Voto chique e voto-opção
CANDIDO MENDES
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No infinitésimo que o separa da vitória no segundo turno, Lula só tem a insistir, para ganhá-lo, na fidelidade à opção pela mudança
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A DIREITA fatura a nossa demissão cívica. Aí estão os votos de Clodovil e Enéas, na seqüência de Maluf, da larga maioria reeleita dos mensaleiros e sanguessugas e da perda de mandato por Biscaia, Paulo Delgado, Greenhalgh ou Delfim Netto, a definir a cara do Poder Legislativo que o Brasil quer.
O país que hesita entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) se arrisca a perigosíssima renúncia cívica. Viveu o garrote do álibi moralista do status quo. Assistiu à autodesmoralização do Congresso Nacional, à perpetuação do caixa dois e à alforria ainda da corrupção política generalizada.
Rachou-se, menos do que por uma fácil geografia regional, pela diferença dos toques de melhoria coletiva do país de fora.
O povo de Lula nele votou tanto quanto o Norte e o Nordeste experimentam hoje a expansão indiscutível de suas economias. E também por serem a área nacional menos exposta à tirania mediática ou do ouvido imposto do país-bem, onde se travestiu o Brasil do status quo. Foi o que se alienou por inteiro do escândalo parlamentar, como também dos seus vingadores, em alarmante insensibilidade nacional.
O mais adiantado dos eleitorados brasileiros é também -para a inquietação que apenas começa- o que indica essa teratologia de escolhas políticas, na tristeza estarrecedora dos mais votados em São Paulo.
Os catastrofistas de plantão estão aí para ver o quanto o termômetro democrático marca, sem quartel, o avanço -ou a regressão- da cultura cívica do país.
O voto grotesco anestesia o caminho à instabilidade institucional. Vai para além da desmobilização, entrando no cinismo político, inerme a para onde vá a nação, a que custo ou a que morfina. Desertou-se de vez do voto ideológico na insipidez ou no vácuo das propostas inodoras, inexistentes, de Alckmin.
A candidatura Lula da Silva se assentou -diante do massacre mediático- no seu eleitorado de base e nessa primeira consciência com que arranca seu rumo histórico, antes mesmo de um programa que explicite o projeto político. Tanto Lula sem o PT e sem herdeiros se transforma na opção pelo outro Brasil, tanto se impõe uma concentração de esquerda capaz de mobilizar a consciência de mudança, de vez, e resistir à impostura dos reformismos. Deveremos a Alckmin a desenvoltura com que se somam, em resultado nulo, o moralismo, a inércia política e, sobretudo, a vacuidade do anúncio desenvolvimentista, que se transformou em reflexo condicionado do nada a declarar.
Lula não perde mais, nos quase 49% de votos que demonstraram os números do país, a resistir à ciranda reformista contra o outro Brasil, que se delineia e vota, e sabe em quem. No infinitésimo que o separa da vitória no segundo turno, só tem a insistir, para ganhá-lo, na fidelidade à opção pela mudança, que resistiu aos pruridos da esquerda de Ipanema, à subcultura da radicalidade e à decepção com o partido diferente.
A história é trágica, tanto a democracia -e é hoje o nosso caso- passa por um voto livre, por isso mesmo exposto, também, a todas as manipulações. Mas nele votam agora os que não querem o Brasil de Clodovil ou Enéas. Ou, sobretudo, não se conformam apenas com o país decente, à custa da nação injusta.
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CANDIDO MENDES , 79, membro da Academia Brasileira de Letras e da Comissão de Justiça e Paz, é presidente do "senior Board" do Conselho Internacional de Ciências Sociais da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
Folha de S. Paulo
Voto chique e voto-opção
- Ateu Tímido
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Re.: Voto chique e voto-opção
Eu até entendo as frentes de oposição à Lula. Mas realmente essa de Clodovil, Eneas e Maluf deram um susto no restante do país. Sem qualquer justificativa séria, o maior reduto eleitoral do país se mostrou imaturo e incoseqüente. Não estou acusando ninguém pois todos sabem que sou tão paulista quanto muitos aqui, mas essa doeu. Fui motivo de chacotas (e ainda sou) por causa dessa falta de bom senso.
Mas...agora já foi
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"Tentar provar a existencia de deus com a biblia, é a mesma coisa q tentar provar a existencia de orcs usando o livro senhor dos aneis."


Re.: Voto chique e voto-opção
E o Collor? Sei lá se essas coisas representam uma espécie de oposição mesmo:
Delfim Neto, Frank Aguiar e Agnaldo Timóteo sobem no palanque de Lula
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Sem tempo nem paciência para isso.
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