*Pesquisando sobre a Amazônia, acabei encontrando um texto interessante.
As Amazonas
Desde antes de Cristo fala-se na existência de mulheres guerreiras que excluíam os homens de sua sociedade, com quem se encontravam apenas para fins de acasalamento. Todas as crianças do sexo masculino que nasciam eram enviadas para os seus pais ou eram mortas, ficando para serem criadas apenas as crianças do sexo feminino, que eram treinadas como arqueiras para a guerra e tinham o hábito de queimar o seio direito para facilitar o manejo do arco. Eram as Amazonas.
Os gramáticos ficam divididos quando tentam explicar a palavra grega “amazon”. Uns se baseiam num relato de Diodoro da Sicília sobre as amazonas asiáticas que, com a idade de dezoito anos, se submetiam à ablação do seio direito para não serem impedidas de usar suas armas. E fazem derivar seu nome do prefixo “a” (privativo) e de “mazos” (seio). Esta opinião não pode ser sustentada, a não ser que se tome a expressão “sem seio” no sentido figurado, designando mulheres que tenham sacrificado as funções naturais de seu sexo. Contudo, na arte, onde elas freqüentemente são representadas, aparecem como lindas mulheres sem nenhuma mutilação aparente.
Na arte antiga, nos templos, em vasos e sarcófagos, elas aparecem normalmente representadas em cenas de batalha. As guerreiras sármatas, por exemplo, são representadas em vasos antigos, assim como em baixo-relevo do sarcófago do Museu do Capitólio, sem qualquer mutilação. Seu busto nada deixa a invejar ao das outras mulheres, bem pelo contrário. Ele se espalha à vontade sob a clâmide e o escudo o cobre com dificuldade.
Contudo, outros gramáticos explicam a palavra Amazonas de outra forma. Certos historiadores afirmam que, bem antes das heroínas da Capadócia, que habitavam as margens do Termodon, e por conseguinte, bem antes do ano 1600 a.C., floresciam na África mulheres conquistadoras, combatendo duas a duas, unidas por cintos e por juramento. Essas amazonas negras subjugaram os númides, os etiópios e os atlantas africanos, americanos ou oceânicos. Seriam chamadas de amazonas por serem “unidas”, “ligadas”: do grego “am”, denotando união, e “zona”, cinto. Aliás, o cinto que usavam era também o guardião de seu voto de virgindade. Foi essa tira de fazenda que criou sua reputação na história.
Essa explicação parece mais convincente, já que tem a vantagem de melhor nos revelar os costumes primitivos dessas mulheres que os citas chamavam “oiorparta” (matadoras de homens). Aliás, a palavra Amazônia deve sua denominação às amazonas africanas que a invadiram e a povoaram nas épocas pré-históricas. Isso, caso o nome não venha simplesmente de seu grande rio, que se desenrola como o “zona” (cinto) dos helenos.
Diz a lenda que elas estavam quase que constantemente em guerra com a Grécia e lutavam com outras nações também. De acordo com uma versão, elas eram aliadas dos troianos e, durante o sítio de Tróia, sua rainha foi morta pelo guerreiro Aquiles. Alguns sábios, que atribuem um fundamento histórico às lendas, identificando o país das Amazonas com a Cítia ou Ásia Menor, às margens do Mar Negro.
Fatos interessantes
Historicamente, a região onde os Gregos localizaram a presença de Amazonas está relacionada com aquela ocupada pelo Reino de Hatti, na Ásia Menor. Digno de nota é o fato de terem os hititas uma Deusa Suprema da Guerra, bem como terem provavelmente auxiliado Tróia contra a invasão dos gregos primitivos, os aqueus. Ainda mais notável é que um império como o de Hattusas tenha sido simplesmente ignorado nos relatos gregos. Não admira que muitos estudiosos arrisquem um palpite que relacionaria as Amazonas a um dos povos associados aos Hititas – isso, quando não aos próprios Hititas em si.
Mulheres que se comportavam de forma avessa à convencionada pela sociedade não foram totalmente ignoradas nos relatos que os gregos nos legaram. Atalanta, por exemplo, apesar de não ter guerreado, venceu diversos homens em competições esportivas. As deusas gregas Atena e Ártemis possuem respectivamente relação com as batalhas e caçadas, sem jamais terem sido chamadas de Amazonas. Mas a maioria das descrições refere-se aos monstros femininos e deusas negras – todos medonhos – tais como Circe, Górgonas, Hárpias, Fúrias etc. Nessa categoria, a de monstros mitológicos, é que estão as Amazonas enquadradas, lado a lado com a Hidra de Lerna e o Minotauro. Se analisarmos o fato de que as divindades dos povos vencidos acabavam por se tornar, dentro do panteão divino do povo vencedor, criaturas demoníacas, isso se torna coerente.
Baseando-se nisso, um outro fato digno de nota está ligado à civilização de Creta. Pouca dúvida resta sobre a importância da mulher na sociedade Minóica, em que elas ocupavam cargos religiosos e políticos, contando com liberdade suficiente para até mesmo exercerem posições militares e participarem ativamente de competições desportivas. Sabendo-se que essa civilização sucumbiu sob os gregos primitivos e levando-se em consideração a diferença do papel feminino na sociedade grega – absolutamente machista – não seria de admirar que tais pontos divergentes fossem assimilados em uma mitologia de depreciação da independência feminina. Note-se que o papel da mulher na sociedade hitita era admirável e contava com consideração e privilégios.
De qualquer forma, tudo leva a crer que populações exclusivamente femininas – ou onde mulheres desempenhassem a mesma função guerreira de homens – parece ter sido lugar comum na região do Mar Morto e Cáucaso. Provavelmente nômades, essas comunidades poderiam ter subsistido de saques, serviços mercenários ou até mesmo auxiliado nas funções rurais de diversos povoados. Difícil imaginar, no entanto, que tais guerreiras se vestissem como retratadas na arte grega. As vestes com as quais são vistas, obviamente pertencem ao estilo grego. Em algumas peças de decoração, a vestimenta de tais mulheres lembra o estilo oriental, com calças largas e um tipo de chapéu bicudo. O mais provável, pelo contexto de época, é que se vestissem em couro, muito mais resistente para o hábito da cavalgada.
Uma vez que os cavalos são uma característica constante de tais guerreiras, há uma grande probabilidade de terem descido da planície russa. Logo, sua origem é indo-européia.
Fatos concretos
Em uma história quase mil anos mais recente, de 600 a.C. até por volta de 300 a.C., temos os povos nômades da planície russa. Citas e Sármatas igualmente valorizavam o papel feminino, vendo-se o apreço de suas mulheres pelas guerras e pelo hábito da cavalgada. Evidências arqueológicas já comprovaram a participação feminina desses povos em guerras, tendo sido encontradas ossadas femininas enterradas juntamente com suas armas. Heródoto, o Pai da História, descreveu os nômades Sauromatras como descendentes da união das Amazonas com os nômades Citas.
A arqueóloga Jeannine Davis-Kimball, do Centro para o Estudo dos Nômades Eurasianos, em 1994, efetuou escavações em Pokrovka nas estepes ao longo das fronteiras da Rússia e provou que as mulheres Sauromatras e Sármatas eram guerreiras. Suas tumbas foram encontradas nas estepes do Ural. Dentre os achados, incluíam-se objetos pessoais variados e armamentos, bem como equipamento de equitação.
Viu-se que o status masculino era predominantemente guerreiro. Além disso, havia uns poucos indivíduos sem quaisquer artefatos em seus túmulos, além de outros homens que foram enterrados com uma criança próxima a eles. Em nenhum túmulo feminino foram encontradas crianças enterradas conjuntamente.
O status feminino recaiu em diversas categorias maiores, não mutuamente exclusivas. Mulheres de feminilidade e status caseiro possuíam vários artefatos importados, incluindo-se brincos de bronze banhados a ouro, adornos variados e pedras semipreciosas. Já as sacerdotisas eram enterradas com amuletos variados, objetos de culto e outros aparatos definitivamente religiosos. Os sepulcros das guerreiras continham setas de bronze, adagas e espadas, bem como amuletos denotando bravura. Uma outra categoria, após cuidadosa análise, comprovou a presença de sacerdotisas-guerreiras em Pokrovka. Entre os achados, contam-se oferendas mortuárias, armamentos e amuletos.
Nesse tipo de sociedade, Sacerdotisas e Sacerdotisas-guerreiras executavam um importante papel na tribo, executando oráculos e outras práticas divinatórias.
Alguns estudiosos sugeriram que tais armas teriam propósitos puramente ritualísticos, contudo, os ossos das pernas de tais mulheres sugerem uma vida inteira em cima de um cavalo, além de algumas apresentarem ferimentos típicos de batalha.
O Labrys, um machado duplo utilizado como cetro pela Deusa Demétria, era usado em rituais de adoração e envolviam manifestações lésbicas. Atualmente, o Labrys tem muitas ligações com as mulheres e o feminismo, e tornou-se um símbolo da força e auto-suficiência lésbica e feminista.
Uma teoria sugere que ele possa ter sido usado originalmente na batalha das mulheres guerreiras Cíntias. Outra teoria aponta que o machado é utilizado normalmente em muitas sociedades matriarcais. Existe também uma pista que o liga aos exércitos de amazonas em peças gregas de artesanato. As Amazonas tinham um sistema de duas rainhas e eram conhecidas como guerreiras raivosas e sem piedade nas batalhas, porém, justas e corretas quando vencedoras.
As Amazonas no Brasil
Em 1541, após descer o afluente Napo e chegar ao então Mar Dulce, nome que Pinzon dera ao Rio Amazonas, Francisco de Orelhana foi atacado por uma tribo de mulheres que, no testemunho de Frei Gaspar de Carvajal, "são muito alvas e altas, com o cabelo muito comprido, entrançado e enrolado na cabeça. São muito membrudas e andam nuas em pêlo, tapadas as suas vergonhas, com os seus arcos e flechas nas mãos, fazendo tanta guerra como dez índios". Em seu relato, Carvajal narra que os índios eram comandados por essas mulheres e que capturaram um índio que pertencia a uma tribo cujo chefe, senhor de toda a área (o ataque tinha se dado na foz do Rio Nhamundá), era súdito das mulheres que residiam no interior. Na qualidade de súditos, obedeciam e pagavam tributos às mulheres guerreiras, que eram acompanhadas pelo chefe Conhori. O prisioneiro, respondendo a várias perguntas do comandante, disse que as mulheres não eram casadas e que sabia existir setenta aldeias delas. Descreveu as casas das mulheres como sendo de pedra e com portas, sendo todas as aldeias bastante vigiadas. Disse ainda que elas pariam mesmo sem ser casadas porque, quando tinham desejo, levavam os homens de tribos vizinhas à força, ficando com eles até emprenharem, quando então os mandavam embora. Quando tinham a criança, se homem, era morto ou levado para o pai criar, se era mulher, com elas ficavam, e as meninas eram educadas conforme as suas tradições guerreiras. Descreveu ainda seus hábitos e suas riquezas, pois tais mulheres possuíam muito ouro e prata.
Na verdade, o navegador Orelhana encontrou as mulheres guerreiras que os índios chamavam de Icamiabas, que significa “mulheres sem maridos”. As Icamiabas viviam no interior da região do Rio Nhamundá, sozinhas. Ali, eram regidas por suas próprias leis. Durante muitos anos foram procuradas por diversos estudiosos e exploradores, porém, nunca foram encontradas. A região era denominada por esses aventureiros como País das Pedras Verdes e era guardada por diversas tribos de índios, das quais a mais próxima das Icamiabas era a dos Guacaris. E por que a denominação de País das Pedras Verdes? Porque era justamente daí que se originavam os muiraquitãs, as famosas pedras verdes. Dizia-se que as Icamiabas realizavam uma festa anual dedicada à lua e durante a qual recebiam os índios Guacaris, com os quais se acasalavam. Depois do acasalamento, mergulhavam em um lago chamado Iaci-uaruá (Espelho da Lua) e iam buscar, no fundo, a matéria-prima com que moldavam os muiraquitãs, que ao saírem da água, endureciam. Então presenteavam os companheiros com os quais tinham feito sexo. Os que recebiam, usavam orgulhosamente pendurados ao pescoço. No ano seguinte, na realização da festa, as mulheres que tinham parido ficavam com as filhas e entregavam os filhos para os Guacaris.
Os Muiraquitãs
Fantasia? Obra da imaginação? Patranhas de viajantes, cronistas e aventureiros? Hoje, tantos anos depois, é difícil de julgar. Mas os muiraquitãs existem: estão aí a enfeitar museus ou nas mãos de colecionadores particulares. Amazonas ou Icamiabas, a lenda foi tão forte que designou um rio, um Estado da Federação e toda uma região. Pode até não ter fundo de verdade, mas que é linda, é!
Os muiraquitãs têm formas e tamanhos variados, mas geralmente não passam de dez centímetros. São talhados em pedras de cor verde ou azulada (nefrita, jadeíta ou amazonita) e se apresentam normalmente sob a forma de batráquios e felinos. Alguns destes ídolos possuem um orifício, que possivelmente seja para passar um cordão e pendurá-lo ao pescoço.
Hoje, poucos originais muiraquitãs existem no Brasil, a maioria foi roubada, comprada ou traficada. O seu maior poder reside em suas propriedades medicinais e na capacidade de predizer o futuro. Alguns habitantes da Amazônia que os conservam, afirmam que é necessário aproximar-se das margens de um rio ou lago numa noite de lua cheia para despertar os poderes desse fabuloso talismã. O ídolo deve permanecer por longo tempo submergido em água e, em seguida, colocado pelo devoto sobre sua testa. Os muiriquitãs arredondados são específicos para as mulheres, enquanto os maiores e mais longos devem ser usados pelos homens. Existem também aqueles que apresentam cabeça de felinos, que são apropriados para os varões e são usados mais para saber o futuro sentimental ou sexual, pois o simbolismo da onça nos remete à fecundidade e ao poder masculino.
O talismã de cor esverdeada mostra o futuro amoroso, enquanto os azulados são propícios para desvendar o futuro econômico e material. Quanto mais polida for a superfície do amuleto, melhor é a visualização das previsões.
As pessoas que desvendam esses segredos costumam aproximar sua testa desses símbolos de pedra e formulam, então, as perguntas que dizem respeito a seu futuro para que a pedra sagrada possa revelá-lo. Comenta-se que para empreender esta tarefa é necessário jejum e abstinência sexual, ou até mesmo ingerir uma infusão de guaraná.
Paraíso terrestre do exotismo
Pelo sim ou pelo não, o mito das amazonas remete a um referencial de exotismo. Para os gregos, as mulheres sem seios (“a-mazôn”) eram bárbaras porque desconheciam as leis da pólis, enquanto que as valquírias germânicas seriam mulheres-homens inclinadas perigosamente ao belicoso. No caso do mito brasileiro, essas imagens ainda incorporaram representações idealizadas das civilizações andinas. Gaspar de Carvajal, em 1541, no texto mais célebre sobre o tema, descreveu uma cidade de pedra, habitada por mulheres guerreiras com imensos templos dedicados ao Sol e repletos de ídolos feitos em ouro e prata. Onde se situava esse paraíso terrestre, essa jóia perdida do exotismo humano? Na foz do rio Jamundá, próximo ao rio Negro.
Segundo o naturalista francês La Condamine, que durante sua expedição ao interior brasileiro recolheu informações orais sobre a antiga existência dessas polêmicas personagens, uma república de mulheres teria existido nas terras do rio Negro. Esse relato encontramos em seu livro “Relation d'un voyage fait dans l'intérieur de l'Amérique médidionale” (1745), Aliás, durante a época de La Condamine, tanto o imenso lago quanto as cidades de ouro, já não despertavam a credibilidade geográfica dos europeus. Confinados a uma dimensão irreal, assumiam o caráter de fantasias de conquistadores avarentos e inescrupulosos. A obra do explorador francês foi também responsável pela perda da credibilidade nas lendas coloniais, oferecendo opções racionalistas e históricas para o seu surgimento na imaginação. Entretanto ele fala, em seu livro, que um soldado francês de Caiena teria visto as fascinantes “pedras das amazonas”. Desta maneira, o explorador não apresentou apenas evidências folclóricas orais, mas também vestígios materiais atestando a antiga existência das misteriosas guerreiras. Do mesmo modo, Humboldt confirmou a existência de pedras das amazonas em tribos indígenas do rio Negro, no oitavo volume da obra “Voyage aux Regions Equinociales”, 1804.
O mistério da estátua amazônica
Fala-se que, dentro da luxuriante vegetação do Amazonas, um viajante francês obstinado procurou desvendar todos os mistérios que cercam esse espaço geográfico tão fascinante. O que seus olhos descobriram superaram todas as suas expectativas, ou seja, uma prova da antiga existência da civilização das amazonas, as fantásticas mulheres guerreiras. Esse explorador, chamado Francis de La Porte (conde de Castelnau), iniciou sua expedição pelo interior de nosso país em 1843, cuja missão havia sido encarregada pelo governo francês. No final de sua exploração, na região de Barra do Rio Negro do Pará (Manaus), Castelnau teria encontrado uma estátua que, conjuntamente com os outros objetos coletados, foram remetidos para uma exposição no Musée Impérial du Louvre (Paris). Seria apenas mais uma amostra de viagens, se não fosse por um pequeno detalhe. A escultura foi estampada em 1847 como sendo originada da civilização das amazonas!
Também o explorador confirmou a mesma declaração ao periódico “L'Illustration”. Mas neste mesmo ano, o historiador Antonio Baena, sócio do Instituto residente no Pará, desmentiu o ocorrido, em uma carta dirigida ao presidente desta província. Segundo Baena, a estátua seria uma pedra em forma de macaco, realizada no final do século 18 por um pedreiro de nome Jacintho Almeida. Ou seja, um objeto de origem histórica recente, que mereceu um caráter mistificador.
Não temos maiores informações para estabelecer uma conclusão definitiva sobre o assunto. Contudo, verdade ou não, a existência das amazonas é um assunto cujo mistério fascina até hoje.
As Amazonas
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Cris*
"Um homem não é outra coisa senão o que faz de si mesmo.” Jean-Paul Sartre
"Um homem não é outra coisa senão o que faz de si mesmo.” Jean-Paul Sartre