Bem, Acauan, numa tentativa de economizar tempo e não ter de ficar falando redundâncias, resolvi por enquanto não responder ponto por ponto as colocações anteriores. Fica para outra vez. Vamos então tratar do que me interessa que é a questão de método de trabalho e suas implicações.
Acauan escreveu:Um ponto relevante é que a Ciência não trabalha com certezas e sim com incertezas determinadas (caso queira, vide Determinação da Incerteza, onde trato do assunto).
O problema da pesquisa paranormal é que suas incertezas são indeterminadas e seus pesquisadores, até hoje, não desenvolveram métodos adequados para determinação destas incertezas.
Assim, insisto que falta à disciplina um pouco mais de zelo pela lição de casa e um pouco menos de preocupação com as críticas.
Métodos robustos, provas consistentes e incertezas bem determinadas diluem quaisquer críticas a trabalhos científicos.
Na falta destes, não há que se esperar condescendência de um meio treinado para falsear hipóteses.
Seria muito trabalhoso discorrer sobre os métodos de investigação paranormal para analisar o que disse acima. Então vou me restringir a UM experimento e como vários deles seguiram situações semelhantes, então quando você me apontar as falhas metodológicas e de registro deste, terei uma idéia do que pensar dos outros.
Crookes fez alguns experimentos com a médium Anna Fay e um deles foi publicado como um relatório "definitivo" sobre o caso dela (Crookes, W. 1875. A Scientific Examination of Mrs. Fay Mediumship. The Spiritualist, 12 March.) Seguindo as determinações de incerteza que você indicou:
- Incerteza das medições instrumentais
A fim de assegurar que a médium estava e permaneceria no lugar estabelecido, então ela teria de segurar eletrodos de um galvanômetro. Se os soltasse, o ato seria acusado pela queda na marcação da escala até o valor zero. A questão aqui é: qual a confiabilidade deste aparelho?
Colin Brookes-Smith (Brookes-Smith, C. 1965. Cromwell Varley's Electrical Tests. Journal of the Society for Psychical Research 723 (43), March.) deu-se ao trabalho de procurar esse galvanômetro e por sorte o encontrou num museu para o qual os testamenteiros de Crookes o doaram. Ao por o aparelho para funcionar, Smith verificou que até por um segundo poderia soltar-se dele sem comprometer a escala. Assim ele se simulou como se fosse a Eva Fay e o que ela teria feito para burlar o aparelho. Em seu experimento, Smith mostrou ainda que se uma tira de pano, embebida em solução salina forte, fosse colocada ligando os eletrodos, fecharia o circuito sem produzir alterações significativas na escala.
Massimo Polidoro (The Mentalist Who Baffled Sir William Crookes, Skeptical Inquirer, jan 2000 ) diz:
"Para estas sessões, Cromwell F. Varley, outro membro da Royal Society, forneceu um circuito de controle elétrico, uma versão ligeiramente modificada do que foi usado por Crookes com a médium Florence Cook. Para ter certeza que a médium, sentada em um gabinete cortinado, não podia livrar-se das cordas, Crookes pediu-lhe que apertasse ambas as manivelas de uma bateria, construída para interromper a corrente se ela soltasse qualquer uma das manivelas, e nesse caso o marcador cairia a 0. Fay conseguiu, de alguma maneira, apresentar suas manifestações apesar do contato ter permanecido constante.
Para uma sessão adicional, dois dos convidados eram mais céticos que seu anfitrião. Quando eles inspecionaram o controle elétrico do sistema, antes da sessão começar, eles descobriram que um lenço úmido estirado entre as manivelas manteria o circuito aberto. Por sugestão de um destes homens, Crookes afastou as manivelas até a distância na qual um lenço não podia ser colocado entre elas. Aparentemente ninguém considerou a possibilidade de que poderiam ser usados uma tira de pano maior ou algum outro tipo de resistor."
Pois bem, Acauan, eu sei que não é uma pergunta justa, mas com base na fala desses dois céticos, o que você acha da incerteza das medições instrumentais quanto ao galvanômetro usado?
Vou ter de parar por aqui, por enquanto e depois continuo.