12/07/2007
Pagamos essa fábula a senadores da estirpe de Renan Calheiros, Leomar Quintanilha e, até sua renúncia, Joaquim Roriz -- é o Congresso mais caro do mundo
Por J. R. Guzzo
Nada mais difícil, hoje em dia, do que encontrar alguma coisa positiva, qualquer coisa que seja, em relação ao Congresso Nacional. É como o camelo da Bíblia. O bicho teria menos trabalho para passar pelo buraco de uma agulha do que um parlamentar brasileiro para entrar no reino dos céus -- ou, até, em lugares onde o ingresso exige méritos muito mais modestos. Justo agora, quando o presidente do Senado conduz em público uma calamitosa seqüência de truques para fugir ao julgamento sobre as acusações que pesam contra ele, a organização independente Transparência Brasil divulga um estudo demonstrando que o Parlamento brasileiro é o segundo mais caro do mundo em números absolutos (só fica abaixo do Congresso dos Estados Unidos, país com PIB 12 vezes maior que o do Brasil) e o mais caro de todos, quando se faz a conta per capita. Neste ano de 2007 os brasileiros estão tirando do bolso um pouco mais de 6 bilhões de reais para sustentar o Senado Federal e a Câmara dos Deputados -- o que significa, entre outros horrores, que cada um dos 513 deputados custa 6,6 milhões de reais por ano e cada um dos 81 senadores não fica por menos de 33 milhões.
A Transparência Brasil não pode ser acusada de "fascista", fazer parte da oposição ou servir às "elites". O estudo da organização é simplesmente um retrato numérico da degeneração que perverteu a vida política brasileira -- e quanto ela custa, em dinheiro, para o público em geral. Nada, nem mesmo um Congresso formado por 594 Churchills ou Rui Barbosas, justificaria tamanha aberração em termos de custo. No caso, em troca de 33 milhões de reais por ano, o que o povo leva, por exemplo, é um Renan Calheiros -- ou, para ficar só no Senado, um Leomar Quintanilha (que chegou à presidência do Conselho de Ética carregando no lombo processos por peculato, fraude, crimes fiscais e formação de quadrilha), um Joaquim Roriz (que renunciou, mas deixa a despesa com o suplente) e assim por diante. É dinheiro. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva levaria um susto se lhe mostrassem que um Calheiros, sozinho, custa num ano o suficiente para pagar umas 38 000 bolsas família, na nova média de 70 reais por mês para o beneficiário.
A história não fica melhor quando se vai para a Câmara dos Deputados, onde cada uma de suas excelências custa ao público 6,6 milhões de reais por ano -- e mais da metade delas tem algum problema com a Justiça. Dos 513 atuais deputados, segundo informa o jornal O Estado de S. Paulo, nada menos do que 268, protegidos pelo "foro privilegiado", respondem no momento a ações penais no Supremo Tribunal Federal. Nunca um parlamentar é condenado ali, o que faz a Câmara parecer cada vez mais um esconderijo para quem precisa escapar da polícia -- mais ou menos como a "Grota" do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. O desastre se completa com os números que a Transparência Brasil levantou para Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais. Os deputados estaduais consomem por ano outros 4,9 bilhões de reais, e mais de 1,4 bilhão vai para os vereadores. Os deputados estaduais mais caros, os de Brasília, ficam em 10 milhões anuais cada um. Os mais baratos andam na casa dos 2 milhões por ano. Quantos executivos, no Brasil, custam somas desse tamanho para as empresas privadas, por maiores que sejam? Estado forte é isso aí.
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