu". Havia judeus franceses, alemães, russos, tunisianos, argelinos, egípcios, etc., sem que constituíssem uma identidade nacional.
A resolução da ONU de 1948, tomada em grande parte devido ao sentimento geral favorável aos judeus após a 2ª Guerra, representou a vitória de um movimento político, o sionismo, que visava transformar o que era então apenas um grupo religioso numa nação. Conseguiram. Como eu disse no primeiro post, essa matéria é vencida. Israel hoje é uma nação e qualquer solução para a região tem que respeitar esse fato.


Bruno,

Embora a religião seja o principal fator de ligação entre os judeus, não é totalmente correto defini-los apenas como pessoas que professam religião judaica. Se assim fosse, a expressão "judeu ateísta" seria absurda, só que você encontrará muitos membros da comunidade judaica que se definem assim, tanto em New York quanto em Tel' Aviv, para não falar do cabedal de intelectuais judeus marxistas, a começar do próprio.
No sentido inverso, se eu ou você decidirmos professar o judaísmo, cumprindo todas as mitsvot, mesmo assim não seremos judeus.

Também é temeroso definir os judeus como um ramo da etnia semita. Embora a proximidade genética do grupo seja grande, basta comparar um falasha etíope com o Woody Allen para saber do que estou falando.

A melhor definição para os judeus é que eles são Israel.
Um conceito supra-político de nação estabelecida pela História, unida pela cultura e preservada pela tradição.

Isto os torna um fenômeno único, que após o Holocausto tornou-se um problema único para a comunidade internacional e que, portanto, exigia uma solução única.


Acauan,

É até difícil debater quando concordo com quase tudo que você escreveu!
Minha única dúvida, e eu chamo de dúvida, não de divergência, é sobre essa unidade histórico-cultural dos judeus. Sei que já houve testes genéticos comprovando uma proximidade maior que a esperada entre Asquenazins da Europa central e oriental e Sefaradins do mediterrâneo. Mas realmente há mais variações étnicas, como os etíopes q vc citou.
Seria essa realmente uma unidade de nação, ou apenas um conjunto de preceitos religiosos seguidos ao longo de séculos, por quem sempre foi minoria e precisava das suas tradições para manter uma identidade?
Tempos atrás li um artigo sobre a sobrevivência da língua portuguesa em antigas feitorias lusitanas na Ásia, especificamente na península de Malaca. O fenômeno era explicado pelo fato de ser uma minoria cristã num meio muçulmano, que preservava ávidamente sua identidade...
Quanto à solução de 1948, apesar de ser questão superada, confesso q não sei se foi a melhor solução. O mundo sabia que devia alguma coisa ao povo judeu. A imigração para a Palestina crescia desde o fim da 1ª guerra. É realmente difícil pensar numa solução que não gerasse conflitos. Na autobiografia de Golda Meir ela conta que, poucas semanas antes da proclamação do Estado de Israel, ela foi enviada para uma reunião com o rei Abdullah da Jordânia, bisavô e homônimo do atual. Ele era considerado confiável pelos nacionalistas judeus e propôs que não fosse proclamado o Estado e que negociassem uma autonomia com governo próprio sob o reino dele. A questão chegou a ser debatida e foi rejeitada pela instabilidade da própria Jordânia. Logo depois o Rei foi assassinado por extremistas e substituído pelo seu filho louco...
Enfim. Tudo ali é complicado!

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videomaker
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Re: Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por videomaker »

Mr.Hammond escreveu:Eu estou torcendo para o Flamengo cair.


Deve ter sido muito ruim a segundona , mais não conte com
o mengão por lá !
Há dois meios de ser enganado. Um é acreditar no que não é verdadeiro; o outro é recusar a acreditar no que é verdadeiro. Søren Kierkegaard (1813-1855)

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Re: Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por Fernando Silva »

Ateu Tímido escreveu:A imigração para a Palestina crescia desde o fim da 1ª guerra.


Sem falar nas famílias que não participaram da diáspora e viviam lá desde tempos bíblicos.

Mas realmente fica difícil se chegar a um acordo quando há:

-Vários povos misturados disputando um território que é um pouco mais fértil que o resto da região
-Pelo menos três grandes religiões sendo usadas por seus seguidores como "prova" de que algum deus garantiu a posse daquela terra a um determinado grupo. Se é o próprio Deus quem diz...
-Radicais dos dois lados que só aceitam a destruição total do outro lado e não pretendem chegar a acordos.
-Um território com uma história tão complicada que fica difícil dizer quem tem direito ao quê.

Note-se que, mesmo entre os cristãos, há divisões milenares. Há uma igreja em Jerusalém (se não me engano, a do Santo Sepulcro) que está dividida entre várias facções cristãs. Uma cuida da porta, outra do lado direito etc., e uma não pode se meter na área da outra.

Há também uma parte dos judeus, mais radical, que é contra a existência do estado atual de Israel, pois foi criado pelos homens e não pelo Messias prometido. Eles preferem continuar esperando.

Se cada lado está dividido, o que esperar do entendimento entre os lados?

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Will
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Mensagem por Will »

Vitor Moura escreveu:
Will escreveu:Vitor Moura.....




Entra na fila... :emoticon12: :emoticon12: :emoticon12:


Já deu para vc desconfiar que mesmo com seus esforços para ser expulso, o pessoal preferiu te aturar, para vc não sair dizendo por aí que os céticos não te aguentaram, né?

Como já disse, vc só está destruindo o que vc levou algum tempo para construir...

Vc está involuindo, tal qual é a lei kardecista...

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Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por Storydor »

Ótimo texto de Acauan.
"E quem era inocente, hoje já virou bandido, só para comer um pedaço de pão fudido" Chico Science
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Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por Tranca »

Agora o Vitor Moura deu para ser "incorporado" por outros foristas ou está fazendo uma experiência, tentando apropriar-se da gênese gráfica do Acauan? :emoticon16:





Ou virou "cavalo" de índio velho? :emoticon12:
Palavras de um visionário:

"Seria uma ressurreição satânica retirarmos Lula e Brizola - esse casamento do analfabetismo econômico com o obsoletismo ideológico - do lixo da história para o palco do poder."

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Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por Samael »

Estou torcendo pelo Líbano.

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Re: Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por Shanaista »

Fernando Silva escreveu:Se cada lado está dividido, o que esperar do entendimento entre os lados?

Quem pareceu responder essa questão... foi Maomé... mas depois que ele morreu... a desordem voltou...

Séculos depois o Império Otomano se estabeleceu e a partir de não sei quando... colocou-se ordem naquela região novamente... instituindo-se direitos para os menos favorecidos... tolerancia a outros povos e crendices etc... mas aí no início do século passado... diluiram o Império Otomano reduzindo-o a atual Turquia... que aparentemente não apresenta os mesmos problemas e conflitos étnicos que Israel e adjacências possuem...

Porém acho que para estabelecer a paz ali outra vez... esses fundamentalistas e radicais deveriam abandonar esse discurso de que Alá, Deus e Jesus Cristo querem assim... ou querem assado... e procurarem se adequar com o atual contexto exigido pelo mundo moderno... parceria e progresso...

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Re: Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por Acauan »

Samael escreveu:Estou torcendo pelo Líbano.


Cedro em Chamas.
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Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por Samael »

Eu me lembro desse tópico, Acauan. Muito bom.

Eu tenho profunda admiração pelo processo democrático que compõe aquela nação.

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Re: Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por Acauan »

Shanaista escreveu:
Fernando Silva escreveu:Se cada lado está dividido, o que esperar do entendimento entre os lados?

Quem pareceu responder essa questão... foi Maomé... mas depois que ele morreu... a desordem voltou...

Séculos depois o Império Otomano se estabeleceu e a partir de não sei quando... colocou-se ordem naquela região novamente... instituindo-se direitos para os menos favorecidos... tolerancia a outros povos e crendices etc... mas aí no início do século passado... diluiram o Império Otomano reduzindo-o a atual Turquia... que aparentemente não apresenta os mesmos problemas e conflitos étnicos que Israel e adjacências possuem...


Parte do território turco atual é ocupado por curdos separatistas, os quais o Ocidente prefere fingir que não vê para não melindrar um aliado estratégico.
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

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clara campos
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Re: Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por clara campos »

Acauan escreveu:Parte do território turco atual é ocupado por curdos separatistas, os quais o Ocidente prefere fingir que não vê para não melindrar um aliado estratégico.

Como assim?
Só por existir, só por duvidar, tenho duas almas em guerra e sei que nenhuma vai ganhar... (J.P.)

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Samael
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Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por Samael »

Simples: Antes os turcos conosco, apesar de serem "quase nazistas" em relação aos curdos, do que nós sem os turcos, Clara.

A Turquia é ponto estratégico essencial a qualquer investida no Oriente Médio.

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Shanaista
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Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por Shanaista »

Sinceramente também demorei pra entender o recado do Acauan... pois quando li Ocidente... entendi a parte européia da Turquia... e imaginei todo território asiático do país dominado pelos curdos!!!

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clara campos
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Re: Re.: Estou torcendo por Israel

Mensagem por clara campos »

Samael escreveu:Simples: Antes os turcos conosco, apesar de serem "quase nazistas" em relação aos curdos, do que nós sem os turcos, Clara.

A Turquia é ponto estratégico essencial a qualquer investida no Oriente Médio.

Continuo sem entender, o ocidente tem sido conivente com essa situação?

É que frequentemente, a propósito das pretenções turcas para entrar na UE, vejo duras críticas à situação turcos/curdos, inclusivamente esse vem sendo apontado como um dos entraves À entrada da mesma na UE
(não que eu entenda que esse seja o único entrave, mas é certamente um entrave poderoso)
Só por existir, só por duvidar, tenho duas almas em guerra e sei que nenhuma vai ganhar... (J.P.)

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