KARDECISMO & Racismo - Perfectibilidade da raça negra

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Cabula
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Re: Re.: KARDECISMO & Racismo - Perfectibilidade da raça

Mensagem por Cabula »

Botanico escreveu:
Botanico escreveu:Pois muito bem: nos tempos de Kardec, dizer que havia raças superiores e inferiores era um FATO tão óbvio ululante quanto dizer que há pessoas fisica e mentamente normais e outras pessoas deficientes física e/ou mentalmente.

Fernando Silva escreveu:Para as pessoas do tempo de Kardec, tudo bem, elas estavam limitadas ao que aprenderam durante aquela reencarnação, mas os espíritos não eram "do tempo de Kardec". Eles tinham acesso a todas as memórias de séculos atrás. Será que suas milhares de encarnações anteriores não lhes ensinaram nada?

Ensinaram sim. Colocaram que a reencarnação não era restrita a sexo, povo, raça ou condição social. Todos estavam sujeitos a ela e não haveria exceções para ninguém. Como Kardec colocou na Genese, isso liquidava os preconceitos de castas e RAÇAS.
Agora quanto a dizer que NÃO HAVIA RAÇAS, que tudo era só aparência, etc e tal, que geneticamente é tudo igual, igualzinho a um caminhão cheio de japonês (RACISMO!) NÃO ERA POSSÍVEL.
Não havia como apresentarem tal conceito. Como dizer que as raças não existem se todos viam essas raças, se não ao vivo, ao menos desenhadas e fotografadas? Como falar de genética, se Mendel nem havia publicado os seus trabalhos ainda (e mesmo quando o fez, isso não adiantaria nada)? Se não havia negros atuando como brilhantes cientistas reconhecidos, nem construindo cidades de alvenaria, nem fazendo navios de guerra e canhões poderosos, como dizer que os negros eram indistinguíveis intelecualmente dos brancos? Mesmo que houvessem dito isso, sem um mínimo de embasamento real, Kardec rejeitaria tal revelação, pois felizmente, ele não era vaquinha de presépio.


Fernando Silva escreveu:Será que os espíritos "brancos" nunca tiveram contacto com um espírito "negro" para constatar que a diferença era apenas cultural e física?

Não só tiveram, como reencarnaram como negros, chineses, japoneses e outros "eses". O problema é que não tinham como demonstrar ao Kardec de forma palpável e verificável, que as diferenças entre as raças restringia-se apenas à aparência física, mas intelectual e moralmente, as diferenças não existiriam.

Fernando Silva escreveu:Em 1862 já havia quem lutasse pelo fim da escravidão e pela igualdade entre etnias.
Será que não dava para escolher um sujeito mais esclarecido que Kardec para servir de porta-voz?

Onde foi que Kardec defendeu a escravidão e a desigualdade (de tratamento) entre as etnias?


isso demonstra que a doutrina nada mais é do que coisas vindas dos pensamentos humanos e não de espírito superiores, que poderiam falar a verdade mesmo se ainda não tivesse sido testadas pelos homens

Deus é um só...
...mas com várias caras: uma para cada religião
O homem é um animal inteligente o bastante para criar o seu próprio criador
Ei, porque acreditar em alguem que pune todos os descendentes e também todos os animais por causa da desobediência de dois indivíduos?

Condenado
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Re: Re.: KARDECISMO & Racismo - Perfectibilidade da raça

Mensagem por Condenado »

Botanico escreveu:Ensinaram sim. Colocaram que a reencarnação não era restrita a sexo, povo, raça ou condição social. Todos estavam sujeitos a ela e não haveria exceções para ninguém. Como Kardec colocou na Genese, isso liquidava os preconceitos de castas e RAÇAS.
Agora quanto a dizer que NÃO HAVIA RAÇAS, que tudo era só aparência, etc e tal, que geneticamente é tudo igual, igualzinho a um caminhão cheio de japonês (RACISMO!) NÃO ERA POSSÍVEL.
Não havia como apresentarem tal conceito. Como dizer que as raças não existem se todos viam essas raças, se não ao vivo, ao menos desenhadas e fotografadas? Como falar de genética, se Mendel nem havia publicado os seus trabalhos ainda (e mesmo quando o fez, isso não adiantaria nada)? Se não havia negros atuando como brilhantes cientistas reconhecidos, nem construindo cidades de alvenaria, nem fazendo navios de guerra e canhões poderosos, como dizer que os negros eram indistinguíveis intelecualmente dos brancos? Mesmo que houvessem dito isso, sem um mínimo de embasamento real, Kardec rejeitaria tal revelação, pois felizmente, ele não era vaquinha de presépio.


Engraçado, já que existiram pessoas que fizeram isso, apresentaram a idéia a primeira vez, conseguiram explicar bem a idéia, tanto é assim que hoje em dia ela é a idéia predominante. Inclusive, por sinal, na época da chamada "codificação", já existiam mesmo países que proibíam a escravidão com base na argumentação de que negros e brancos eram iguais. Mas ainda assim seria tão difícil para os espíritos explicarem esta idéia??? Mais difícil que explicar para um bando de cristãos do século XIX que o inferno não existe, que morremos mais continuamos vivos em outra "forma" e que, inclusive, existe vida em outros planetas???

E por que não é difícil agora defender esta idéia, já que os índios não constroem aviões ou qualquer tipo de maquinário e, ainda assim, são considerados seres iguais a nós...

Os abolicionistas/equalitariastas não precisaram da genética para explicar a igualdade entre negros e brancos, eles simplesmente demostraram que os sentimentos e raciocínios básicos de um homem negro e branco não diferiam em nada. E ainda assim era difícil para os espíritos, tão sábios e portando tantas revelações chocantes, explicar isso para Kardec de forma que ele não defendesse idéias racistas?

No mínimo, isso é estranho Botânico, principalmente se levarmos em conta que Kardec supostamente tinha uma "missão", designada por uma "administração superior"/"espíritos superiores"/"espiritualidade" de trazer uma religião mais adequada/desenvolvida para a época, com as revelações do "consolador prometido". Ou a "espiritualidade" considerava que era informação mais importante para os homens da época que um espírito podia pintar através de um médium do que a informação de que eles estavam escravizando, maltratando e matando seres iguais a eles?

Botânico escreveu:Onde foi que Kardec defendeu a escravidão e a desigualdade (de tratamento) entre as etnias?


Vamos ver... O texto de abertura deste fórum foi publicado onde mesmo?
Vamos ver de novo o que o texto dizia:
"Os negros, pois, como organização física, serão sempre os mesmos; como Espíritos, sem dúvida, são uma raça inferior, quer dizer, primitiva; são verdadeiras crianças às quais pode-se ensinar muito coisa; mas, por cuidados inteligentes, pode-se sempre modificar certos hábitos, certas tendências, e já é um progresso que levarão numa outra existência, e que lhes permitirá, mais tarde, tomar um envoltório em melhores condições".

O pequeno trecho selecionado só diz que os negros, como "organização física", ou "raça", são inferiores, e que, se os espíritos inferiores que ali estão aprenderem direitinho, em uma próxima vida podem vir mais "enbranquecidos". Logo, hoje, quem é negro é um espírito inferior e quem é branco já é mais "esclarecido". Logo, podemos saber quem é mais "evoluído espiritualmente" pela tonalidade de sua pele... Logo, se alguém é "menos evoluído", não se pode esperar que reaja ou entenda o mesmo tratamento que vc daria a um "mais evoluído" (tente treinar da mesma forma um homem e um cachorro que este argumento é rapidamente comprovado). Logo, temos diferença de tratamento...

E isso não é racismo, botânico?

Importante notar, inclusive, que este comportamento inicial traz sim ecos no espiritismo atual, haja visto os esforços da linha kardecista de ser considerada a única "espírita" (as outras seriam "espiritualistas") e a questão que fazem em ressaltar o máximo possível as diferenças desta em relação a religiões menos "brancas e cultas" como a Umbanda e o Candomblé, ainda que guardem com estas diversas semelhanças dogmáticas, metodológicas e doutrinárias.

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Botanico
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Re: Re.: KARDECISMO & Racismo - Perfectibilidade da raça

Mensagem por Botanico »

Botanico escreveu:
Fernando Silva escreveu:Em 1862 já havia quem lutasse pelo fim da escravidão e pela igualdade entre etnias.
Será que não dava para escolher um sujeito mais esclarecido que Kardec para servir de porta-voz?

Onde foi que Kardec defendeu a escravidão e a desigualdade (de tratamento) entre as etnias?


Fernando Silva escreveu:Com isto, eu quis dizer que o conceito de igualdade já existia na época e muitos o defendiam. Não seria um absurdo para Kardec se os tais espíritos o confirmassem.

Sem querer ser chato, meu caro Fernando, mas esse "conceito de igualdade" tinha que grau de abrangência? Eu duvido que esses "igualitaristas" defendessem a não-existência de raças ou a igualdade de aptidões absoluta entre as raças, total contradição com a realidade aparente da época. O que eu acredito que defendessem (não tenho textos deles à mão, tem você algum link para me indicar? Apesar de eu ter muita coisa para fazer, talvez arrume tempo para dar uma lida) é a igualdade de DIREITO e não de fato. Assim, qualquer indivíduo, de qualquer raça, sexo ou condição social, teria perante a lei os mesmos direitos e deveres. Só que isso também era o que Kardec acreditava e foi o que os espíritos lhe confirmaram.

Fernando Silva escreveu:E por que Kardec aceitou tantas revelações espantosas sem questionar e não aceitaria se lhe dissessem que todos são iguais independente da etnia?

Onde foi que lhe disseram que Kardec aceitou revelações espantosas SEM QUESTIONAR? Exatamente o contrário, ô meu! Kardec discutia com os espíritos e se algum ponto não estava claro, nem bem explicado, ele o deixava de lado, em "quarentena". Usualmente servia-se de vários médiuns e de espíritos distintos, de onde estabeleceu o princípio de generalidade e concordância. Se vários espíritos, falando por diferentes médiuns tinham concordância sobre um determinado ensino, então este poderia ser considerado um ensino dos espíritos. Se um espírito tinha uma opinião sobre um caso e outro tinha opinião contrária, então seriam opiniões particulares, sobre as quais não se poderia firmar um ensinamento.

Como já disse, não havia como ir contra algo que parecia um fato óbvio (a desigualdade entre raças e povos) sem ter ao menos como demonstrar. Kardec então colocaria tal ensinamento como opinião particular e talvez como "descabida".


Fernando Silva escreveu:Sua opinião prevalecia sobre a deles? Que confiabilidade têm os textos que ele nos deixou?


Aproveitando o questionamento seguinte:

Cabula escreveu:Isso demonstra que a doutrina nada mais é do que coisas vindas dos pensamentos humanos e não de espírito superiores, que poderiam falar a verdade mesmo se ainda não tivesse sido testadas pelos homens


Kardec deu o grande pulo do gato sobre as revelações religiosas. Antes tinha-se o PRÓPRIO DEUS, falando a profetas eleitos para serem os reveladores da vontade e dos ensinamentos do Divino e com total garantia de exatidão e infabilidade. Assim temos a exata e infalível Bíblia, tida e havida como absolutamente verdadeira em TUDO sobre o que se manifesta. Assim me disseram apologetas evangélicos.

Mas na Bíblia temos erros científicos, coisas em contradição com os fatos, ensinos e atos divinos de natureza moral muito questionável, etc e tal, bem como profetas e "homens de Deus" aos quais Hitler adoraria ter em seus quadros, se não fosse o defeito de serem judeus.

Como explicar isso?

Foi o que Kardec percebeu: os deuses e profetas nada mais eram do que espíritos e médiuns. E os tais espíritos nada mais eram do que HUMANOS sem o corpo físico. Mas como ele pôde constatar experimentalmente, ELES CONSERVAVAM A MESMA INTELIGÊNCIA E MORALIDADE que tinham quando em vida (exceto se melhoraram e mudaram seu jeito de ser e pensar _ o progresso também ocorre além-túmulo). Assim então ficou claro para Kardec que estava lidando com gente como a gente.

Questão de confiabilidade dos ensinos... Bem, como é que você confia nos ensinos que recebe de outros humanos? Alguns podem ser mais científicos, mais concretos; já outros são mais filosóficos, estão mais nas interpretações e visões pessoais de seus autores.
Um petista adoraria uma aula de Marilena Chauí; um pessedebista adoria uma masturbação sociológica do Fernando Henrique, o Garboso. E você? Os petistas e seus aliados confiam plenamente quando Lula fala que não sabe de nada. Eu o acho um cínico.

E assim, tendo decifrado o enigma da revelação divina e seus porta-vozes, Kardec então agiu com eles da mesma forma que agiria com uma banca de sábios de qualquer universidade. Assim portanto, deixou a brecha para o Espiritismo:
O que foi ensinado pode ser verdadeiro sempre, ou verdadeiro naquele momento e depois novos fatos o desmentiriam, exigindo reformulação. O mesmo já não acontece com os infalíveis dogmas da fé cristã...

Portanto, se o que Kardec falou sobre raças em sua época hoje já caducou, então caducou e vamos adiante com os fatos novos. Assim é que caminha o Espiritismo, gostem os céticos ou não.

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Shanaista
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Re: Re.: KARDECISMO & Racismo - Perfectibilidade da raça

Mensagem por Shanaista »

Botanico escreveu:Provavelmente sim, pois desde sua promulgação, tivemos outras constituições, mudança de regime político e, uma vez liquidada a escravidão negra, ela já não teria mais sentido figurar no texto constitucional atual na forma que foi feita.

ou seja... a força do estado tem mais valia que os mandamentos de um deus ou seus intermediarios! :emoticon5:

interessante isso...

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Botanico
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Re: Re.: KARDECISMO & Racismo - Perfectibilidade da raça

Mensagem por Botanico »

Shanaista escreveu:
Botanico escreveu:Provavelmente sim, pois desde sua promulgação, tivemos outras constituições, mudança de regime político e, uma vez liquidada a escravidão negra, ela já não teria mais sentido figurar no texto constitucional atual na forma que foi feita.

ou seja... a força do estado tem mais valia que os mandamentos de um deus ou seus intermediarios! :emoticon5:

interessante isso...


Pois é! Nos primeiros tempos do Cristianismo, este era ilegal e muito cristão virou ração de leão e outros morreram de forma pior... Mas no fim, o Império Romano se tornou cristão. A força de uma coisa pode não ser aparente, mas se é mais forte que outra, ganha.

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Botanico
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Re: Re.: KARDECISMO & Racismo - Perfectibilidade da raça

Mensagem por Botanico »

Botanico escreveu:Ensinaram sim. Colocaram que a reencarnação não era restrita a sexo, povo, raça ou condição social. Todos estavam sujeitos a ela e não haveria exceções para ninguém. Como Kardec colocou na Genese, isso liquidava os preconceitos de castas e RAÇAS.
Agora quanto a dizer que NÃO HAVIA RAÇAS, que tudo era só aparência, etc e tal, que geneticamente é tudo igual, igualzinho a um caminhão cheio de japonês (RACISMO!) NÃO ERA POSSÍVEL.
Não havia como apresentarem tal conceito. Como dizer que as raças não existem se todos viam essas raças, se não ao vivo, ao menos desenhadas e fotografadas? Como falar de genética, se Mendel nem havia publicado os seus trabalhos ainda (e mesmo quando o fez, isso não adiantaria nada)? Se não havia negros atuando como brilhantes cientistas reconhecidos, nem construindo cidades de alvenaria, nem fazendo navios de guerra e canhões poderosos, como dizer que os negros eram indistinguíveis intelectualmente dos brancos? Mesmo que houvessem dito isso, sem um mínimo de embasamento real, Kardec rejeitaria tal revelação, pois felizmente, ele não era vaquinha de presépio.


Condenado escreveu:Engraçado, já que existiram pessoas que fizeram isso, apresentaram a idéia a primeira vez, conseguiram explicar bem a idéia, tanto é assim que hoje em dia ela é a idéia predominante. Inclusive, por sinal, na época da chamada "codificação", já existiam mesmo países que proibíam a escravidão com base na argumentação de que negros e brancos eram iguais. Mas ainda assim seria tão difícil para os espíritos explicarem esta idéia??? Mais difícil que explicar para um bando de cristãos do século XIX que o inferno não existe, que morremos mais continuamos vivos em outra "forma" e que, inclusive, existe vida em outros planetas???

Parece-me que o pessoal aqui adora trocar as bolas. Ser contrário à escravidão não era o mesmo que admitir absoluta igualdade racial. Olha só o seu texto mais abaixo: "... sentimentos e RACIOCÍNIOS BÁSICOS de um homem negro e branco não diferiam em nada." Raciocínios BÁSICOS, então com essa ressalva, devo supor que os raciocínios COMPLEXOS não estariam contemplados? Quer dizer, o negro poderia resolver uma conta de 2 + 2, mas só um branco saberia calcular a raiz quadrada de 24568?

Pelo que senti dessa celeuma toda por aqui é o PAVOR DE RECONHECER AS DIFERENÇAS. Uma coisa óbvia é que NÃO HÁ SER HUMANO QUE SEJA IGUAL A OUTRO. Há diferenças, mas pelo fato de estas terem sido lembradas e usadas como justificativas para crimes pelo simples fato de existirem, hoje elas se tornaram politicamente incorretas. Virou palavrão até. Eu, que sou branco, dizer que meu amigo livreiro lá da FEESP é diferente de mim porque além de ser outra pessoa, é negro, agora virou crime de racismo. Quando nada mais é do que o óbvio ululante: somos duas pessoas; dois seres humanos e não há dois iguais nesse planeta. Nem os gêmeos são iguais.
O lance é ACEITAR O DIFERENTE E NÃO FINGIR QUE A DIFERENÇA NÃO EXISTE.


Condenado escreveu:E por que não é difícil agora defender esta idéia, já que os índios não constroem aviões ou qualquer tipo de maquinário e, ainda assim, são considerados seres iguais a nós...

Os abolicionistas/equalitariastas não precisaram da genética para explicar a igualdade entre negros e brancos, eles simplesmente demonstraram que os sentimentos e raciocínios básicos de um homem negro e branco não diferiam em nada. E ainda assim era difícil para os espíritos, tão sábios e portando tantas revelações chocantes, explicar isso para Kardec de forma que ele não defendesse idéias racistas?

Como eu disse, o contexto de sua época dificultava certas exposições. Kardec pôde entender "coisas chocantes" porque elas faziam sentido quando devidamente explicadas. Agora veja lá: os espíritos disseram que as pessoas SÃO IGUAIS, perante Deus e o Direito. Veja lá o que diz o Livro dos Espíritos quanto à questão da escravidão: é um crime. Kardec até tentou argumentar: _ Mas e aquele que tratam bem os seus escravos? Resposta: _ O fazem pelo mesmo motivo que alguém trataria bem o seu gado.

O Kardec era humano e disse muita coisa boa, mas como o que interessa por aqui é só a avacalhação, então pega-se esses textos e com eles se pretende demolir todo o resto. Certo ou errado, Kardec reconheceu as diferenças, mas não fez delas motivos para discriminação.


Condenado escreveu:No mínimo, isso é estranho Botânico, principalmente se levarmos em conta que Kardec supostamente tinha uma "missão", designada por uma "administração superior"/"espíritos superiores"/"espiritualidade" de trazer uma religião mais adequada/desenvolvida para a época, com as revelações do "consolador prometido". Ou a "espiritualidade" considerava que era informação mais importante para os homens da época que um espírito podia pintar através de um médium do que a informação de que eles estavam escravizando, maltratando e matando seres iguais a eles?

Como eu disse, leia o Livro dos Espíritos. Lá irá encontrar condenações à escravidão. Idem também quanto às leis morais. Seria bom você se inteirar do conjunto da obra e não apenas dos trechos que interessam aos avacalhadores.

Botânico escreveu:Onde foi que Kardec defendeu a escravidão e a desigualdade (de tratamento) entre as etnias?


Condenado escreveu:Vamos ver... O texto de abertura deste fórum foi publicado onde mesmo?
Vamos ver de novo o que o texto dizia:
"Os negros, pois, como organização física, serão sempre os mesmos; como Espíritos, sem dúvida, são uma raça inferior, quer dizer, primitiva; são verdadeiras crianças às quais pode-se ensinar muito coisa; mas, por cuidados inteligentes, pode-se sempre modificar certos hábitos, certas tendências, e já é um progresso que levarão numa outra existência, e que lhes permitirá, mais tarde, tomar um envoltório em melhores condições".

O pequeno trecho selecionado só diz que os negros, como "organização física", ou "raça", são inferiores, e que, se os espíritos inferiores que ali estão aprenderem direitinho, em uma próxima vida podem vir mais "enbranquecidos". Logo, hoje, quem é negro é um espírito inferior e quem é branco já é mais "esclarecido". Logo, podemos saber quem é mais "evoluído espiritualmente" pela tonalidade de sua pele... Logo, se alguém é "menos evoluído", não se pode esperar que reaja ou entenda o mesmo tratamento que vc daria a um "mais evoluído" (tente treinar da mesma forma um homem e um cachorro que este argumento é rapidamente comprovado). Logo, temos diferença de tratamento...

E isso não é racismo, botânico?

Sim, é. Não estou negando. Mas HOJE sabemos que essa diferença, que parecia óbvia nos tempos de Kardec, era só aparente. Naqueles tempos não havia negros em faculdades e no comando de nações. Hoje há. Então fica claro que aquela percepção de Kardec de que "as raças inferiores também seriam propícias a abrigar espíritos inferiores" estava errada. O material humano é idêntico em seus potenciais. Então chegamos à conclusão de que KARDEC ERROU. E nós espíritas nunca dissemos que ele fosse infalível. Kardec não é Moisés, nem Jesus, nem Mulamad, nem Buda, nem nenhum profeta infalível de Deus. Foi só o "primeiro espírita" e depois tornou-se só mais um no bando.

Condenado escreveu:Importante notar, inclusive, que este comportamento inicial traz sim ecos no espiritismo atual, haja visto os esforços da linha kardecista de ser considerada a única "espírita" (as outras seriam "espiritualistas") e a questão que fazem em ressaltar o máximo possível as diferenças desta em relação a religiões menos "brancas e cultas" como a Umbanda e o Candomblé, ainda que guardem com estas diversas semelhanças dogmáticas, metodológicas e doutrinárias.

Sou obrigado a discordar. Antes de mais nada temos a questão de ORIGEM.
O Espiritismo foi codificado pelo Kardec. Sua data de nascimento é 18 de abril de 1857. A Umbanda e os outros cultos afro-católicos, têm origem desde os tempos da escravidão negra. Frederico Viotti, da catolicíssima Frente Universitária Lepanto, insistiu comigo que a escravidão teve O SEU LADO BOM, pois foi uma OPORTUNIDADE DE EVANGELIZAR... É, meu caro, de acordo com ele, o escravo era maltratado, humilhado, obrigado a trabalhar sem descanso, mas era muito mais feliz que seu irmão livre lá na África, pois PÔDE OUVIR A MENSAGEM DE JESUS! Bem, ele também trazia consigo o seu fetichismo tribal, mas era obrigado a se batizar, confessar, comungar, crismar... Com o que estava acostumado e com o que estava obrigado, ficou com as duas coisas. Assim o padre e padrão, felizes da vida viam a horda escravizada ajoelhar-se e rezar diante da imagem da Nossa Senhora. O padre, estava feliz, pois cumprira seu dever de sacerdote e apóstolo de levar novas almas a Cristo (se é que eles achassem que os negros tinham alma, mas o mais importante era mantê-los na linha, conformados, que aguardassem sua recompensa no Céu e não permitir heresias no ambiente da senzala) e o padrão ficava também feliz da vida, pois contribuíra para a evangelização e assim seus pecados venais (estupro de meninas negras, espancamentos, humilhações e tudo o mais que fazia contra os negros, seria perdoado pelo Senhor).

Podiam ver os gestos, as rezas, etc, MAS NÃO PODIAM VER SEUS CORAÇÕES. Ajoelhavam-se diante da Nossa Senhora... mas rezavam a IEMANJÁ! Foi esse o grande passa moleque que os negros fizeram com os padres: disfarçaram sua religião fetichista com os adornos católicos.

A suposta SEMELHANÇAS entre esses cultos afro-católicos e o Espiritismo não são o bastante para dizer que sejam a MESMA COISA. Não aprovamos sacrifícios de animais, nem rituais complicados, nada disso. O mediunismo é o ponto comum, mas as diferenças justificam eles lá e nós cá.

Trancado