Jogos: Poesias

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Vito Álvaro
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Jogos: Poesias

Mensagem por Vito Álvaro »

Velha Chácara

A casa era por aqui...
Onde? Procuro-a e não acho
Ouço uma vez que esqueci
É a voz deste mesmo riacho

Ah quanto tempo passou!
(Foram mais de cinqüenta anos)
Tantos que a morte levou!
(E a vida nos desengano...)

A usura fez tábua rasa
De velha chácara triste
Não existe mais a casa...
Mas o menino ainda existe

(Manuel Bandeira)

:emoticon1:
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clara campos
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Mensagem por clara campos »

[center]Endechas a Bárbara escrava por Luís de Camões
Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.

Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.

Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E. pois nela vivo,
É força que viva.[/center]

:emoticon223:
Só por existir, só por duvidar, tenho duas almas em guerra e sei que nenhuma vai ganhar... (J.P.)

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Hugo
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Re.: Jogos: Poesias

Mensagem por Hugo »

Aumenta.

A Dream
by Edgar Allan Poe


In visions of the dark night
I have dreamed of joy departed—
But a waking dream of life and light
Hath left me broken-hearted.


Ah! what is not a dream by day
To him whose eyes are cast
On things around him with a ray
Turned back upon the past?


That holy dream—that holy dream,
While all the world were chiding,
Hath cheered me as a lovely beam
A lonely spirit guiding.


What though that light, thro' storm and night,
So trembled from afar—
What could there be more purely bright
In Truth's day-star?

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Hugo
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Re.: Jogos: Poesias

Mensagem por Hugo »

Aumenta.

She Walks In Beauty
by Lord Byron

She walks in beauty, like the night
Of cloudless climes and starry skies;
And all that's best of dark and bright
Meet in her aspect and her eyes:
Thus mellowed to that tender light
Which heaven to gaudy day denies.

One shade the more, one ray the less,
Had half impaired the nameless grace
Which waves in every raven tress,
Or softly lightens o'er her face;
Where thoughts serenely sweet express
How pure, how dear their dwelling place.

And on that cheek, and o'er that brow,
So soft, so calm, yet eloquent,
The smiles that win, the tints that glow,
But tell of days in goodness spent,
A mind at peace with all below,
A heart whose love is innocent!

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City Hunter
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Mensagem por City Hunter »

Aumenta o Byron


Soneto do Ofício Meretrício - Manuel Maria Barbosa du Bocage


Uma empada de gálico à janela,
Fazendo meia, alinhavando trapos,
Enquanto a guerra faz tudo em farrapos,
Pondo o honrado a pedir, e a virgem bela!

Vai a trombuda, sórdida Michela
Fazendo guerra a marujais marsapos,
E sem que deste mil lhe façam papos,
C'o sesso também dá às porras trela:

Tudo em metal por dois canais ajunta;
Recrutas nunca teme, e do Castelo
Se ri, que aos beleguins as mãos lhes unta:

Nas públicas funções vai dar-se ao prelo:
Minh'alma agora, meu leitor, pergunta
Se o ser puta não é ofício belo?

Apocaliptica

Re.: Jogos: Poesias

Mensagem por Apocaliptica »

Mantém.

Logo que entrei para o RV fiz um tópico sobre esta poesia. Agora, um reload aqui, pois é uma das mais belas poesias que já vi na vida.

______________________

Neurônios

Hildeberto Abreu Magalhães


Não seria capaz de te escrever um poema confesso,
um poema capaz de autenticidade e odor?

Fico onde estou, mascarando o sofrimento, sozinho,
sem necessitar da simplicidade da saudação triste;
corro o olhar, à vista de um olho vermelho, todo
segredo binário transforma-se em conto...

Será que lhe roubei o sossego? Meu corpo vertido em fumaça,
movimentando-se como bailarina, roçando teu ventre:
apresentas-te sofreguidão e descaso, re-flexo opaco;
como vou olhar-te sem desejar-te o contato caro,

o sussurro perto da nuca, teu cheiro que me corta.
Penso antes que roubaste-me a paz e nada de bom
restou desta história morta.

Em pleno meio-dia, parado aqui, nesta rua, aguardando um
beijo indeciso, estás querendo derreter-me;
verás como se comporta um triste 'ice cub' orvalhado,
umedecendo o vale entre teus seios belos e pequenos,
descendo por tua barriga como uma língua ardente.
Custa-me pensar que do teu lado sou uma criança tola...

Quando penso em ti, minha cabeça dói; como fosses
sair de lá, por acreditar-me afim a Zeus: mas
que vão apelo à Natureza. Revelo-me miserável!

A vontade necessária para tanto não é consistente!
Antes, zelo por estares aconchegada e quente, então,
nos pequenos fios condutores de minha parca luz.

Ah! como quero poder descrever e dissertar, e assim
escrever-te um romance para as horas fúteis, mas
tenho pouca memória (pouca vitamina, talvez) e
sintetizo a vida analisando o dia por vez.

Teria que ser um conto, ainda que aprecies o canto.
Teria que ser uma curta história, que deixa saudade;

Miss me? Eu sinto tanta falta, me falta força para
seguir-me fartando a vida, na falta e na tortura;
fazer-te nova escultura, servir-me-ás como modelo.

Mas estou longe e tua imagem é vaga e sombria.
Quero lançar-me às pedras, ou antes, fazer delas
talismãs, teus voodoos secretos, uma fruta saborosa.

Quero me lambuzar de cores variadas e pintar-te
o corpo, quem sabe deixar de ser tão cínico.

O amor de Prometeu, o amor de Dioniso, o amor de Zeus,
que mais posso desejar-te como signo fatal?

"Demos as mão e ao correr juntos, esbarramos em fórmulas
mal-ditas e satíricas, de refrões seculares".

Já vimos juntos o arrebol? É um risco a mais;
metáforas espessas, o que podem expressar?
Pergunta-se do que "sub-jaz" ou do que "aparece"?

Tento acreditar em "Lethes", deixar-te na memória,
escorregarem-se os dias nestes rios fluentes;
estamos navegando à deriva de uma intersecção de setas.

E ainda a alma rebelde que me cospe o rosto:
constrange-me o suicídio, por ser uma utilidade inútil.

O sonho está diminuindo; a estrada, eu sempre
retorno àquele mesmo ponto, encruzilhada de
escolhas, no mais das vezes, interpeladas pela barbaridade.

Tenho medo do exílio de teus olhos, no assalto ao céu...

Assim quer o Deus? Desenhos de fumaça, crianças brincam,
a vida correndo mais um setembro, construindo o caráter
da prima-vera, sob auspícios diversos e 'be careful!'.

Acredito realmente na guerra e na morte, mas não
na dor. Como se estivesse perdido no caminho,
mesmo sabendo exatamente onde me encontro.

Mesmo pre-sentindo que tudo correrá como antes e
poderei beijar-te cálida ou calorosamente, assim
exijo uma seta para o arco que curva sóbrio:
teu suor em minha boca, teus sais para salvar-me
da solidão, teu sexo para energizar minhas glândulas.

Ou somente o teu cheiro, teu olhar, e 'go away alone'.

Veja, os animais, todos se soltaram: veja o coelho
Bob Dylan e a galinha Janis, o porco Rotten;
corra, ou vamos perdê-los! Agora, pastor!

Traga-me o vinho do odre mais antigo, comemore
comigo o brotar da estação, dilacera-me com
teu punhal, pareço anestesiado? Serei símbolo-diverso?

Deita do meu lado esquerdo, cobre-me com teu corpo,
para sentir-lhe o peso; diga-me apenas 'querido' e

já a música inquietante absorve-nos em cristais.
Lamento não poder gritar! Lamento a guerra e o
rosto no espelho. O que estou fazendo? Nada.

"Não é nada orgânico, obrigado". Ecos primaveris.

Passa o passo rápido no
auge do contraste que sobe ou desce e que
seca e umedece agora...
Alçou vôo e desapareceu,
roçou o enjôo e vomitou,
olvidou voar como pássaro...

Um vento que rodeia minha amada, um vento quente
do norte, aliás, tórrido e puro éter, e mudança
de modo-contínuo, mesmo sendo um e o mesmo,
movimento ávido do mesmo calor, estátua na chuva!

Preciso preencher uma ânsia de vacuidade e dispersão,
para arrebatar a lâmina de tua mão, naquele dia,
quando os medos e paixões subsistiram num gesto;

quando mudas o fim do poema e descubro que foi
antigamente projetado e me vejo nele feliz e
absorto por ser divinamente dirigido a ti,
em todas as súplicas surdas e canções, em
novas re-edições de línguas mortas, que não se tocam
mais, que feneceram por falta de uso devido
ou mesmo impróprio. Não houve o fato. Ridículo?

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Vito Álvaro
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Mensagem por Vito Álvaro »

MEU MONÓLOGO


Mundo moderno, marco malévolo, mesclando mentiras, modificando maneiras, mascarando maracutaias. Majestoso manicômio.

Meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres, miscigenação, morticínio, maior maldade mundial.

Madrugada, matuto magro, macrocéfalo, mastiga média morna, monta matumbo malhado. Munindo machado, martelo, mochila murcha, margeia mata maior. Manhãzinha, move moinho moendo macaxeira, mandioca. Meio-dia, mata marreco mais melhorzinho. Meia-noite, mima mulherzinha mimosa. Maria morena, momento maravilha; motivação mútua, mas monocórdia mesmice.

Muitos migram… Macilentos maltrapilhos morarão modestamente malocas metropolitanas, mocambos miseráveis. Menos moral, menos mantimentos, mais menosprezo. Metade morre.

Mundo maligno, misturando mendigos maltratados, menores metralhados, mandões, meretrizes, marafonas, mocinhas, meras meninas, mariposas modificando-se moralmente; modestas moças, maculadas, mercenárias, mulheres marcadas. Mundo medíocre.

Milhonários montam mansões magníficas, melhor mármore, mobília mirabolante, máxima megalomania, mordomo, mercedes, motorista, mãos magnatas manobrando milhões, mas maioria morre minguando. Moradia meiágua; menos, marquise.

Mundo maluco, máquina mortífera.

Mundo moderno melhore, melhore mais, melhore muito, melhore mesmo. Merecemos, maldito mundo moderno.

Mundinho merda!

(Chico Anysio)

http://www.youtube.com/watch?v=6HiGpnKGTIY
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Hugo
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Re.: Jogos: Poesias

Mensagem por Hugo »

Abaixa.

Escárnio perfumado

Cruz e Sousa


Quando no enleio
De receber umas notícias tuas,
Vou-me ao correio,
Que é lá no fim da mais cruel das ruas,

Vendo tão fartas,
D'uma fartura que ninguém colige,
As mãos dos outros, de jornais e cartas
E as minhas, nuas - isso dói, me aflige...

E em tom de mofa,
Julgo que tudo me escarnece, apoda,
Ri, me apostrofa,

Pois fico só e cabisbaixo, inerme,
A noite andar-me na cabeça, em roda,
Mais humilhado que um mendigo, um verme...

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Samael
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Re.: Jogos: Poesias

Mensagem por Samael »

Cruz e Souza morou no meu quarteirão. :emoticon1:

Um digno habitante do Encantado, e meu poeta favorito.

Apocaliptica

Re: Re.: Jogos: Poesias

Mensagem por Apocaliptica »

Samael escreveu:Cruz e Souza morou no meu quarteirão. :emoticon1:

Um digno habitante do Encantado, e meu poeta favorito.


oh ...que lindinho... :emoticon19:

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clara campos
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Mensagem por clara campos »

Lindo, lindo, de Carlos Tê

[center]Naquele trilho secreto,
Com palavra santo e senha.
Eu fui língua e tu dialecto.
Eu fui lume, tu foste lenha.
Fomos guerras e alianças,
Tratados de paz e passangas.
Fomos sardas, pele e tranças,
Popeline, seda e ganga.

Recordo aquele acordo
Bem claro e assumido,
Eu trepava um eucalipto
E tu tiravas o vestido.
Dessa vez tu não cumpriste,
E faltaste ao prometido.
Eu fiquei sentido e triste.
Olha que isso não se faz.
Disseste se eu fosse audaz,
Tu tiravas o vestido,
E o prometido é devido.

Rompi eu as minhas calças.
Esfolei mãos e joelhos.
E tu reduziste o acordo,
A um montão de cacos velhos.
E eu que vinha de tão longe,
Do outro lado da rua.
Fazia o que tu quizesses,
Só para te poder ver nua.

Quero já os almanaques.
Do Fantasma e do Patinhas,
Dos Falcões e os Mandrakes.
Tão cedo não terás novas minhas.

Dessa vez tu não cumpriste,
E faltaste ao prometido.
Eu fiquei sentido e triste.
Olha que isso não se faz.
Disseste se eu fosse audaz,
Tu tiravas o vestido,
E o prometido é devido.[/center]
Só por existir, só por duvidar, tenho duas almas em guerra e sei que nenhuma vai ganhar... (J.P.)

Trancado