Saiu ano passado (2005) numa revista de alto Impact Factor uma revisão de um livro de Ian Stevenson de casos de reencarnação na Europa. A revista é o American Journal of Psychiatry que teve em 2005 um Impact Factor de 8.286.
Casos Europeus do Tipo Reencarnação
Por Ian Stevenson, M.D. Jefferson, N.C., McFarland & Co., 2003, 278 pp., $49.95.
REMI J. CADORET, M.D.
Iowa City, Iowa
Este é um livro incomum para ser revisado—incomum por ser essencialmente uma monografia que apresenta alguns resultados das eternas pesquisas do Dr. Stevenson quanto à evidência para a reencarnação, e incomum ao lidar com um tema—reencarnação—que é um muito raro foco nas discussões psiquiátricas, especialmente nestes dias de aumentado interesse em abordagens neuropsicológicas e genética molecular para os complexos comportamentos humanos, incluindo psicopatologia. Assim, é necessário um retrospecto para mostrar como este livro singular se encaixa no estudo de comportamento humano e, por extensão, à psiquiatria, e como esta monografia da carreira da pesquisa do Dr. Stevenson é um produto do seu eterno interesse no paranormal—experiências extra-sensoriais e fenômenos do tipo.
Ian Stevenson nasceu no Canadá, o filho de um advogado escocês e sua esposa, que tinha um interesse em fenômenos psíquicos. Stevenson estudou medicina em St. Andrews na Escócia e em McGill em Montreal. Durante o fim da década de 1940, no início de sua carreira médica, ele fez pesquisa em medicina psicossomática no Hospital de Nova Iorque, onde o Dr. H.G. Wolffe dirigiu um grupo investigando efeitos do estresse e sua concomitante emoção nos sistemas de órgãos dos pacientes. Por causa do seu descontentamento com as interpretações psicossomáticas então atuais dos seus colegas, Stevenson mudou para treinamento psicanalítico em 1951, graduando-se no Instituto Psicanalítico de Washington em 1958. Em 1957 tornou-se um psiquiatra de criança na Universidade do Hospital de Virgínia em Charlottesville.
Cedo na sua carreira em Charlottesville ele tornou-se ciente da falta de método científico por atrás das hipóteses psicanalíticas freudianas tais como a “afirmação que um caráter posterior da pessoa depende quase exclusivamente dos acontecimentos na infância” (1) e a falta de interesse em outros conceitos de processos mentais inconscientes “correntes no início do Século 20 (incluindo Pierre Janet, Morton Prince, William James, C.G. Jung, e FWH Myers)” (1). Estes descontentamentos com a prevalencia das interpretações psiquiátricas da personalidade levaram Stevenson nos primeiros anos da década de 1950 a ler sistematicamente a literatura teosófica e a pesquisa psíquica. Tornou-se mais atraído e envolvido com a pesquisa psíquica por causa de sua abordagem tanto a fenômenos psíquicos espontâneos quanto a métodos de laboratório para demonstrar fenômenos tais como telepatia e clarividência. Por uma série de razões Stevenson escolheu o “estudo da experiência psíquica—aquelas que ocorrem espontaneamente na vida cotidiana” (1).
A abordagem do Stevenson à questão da reencarnação era avaliar a evidência para ela e desenvolver um protocolo para a reunião de mais evidência a delinear os fenômenos de comportamentos humanos, que sugeriam que alguns aspectos da personalidade humana talvez sobrevivessem à aparente morte e se manifestassem nos vivos. Stevenson descreveu sua abordagem geral (para a qual o livro sob revisão fornece um exemplo específico) como se segue:
No estudo de fenômenos paranormais espontâneos nós normalmente devemos entrevistar e cruzar as perguntas dos informantes sobre acontecimentos que aconteceram antes de nós chegarmos ao local. A princípio, os métodos são aqueles que advogados usam para reconstruir um crime e historiadores usam para o entendimento o passado. Uma vez que nós temos o melhor registro possível dos acontecimentos em questão, nós consideramos uma por uma as explicações alternativas e tentamos eliminá-las até só reste a mais provável. Então tentamos com mais observações confirmar ou rejeitar a explicação inicialmente preferida. Além do mais, procuramos através de uma série de fenômenos aparentemente semelhantes por características recorrentes que possam fornecer indícios para condições causativas e processos de ocorrência. (1)
Depois que uma cuidadosa revisão dos fenômenos disponíveis tinha sugerido a possibilidade de reencarnação, Stevenson, seguindo a metodologia dos primeiros pesquisadorespsíquicos (Gurney et al. em 1886 e Myers em 1903), desenvolveu um protocolo para recuperação e avaliação de memórias de aparente vidas prévias, um processo que Stevenson descreveu em 1977 (2). Este paradigma para a investigação focalizou em casos espontâneos sugestivos de reencarnação que foram descritos em crianças jovens. Por que crianças jovens? Porque crianças jovens devem ser menos prováveis de serem expostas a informação sobre detalhes da vida de um indivíduo morto que está reencarnado.
Uma descrição breve de um caso típico do tipo reencarnação mostraria as seguintes características: 1) Começando na idade de 2–4 anos, a criança espontaneamente narra detalhes de uma vida prévia. 2) O volume e a clareza das declarações da criança aumentam até a idade de 5–6 anos, quando a criança fala menos sobre elas. 3) Por volta da idade de 8 anos, as observações sobre vida prévia geralmente cessam. 4) Comportamento inesperado incomum para a criança mas concordante com o comportamento de pessoa morta ocorre, p.ex., fobias por revólveres ou interesses especiais e apetites. 5) Em muitos casos a criança tem uma marca de nascimento ou deformidade congênita que corresponde em situação e aparência a ferida fatais no corpo da personalidade prévia. Um número alto de personalidades reencarnadas informa morte violenta, às quais a criança alude. 6) Em algumas culturas o indivíduo que “reencarna” prediz a sua próxima encarnação e pode aparecer num sonho à mãe expectante da criança para anunciar uma intenção de reencarnar no bebê. 7) Depois da idade de 10 anos estas crianças costumam se desenvolver normalmente.
Stevenson tem seguido este protocolo de reunir informação desde os primeiros dias das suas viagens pelo mundo para investigar casos espontâneos sugestivos de reencarnação, que foram publicados com os anos como volumes separados cobrindo culturas diferentes e um livro, agora em sua segunda edição, que resume seu trabalho ao presente (3). A monografia presente, Casos Europeus do Tipo Reencarnação, se encaixa nesta série de publicações (4–8).
Como o autor afirma no seu prefácio a este livro, há três propósitos para a publicação presente: 1) mostrar que casos do tipo descrito acima ocorrem em culturas européias, onde menos indivíduos acreditam em reencarnação do que na Ásia. 2) mostrar que características essenciais destes casos são semelhantes àquelas achadas na Ásia, áfrica, e nas tribos nativas americanas do norte e noroeste. 3) mostrar que alguns casos informados fornecem evidência de informação transmitida por meios além da comunicação normal—percepção extra-sensorial sendo um e reencarnação outro. Stevenson também espera que este livro estimulará o relatório e investigação de mais casos deste tipo em culturas ocidentais.
Os propósitos descritos logo acima explicam muito bem o conteúdo da monografia sob revisão. É importante ao conceito de reencarnação ou o que for a coleção de comportamentos e manifestações físicas de reencarnação que seja um elemento substancial de invariância em sua manifestação. Focar numa síndrome de comportamentos na infância, quando a informação adquirida do ambiente ou verbalmente pela cultura é uma explicação menos possível das similaridades entre a criança e a supostamente pessoa reencarnada, é uma abordagem para definir um jogo ardiloso de comportamentos. A maior evidência de invariância é descobrir que culturas vastamente diferentes parecem compartilhar de comportamentos e manifestações físicas muito semelhante destes fenômenos—como no caso de marcas de nascimento simbolizando feridas na personalidade prévia ou a aparente alta incidência de inesperada morte violenta em muitos daqueles que estão reencarnados. Este livro singular discute em grande detalhe casos sugestivos de reencarnação em culturas européias ocidentais e observa características semelhantes àquelas informadas na Ásia, áfrica, e tribos indígenas norte-americanas. As semelhanças de casos entre as culturas sugerem algum processo organizante—Stevenson propõe um processo paranormal tal como a reencarnação ou a percepção extra-sensorial. A qualidade e quantidade de informação dada pela criança concernente à personalidade prévia e a sua independência de fontes normais desta informação pela cultura e pelo ambiente são essenciais ao argumento que os fenômenos somente não são causados nem por coincidência e nem por informação fornecida por adultos conversando sobre um indivíduo morto.
Na discussão geral do livro (p. 252), Stevenson declara que os casos europeus apresentados neste livro são “muito mais fracos em evidência de um processo paranormal do que os casos achados na Ásia, especialmente na Índia e Sri Lanka”. Continua citando um estudo que examinou 799 casos de seis países diferentes e descobriu que os casos europeus mostraram índices muito baixos da presença de um processo paranormal envolvido na informação disponível à criança.
O estudo intensivo destas crianças revelou vários resultados provocantes, tais como o aumento aparente na morte devido a violência nesses que reencarnaram e a correspondência assustadora achada entre marcas de nascimento na criança e marcas semelhantes ou características distintivas apresentadas no corpo da personalidade reencarnada durante seu tempo de vida, tal como feridas, injúrias, e outros estigmatas. Estes tipos de resultados físicos são detalhados em Onde Reencarnação e Biologia se Encontram (9), mas exemplos estão presentes na monografia atual. Coincidências como estas lembram-nos que existem um monte de fenômenos a serem descritos e estudados, como o Dr. Stevenson fez por quase toda a sua vida com sua pesquisa. O livro presente fornece uma introdução para uma excitante variedade de tais fenômenos e fornece um exemplo inspirador de aplicação de um esmerado protocolo para separar fatos de fantasia.
Ian Stevenson, agora em seus noventa anos, antecipa publicar uma monografia sobre casos de tipo reencarnação dos Estados Unidos (comunicação pessoal), e deseja-se a ele tanto tempo quanto energia nesta tarefa.
Referências
1. Stevenson I: Some of My Journeys in Medicine: A Lecture About Science and Reincarnation: The Flora Levy Lecture in the Humanities. Lafayette, University of Southwestern Louisiana, 1989 http://www.childpastlives.org/stevensonlecture.htm
2. Stevenson I: Reincarnation: field studies and theoretical issues, in Handbook of Parapsychology. Edited by Wolman BB. New York, Van Nostrand Reinhold, 1977, pp 631–663
3. Stevenson I: Children Who Remember Previous Lives: A Question of Reincarnation. Jefferson, NC, McFarland, 2001
4. Stevenson I: Twenty Cases Suggestive of Reincarnation. Charlottesville, University of Virginia Press, 1974
5. Stevenson I: Cases of the Reincarnation Type, vol I: Ten Cases in India. Charlottesville, University of Virginia Press, 1975
6. Stevenson I: Cases of the Reincarnation Type, vol II: Ten Cases in Sri Lanka. Charlottesville, University of Virginia Press, 1978
7. Stevenson I: Cases of the Reincarnation Type, vol III: Twelve Cases in Lebanon and Turkey. Charlottesville, University of Virginia Press, 1983
8. Stevenson I: Cases of the Reincarnation Type, vol IV: Twelve Cases in Thailand and Burma. Charlottesville, University of Virginia Press, 1983
9. Stevenson I: Where Reincarnation and Biology Intersect. Westport, Conn, Praeger, 1997
Artigo online em http://ajp.psychiatryonline.org/cgi/con ... /162/4/823
Revisão de CORTs Europeus numa revista de alto Impact Factor
- Vitor Moura
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