jcceptico escreveu:Diferente de vampiro, que é só uma entidade, deus, não é tão simples, é muito abstrato.
Existem diversas variações de descrições semelhantes, muitas delas especulam um deus que não é uma entidade como essas e sim toda a existência e o inicio dela, a fonte misteriosa de onde ela jorra.
Como apontei anteriormente, essa idéia de divindade abstrata e cada vez mais distante de concepções populares de deus pessoal é uma construção cultural que pode ser traçada historicamente. A influência aristotélica de conceitos como "motor imóvel" sobre o Deus Judaico-Cristão é um exemplo de maior abstração. Místicos cristãos como Meister Eckhart falando que Deus é o "grande vazio" é outra.
E finalmente, não há nenhum princípio ditando que uma divindade mais abstrata é extremamente mais plausível que uma mais concreta. Um dragonete invisível e sem massa é uma entidade mais abstrata do que um porco de três cabeças, entretanto julgo que você aceitaria sem pestanejar que a hipotética criatura mais concreta é a mais plausível de existir.
jcceptico escreveu:um universo que pensa e se origina de uma alma universas...
Não possuímos a menor razão para acreditar em algo assim, a evidência aponta que o Universo é fundamentalmente estúpido.
jcceptico escreveu:Acredito que por influência da wicca, ela enfeite mais isso, fala sobre a mãe terra, que pra ela é só mais uma das materializações do divino cósmico, encarnado na própria terra.
Podemos contemplar o Universo e reverenciá-lo como algo sagrado sem cair em superstições e crenças
New Age sem fundamentos empíricos. O repertório literário da divulgação científica do astronônomo Carl Sagan, por exemplo, é profundamente místico e contemplativo apesar de ser também profundamente naturalístico.
jcceptico escreveu:Acho que o universo não pensa... acho sem ter certeza...
Eu tenho certeza, no sentido probabilístico que comentei anteriormente. Dada a altura do campeonato, é profundamente improvável que o Universo seja sentiente. Nós nunca projetamos ainda nada sentiente, mas todas as coisas que projetamos que imitam coisas inteligentes como sistemas de reconhecimento de padrões que aprendem com experiência são extremamente complexas. E o nosso cérebro é o artefato mais complexo do Universo conhecido.
jcceptico escreveu:nem sei o que é consciência direito
Ainda é uma das grandes questões em aberto, e na minha opinião a mais fascinante.
jcceptico escreveu:Não consigo entender consciência sem livre arbitrio e sem livre arbitrio quem pensa não sou eu e sim o universo.
Você é parte do Universo e seus processos de tomada de decisão dependem diretamente de partes de você que são fundamentalmente não-pensantes. Ainda sim, você como um todo é muito mais livre que suas partes, ainda mais com sua notável capacidade de antever mentalmente cenários hipotéticos do futuro para avaliar o melhor curso a ser tomado.
jcceptico escreveu:O espaço infinito também é algo muito esquisito, existem teorias que falam sobre muitiversos (teoria M) com infinitos universos iguais ao nosso. A idéia de matéria infinita e espaço infinito também é ilógica. Tempo relativo também não é muito fácil de entender.
Conclusões contra-intuitivas do empreendimento científico são difíceis de aceitar por consequência de hábitos mentais inatos, mas educação, criatividade e esforço é capaz de contornar essas dificuldades até certo grau e nos estimular a pensar nessas questões com novos horizontes.
E depois, mesmo com todas as conclusões científicas estranhas do século passado, a dependência ontológica entre mente e cérebro só foi cada vez mais fortalecida por avanços em neurocirurgia e ciências cognitivas. A estranheza da física moderna não dá o menor suporte para a idéia de uma mente que pode pensar sem um tempo para pensar e estar em lugar nenhum e que ainda por cima criou o Universo e deseja manter relacionamentos pessoais com seres sentientes.
jcceptico escreveu:Se você pensar bem, nem o que é consciência entendemos direito
É o problema mais difícil das neurociências. Mas avançamos bastante desde a revolução das ciências cognitivas há 30 anos.
jcceptico escreveu:muito menos o que seria a consciência de um deus que é algo tão diferente de nós.
Na altura de um campeonato, a idéia de poder existir algo que pensa, tem vontades, ambições e impulsos morais por si próprio, de forma basal, fundamental, sem uma complicada arquitetura por trás, é totalmente incoerente.
jcceptico escreveu:Não é por não entendermos que devemos negar as alternativas, na origem são todas malucas, sejam vivas ou mortas.
Os modelos cosmológicos de origem definitiva do Universo que possuímos possuem poder explanatório e preditivo melhor que a hipótese de um deus.
jcceptico escreveu:Sobre o agnosticismo ser melhor que o ateismo, eu não soube me expressar. Eu quiz dizer que é uma opção mais cética, uma opção que não pretender dar respostas a perguntas que não temos conhecimento que baste para responder. Concordam ou não?
Mais uma vez, não concordo, primeiramente porque agnosticismo não está em oposição ao ateísmo, os dois posicionamentos são filosoficamente distintos; um é uma teoria epistemológica que dita que o sobrenatural é inatingível pela razão humana e o outro, uma asserção metafísica da existência ou não de deuses. Um agnóstico ou é ateu ou é teísta.
Apesar de eu ter sido um agnóstico durante vários anos, hoje julgo o posicionamento incoerente. Existe informação suficiente sim para julgarmos a hipótese da existência de um deus. Conceitos de deus extremamente vagos e abstratos projetados para resistir a essa análise podem ser descartados pelo não-cognitivismo, o fato de serem hipóteses sem a menor utilidade e possibilidade de serem falseadas.