Eu acho que caridade passou a ter um certo sentido pejorativo sim, talvez porque as religiões sempre a usaram em nome de alguma vontade divina ou como mandamento, de onde provem uma culpa embutida naquele que não é caridoso. A caridade seria quase um desapego daquilo que temos, mesmo que tenhamos de deixar de comer ou de vestir, ou de ser felizes, para entregar ou dividir com o outro. Não se trataria pura e simples de um impulso genuíno de empatizar com o outro. Mas quase uma obrigação perante Deus. Não gosto de coisas do tipo "Cáritas", por exemplo, onde solidarieddae está ligado à religiosidade e uma necessidade de se autopromover em nome da ideologia católica contra o capitalismo.
A culpa pela propriedade, sempre.
"A Cáritas Brasileira foi fundada em 12 de novembro de 1956 pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em sua 3ª Assembléia, realizada em Serra Negra, São Paulo, e presidida por D. Hélder Câmara. A finalidade inicial era de articular, nacionalmente, todas as obras sociais católicas e coordenar o Programa de Alimentos doados pelo governo norte-americano através da CNBB.
A Cáritas era ligada ao seu Secretariado Nacional de Ação Social e foi criada num contexto em que o serviço social era visto como um amenizador das chagas sociais do capitalismo."
http://www.caritasbrasileira.org/
Caridade é meio uma coisa de voto de pobreza e distribuição de esmolas, mutirões com milhares de esfomeados, onde pouco se fala em responsabilidades governamentais e pessoais de fato, e enfoca-se muito vitimização e multiplicação da miséria.
Também não vejo porque para sermos bons precisemos fazer caridade. Isto é novamente a culpa sendo impingida subliminarmente aquele que não a faz, como se caridade resolvesse finalmente todas as nossas obrigações e pudéssemos dormir tranqüilos. Nem sempre a caridade é o melhor caminho, e nem sempre podemos fazê-las nos moldes que parecem cartesianamente aceitos.
Ser bom pode ser não encher o saco de um bairro inteiro com sinos badalando de hora em hora, nem com gritarias de cultos. Pode ser não queimar lixo no seu pátio sabendo que a fumaça vai toda para a caso do vizinho e polui a atmosfera. Ser bom pode ser não fumar ao lado de quem não fuma. Pode ser até desejar que o maldito assassino seja morto na primeira emboscada, para salvar dezenas de outras vidas.
Bem, esta é a minha visão. E ninguém, nem instituição alguma, teísta, religioso, ateu ou místico, deveria fazer sequer ligação entre bondade ou auxílio ( seja lá de que tipo for ) à agradecimentos ou reconhecimento de espécie alguma. Muito menos se sentir reconfortado e quites com suas obrigações perantes Deus, dogmas, mandamentos e muito menos sua consciência.
Olhou, percebeu o problema, sentiu que deve e pode ajudar, ajuda. E acabou o assunto aí.
Por isto não suporto o espiritismo, essa coisa de dívida a quitar é
modus operandi que alimenta a babação em cima da famigerada boa ação. É humilhante e só engrandece o ego de alguns e enche o bolso de outros.