Semana Maior

[Alter-ego]

A Semana Santa (para os cristãos primevos, Semana Maior) é um daqueles momentos em que ser católico provoca imensas saudades...

Segundo a doutrina católica, Jesus se manifestou ao mundo na plenitude dos tempos, ou seja, quando tudo convergia para que as profecias tivessem cumprimento.
O mundo estava unificado em torno do maior império da história, Roma, as fronteiras não eram tão relevantes como viriam a ser em tempos futuros em que o comércio entre alguns povos foi fechado por guerras e o movimento messiânico israelita recrudescia de modo que, fatalmente, levaria à aniquilação da naçao judaica.
Eis que Jesus vem ao mundo.
A sua mensagem é lançada sobre uma comunidade que possui três colunas: João, jovem, portanto com muitos anos de vida à frente para dedicar ao Evangelho. Tiago, parente de Jesus, contava com grande prestígio junto à comunidade judaica, era um dos judaizantes, e portanto diretamente responsável pelo crescimento da doutrina entre os israelistas. Foi Bispo de Jerusalém. Pedro, espírito de líder, indicado por Jesus para ser o primeiro Papa (Simão, apascenta as minhas ovelhas), foi Bispo em Roma (vos escrevo da Babilônia), a cidade mundial, que então dominava as nações.
O cristianismo ganhou, então, um reforço de peso: Paulo de Tarso. Judeu de nascimento, porém com cidadania Romana, para a qual apelou no fim da vida, afim de ser julgado em Roma e ter mais uma oportunidade de evangelizar. Paulo foi chamado de primeiro doutor da Igreja. Era um erudito e suas cartas contém uma versão simplificada de uma das vias para a existência de Deus, de Tomás de Aquino. Paulo obteve grande alcance entre as civilizações helenísticas, abrindo outro braço para a pregação cristã.
Quando Roma converteu-se ao Catolicismo, estava aberto o caminho para que o Cristianismo se tornasse a religião mais pregada no mundo inteiro...

Mas, se a vinda de Jesus se deu na plenitude dos tempos, sua morte se deu na Semana das semanas.
No domingo, Jesus é aclamado com Rei ao entrar em Jerusalém (não tema, cidade de Sião. Eis que o seu Rei vem a ti, montado num jumento). O povo viu em Jesus o cumprimento da mensagem e o recebeu com ramos de oliveira, cantando "Hosana ao filho de Davi".
Na quinta-feira seguinte, Jesus reúne os 12 para a ceia, institui a Eucaristia e, lavando os pés dos discípulos, lança o fundamento do líder servidor. Aliás, essa é a tese defendida em "O monge e o Executivo", Jesus estaria, absolutamente, certo.
Na mesma noite, Jesus vai ao Horto para orar, chegando a suar sangue. Quando converti-me ao Catolicismo, pensava que isso era simbólico. Até ler sobre o fato de que suar sangue é possível, em situações extremas, que provocam o rompimento das terminações capilares cutâneas, ao experimentar uma angústia suprema. Nesta mesma noite Jesus foi preso e levado ao Sinédrio, daonde, foi encaminhado às autoridades romanas.
No dia seguinte, Jesus seria morto por um método cruel e pouco usual, o qual se quer se costumava comentar, mas o qual Jesus anunciara diversas vezes.
No mesmo dia foi levado ao sepulcro, ao cair da tarde.
A liturgia católica relembra todos estes momentos, com ar solene, em tom grave, com cores de luto e sem cantos, ou poucos cantos sem aleluias, sem glórias, sem festa... Com pesar.
A minha celebração favorita, no entanto, não é a do domingo de páscoa, é a do chamado Sábado de Aleluia. Nele, as leituras todas convergem para mostrar que a história humana tem um fim, um sentido e que tudo converge para Cristo. Nele, os cristãos primevos batizavam seus neófitos e, ainda hoje, temos a benção do fogo e a da água. A ladainha de todos os santos, os primeiros cantos de aleluia após 40 dias.
Nesta noite, "noite de alegria verdadeira, que une de novo o céu à terra inteira", celebra-se a "feliz culpa de Adão, que nos mereceu tamanho salvador".

Ainda intrigam-me as profecias sobre Jesus. Esqueçamos, por instantes, as crenças cristãs de que Jesus era filho de Deus (ou mesmo Deus) e de que ressuscitou no Domingo. Vejamos Jesus como homem, ignorando seus alegados milagres e prodígios, centrando-nos em seus discursos e parábolas, em sua práxis, em sua história...

E vejamos isso:

E levaram-no ao lugar do Gólgota, que se traduz por lugar da Caveira.
E deram-lhe a beber vinho com mirra, mas ele não o tomou.
E, havendo-o crucificado, repartiram as suas vestes, lançando sobre elas sortes, para saber o que cada um levaria.
E era a hora terceira, e o crucificaram.
E por cima dele estava escrita a sua acusação: o rei dos judeus.
E crucificaram com ele dois salteadores, um à sua direita, e outro à esquerda.
E os que passavam blasfemavam dele, meneando as suas cabeças, e dizendo: Ah! tu que derrubas o templo, e em três dias o edificas,
Salva-te a ti mesmo, e desce da cruz.
E da mesma maneira também os principais dos sacerdotes, com os escribas, diziam uns para os outros, zombando: Salvou os outros, e não pode salvar-se a si mesmo.
O Cristo, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para que o vejamos e acreditemos. Também os que com ele foram crucificados o injuriavam.
E, à hora nona, Jesus exclamou com grande voz, dizendo: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? que, traduzido, é: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?
Mc XV, 22-27.29-32.34

E agora vejamos:

DEUS meu, Deus meu, por que me desamparaste?
Todos os que me vêem zombam de mim, estendem os lábios e meneiam a cabeça, dizendo:
Confiou no Senhor, que o livre; livre-o, pois nele tem prazer.
Pois me rodearam cães; o ajuntamento de malfeitores me cercou, traspassaram-me as mãos e os pés.
Poderia contar todos os meus ossos; eles vêem e me contemplam.
Repartem entre si as minhas vestes, e lançam sortes sobre a minha roupa.

Sl XXII (XXIII) 1a.7-8.16-18.

e ainda:

Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum.
Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido.
Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.
Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos.
Is LIII, 3-6

Temos na morte de Jesus, o cumprimento de profecias constantes dos Salmos de Davi e da profecia de Isaías.

Temos 4 hipóteses:

- pura coincidência;
- as profecias foram escritas ou adulteradas após a morte de Jesus;
- Jesus estava plagiando descaradamente as escrituras;
- As profecias eram reais.

Como a última opção é a crédula, passemos às anteriores, antes de chegar à ela.
Quanto à primeira, como dizer que foi pura coincidência é uma elocubração que se esgota em si mesma, ela beira à fé, tanto quanto a quart hipótese, de forma que também a passo adiante.
A segunda possibilidade é de que as profecias tenham sido escritas após a morte de Jesus, ou que tenham sido adulteradas, com intenção clara de tornar Jesus no messias judaico. Já levantaram essa hipótese com relação ao fato de que a Babilônia tenha sido destruída em concordância com escritos bíblicos.
Vejamos...
O livro de Isaías, historicamente, é situado como tendo sido escrito cerca de 600 anos antes de Cristo. Mesmo os adeptos de uma visão histórico-crítica, que dizem que Isaías, teve três autores diferentes, não avançam muito a data, de forma que as profecias se manteriam como anteriores a Cristo.
Sobre a adulteração, vale lembrar que os originais hebraicos que foram usados para compor a Vulgata de São Jerônimo possuem o mesmo teor. Podemos ir ainda à tradução dos Judeus de Jâmnia, que motivou os reformadores a, no futuro, rejeitarem sete livros da Bíblia. Ela mantém Isaias em sua totalidade e é insuspeita, por ter sido feita por judeus com intenção clara de combater o cristianismo.
Também os histórico-críticos dizem que os salmos passaram por dezenas de mãos ao longo de cerca de 700 anos. Acontece que os últimos capítulos foram adicionados em não mais que 300 a.c.

Bom, seguindo um pouco mais, Jesus podia ser um charlatão com muito conhecimento bíblico e fazendo um passo-a-passo para ser tido por messias.
Além de termos de pensar que Jesus seria um megalomaníaco, disposto até a morrer tragicamente para cumprir seu papel, tendo colaboração de um grupo de judeus dispostos a também morrer por sua mentira, sacrificando sua existência para erguer igrejas, viajar e anunciar a mesma mentira, precisariamos concluir que tambem autoridades romanas e judaicas estivessem de acordo com tal disparate.
Ora. Os judeus estavam claramente interessados num messias que fosse rei e os liderasse à libertação dos romanos, via luta armada. Não perderiam tempo com uma brincadeira de crianças, para apoiar um louco que se dizia filho de Deus. Os romanos, interessados em manterem as colônias unidas e pacificadas, chegavam a ser liberais com a quase totalidade dos cultos dos povos dominados, ao contrário de reinos anteriores que impunham a própria fé. Não havia porque Pilatos também aceitar entrar na "peça".

[...]

Certa vez li o artigo de um ateu que dizia ficar emocionado todos os anos com o chegar da Semana Santa e a lembrança dos tempos de criança, as músicas, a liturgia...
"Vocês todos que passam pelo caminho, olhem e prestem atenção: Haverá dor semelhante à minha dor? Como me maltrataram! (Lm I,12)"
Também este trecho é posto na boca de Jesus. Mas eu o repito hoje. Ai de mim, que sou incrédulo, haverá dor semelhante a minha dor?

[Hugo]

[betossantana]

Incrível, Alter!!!!!!!!! Vou refletir muito sobre a dor de Jesus enquanto estiver me empanzinando de chocolate!!! Obrigado por este texto.

[Najma]

O Igor anda tão, tão... TÃO católico...

[Ateu Tímido]

Vale a mesma reclamação que o Tranca fez contra o Abmael: Esse fórum já está deixando os crentes fazerem proselitismo de suas seitas aqui?

[Liouville]

Vamos entender melhor o que o Chatolico disse:

A Semana Santa (para os cristãos primevos, Semana Maior) é um daqueles momentos em que ser católico provoca imensas saudades...

Segundo a doutrina católica, Jesus se manifestou ao mundo na plenitude dos tempos,

Eis que Jesus vem ao mundo.

O cristianismo ganhou, então, um reforço de peso: Paulo de Tarso.

O povo viu em Jesus o cumprimento da mensagem e o recebeu com ramos de oliveira, cantando "Hosana ao filho de Davi".

DEUS meu, Deus meu, por que me desamparaste?

eles vêem e me contemplam.

[Apocaliptica]

[Jeanioz]

Porra Alter-ego! Eu que tenho que ir á missa e você que fica católico???

[Ateu Tímido]

[Najma]

[Apocaliptica]

E, havendo-o crucificado, repartiram as suas vestes, lançando sobre elas sortes, para saber o que cada um levaria.
E era a hora terceira, e o crucificaram.
E por cima dele estava escrita a sua acusação: o rei dos judeus.
E crucificaram com ele dois salteadores, um à sua direita, e outro à esquerda.
E os que passavam blasfemavam dele, meneando as suas cabeças, e dizendo: Ah! tu que derrubas o templo, e em três dias o edificas,
Salva-te a ti mesmo, e desce da cruz.
E da mesma maneira também os principais dos sacerdotes, com os escribas, diziam uns para os outros, zombando: Salvou os outros, e não pode salvar-se a si mesmo.
O Cristo, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para que o vejamos e acreditemos. Também os que com ele foram crucificados o injuriavam.

[Tranca]

Apesar de concordar com o Bruno, pô gente, vamos parar de ferir os sentimentos do Catholico, ooops, Alter-Ego!

Nós precisamos é apoiá-lo nesta hora soturna em que ele está sofrendo de crise de abstinência de hóstia e incenso.