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O último mistério de Houdini
Família do ilusionista quer exumar corpo para esclarecer causa da sua morte
SUZANNE GOLDENBERG/ The Guardian/Washington
Ele foi o mestre da ilusão e das fugas, mas o maior mistério da vida de Harry Houdini pode ter sido o seu fim. Em 31 de outubro de 1926, noite de Halloween (o Dia das Bruxas), ele encenou o número de desaparecimento definitivo.
Agora, 81 anos após uma morte que tem sido atribuída a causas que vão de uma peritonite derivada de uma ruptura do apêndice - provocada por uma forte pancada na barriga - a homicídio por envenenamento, os familiares de Houdini pressionam pela exumação de seu corpo para descobrir o que realmente o matou. Ele está enterrado no bairro de Queens, Nova York, EUA.
A família pediria ontem à Justiça a autorização para levar a exumação adiante, segundo o advogado Joseph Tacopina.
- Havia motivo para o assassinato de Harry Houdini, e foi omitido e acobertado - disse ele a repórteres na sexta-feira.
Os familiares de Houdini, liderados por George Hardeen, bisneto do irmão do ilusionista, Theodore, que também era um mágico famoso, recrutaram renomados peritos para a tarefa.
Os investigadores pretendem examinar os restos mortais de Houdini em busca de traços de veneno.
- Isso precisa ser revisto. A morte dele chocou toda a nação. Agora, talvez seja hora de rever os fatos - afirmou Hardeen à agência de notícias Associated Press.
Houdini estava no auge de sua fama quando morreu em Detroit aos 52 anos. Tinha conquistado a Europa, deixando o público pasmo ao fazer elefantes desaparecerem do palco da casa de espetáculos London Hippodrome, em Londres, e libertando-se dos mais elaborados grilhões, da Escócia à Rússia. Ele era o mais bem pago dos artistas do gênero em todos os EUA.
Mágico era inimigo dos espíritas
O corpo de Houdini foi levado de trem até Manhattan, onde mais de 2 mil pessoas acompanharam o funeral. A associação dos mágicos dos EUA o homenageia todos os anos com uma cerimônia diante seu túmulo. Mas a verdadeira história da morte de Houdini se mostrou mais complicada que o segredo de suas fugas. Dias depois, os jornais começaram a especular sobre assassinato. Houdini era um inimigo confesso do movimento espírita, cujos devotos promoviam sessões nas quais supostamente se comunicavam com os mortos. Houdini se infiltrou, disfarçado, em algumas dessas sessões - algumas vezes acompanhado de policiais e repórteres - e passou a dedicar parte de suas apresentações a expor tais rituais como fraudes.
Essa guerra contra os supostos médiuns garantiu a Houdini a inimizade eterna dos espíritas, entre eles Arthur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes. Em uma nova biografia de Houdini, os autores William Kalush e Larry Sloman citam uma carta ameaçadora de Conan Doyle. "Eu creio que o dia do acerto de contas chegará logo", teria escrito Conan Doyle. Dois anos depois, Houdini estava morto.
Pancadas no abdômen não explicariam a morte
Não foi realizada autópsia, e a notória disputa com os espíritas alimentou especulações de que Houdini havia morrido como resultado de um envenenamento por arsênico. Outras suspeitas se concentraram em um soro administrado no hospital. Se ficasse provado que a morte de Houdini resultou de um complô dos médiuns, seria o retoque que faltava em sua biografia, acreditam muitos de seus seguidores.
Na época da morte, médicos diagnosticaram uma apendicite traumática, conseqüência de um encontro em Montreal alguns dias antes, no qual ele convidou dois estudantes a testarem uma de suas impressionantes habilidades - agüentar qualquer golpe contra o abdômen.
Os dois teriam acertado várias vezes Houdini, deitado em um sofá. A teoria de que os socos teriam causado a morte acabou, no entanto, desmentida pela medicina moderna.
Uma breve biografia de Harry Houdini:
> Filho de um rabino, o artista conhecido como Houdini nasceu Erich Weiss, na Hungria, em 1874, e emigrou com seu pai para os EUA ainda criança.
> Ele estreou no show-business ainda na infância, como trapezista de um circo, e mais tarde se encantou pelo trabalho do mágico francês Jean-Eugène Robert-Houdin.
> O que começou como uma apresentação baseada em truques com cartas rapidamente evoluiu para o ilusionismo e fugas cada vez mais audaciosas.
> Para aumentar ainda mais o desafio, Houdini começou a fazer números nos quais se libertava das correntes e cadeados dentro de caixas trancadas, debaixo d'água em um baú, ou pendurado em grandes alturas, deixando o público em polvorosa com a possibilidade de que um erro seu poderia ser fatal.