Liberdade de culto, crença e religião.

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Condenado
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Mensagem por Condenado »

Joe escreveu:O interessante é que Acauan que é ateu sabe mais do que o próprio docdeoz que é religioso sobre a religião deste. Como alguém pode seguir uma religião e não sabe de nada?

Essa é a realidade dos cristãos e religiosos hoje.


Mas se vc quer ter uma conversa aproveitável e bem informada sobre teoria e história religiosa com certeza é melhor tê-la com um ateu do que com um religioso, a probabilidade de encontrar alguém com estes conhecimentos entre ateus é incrivelmente maior do que entre religiosos. Quem conhece demais qualquer religião acabar por largá-la, só permanecem os que estão de alguma forma lucrando com ela, ou os que não a conhecem o suficiente para encontrar suas contradições.

Condenado
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Re: Liberdade de culto, crença e religião.

Mensagem por Condenado »

Apo escreveu:Até que ponto a famigerada liberdade de culto e crença religiosos devem ser respeitados quando o consenso geral de um grupo maior é de que os seres humanos estão sendo alijados de sua liberdade de pensamento individual, da chance de tomar conhecimento de outras formas de ver e viver a vida, de serem felizes e optar por seus destinos, independente do que os "pastores" impõem a ferro e fogo ao seu rebanho?

A questão é que este "grupo maior" é também heterogêneo.

Por exemplo, crianças são vítimas indefesas através da manipulação, da força e da opressão física e mental dos seus "responsáveis". Elas ainda não têm discernimento ou vontade própria para se esquivar de práticas e dogmas perniciosos ou, no mínimo, omissivos.

Se existem Direitos Humanos e as crianças dispõem de um direito inalienável de serem cuidadas e protegidas ( viver à cabresto e com proibições pecaminosas não seria cuidado e proteção...), como estes direitos são esquecidos em nome da liberdade de crença e religião? O que é mais importante e merecedor de aplicação de fato?

Uma seita religiosa que permita crianças se drogarem com substâncias nocivas ou que apoie o sexo envolvendo-as, ou a religião que acha certo apedrejar ou cincuncizar meninos e meninas, deve ser tolerada , em nome da liberdade de crença e religião?

E os maus-tratos e abusos com as crianças? Passam a ficar em segundo plano?

O mesmo se aplica ao dever dos médicos de salvar uma vida. Se os TJ não permitem a transfusão de sangue, como o médico pode exercer seu dever profissional? E o meu dever civil de prestar socorro, sob pena de omissão se assim eu não o fizer, se for urgente alguma prática não aceita pela religião do necessitado?

E o patrão que emprega e não pode contar com o funcionário porque ele é sabatista? Isto no final de um determinado período faz toda a diferença, fora a questão da diferença de tratamento dada aos demais funcionários...

A escola recebe o aluno sabatista e precisa se moldar à datas de trabalhos e provas, ou aplicar num dia diferente só para aquele aluno? E os colegas, que se adequem ao descando semanal de um membro do grupo? A escola não pode, por lei, negar-se a receber o aluno.

Até onde a tal liberdade de expressão de cunho religioso deve ser respeitada e tolerada, já que os que se aliam à crença, religião e preceitos querem e precisam de alguma forma, participar da vida escolar, do mercado de trabalho, da vida civil como um todo complexo, regido por outras leis ?

A meu ver isto é um abuso e uma tirania.

Mas por que será que de forma geral, vamos todos aceitando e respeitando estas definições e não fazemos nada? Porque a lei permite que haja múltipla interpretação de direitos e deveres e não queremos nos incomodar?


Ou estamos todos na verdade de certa forma com o rabo preso e com medo? Se for medo, medo de quê?

A religião está presente em nossos cotidianos, basta que a gente saia de casa ou ligue-se no mundo. A confrontação pode resultar em coisa não muito boa. Preferimos dizer que "respeitamos" o pensamento do colega, vizinho, amigo ou parente, porque senão a guerra é líquida e certa.

Como todos aqui sabem, pois falei abertamente, morreu minha melhor amiga. Sempre convivemos e nunca tocamos em assuntos de religião, que não fosse para brincar. Eu e ela éramos de famílias católicas apostólicas e romanas. Ela seguiu para o Espiritismo ( foi com ela que conheci um pouco da DE e compartilhei algumas sessões de passes ), e eu fui me afastando lentamente de tudo ( depois de rodar de uma missa para um Seicho-No-Ie, passando pelo pai-de-santo e banhos de descarrego, até cirurgia espiritual ).

Ela se foi e permaneceu agarrada em seu terço cor-de-rosa até o último dia.

Fui ao enterro no cemitério onde está toda a minha família enterrada. Católico, obviamente. Senti-me um peixe fora d'água.
Fui avisada pela marido e por outra amiga sobre a missa de Sétimo Dia e desta vez, não compareci.

Não vejo porque isto faça diferença no que vivemos juntas e muito menos a quem eu deva satisfações, a não ser à minha consciência.

Mas as reações pós minha ausência na missa foram de desprezo.

E eu realmente não estou nem aí para isto.


Apo, o problema é que, se vc restringe a liberdade de culto e crença, vc restringirá necessariamente em favor de um grupo específico (ou escolho uma religião, e a favoreço, ou restrinjo todas, e favoreço aos não-religiosos).

Mas olha bem, estou falando da verdadeira liberdade de culto, não há praticada no Brasil, que na verdade é a total liberdade para os cultos e não verdadeiramente de culto. Como já foi falado aqui, a suposta liberdade de culto é na verdade uma liberdade dada a cada culto de impor suas práticas a quem quer que seja, e não a liberdade de as pessoas seguirem suas crenças.

Pressão social (como as pessoas te olhando torto por você não ter ido à Missa) sempre vai existir em qualquer grupo, caso você contrarie a crença predominante naquele grupo. Isso, infelizmente, é da natureza humana. No Brasil e na Suécia, as crenças são bem diferentes, mas a reação a quem as contesta é exatamente a mesma (tente contestar a instituição dos direitos humanos na Suécia que você pode perceber isso).

Mas, com certeza, a criação de privilégios por parte da lei é um absurdo. Toda e qualquer religião deveria se curvar à lei básica do país: a lei estabelece que o médico deve salvar seu paciente, mas o paciente é TJ e os TJs não aceitam transfusão, sinto muito, o médico deveria ser obrigado a fazer a transfusão, e os pais e o paciente a aceitá-la. Um edital estabele um horário para concurso, e os adventistas não podem fazer neste horário, sinto muito, que procurem outro emprego se acham que não podem fazer uma prova antes do por do sol. A lei estabelece a separação entre igreja e estado, mas os deputados evangélicos acreditam que devem se unir sob suas crenças religiosas, sinto muito, então que renunciem ou se adaptem à lei e não misturem, em sua legislatura, suas crenças religiosas com suas obrigações temporais.

A resposta está muito mais no fortalecimento da estrutura e prática jurídicas do que na cultura em si. Culturalmente, sempre existirão problemas quanto às diferenças de crenças. Cabe à lei controlar estes problemas, evitando que daí surjam diferenças de tratamento.

Trancado