O problema do bote salva-vidas
- Res Cogitans
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O problema do bote salva-vidas
Em "Lifeboat on Earth", Onora O'Neill apresenta o seguinte problema (mais ou menos pq não li o problema diretamente dela e sim pelo texto adaptado do filósofo Julian Baggini):
Um determinado barco afundou e existem 12 pessoas num bote salva-vidas com capacidade para 20. As pessoas do bote tem uma boa provisão que dá tranquilamente para aguentar até o resgate chegar e mais... podem se dar ao luxo de comerem e beberem mais que o necessário.
Porém perto do barco existe uma mulher se afogando e de maneira alguma é culpa deles a infeliz se encontrar naquela situação. Se eles a salvarem terão de diminuir seu conforto no bote, comendo e bebendo menos mas ninguém correrá nenhum risco por causa disso.
As pessoas que estão no bote tem alguma obrigação moral de salvar a mulher, mesmo isto significando diminuir seu conforto???
Um determinado barco afundou e existem 12 pessoas num bote salva-vidas com capacidade para 20. As pessoas do bote tem uma boa provisão que dá tranquilamente para aguentar até o resgate chegar e mais... podem se dar ao luxo de comerem e beberem mais que o necessário.
Porém perto do barco existe uma mulher se afogando e de maneira alguma é culpa deles a infeliz se encontrar naquela situação. Se eles a salvarem terão de diminuir seu conforto no bote, comendo e bebendo menos mas ninguém correrá nenhum risco por causa disso.
As pessoas que estão no bote tem alguma obrigação moral de salvar a mulher, mesmo isto significando diminuir seu conforto???
Editado pela última vez por Res Cogitans em 25 Dez 2006, 10:35, em um total de 1 vez.
*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.
*Deus deixou seu único filho morrer pendurado numa cruz, imagine o que ele fará com você.
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- RicardoVitor
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- RicardoVitor
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RicardoVitor escreveu:Samael escreveu:Sim, possuem obrigação moral de salvá-la.
Por que razão?
"Razão" não seria nunca um termo adequado a uma obrigação moral num caso onde não houvesse relação direta entre o sofrimento de um e a abastança de outro.
Mas é justo aí que prolifera o mal moral: a capacidade de realizar o bem e o desdém com o mesmo.
Como socialista, eu diria ainda que todo ser humano tem obrigação com o seu próximo, mas isso é um valor arbitrário meu.
- RicardoVitor
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Samael escreveu:RicardoVitor escreveu:Samael escreveu:Sim, possuem obrigação moral de salvá-la.
Por que razão?
"Razão" não seria nunca um termo adequado a uma obrigação moral num caso onde não houvesse relação direta entre o sofrimento de um e a abastança de outro.
Pois é, o "dever" afirmado acima não tem sua base na razão. Poderia explicar onde se baseia, então?
Samael escreveu:Mas é justo aí que prolifera o mal moral: a capacidade de realizar o bem e o desdém com o mesmo.
Qual a razão para você afirmar que salvar a garota seria realizar o "bem"?
Samael escreveu:Como socialista, eu diria ainda que todo ser humano tem obrigação com o seu próximo, mas isso é um valor arbitrário meu.
Não somente seu. Compartilha dos mesmos princípios morais do cristianismo. Ou nega isso?
Logical, responsible, practical.
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Acceptable, respectable, presentable, a vegetable!
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RicardoVitor escreveu:Pois é, o "dever" afirmado acima não tem sua base na razão. Poderia explicar onde se baseia, então?
Alguma intuição ou emoção mais direta. A mesma que faz um ser humano qualquer pular numa piscina quando vê uma criança se afogando ou coisa do gênero.
RicardoVitor escreveu:Qual a razão para você afirmar que salvar a garota seria realizar o "bem"?
Tanto segundo uma moral absoluta kantiana quanto numa moral utilitária (e a moral kantiana é, de certa forma, utilitária) isso procede enquanto bem: você salvou a vida de um inocente, você protegeu um membro da sociedade da qual você faz parte, você criou uma relação de afeto que possivelmente será recompensada, etc.
RicardoVitor escreveu:Não somente seu. Compartilha dos mesmos princípios morais do cristianismo. Ou nega isso?
Antes de mais nada, isso transcende E MUITO a moral cristã. Em segundo lugar, concordar com um padrão existente na mesma não é seguir os princípios morais da mesma. E em terceiro lugar, não vejo problema algum em se retirar o que há de relevante à humanidade na doutrina cristã e fazer uso disto.
Re.: O problema do bote salva-vidas
E também nem vejo ligação necessária entre salvar um ser humano e moral cristã alguma.
Por que colocar religião ou fé ou compensação afetiva no meio disso?
Salvar um ser humano numa situação dessas é no mínimo instinto primitivo.
Por que colocar religião ou fé ou compensação afetiva no meio disso?
Salvar um ser humano numa situação dessas é no mínimo instinto primitivo.
- RicardoVitor
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Samael escreveu:RicardoVitor escreveu:Pois é, o "dever" afirmado acima não tem sua base na razão. Poderia explicar onde se baseia, então?
Alguma intuição ou emoção mais direta. A mesma que faz um ser humano qualquer pular numa piscina quando vê uma criança se afogando ou coisa do gênero.
Então se baseia não em um dever moral, externo, e sim em um desejo pessoal em salvar alguém. Isso é subjetivo, não se trata de uma obrigação moral. Se alguém naquele bote sentisse a necessidade de salvar a mulher, não teria razão de condenar os outros por não compartilharem da mesma necessidade.
Samael escreveu:RicardoVitor escreveu:Qual a razão para você afirmar que salvar a garota seria realizar o "bem"?
Tanto segundo uma moral absoluta kantiana quanto numa moral utilitária (e a moral kantiana é, de certa forma, utilitária) isso procede enquanto bem: você salvou a vida de um inocente, você protegeu um membro da sociedade da qual você faz parte, você criou uma relação de afeto que possivelmente será recompensada, etc.
Interessante, todas as opções citadas demonstram que salvar a mulher naquela situação não se trata de uma obrigação moral, e sim de uma necessidade pessoal, para atender interesses da sua pessoa (criar relações de afeto, salvar membros do seu grupo, etc). Por que então ainda considera como uma obrigação moral, um dever?
Samael escreveu:RicardoVitor escreveu:Não somente seu. Compartilha dos mesmos princípios morais do cristianismo. Ou nega isso?
Antes de mais nada, isso transcende E MUITO a moral cristã. Em segundo lugar, concordar com um padrão existente na mesma não é seguir os princípios morais da mesma. E em terceiro lugar, não vejo problema algum em se retirar o que há de relevante à humanidade na doutrina cristã e fazer uso disto.
Ainda compartilha dos mesmos princípios morais do cristianismo.
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- RicardoVitor
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Re: Re.: O problema do bote salva-vidas
Apocaliptica escreveu:E também nem vejo ligação necessária entre salvar um ser humano e moral cristã alguma.
Por que colocar religião ou fé ou compensação afetiva no meio disso?
Salvar um ser humano numa situação dessas é no mínimo instinto primitivo.
Se é instinto primitivo ou não (faltam-lhe fontes para poder afirmar isso), qual a relação com obrigação moral?
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Re.: O problema do bote salva-vidas
1- Sim, essa é a questão intuitiva, o segundo ponto é o que trata da questão segundo a moral.
2- A moral enquanto aplicação social não difere em nada do que você está chamando de "necessidade pessoal".
3- Somente reafirmou a sua frase anterior. Como eu já explicitei, o cristianismo tem inúmeros pilares morais que eu recuso, e possui outros com os quais concordo.
2- A moral enquanto aplicação social não difere em nada do que você está chamando de "necessidade pessoal".
3- Somente reafirmou a sua frase anterior. Como eu já explicitei, o cristianismo tem inúmeros pilares morais que eu recuso, e possui outros com os quais concordo.
Re: O problema do bote salva-vidas
Res Cogitans escreveu:As pessoas que estão no bote tem alguma obrigação moral de salvar a mulher, mesmo isto significando diminuir seu conforto???
.
Numa situação de aflição que envolva perigo extremo, em geral, a ação não dependeria de decisão de um Back ground, mas de um mecanismo espontâneo, que sempre coincide com uma ação sábia.
É como se a natureza não confiasse na sabedoria de nossos conceitos morais.

Re.: O problema do bote salva-vidas
Capitalisticamente, não.
Sem tempo nem paciência para isso.
Site com explicações para 99,9999% de todas as mentiras, desinformações e deturpações criacionistas:
www.talkorigins.org
Todos os tipos de criacionismos, Terra jovem, velha, de fundamentalistas cristãos, islâmicos e outros.
Série de textos sugerida: 29+ evicences for macroevolution
Índice com praticamente todas as asneiras que os criacionistas sempre repetem e breves correções
Site com explicações para 99,9999% de todas as mentiras, desinformações e deturpações criacionistas:
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Re: Re.: O problema do bote salva-vidas
ímpio escreveu:Capitalisticamente, não.
Capitalisticamente, sim.
Não iriamos perder uma consumidora, peça importantíssima do objetivo capitalista.
Já, socialisticamente, se ela estiver ocupando uma teta estatal que estamos de olho, não teríamos dúvida em agradecer às aguas pelo pequeno serviço prestado.



zencem, em homenagem ao User Cabeção, atualmente em férias.

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Re: Re.: O problema do bote salva-vidas
RicardoVitor escreveu:Apocaliptica escreveu:E também nem vejo ligação necessária entre salvar um ser humano e moral cristã alguma.
Por que colocar religião ou fé ou compensação afetiva no meio disso?
Salvar um ser humano numa situação dessas é no mínimo instinto primitivo.
Se é instinto primitivo ou não (faltam-lhe fontes para poder afirmar isso), qual a relação com obrigação moral?
Preciso de fontes para afirmar que salvar um ser humano da morte num momento extremo pode (pelo menos para mim ) seguir o ímpeto instintivo de salvar a espécie ( além de ser uma questão de empatia e compaixão)? Que tipo de fontes você quer?
Não fui eu que fiz a ligação moral.
- Vitor Moura
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Re.: O problema do bote salva-vidas
dê essa dica de como pegar mulher no tópico do hrrrrr.
Sem tempo nem paciência para isso.
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- Vitor Moura
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Re: Re.: O problema do bote salva-vidas
ímpio escreveu:dê essa dica de como pegar mulher no tópico do hrrrrr.
Pegar mulher é fácil, eu uso uma cantada que funciona 70% das vezes se a mulher estiver solteira. Só não revelo qual é que é pra não virar corriqueira.

- Res Cogitans
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Re.: O problema do bote salva-vidas
Estes experimentos mentais existem para que você questione quais princípios morais devem ser adotados.
A autora quis fazer uma analogia com uma possível obrigação moral entre ricos e pobres.
Os experimentos mentais filosóficos discutidos em livros e periódicos de filosofia não costumem ser bem entendidos no Rev.
A autora quis fazer uma analogia com uma possível obrigação moral entre ricos e pobres.
Os experimentos mentais filosóficos discutidos em livros e periódicos de filosofia não costumem ser bem entendidos no Rev.
*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.
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*Deus deixou seu único filho morrer pendurado numa cruz, imagine o que ele fará com você.
- user f.k.a. Cabeção
- Moderador
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- Registrado em: 22 Out 2005, 10:07
- Contato:
Essa é uma daquelas questões que tenta fazer analogia implícita com a caridade compulsiva pregada por esses filósofos de esquerda.
De qualquer forma, a questão não é análoga, uma vez que salvar uma vida é diferente de redistribuir riqueza ou esmolas.
Nesse caso, a obrigação moral é a de salvar a mulher, embora eu duvide que se o barco estivesse lotado desses pensadores socialistas eles realmente fizessem isso, haja vista que gozam e muito dos padrões de vida sempre da classe que adoram criticar.
"Let 'em all go to hell, except cave 76" ~ Cave 76's national anthem
Re.: O problema do bote salva-vidas
Aqui mandaria o instinto. Acho que a maioria salvaria, mas nao acho que a moral impere em situaçoes limite.
Re: Re.: O problema do bote salva-vidas
Res Cogitans escreveu:Estes experimentos mentais existem para que você questione quais princípios morais devem ser adotados.
A autora quis fazer uma analogia com uma possível obrigação moral entre ricos e pobres.
Os experimentos mentais filosóficos discutidos em livros e periódicos de filosofia não costumem ser bem entendidos no Rev.
Entre pessoas em posiçao melhor ou em posiçao pior.
Entao o que eu disse antes é para situaçoes limite que impliquem vida ou morte. Para situaçoes normais... quem está bem segue o status quo sem pensar muito em ética. Mas há sempre excepçoes.