Botanico escreveu:Acauan escreveu:Sobre os experimentos de Crookes, antes de seguir na análise do método utilizado, gostaria que esclarecesse as questões abaixo:
1. Foram procedidos e registrados testes de repetibilidade (veja bem, repetibilidade, não reprodutibilidade), com a devida comparação dos resultados das leituras nas diferentes medições?
Muita coisa que Crookes anotou a respeito desses trabalhos se perdeu, ou porque foram deliberadamente destruídas pelos seus parentes ou simplesmente descartadas. Mas sempre fez VÁRIOS experimentos com os médiuns, especialmente antes de validá-los como tais. Com Florence Cook e Rosina Showers, ele fez experimentos iniciais, inclusive porque nas primeiras vezes elas atuaram juntas. No caso de Florence, já nos primeiros ele verificou que se tratava de fenômeno autêntico, mas com Showers ele não ficou satisfeito e desconfiava de fraude. Motivo: no caso dela, a forma materializada SEMPRE era igual à médium. No fim ela era uma fraude mesmo.
Com Eva Fay ele fez vários experimentos, mas somente as notas de quatro deles sobreviveram.
Acauan escreveu:Só para esclarecer, ele fez vários experimentos com os supostos médiuns ou repetiu várias vezes os mesmos experimentos, com o registro e comparação das leituras das várias medições e análise dos desvios, que é o que define a repetibilidade?
É preciso que fique claro, Acauan, que estes experimentos eram BASICAMENTE QUALITATIVOS, ou seja, não se faziam medidas por padrão experimental. Certo, Crookes mediu peso, altura, observou os aspectos físicos, etc. Crookes adotava a seguinte estratégia: primeiro deixava o médium à vontade para ditar suas condições e assim ele fazia uma "análise preliminar" para saber se valia a pena continuar ou não. Depois, uma vez que até aí as experiências eram feitas na residência dos médiuns, ele ia cercando as variáveis dentro do respeito que se espera ter na casa dos outros. Finalmente então as experiências passavam a ser feitas na casa ou laboratório do Crookes, onde ele sabia muito bem onde estavam as portas e janelas e tinha a chave de todas em suas mãos. Os experimentos de materialização eram basicamente na mesma rotina: o médium se recolhia ao gabinete cortinado, dali saía uma forma materializada que falava, se deixava medir, podia fornecer amostras, etc e tal. O trabalho era verificar no quanto essa forma se parecia ou não com o médium e garantir que o gabinte era inviolável, ou seja, dali só se podia sair, mas ninguém poderia entrar, pois não havia qualquer passagem secreta. Houve experimentos onde os médiuns eram seguros por alguém de fora, para garantir que a forma materializada não era nenhum cúmplice disfarçado. São muitas as variáveis, mas não dá para colocar todas aqui de uma vez.
Botanico escreveu:Acauan escreveu:2. Se a leitura do galvanômetro era quantitativa, os resultados foram registrados e disponibilizados para análise?
Sim. No experimento publicado no relatório a oscilação ficou entre 208 e 214 graus.
Graus? Galvanômetros medem Ampéres, Ohms, Volts ou Watts ou seus correspondentes em outras unidades, conforme a escala de leitura utilizada. O que, exatamente, foi medido?
Acauan, os galvanômetros de HOJE fazem tudo isso com um ponteiro e várias escalas, mas naqueles tempos o aparelho era muito mais primitivo. Basicamente, o galvanômetro de Crookes funcionava com um facho de uma lâmpada incidindo numa escala graduada em graus. Sem corrente, o facho era ajustado para incidir no zero. Com uma resistência conhecida, ele era ajustado para incidir no valor esperado e assim o aparelho era calibrado. Com esses valores de escala, se fazia O CÁLCULO da resistência, só que Crookes dá valores numa tal de escala da "Associação Britânica" e eu não tenho a equivalência em ohms.
Botanico escreveu:Acauan escreveu:3. Foram feitas "provas em branco" para comparativo dos resultados?
Que quer dizer com "provas em branco" neste caso? Refere-se a testar o aparelho e as condições de uso e local onde seria realizado o experimento pelas pessoas presentes, sem o médium?
Provas em branco são testes que determinam o erro sistêmico da medição. O termo vem da Química, quando em um processo analítico de determinação do teor ou características de um determinado elemento procede-se primeiro um teste com uma amostra onde sabe-se que o elemento a ser testado não está presente, sendo portanto esperado resultado zero. Qualquer outro resultado será considerado erro sistêmico do processo.
Certo, isso eu já fiz várias vezes durante a minha graduação, mas eu ainda não sei qual "o branco" que seria aplicável aqui no caso dos experimentos mediúnicos. Bem, podemos aplicar "brancos" para o baralho Zener, e também se podem medir pessoas "normais" no galvanômetro, mas e daí?
Botanico escreveu:Acauan escreveu:4. Há dados objetivos sobre a calibração do galvanômetro contra um padrão reconhecido?
Sim. É óbvio, pois como vai trabalhar com um aparelho sem calibrá-lo?
Há registros dos padrões utilizados e dos resultados obtidos na calibração?
Bem, eu não sei como se colocam desenhos aqui, mas sob um esquema do galvanômetro, seguem-se essas informações de Crookes abaixo, espero que seja suficiente para você ter uma idéia.
D, bateria.
F, galvanômetro.
H, controle para cortar mais ou menos a corrente a fim de regular a deflecção do galvanômetro.
E, caixa de rolos de resistência.
A e B, chaves iniciar e interromper o contato.
(A) está sempre fechada, e é usada só para corrigir ou verificar o zero.
(B) pressionada para K, põe os rolos de resistência em lugar do médium.
Os dois fios de arames em cada lado da seta vão para a médium.
A médium pega em duas manivelas, presas aos arames abaixo da seta, e deste modo fecha o circuito, e faz a luz do galvanômetro ser defletida na escala. O desvio é agora ajustado, sendo o objetivo distribuir a corrente entre o galvanômetro e o desvio que causa uma deflecção conveniente no primeiro. Qualquer movimento da médium é agora visto por uma variação da posição do ponto de luz. Se os arames ou manivelas sofrerem um curto-circuito de qualquer forma, o ponto de luz salta fora da escala; se, por outro lado, o contato for rompido pela médium, a luz imediatamente cai para zero.
Para medir a resistência da médium, a chave, B, é fechada, o que coloca os rolos de resistência no circuito em vez da médium. As cavilhas são então tiradas até a deflecção no galvanômetro for igual àquela produzida pela médium; são então equiparadas as resistências da médium e dos rolos, e os valores dos últimos são lidos.
O galvanômetro de reflexão, com o rolo de resistência e de desvio, foi colocado junto à parede no laboratório, pelo lado da cortina, e dois pedaços pequenos de arame muito espessos atravessavam a parede, e estavam firmemente soldados a duas manivelas de metal no outro lado. Estas manivelas eram para ser seguras pela Sra. Fay, cujo corpo, deste modo fechava o circuito elétrico, e deu a mim uma deflecção no galvanômetro que varia com sua resistência elétrica. As manivelas de metal estavam bem cobertas com dois pedaços de linho embebidos em sal e água. Antes de começar as experiências, Sra. Fay mergulhou suas mãos em sal e água, e em então segurou nas manivelas, eu sempre achei que a quantia de deflecção seria muito constante, devido à ampla quantidade de superfície exposta para conduzir o contacto com as mãos. Quando ela segurou os terminais, a quantia exata de deflecção devido à resistência de seu corpo foi medida pelo galvanômetro. Se ela fizesse as manivelas se tocarem uma com a outra a deflecção tornava-se tão grande que faria a luz pular rapidamente fora da escala; se ela cessasse de segurar as manivelas por um momento o raio de luz vinha para o zero; se ela tentasse substituir qualquer coisa além de seu corpo para estabelecer contato parcial entre as duas manivelas, as grandes oscilações do índice luminoso, que aconteceriam enquanto isso estava sendo feito, tornar-se-iam evidentes, uma vez depois de que as chances de mudanças teriam sido infinitas contra a quantidade certa de deflecção produzida.
Botanico escreveu:Acauan escreveu:5. Do ponto de vista exclusivamente científico, se o pesquisador queria saber se a testada soltou-se ou não das cordas, por que simplesmente não abriu a cortina olhou?
Fenômenos de materialização são complicados e arriscados para os médiuns. O toque na forma materializada ou a súbita exposição à luz no gabinete pode causar impacto suficiente para o médium adoecer e até causar a morte, como no caso de Helen Duncan. Mas no caso desta sessão isso aconteceu. Sergeant Cox entrou na biblioteca de Crookes onde a médium estava enquanto uma forma materializada inteira apareceu no vão da cortina. Ele viu esta forma e a médium segurando as manivelas. Pelo fato de estar escuro lá dentro e ele havia estado num ambiente iluminado de fora antes, não pôde distinguir direito quem era quem, tanto que supôs que a forma em pé era a médium em transe e o espírito materializado segurava as manivelas do galvanômetro (certo seria o contrário...).
É aqui que a coisa realmente pega...
Minha pergunta se referia a um ponto de vista exclusivamente científico.
Qual o fundamento científico para se afirmar que "fenômenos de materialização são complicados e arriscados... pode... até causar a morte"?
A prática, meu! A própria Florence Cook, assim como Madame D'Esperance, Helen Duncan e outros que não me lembro tiveram a forma materializada tocada de forma inesperada (a forma materializada pode ser tocada e até cortada, mas tem de ela se preparar para isso antes). Isso resultou em impacto direto, que as fez ficarem doentes. Não é invenção. Que fundamento científico eu preciso para saber que se puser a mão no fogo, ela queima?
Ou seja, parece que o experimento foi conduzido partindo-se da crença que se a cortina fosse aberta isto poderia matar a pessoa testada.
Se havia uma base científica sólida para esta crença tudo bem, como por exemplo, evidências médicas comprovadas de que a morte da tal Helen Duncan teve causas paranormais.
Caso contrário, tem-se uma violação da práxis científica mais básica, que orienta o pesquisador a sempre procurar o caminho mais simples, direto e objetivo.
Na falta de um motivo cientificamente embasado para se criar todo um aparato instrumental e testemunhal para se elucidar um suposto fenômeno que se explicaria apenas olhando, tudo assume um caráter um tanto circense, exagerado e portanto suspeito pelos critérios da ortodoxia científica.
Como é que determina a causa paranormal de uma morte? Que médico assinaria um atestado de óbito com os dizeres: "óbito causado por falência múltiplas dos órgãos em vista do toque não autorizado da forma materializada..."? Talvez ele achasse estranho: procurou traços de veneno e nada; procurou por bactérias, vírus, amebas e nada, fez medidas químicas do sangue e a saúde era boa... Mas daí a dizer que a morte foi paranormal vai uma distância bem grande. O mais certo seria figurar: causa desconhecida.
A violação da prática científica aí... não sei. Mesmo sem abrir a cortina, havia como saber se a médium estava lá no lugar indicado. Mesmo sem abrir a cortina, poder-se-ia segurar a médium. E embora essa exposição inesperada possa dar problemas, isso não significa que não se tenha feito desde que com o devido preparo. A irmã da Florence Cook, Kate Cook, também atuou como médium e no caso dela a cortina era aberta, mostrando-se ela e o fantasma materializado ao mesmo tempo.
O que acontece é que na afoiteza de se provar a fraude, pesquisadores e/ou curiosos tomaram uma atitude inesperada que resultou em problemas para o médium.
É isso.