A consagração do Lulismo

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spink
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A consagração do Lulismo

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ISTOÉ


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Tudo azul: Lula lançando seu programa de governo sem metas. O que ficou no imaginário do eleitorado foi a imensa imagem de um líder carismático


A consagração
do Lulismo
Como Lula usa o carisma e o
culto à personalidade para se
consolidar como um candidato
quase imbatível à reeleição

Por Marco Damiani, Ricardo
Miranda e Rudolfo Lago

Elevada à décima potência, a face exuberante de Luiz Inácio Lula da Silva foi esticada em cores vivas sobre o painel azul. Diante dela, em dimensão e tamanho reais, o candidato Lula apresentou na terça-feira 29, em São Paulo, seu programa de governo para o período 2007-2010. Os adversários atacaram a ausência de metas para o crescimento econômico e a inflação, os amigos aplaudiram a coleção de boas intenções, mas isso tudo foi o menos importante – o que valeu mesmo, carismática, imensa e irretocável, foi a foto. Uma gigantesca imagem pronta e acabada, gostem ou não os críticos do presidente, do que se verifica em todas as pesquisas de opinião, do que se percebe nas populosas periferias das grandes cidades e se vê a olho nu nos rincões do País: a consagração do lulismo. Apartado das agremiações políticas, difuso quanto a demarcações ideológicas e francamente assistencialista, o lulismo tem toda a sua força apoiada na figura, na história e no estilo pessoal do presidente. Não tem representantes legítimos ou herdeiros diretos. O lulismo é Lula. Isso explica o fato de, em todos os Estados, sem exceção, os candidatos a governador pelo PT – para quem não se lembra, o partido que o presidente fundou e ao qual sempre pertenceu – apresentarem índices de popularidade sempre menores, bem menores que os do candidato presidencial. Onde os petistas têm apenas 1% (Rio de Janeiro, com o candidato a governador Vladimir Palmeira), o lulismo chega a 40%. Onde o petismo é robusto e chega a 46% das preferências (candidatura à reeleição do governador Wellington Dias, no Piauí), os lulistas massacram, com 72% de intenções para seu líder. Na quarta 30, o instituto Datafolha apontou 50% das preferências em todo o País para Lula, apurando assim a maior taxa para um candidato a presidente, a esta altura das eleições, desde a inauguração do instituto, em 1983. “A imagem do presidente é tão ligada à dos pobres que ele nem precisa prometer baixar a inflação ou gerar empregos. Basta aparecer que os lulistas reconhecem nele o homem que vai mudar as suas vidas para melhor”, avalia o sociólogo Marcos Coimbra, do Vox Populi, cujas pesquisas também apontam 50% de opções de voto para Lula.


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Síntese: o lulismo inaugura uma nova linha de populismo. Em vez do velho paternalismo de alguém da elite, Lula pretende parecer o representante do próprio povo que chegou ao poder

"Lula sabe o que
é sentir fome"

Os adeptos do lulismo se identificam com seu líder das mais diversas maneiras. Pode ser por semelhança física. Em Campinas, no começo de agosto, Lula abria caminho em meio à multidão quando um homem alto, moreno e vestido com a camisa do Flamengo avançou em sua direção com a mão estendida. “Esse dedo eu perdi no trabalho, igual a você”, gritou ele. O presidente, então, esticou sua mão esquerda, à qual lhe falta o dedo mínimo perdido no trabalho como metalúrgico, e abraçou o eleitor fiel. A identificação também pode ser pelo discurso. Em Salvador, perorando sobre o programa Brasil Sorridente, de saúde bucal, Lula avançou sem medo de ser mal interpretado. “Sabem por que ninguém nunca fez isso?”, questionou à platéia. “Porque dor de dente é problema de pobre. Rico, quando sente, vai logo ao dentista e paga obturação. Pobre não. Pobre mastiga alho, bochecha cachaça e, quando não aguenta mais, arranca o dente.” A platéia veio abaixo. No interior de Pernambuco, um depoimento colhido pela equipe de tevê do presidente obteve o seguinte de uma senhora: “Fome não é o que você sente. Você sente é precisão: sabe que precisa comer. A fome só bate depois de cinco dias sem comer”, disse ela. “Lula sabe o que é isso.” Na semana passada, o jornalista Pedro Bial preparava-se para entrar ao vivo no Jornal Nacional, a partir de Juazeiro, no interior do Ceará, quando no telão do ônibus-estúdio da Rede Globo surgiu a imagem do ex-presidente Fernando Henrique fazendo críticas a Lula. A vaia do público que acompanhava a cena foi tão estrondosa que Bial temeu ficar sem condições de fazer a aparição ao vivo. A identificação coletiva, no caso, aconteceu no reconhecimento do adversário.

O lulismo dribla a corrupção

“O Brasil tem sido um terreno fértil para o surgimento de líderes populistas e o lulismo vai por esse caminho”, diz o cientista político Murilo Aragão. Começam a ficar inevitáveis, neste sentido, as comparações com líderes como o ex-presidente Getúlio Vargas e o também ex-presidente Jânio Quadros, que atuava acima dos partidos, com base em decisões intuitivas e apoiado em seu carisma pessoal. Sua popularidade chegou a tal ponto que ainda há adeptos do janismo mais de uma década após sua morte. Usando uma das imagens prediletas dos janistas – a vassoura –, o candidato Alckmin tem aparecido na televisão prometendo “varrer a corrupção” da vida pública nacional. O lulismo faz da corrupção, ao contrário, um assunto que não parece ser dele. Os escândalos que atingiram o Congresso e fulminaram, dentro do Palácio do Planalto, assessores diretos do presidente, foram tratados por Lula na base do “eu não sabia” – e essa versão é a que ficou. No auge da crise, em meio a discussões em voz alta com o então chefe do Gabinete Civil José Dirceu, Lula trabalhou pela saída dele do chamado núcleo duro do seu governo. E, naquele instante, demarcou sua separação, na prática, das amarras do petista. Sem, no entanto, precisar se desligar da legenda que ajudou a fundar. “Em relação à política partidária e alianças para governar, Lula talvez seja o presidente mais pragmático que o Brasil já teve”, acredita a respeitada diretora do Centro de Documentação e Pesquisa (CPDoc) da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro, Maria Celina D’Araújo. Em Minas, o professor Rudá Ricci, da PUC, já procura trocar em miúdos o que é o lulismo. Para ele, “uma tentativa de modelo gerencial do Estado e de governabilidade política”. De acordo com o pesquisador, “o lulismo possui uma ação marcada pelo pragmatismo que objetiva sua manutenção”. Na junção dessas duas posições pode-se encontrar a explicação para o fato de, por mais que faça alianças políticas estranhas às teses do PT, Lula consiga emergir delas sempre cada vez mais forte. O partido demonizava o então presidente José Sarney, que se tornou um dos principais conselheiros de Lula no exercício da Presidência. O ex-governador do Pará Jader Barbalho era visto como corrupto, mas igualmente ajudou o presidente Lula em reuniões de avaliação no gabinete oficial. E assim os exemplos prosseguem.

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Identificação: “Esse dedo eu perdi no trabalho, igual você”

Perón e Chávez
são seus pares?

No campo internacional, o lulismo, se confirmar nas urnas a força que as pesquisas lhe atribuem, vai permitir comparações mais extremas. Uma das primeiras que surgem é a com o líder argentino Juan Domingo Perón. Chegado ao poder nas eleições de 1946, Perón tinha o apoio das classes trabalhadoras urbanas e rurais. À diferença de Lula, no entanto, contava com o apoio explícito dos militares. No caso brasileiro, ao menos os militares não atrapalham os planos de Lula. Até hoje, Perón, morto em 1974, demarca a política argentina. Atualmente, os analistas têm gostado de comparar o lulismo com o chavismo, nascido com a liderança, na Venezuela, do atual presidente Hugo Chávez. “Tanto o lulismo como o chavismo derivam do mesmo tronco, que pode ser caracterizado como o estatismo-corporativista meio nacionalista, de caráter autoritário e populista”, diz o analista político Augusto de Franco. “O lulismo é um tipo de chavismo e vice-versa.”

Cientista político erudito e, ao mesmo tempo, original, o mineiro João Guilherme Vargas Neto está entre os que, ao menos ainda, não acreditam numa corrente política chamada lulismo. Em suas pesquisas, no entanto, ele descobriu num discurso do então presidente americano Franklin Roosevelt, pronunciado
em 8 de fevereiro de 1940, uma boa pista para explicar que, por intuição, Lula
acabou acertando na mosca ao separar seu governo – e sua figura – do PT.
“Digo-vos seriamente, iniciou Roosevelt, que quanto mais tenho estudado a
história americana, e visto claramente quais são os problemas, tanto mais creio
que o denominador comum de nossos grandes homens na vida pública não
tem sido a fidelidade a um partido, mas o desinteressado devotamento com que serviram todo o país e a relativa falta de importância que atribuíram à política, comparada com a importância suprema da governança”. Para Vargas Neto, com um Lula descolado de seu partido, a política brasileira se aproxima a passos largos de um processo de americanização. “Não sei se o que estamos vendo se chama lulismo. Pode ser apenas modernização”, diz ele. Em tempo: Roosevelt venceu quatro eleições seguidas.

O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos acha que é cedo para falar
em lulismo. Tudo dependerá, segundo ele, do resultado das urnas e do desempenho de um segundo governo. “O republicano Richard Nixon se reelegeu com vitória que massacrou os democratas e, dois anos depois, renunciava”, lembra. Lula pode entrar no panteão dos grandes líderes populares suprapartidários, segundo Wanderley, mas suas qualidades pessoais não estimulam qualquer
culto à personalidade. “Esse culto geralmente acontece com pessoas com
uma vida privada meio secreta, misteriosa, e Lula é aberto, anarquizado, aparece jogando pelada e toma cachaça na frente de jornalista. Se quisesse ser cultuado, como Leonel Brizola quis, jamais faria isso.” Santos reconhece que existe e faz sentido a expressão “petismo”, por representar “um grupo de idéias estável
ao longo do tempo”. E qual seria o grupo de idéias do lulismo? “Não tenho a menor idéia”, descarta.

A historiadora Ângela de Castro Gomes, colega de Maria Celina na FGV,
também considera exagero falar em lulismo ou compará-lo a Getúlio ou mesmo a Brizola. “Lula não é suprapartidário, nem antipartidário, nem dono do partido, como costumam ser os líderes de massa que tiveram o ismo no nome. Ele está maior do que o PT, sobretudo pela imposição do cargo, mas é uma face do partido. Suas idéias são as do partido.” Para essas idéias, ressalta Ângela, já existe um termo popular: petismo. Ela recorre aos anos 50 para lembrar que Juscelino Kubitschek, assim como Lula, teve grande popularidade e nem por isso inspirou o termo juscelinista. “Ele era pessedista, como Lula é petista.” O descolamento de Lula do PT, segundo ela, não passa de uma jogada de marketing diante do desgaste do partido com as denúncias de corrupção. “Se o PT vivesse outras condições, estariam colados. É como o governador do Ceará, Lúcio Alcântara, que se deslocou do PSDB porque se tornou um peso.”

O cientista político Nelson Carvalho, professor do Instituto Disciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, é ligado ao prefeito Cesar Maia (PFL) e tem se dedicado a estudar a tese do politólogo argentino Natalio Botana, segundo a qual a representação partidária está sendo substituída pela identificação pessoal. Ou seja: em vez de observarem os partidos e seus ideais, há uma tendência do eleitor contemporâneo em se identificar com o candidato. “Por isso a Michelle Brachelet (presidente do Chile) fez sua campanha vestida de branco para se caracterizar como doutora e o primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, um conservador, projeta o tempo todo sua imagem de pai de família de classe média.” O grande problema, destaca Carvalho, é que o líder que dispensa a representação política e se sustenta no carisma pessoal precisa lançar mão de medidas mágicas, que encantem os eleitores sem mudar a estrutura social. “O estoque de mágicas é limitado e, quando acaba, o carisma não tem onde se abastecer”, conclui. Como exemplo, ele compara as políticas assistencialistas de Lula, como o Bolsa-Família, com as ações de Anthony Garotinho no Rio, o cheque-cidadão e o restaurante popular. “O que pode ficar ao fim dessa lógica de curto prazo, natural de uma liderança carismática e seu canto de sereia, é uma política de terra arrasada, de muita areia e pouco cimento. Além, é claro, de um profundo desgaste político.”

Risco é haver opção autoritária

De uma forma ou de outra, o movimento de culto à personalidade que se verifica na atual campanha não acontecia, em tal grau, na política brasileira nos últimos 50 anos. Os resultados são, do ponto de vista eleitoral, extraordinários, com Lula obtendo nos rincões até sete vezes além das preferências de seu principal adversário. Espertos, seus marqueteiros criaram um mote mais que adequado à situação: “Este é um país em que o presidente é povo e o povo é presidente”, martelam. Sabe-se agora que os escândalos de corrupção, em lugar de terem liquidado as chances de Lula, compuseram, às avessas, a base do lulismo. O presidente foi à televisão dizer que as denúncias eram uma obra das elites contra um homem do povo. Buscou um arriscado processo de vitimização e, agora, colhe todos os frutos. O povo parece ter entendido que foram, de fato, as elites que quiseram punir o próprio povo na figura de Lula. E isso, acusam as pesquisas, esse mesmo povo não quer permitir. Nasce o lulismo, assim, da figura de uma espécie de herói que enfrenta e vence as elites. O problema desse heroísmo é que, sendo de tal monta, dará ao Lula reeleito uma condição de força jamais sentida por outro presidente. Dessa força podem derivar tentações autoritárias até aqui submersas. Será o momento de saber, então, para onde Lula vai querer levar o lulismo e os lulistas. Até lá, porém, as urnas precisam falar.
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

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Hrrr
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Re.: A consagração do Lulismo

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JINGOL BEL, JINGOL BEL DENNY NO COTEL... :emoticon266:

i am gonna score... h-hah-hah-hah-hah-hah...

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Trancado