Repercussão do artigo de Luciano Huck
- Jack Torrance
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Repercussão do artigo de Luciano Huck
Pensamentos quase póstumos
LUCIANO HUCK
Pago todos os impostos. E, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas de chumbo na testa
LUCIANO HUCK foi assassinado. Manchete do "Jornal Nacional" de ontem. E eu, algumas páginas à frente neste diário, provavelmente no caderno policial. E, quem sabe, uma homenagem póstuma no caderno de cultura.
Não veria meu segundo filho. Deixaria órfã uma inocente criança. Uma jovem viúva. Uma família destroçada. Uma multidão bastante triste. Um governador envergonhado. Um presidente em silêncio.
Por quê? Por causa de um relógio.
Como brasileiro, tenho até pena dos dois pobres coitados montados naquela moto com um par de capacetes velhos e um 38 bem carregado.
Provavelmente não tiveram infância e educação, muito menos oportunidades. O que não justifica ficar tentando matar as pessoas em plena luz do dia. O lugar deles é na cadeia.
Agora, como cidadão paulistano, fico revoltado. Juro que pago todos os meus impostos, uma fortuna. E, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas de chumbo na testa.
Adoro São Paulo. É a minha cidade. Nasci aqui. As minhas raízes estão aqui. Defendo esta cidade. Mas a situação está ficando indefensável.
Passei um dia na cidade nesta semana -moro no Rio por motivos profissionais- e três assaltos passaram por mim. Meu irmão, uma funcionária e eu. Foi-se um relógio que acabara de ganhar da minha esposa em comemoração ao meu aniversário. Todos nos Jardins, com assaltantes armados, de motos e revólveres.
Onde está a polícia? Onde está a "Elite da Tropa"? Quem sabe até a "Tropa de Elite"! Chamem o comandante Nascimento! Está na hora de discutirmos segurança pública de verdade. Tenho certeza de que esse tipo de assalto ao transeunte, ao motorista, não leva mais do que 30 dias para ser extinto. Dois ladrões a bordo de uma moto, com uma coleção de relógios e pertences alheios na mochila e um par de armas de fogo não se teletransportam da rua Renato Paes de Barros para o infinito.
Passo o dia pensando em como deixar as pessoas mais felizes e como tentar fazer este país mais bacana. TV diverte e a ONG que presido tem um trabalho sério e eficiente em sua missão. Meu prazer passa pelo bem-estar coletivo, não tenho dúvidas disso.
Confesso que já andei de carro blindado, mas aboli. Por filosofia. Concluí que não era isso que queria para a minha cidade. Não queria assumir que estávamos vivendo em Bogotá. Errei na mosca. Bogotá melhorou muito. E nós? Bem, nós estamos chafurdados na violência urbana e não vejo perspectiva de sairmos do atoleiro.
Escrevo este texto não para colocar a revolta de alguém que perdeu o rolex, mas a indignação de alguém que de alguma forma dirigiu sua vida e sua energia para ajudar a construir um cenário mais maduro, mais profissional, mais equilibrado e justo e concluir -com um 38 na testa- que o país está em diversas frentes caminhando nessa direção, mas, de outro lado, continua mergulhado em problemas quase "infantis" para uma sociedade moderna e justa.
De um lado, a pujança do Brasil. Mas, do outro, crianças sendo assassinadas a golpes de estilete na periferia, assaltos a mão armada sendo executados em série nos bairros ricos, corruptos notórios e comprovados mantendo-se no governo. Nem Bogotá é mais aqui.
Onde estão os projetos? Onde estão as políticas públicas de segurança? Onde está a polícia? Quem compra as centenas de relógios roubados? Onde vende? Não acredito que a polícia não saiba. Finge não saber.
Alguém consegue explicar um assassino condenado que passa final de semana em casa!? Qual é a lógica disso? Ou um par de "extraterrestres" fortemente armado desfilando pelos bairros nobres de São Paulo?
Estou à procura de um salvador da pátria. Pensei que poderia ser o Mano Brown, mas, no "Roda Vida" da última segunda-feira, descobri que ele não é nem quer ser o tal. Pensei no comandante Nascimento, mas descobri que, na verdade, "Tropa de Elite" é uma obra de ficção e que aquele na tela é o Wagner Moura, o Olavo da novela. Pensei no presidente, mas não sei no que ele está pensando.
Enfim, pensei, pensei, pensei. Enquanto isso, João Dória Jr. grita: "Cansei". O Lobão canta: "Peidei".
Pensando, cansado ou peidando, hoje posso dizer que sou parte das estatísticas da violência em São Paulo. E, se você ainda não tem um assalto para chamar de seu, não se preocupe: a sua hora vai chegar.
Desculpem o desabafo, mas, hoje amanheci um cidadão envergonhado de ser paulistano, um brasileiro humilhado por um calibre 38 e um homem que correu o risco de não ver os seus filhos crescerem por causa de um relógio.
Isso não está certo.
LUCIANO HUCK, 36, apresentador de TV, comanda o programa "Caldeirão do Huck", na TV Globo. É diretor-presidente do Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opinia ... 200708.htm
LUCIANO HUCK
Pago todos os impostos. E, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas de chumbo na testa
LUCIANO HUCK foi assassinado. Manchete do "Jornal Nacional" de ontem. E eu, algumas páginas à frente neste diário, provavelmente no caderno policial. E, quem sabe, uma homenagem póstuma no caderno de cultura.
Não veria meu segundo filho. Deixaria órfã uma inocente criança. Uma jovem viúva. Uma família destroçada. Uma multidão bastante triste. Um governador envergonhado. Um presidente em silêncio.
Por quê? Por causa de um relógio.
Como brasileiro, tenho até pena dos dois pobres coitados montados naquela moto com um par de capacetes velhos e um 38 bem carregado.
Provavelmente não tiveram infância e educação, muito menos oportunidades. O que não justifica ficar tentando matar as pessoas em plena luz do dia. O lugar deles é na cadeia.
Agora, como cidadão paulistano, fico revoltado. Juro que pago todos os meus impostos, uma fortuna. E, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas de chumbo na testa.
Adoro São Paulo. É a minha cidade. Nasci aqui. As minhas raízes estão aqui. Defendo esta cidade. Mas a situação está ficando indefensável.
Passei um dia na cidade nesta semana -moro no Rio por motivos profissionais- e três assaltos passaram por mim. Meu irmão, uma funcionária e eu. Foi-se um relógio que acabara de ganhar da minha esposa em comemoração ao meu aniversário. Todos nos Jardins, com assaltantes armados, de motos e revólveres.
Onde está a polícia? Onde está a "Elite da Tropa"? Quem sabe até a "Tropa de Elite"! Chamem o comandante Nascimento! Está na hora de discutirmos segurança pública de verdade. Tenho certeza de que esse tipo de assalto ao transeunte, ao motorista, não leva mais do que 30 dias para ser extinto. Dois ladrões a bordo de uma moto, com uma coleção de relógios e pertences alheios na mochila e um par de armas de fogo não se teletransportam da rua Renato Paes de Barros para o infinito.
Passo o dia pensando em como deixar as pessoas mais felizes e como tentar fazer este país mais bacana. TV diverte e a ONG que presido tem um trabalho sério e eficiente em sua missão. Meu prazer passa pelo bem-estar coletivo, não tenho dúvidas disso.
Confesso que já andei de carro blindado, mas aboli. Por filosofia. Concluí que não era isso que queria para a minha cidade. Não queria assumir que estávamos vivendo em Bogotá. Errei na mosca. Bogotá melhorou muito. E nós? Bem, nós estamos chafurdados na violência urbana e não vejo perspectiva de sairmos do atoleiro.
Escrevo este texto não para colocar a revolta de alguém que perdeu o rolex, mas a indignação de alguém que de alguma forma dirigiu sua vida e sua energia para ajudar a construir um cenário mais maduro, mais profissional, mais equilibrado e justo e concluir -com um 38 na testa- que o país está em diversas frentes caminhando nessa direção, mas, de outro lado, continua mergulhado em problemas quase "infantis" para uma sociedade moderna e justa.
De um lado, a pujança do Brasil. Mas, do outro, crianças sendo assassinadas a golpes de estilete na periferia, assaltos a mão armada sendo executados em série nos bairros ricos, corruptos notórios e comprovados mantendo-se no governo. Nem Bogotá é mais aqui.
Onde estão os projetos? Onde estão as políticas públicas de segurança? Onde está a polícia? Quem compra as centenas de relógios roubados? Onde vende? Não acredito que a polícia não saiba. Finge não saber.
Alguém consegue explicar um assassino condenado que passa final de semana em casa!? Qual é a lógica disso? Ou um par de "extraterrestres" fortemente armado desfilando pelos bairros nobres de São Paulo?
Estou à procura de um salvador da pátria. Pensei que poderia ser o Mano Brown, mas, no "Roda Vida" da última segunda-feira, descobri que ele não é nem quer ser o tal. Pensei no comandante Nascimento, mas descobri que, na verdade, "Tropa de Elite" é uma obra de ficção e que aquele na tela é o Wagner Moura, o Olavo da novela. Pensei no presidente, mas não sei no que ele está pensando.
Enfim, pensei, pensei, pensei. Enquanto isso, João Dória Jr. grita: "Cansei". O Lobão canta: "Peidei".
Pensando, cansado ou peidando, hoje posso dizer que sou parte das estatísticas da violência em São Paulo. E, se você ainda não tem um assalto para chamar de seu, não se preocupe: a sua hora vai chegar.
Desculpem o desabafo, mas, hoje amanheci um cidadão envergonhado de ser paulistano, um brasileiro humilhado por um calibre 38 e um homem que correu o risco de não ver os seus filhos crescerem por causa de um relógio.
Isso não está certo.
LUCIANO HUCK, 36, apresentador de TV, comanda o programa "Caldeirão do Huck", na TV Globo. É diretor-presidente do Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opinia ... 200708.htm
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Opinião: Pensamentos de um "correria"
FERRÉZ
ELE ME olha, cumprimenta rápido e vai pra padaria. Acordou cedo, tratou de acordar o amigo que vai ser seu garupa e foi tomar café. A mãe já está na padaria também, pedindo dinheiro pra alguém pra tomar mais uma dose de cachaça. Ele finge não vê-la, toma seu café de um gole só e sai pra missão, que é como todos chamam fazer um assalto.
Se voltar com algo, seu filho, seus irmãos, sua mãe, sua tia, seu padrasto, todos vão gastar o dinheiro com ele, sem exigir de onde veio, sem nota fiscal, sem gerar impostos.
Quando o filho chora de fome, moral não vai ajudar. A selva de pedra criou suas leis, vidro escuro pra não ver dentro do carro, cada qual com sua vida, cada qual com seus problemas, sem tempo pra sentimentalismo. O menino no farol não consegue pedir dinheiro, o vidro escuro não deixa mostrar nada.
O motoboy tenta se afastar, desconfia, pois ele está com outro na garupa, lembra das 36 prestações que faltam pra quitar a moto, mas tem que arriscar e acelera, só tem 20 minutos pra entregar uma correspondência do outro lado da cidade, se atrasar a entrega, perde o serviço, se morrer no caminho, amanhã tem outro na vaga.
Quando passa pelos dois na moto, percebe que é da sua quebrada, dá um toque no acelerador e sai da reta, sabe que os caras estão pra fazer uma fita.
Enquanto isso, muitos em seus carros ouvem suas músicas, falam em seus celulares e pensam que estão vivos e num país legal.
Ele anda devagar entre os carros, o garupa está atento, se a missão falhar, não terá homenagem póstuma, deixará uma família destroçada, porque a sua já é, e não terá uma multidão triste por sua morte. Será apenas mais um coitado com capacete velho e um 38 enferrujado jogado no chão, atrapalhando o trânsito.
Teve infância, isso teve, tudo bem que sem nada demais, mas sua mãe o levava ao circo todos os anos, só parou depois que seu novo marido a proibiu de sair de casa. Ela começou a beber a mesma bebida que os programas de TV mostram nos seus comerciais, só que, neles, ninguém sofre por beber.
Teve educação, a mesma que todos da sua comunidade tiveram, quase nada que sirva pro século 21. A professora passava um monte de coisa na lousa -mas, pra que estudar se, pela nova lei do governo, todo mundo é aprovado?
Ainda menino, quando assistia às propagandas, entendia que ou você tem ou você não é nada, sabia que era melhor viver pouco como alguém do que morrer velho como ninguém.
Leu em algum lugar que São Paulo está ficando indefensável, mas não sabia o que queriam dizer, defesa de quem? Parece assunto de guerra. Não acreditava em heróis, isso não!
Nunca gostou do super-homem nem de nenhum desses caras americanos, preferia respeitar os malandros mais velhos que moravam no seu bairro, o exemplo é aquele ali e pronto.
Tomava tapa na cara do seu padrasto, tomava tapa na cara dos policiais, mas nunca deu tapa na cara de nenhuma das suas vítimas. Ou matava logo ou saía fora.
Era da seguinte opinião: nunca iria num programa de auditório se humilhar perante milhões de brasileiros, se equilibrando numa tábua pra ganhar o suficiente pra cobrir as dívidas, isso nunca faria, um homem de verdade não pode ser medido por isso.
Ele ganhou logo cedo um kit pobreza, mas sempre pensou que, apesar de morar perto do lixo, não fazia parte dele, não era lixo.
A hora estava se aproximando, tinha um braço ali vacilando. Se perguntava como alguém pode usar no braço algo que dá pra comprar várias casas na sua quebrada. Tantas pessoas que conheceu que trabalharam a vida inteira sendo babá de meninos mimados, fazendo a comida deles, cuidando da segurança e limpeza deles e, no final, ficaram velhas, morreram e nunca puderam fazer o mesmo por seus filhos!
Estava decidido, iria vender o relógio e ficaria de boa talvez por alguns meses. O cara pra quem venderia poderia usar o relógio e se sentir como o apresentador feliz que sempre está cercado de mulheres seminuas em seu programa.
Se o assalto não desse certo, talvez cadeira de rodas, prisão ou caixão, não teria como recorrer ao seguro nem teria segunda chance. O correria decidiu agir. Passou, parou, intimou, levou.
No final das contas, todos saíram ganhando, o assaltado ficou com o que tinha de mais valioso, que é sua vida, e o correria ficou com o relógio.
Não vejo motivo pra reclamação, afinal, num mundo indefensável, até que o rolo foi justo pra ambas as partes.
REGINALDO FERREIRA DA SILVA, 31, o Ferréz, escritor e rapper, é autor de "Capão Pecado", romance sobre o cotidiano violento do bairro do Capão Redondo, na periferia de São Paulo, onde ele vive, e de "Ninguém é Inocente em São Paulo", entre outras obras.
Leia o artigo de Luciano Huck em http://www.folha.com.br/072801
http://www1.folha.uol.com.br/folha/coti ... 6145.shtml
FERRÉZ
ELE ME olha, cumprimenta rápido e vai pra padaria. Acordou cedo, tratou de acordar o amigo que vai ser seu garupa e foi tomar café. A mãe já está na padaria também, pedindo dinheiro pra alguém pra tomar mais uma dose de cachaça. Ele finge não vê-la, toma seu café de um gole só e sai pra missão, que é como todos chamam fazer um assalto.
Se voltar com algo, seu filho, seus irmãos, sua mãe, sua tia, seu padrasto, todos vão gastar o dinheiro com ele, sem exigir de onde veio, sem nota fiscal, sem gerar impostos.
Quando o filho chora de fome, moral não vai ajudar. A selva de pedra criou suas leis, vidro escuro pra não ver dentro do carro, cada qual com sua vida, cada qual com seus problemas, sem tempo pra sentimentalismo. O menino no farol não consegue pedir dinheiro, o vidro escuro não deixa mostrar nada.
O motoboy tenta se afastar, desconfia, pois ele está com outro na garupa, lembra das 36 prestações que faltam pra quitar a moto, mas tem que arriscar e acelera, só tem 20 minutos pra entregar uma correspondência do outro lado da cidade, se atrasar a entrega, perde o serviço, se morrer no caminho, amanhã tem outro na vaga.
Quando passa pelos dois na moto, percebe que é da sua quebrada, dá um toque no acelerador e sai da reta, sabe que os caras estão pra fazer uma fita.
Enquanto isso, muitos em seus carros ouvem suas músicas, falam em seus celulares e pensam que estão vivos e num país legal.
Ele anda devagar entre os carros, o garupa está atento, se a missão falhar, não terá homenagem póstuma, deixará uma família destroçada, porque a sua já é, e não terá uma multidão triste por sua morte. Será apenas mais um coitado com capacete velho e um 38 enferrujado jogado no chão, atrapalhando o trânsito.
Teve infância, isso teve, tudo bem que sem nada demais, mas sua mãe o levava ao circo todos os anos, só parou depois que seu novo marido a proibiu de sair de casa. Ela começou a beber a mesma bebida que os programas de TV mostram nos seus comerciais, só que, neles, ninguém sofre por beber.
Teve educação, a mesma que todos da sua comunidade tiveram, quase nada que sirva pro século 21. A professora passava um monte de coisa na lousa -mas, pra que estudar se, pela nova lei do governo, todo mundo é aprovado?
Ainda menino, quando assistia às propagandas, entendia que ou você tem ou você não é nada, sabia que era melhor viver pouco como alguém do que morrer velho como ninguém.
Leu em algum lugar que São Paulo está ficando indefensável, mas não sabia o que queriam dizer, defesa de quem? Parece assunto de guerra. Não acreditava em heróis, isso não!
Nunca gostou do super-homem nem de nenhum desses caras americanos, preferia respeitar os malandros mais velhos que moravam no seu bairro, o exemplo é aquele ali e pronto.
Tomava tapa na cara do seu padrasto, tomava tapa na cara dos policiais, mas nunca deu tapa na cara de nenhuma das suas vítimas. Ou matava logo ou saía fora.
Era da seguinte opinião: nunca iria num programa de auditório se humilhar perante milhões de brasileiros, se equilibrando numa tábua pra ganhar o suficiente pra cobrir as dívidas, isso nunca faria, um homem de verdade não pode ser medido por isso.
Ele ganhou logo cedo um kit pobreza, mas sempre pensou que, apesar de morar perto do lixo, não fazia parte dele, não era lixo.
A hora estava se aproximando, tinha um braço ali vacilando. Se perguntava como alguém pode usar no braço algo que dá pra comprar várias casas na sua quebrada. Tantas pessoas que conheceu que trabalharam a vida inteira sendo babá de meninos mimados, fazendo a comida deles, cuidando da segurança e limpeza deles e, no final, ficaram velhas, morreram e nunca puderam fazer o mesmo por seus filhos!
Estava decidido, iria vender o relógio e ficaria de boa talvez por alguns meses. O cara pra quem venderia poderia usar o relógio e se sentir como o apresentador feliz que sempre está cercado de mulheres seminuas em seu programa.
Se o assalto não desse certo, talvez cadeira de rodas, prisão ou caixão, não teria como recorrer ao seguro nem teria segunda chance. O correria decidiu agir. Passou, parou, intimou, levou.
No final das contas, todos saíram ganhando, o assaltado ficou com o que tinha de mais valioso, que é sua vida, e o correria ficou com o relógio.
Não vejo motivo pra reclamação, afinal, num mundo indefensável, até que o rolo foi justo pra ambas as partes.
REGINALDO FERREIRA DA SILVA, 31, o Ferréz, escritor e rapper, é autor de "Capão Pecado", romance sobre o cotidiano violento do bairro do Capão Redondo, na periferia de São Paulo, onde ele vive, e de "Ninguém é Inocente em São Paulo", entre outras obras.
Leia o artigo de Luciano Huck em http://www.folha.com.br/072801
http://www1.folha.uol.com.br/folha/coti ... 6145.shtml
Editado pela última vez por Jack Torrance em 19 Out 2007, 12:13, em um total de 1 vez.
Re.: Repercussão do artigo de Luciano Huck
Começou a chegar nos Riquinhos,têm repercução .
Editado pela última vez por emmmcri em 19 Out 2007, 11:51, em um total de 1 vez.
"Assombra-me o universo e eu crer procuro em vão, que haja um tal relógio e um relojoeiro não.
VOLTAIRE
Porque tanto se orgulhar de nossos conhecimentos se os instrumentos para alcançá-los e objetivá-los são limitados e parciais ?
A Guerra faz de heróis corajosos assassinos covardes e de assassinos covardes heróis corajosos .
No fim ela mostra o que somos , apenas medíocres humanos.

VOLTAIRE
Porque tanto se orgulhar de nossos conhecimentos se os instrumentos para alcançá-los e objetivá-los são limitados e parciais ?
A Guerra faz de heróis corajosos assassinos covardes e de assassinos covardes heróis corajosos .
No fim ela mostra o que somos , apenas medíocres humanos.
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A pluralidade e a revolução dos idiotas
Reinaldo Azevedo
"Há uma revolução em curso: a dos idiotas. Eles começam agredindo a lógica e terminam justificando o assassinato. Voltarei a esse ponto.
Na semana passada, o escritor e rapper Ferréz escreveu um artigo neste espaço em que tratou do assalto de que Luciano Huck foi vítima. Lê-se: "No final das contas, todos saíram ganhando, o assaltado ficou com o que tinha de mais valioso, que é sua vida, e o correria ficou com o relógio. Não vejo motivo pra reclamação, afinal, num mundo indefensável, até que o rolo foi justo pra ambas as partes". Ele não pode ser mal interpretado porque não pode ser bem interpretado: fez a apologia do crime, o que é crime. Será este jornal tão pluralista que admite alguém como Ferréz? Será este jornal tão pluralista que admite alguém como eu? Lustramos ambos o ambiente de tolerância desta Folha? A resposta é "não".
O artigo do tal é irrespondível. Vou eu lhe dizer que o crime não compensa? Ele tem motivos para acreditar que sim. Lênin mandaria que lhe passassem fogo - não sem antes lhe expropriar o relógio. Apenas sugiro ao jornal que corrija seu pé biográfico: ele é um empresário; o bairro do Capão Redondo é seu produto, e a voz dos marginalizados, o fetiche de sua mercadoria. Ir além na contestação de seu libelo criminoso seria reconhecê-lo como voz aceitável na pluralidade do jornal. Eu não reconheço.
Na democracia, o direito à divergência não alcança as regras do jogo. Um democrata não deve, em nome de seus princípios, conceder a seus inimigos licenças que estes, em nome dos deles, a ele não concederiam se chegassem ao poder. Ao publicar aquele artigo, a Folha aceita que potencialmente se solapem as bases de sua própria legitimidade. Errou feio.
O poeta Bruno Tolentino é autor de um verso e tanto: "A arte não tem escrúpulos, tem apenas medida". O mesmo vale para a ação política.
Idealmente, há quem ache que o mundo seria melhor sem propriedade privada -eu acredito que, sem ela, estaríamos de tacape na mão, puxando as moças pelos cabelos.
Posso acalentar quantos sonhos quiser, sem escrúpulos. Mas o regime democrático tem medidas. Uma delas é o respeito às leis -inclusive às leis que regulam a mudança das leis. Se admitimos a voz do assalto, por que não a da pedofilia, a do terrorismo, a da luta armada, a do racismo? Aceito boas respostas.
O empresário Ferréz, ao lado de Mano Brown, é um bibelô mimado pelas esquerdas e pelo pensamento politicamente correto, para quem o crime é uma precognição política a caminho de uma revelação.
Tal suposição, somada à patrulha que tentou transformar Luciano Huck no verdadeiro culpado pelo assalto, contribuiu para esconder um fato relevante. A cidade de São Paulo teve 49,3 homicídios por 100 mil habitantes em 2001. Em 2006, 18,39 (uma redução de 62,69%). Em 2001, havia presas no Estado 67.649 pessoas; em 2006, 125.783 (crescimento de 85,93%). Não é espantoso? Quanto mais bandidos presos, menos crimes. Quanto mais eficiente é a polícia, menos mortos.
Eis que, no dia 11, abro esta mesma página e dou de cara com um artigo de Sérgio Salomão Shecaira. Escreve: "(...) O Estado de São Paulo concentra quase a metade dos cerca de 419 mil presos brasileiros (...). Enquanto, no Brasil, existem 227,63 presos por 100 mil habitantes, em São Paulo essa relação salta para 341,98 por 100 mil habitantes". Ele está descontente.
Quer prender menos: "Enquanto, no Estado de São Paulo, em 2005, houve 18,9 homicídios por 100 mil habitantes, no Rio de Janeiro a cifra foi de 40,5, e, em Pernambuco, de 48. No entanto, nesses dois últimos Estados, o número relativo de presos é bem menor que o paulista".
Shecaira é mestre e doutor em direito penal e professor associado da Faculdade de Direito da USP. Mas ainda não descobriu a lógica, coitado!
Ora, por que será que São Paulo tem, por 100 mil, menos da metade dos homicídios que tem o Rio e quase um terço do que tem Pernambuco? Porque há mais bandidos na cadeia!
Mas ele quer menos. Logo... Em vez de Ferréz se alfabetizar politicamente no contato com Shecaira, é Shecaira quem se analfabetiza no contato com Ferréz.
A tragédia não é recente. Aconteceu com a universidade: em vez de ela fornecer teoria aos sindicatos, foram os sindicatos que lhe forneceram táticas de greve. Em vez de Marilena Chaui ensinar ao companheiro as virtudes do pensamento, foi o companheiro que explicou a Marilena por que pensar é uma bobagem.
A minha pluralidade não alcança tolerar idiotas que querem destruir o sistema de valores que garantem a minha existência. E, curiosamente, até a deles".
https://acesso.uol.com.br/login.html?de ... _PRODUTO=7
Reinaldo Azevedo
"Há uma revolução em curso: a dos idiotas. Eles começam agredindo a lógica e terminam justificando o assassinato. Voltarei a esse ponto.
Na semana passada, o escritor e rapper Ferréz escreveu um artigo neste espaço em que tratou do assalto de que Luciano Huck foi vítima. Lê-se: "No final das contas, todos saíram ganhando, o assaltado ficou com o que tinha de mais valioso, que é sua vida, e o correria ficou com o relógio. Não vejo motivo pra reclamação, afinal, num mundo indefensável, até que o rolo foi justo pra ambas as partes". Ele não pode ser mal interpretado porque não pode ser bem interpretado: fez a apologia do crime, o que é crime. Será este jornal tão pluralista que admite alguém como Ferréz? Será este jornal tão pluralista que admite alguém como eu? Lustramos ambos o ambiente de tolerância desta Folha? A resposta é "não".
O artigo do tal é irrespondível. Vou eu lhe dizer que o crime não compensa? Ele tem motivos para acreditar que sim. Lênin mandaria que lhe passassem fogo - não sem antes lhe expropriar o relógio. Apenas sugiro ao jornal que corrija seu pé biográfico: ele é um empresário; o bairro do Capão Redondo é seu produto, e a voz dos marginalizados, o fetiche de sua mercadoria. Ir além na contestação de seu libelo criminoso seria reconhecê-lo como voz aceitável na pluralidade do jornal. Eu não reconheço.
Na democracia, o direito à divergência não alcança as regras do jogo. Um democrata não deve, em nome de seus princípios, conceder a seus inimigos licenças que estes, em nome dos deles, a ele não concederiam se chegassem ao poder. Ao publicar aquele artigo, a Folha aceita que potencialmente se solapem as bases de sua própria legitimidade. Errou feio.
O poeta Bruno Tolentino é autor de um verso e tanto: "A arte não tem escrúpulos, tem apenas medida". O mesmo vale para a ação política.
Idealmente, há quem ache que o mundo seria melhor sem propriedade privada -eu acredito que, sem ela, estaríamos de tacape na mão, puxando as moças pelos cabelos.
Posso acalentar quantos sonhos quiser, sem escrúpulos. Mas o regime democrático tem medidas. Uma delas é o respeito às leis -inclusive às leis que regulam a mudança das leis. Se admitimos a voz do assalto, por que não a da pedofilia, a do terrorismo, a da luta armada, a do racismo? Aceito boas respostas.
O empresário Ferréz, ao lado de Mano Brown, é um bibelô mimado pelas esquerdas e pelo pensamento politicamente correto, para quem o crime é uma precognição política a caminho de uma revelação.
Tal suposição, somada à patrulha que tentou transformar Luciano Huck no verdadeiro culpado pelo assalto, contribuiu para esconder um fato relevante. A cidade de São Paulo teve 49,3 homicídios por 100 mil habitantes em 2001. Em 2006, 18,39 (uma redução de 62,69%). Em 2001, havia presas no Estado 67.649 pessoas; em 2006, 125.783 (crescimento de 85,93%). Não é espantoso? Quanto mais bandidos presos, menos crimes. Quanto mais eficiente é a polícia, menos mortos.
Eis que, no dia 11, abro esta mesma página e dou de cara com um artigo de Sérgio Salomão Shecaira. Escreve: "(...) O Estado de São Paulo concentra quase a metade dos cerca de 419 mil presos brasileiros (...). Enquanto, no Brasil, existem 227,63 presos por 100 mil habitantes, em São Paulo essa relação salta para 341,98 por 100 mil habitantes". Ele está descontente.
Quer prender menos: "Enquanto, no Estado de São Paulo, em 2005, houve 18,9 homicídios por 100 mil habitantes, no Rio de Janeiro a cifra foi de 40,5, e, em Pernambuco, de 48. No entanto, nesses dois últimos Estados, o número relativo de presos é bem menor que o paulista".
Shecaira é mestre e doutor em direito penal e professor associado da Faculdade de Direito da USP. Mas ainda não descobriu a lógica, coitado!
Ora, por que será que São Paulo tem, por 100 mil, menos da metade dos homicídios que tem o Rio e quase um terço do que tem Pernambuco? Porque há mais bandidos na cadeia!
Mas ele quer menos. Logo... Em vez de Ferréz se alfabetizar politicamente no contato com Shecaira, é Shecaira quem se analfabetiza no contato com Ferréz.
A tragédia não é recente. Aconteceu com a universidade: em vez de ela fornecer teoria aos sindicatos, foram os sindicatos que lhe forneceram táticas de greve. Em vez de Marilena Chaui ensinar ao companheiro as virtudes do pensamento, foi o companheiro que explicou a Marilena por que pensar é uma bobagem.
A minha pluralidade não alcança tolerar idiotas que querem destruir o sistema de valores que garantem a minha existência. E, curiosamente, até a deles".
https://acesso.uol.com.br/login.html?de ... _PRODUTO=7
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Huck no caldeirão
O apresentador Luciano Huck diz que as reações negativas a seu desabafo depois de um assalto partiram de quem não conhece a periferia

"Se chegarmos ao nível em que se tenha de andar de carro blindado para ir à padaria, alguma coisa está errada. Resolvi não me esconder mais"
O apresentador Luciano Huck foi vítima de dois ataques em menos de uma semana. O primeiro, um assalto em São Paulo, no qual dois bandidos levaram seu relógio. O segundo golpe deu-se em seguida à publicação de um artigo, na Folha de S.Paulo, em que procurou fazer um desabafo sobre a violência que sofrera. As seções de cartas dos jornais e comentários postados nos blogs receberam, nos dias subseqüentes, insultos e críticas coléricas ao apresentador. O tom geral das manifestações era o de que, rico e famoso, Huck tinha mais é que se resignar em ser vítima de bandidos. Ora, isso é uma distorção mental típica da burguesia pseudo-esquerdista brasileira. Como é sobejamente sabido, os pobres abominam ladrões e assaltantes. "Vou à periferia toda semana. No país inteiro. Conheço muito melhor a realidade brasileira do que os que me criticaram", diz Huck, 36 anos, um dos profissionais de televisão mais bem-sucedidos do país.
Veja – Como disseram nas cartas aos jornais e nos blogs, gente da elite assaltada tem mesmo é que sofrer calada?
Huck – No Brasil parece que virou crime você trabalhar honestamente, ganhar dinheiro e gastar como quiser. Não sofro preconceito. Acho que é porque sou a mesma pessoa na minha casa, na Globo, no Complexo do Alemão. Falo igual e me visto igual. Não troco de roupa para ir a favelas. Mas deixa eu dizer o que penso da elite. Nela tem gente de todos os tipos. Tem pessoas ótimas, que passam seus dias tentando ajudar os outros. Mas também tem gente que não faz nada para ninguém, que só vê o seu lado. Tem de tudo. Não dá para rotular e dizer que se é elite é bom ou é ruim. É como na polícia. Tem um enorme contingente de policiais bons. E garanto que eles são muitíssimo mais numerosos. Agora, tem gente ruim, e não são poucos. O problema é que o que eles fazem aparece mais.
Veja – Como foi exatamente o assalto?
Huck – Foi um assalto-padrão, que ocorre nas esquinas de São Paulo todos os dias. Durou no máximo quinze segundos. Eu saía de um restaurante com um amigo. Estava no banco do carona. Os bandidos chegaram de moto e bateram no vidro com o revólver. Abri a janela uns 15 centímetros. Eles pediram o relógio. Eu entreguei. Depois, pediram o do meu amigo, que também entregou. Eles foram embora. Não deu para ver como eram, porque estavam de capacete. Provavelmente me seguiram desde o restaurante, porque sabiam que eu estava com um Rolex. Só pediram isso. Tem uma máfia especializada em roubo de relógio em São Paulo. São profissionais.
Veja – O que você sentiu depois do assalto?
Huck – As pernas começaram a tremer e fiquei muito nervoso. Depois, veio a raiva e, por fim, o sentimento de impotência. A sensação é a de que não há nada que se possa fazer. Eu os vi indo embora e pensei: não é possível que ninguém vá fazer nada. Não acho que a polícia de São Paulo tenha de se mobilizar para ir atrás do meu relógio. Ela tem preocupações mais importantes. O que se tem de fazer é trabalhar para não deixar isso acontecer. Mas isso já passou. Não foi nada tão extraordinário, nem a primeira vez que fui assaltado.
Veja – Não? Já passou por isso antes?
Huck – Muitas vezes. Um dia estava com minha mãe dentro de uma sapataria e fomos assaltados. Eu tinha 12 anos. Já roubaram minha casa duas vezes em São Paulo. Também entraram na minha casa de praia, em Angra dos Reis. Fui vítima de um seqüestro-relâmpago. Então, está claro que esse assalto não foi um trauma especial na minha vida. Nada proporcional à repercussão que meu artigo provocou. Como os nervos estão à flor da pele, meu artigo foi como pingar uma gota de limão em uma ferida. Arde o corpo inteiro.
Veja – O que mais o incomodou no que leu nas cartas publicadas pelos jornais e nos comentários dos blogs?
Huck – Vou lhe falar uma coisa: as críticas não me incomodaram nem um pouco. A crítica fundamentada faz refletir. O que se fez, no entanto, foi a crítica gratuita. Falaram de burguesia, que é um discurso velho, de trinta anos atrás. Chegaram a falar em "elite branca". Quem criticou perdeu tempo com uma bobagem. Não escrevi motivado pela perda de um relógio. Escrevi como cidadão. As pessoas perderam o direito de ir e vir. Não estou nem aí para as bobagens que falaram.
Veja – Você foi acusado de só ter acordado agora para a realidade, para os problemas do país...
Huck – Quem pegar as cartas dos leitores ou os blogs e artigos em jornais verá um monte de manés que escreveram. Garanto que já fui à periferia milhares de vezes mais do que eles. Vou toda semana. No domingo, antes de viajar para Nova York, onde fui gravar um quadro do Caldeirão, andei no Complexo do Alemão, uma das áreas mais violentas do Rio de Janeiro. Vou, entro, saio, converso com todo mundo. Meu maior ativo na vida é ouvir as pessoas. Ouço muito. Vejo o que acontece no país. Sei que meu bem-estar pessoal passa pelo bem-estar coletivo. Nos últimos cinco anos tenho me dedicado a entender por onde eu poderia entrar nessa questão e fazer minha parte. Foquei meu trabalho na educação e profissionalização de jovens e na inserção deles no mercado de trabalho por meio do audiovisual. Criei uma ONG, o Instituto Criar. Todo ano recebemos 200 jovens, que vêm indicados por intermédio de um processo rigoroso, bem amarrado. Eles são escolhidos por sessenta ONGs e dez escolas públicas. Todos recebem meio salário mínimo, para evitar que os pais os obriguem a sair de lá para trabalhar. O índice de aproveitamento no mercado de trabalho tem sido de 70%, com um salário médio de 800 reais.
Veja – A visão geral de seus críticos leva a um caminho perigoso. É como se os Jardins, uma das regiões mais ricas de São Paulo, tivessem de virar o Jardim Ângela, um dos bairros mais pobres do país. O correto é que o Jardim Ângela vire uma região mais aprazível, não acha?
Huck – Ando por todos os lugares. Posso garantir que, em certo sentido, o Capão Redondo e o Jardim Ângela estão melhores do que os Jardins. Deixe-me explicar o que quero dizer: tem um trabalho incrível lá de organizações sociais que está fazendo a diferença. Não acredito que os Jardins vão um dia virar o Jardim Ângela. Acho que todas as áreas da cidade merecem o mesmo tratamento. Não estou dizendo com isso que este ou aquele governo seja omisso. Só que tem uma série de projetos sociais nas periferias que estão dando certo, e esse é o caminho que temos de seguir.
Veja – Você escreveu que tinha carro blindado e que desistiu dele, porque não queria assumir que a cidade em que vivia era Bogotá. Adianta o gesto individual?
Huck – Se chegarmos ao nível em que se tenha de andar de carro blindado para ir à padaria, é porque alguma coisa está errada. Pouquíssimos podem comprar um carro blindado. Resolvi que não iria me dobrar à lógica de me esconder cada vez mais. Lembro que, na minha adolescência, Bogotá era sinônimo do que havia de mais violento no mundo. A gente ficava assustado só de ver aqueles filmes em que de repente apareciam vários sujeitos armados, de cima dos prédios, que vinham e seqüestravam alguém. Levavam as pessoas para dentro da mata e elas nunca mais apareciam. Hoje, Bogotá é outra cidade, muitas vezes melhor. O que aconteceu ali? Foi um investimento pesado em educação, em organização social. Eles focaram em quatro ou cinco coisas e foram em frente. Esse é o caminho. Não quero ficar andando de carro blindado em uma cidade cada vez pior. Quero trabalhar para que meu filho, o Joaquim, quando tiver a minha idade, possa andar pelas ruas sem medo.
Veja – E agora, depois do que aconteceu, pensa em comprar um carro blindado novamente?
Huck – De forma alguma. No Rio, canso de ir para a Zona Sul passando pelo meio da Rocinha. Vou com o vidro aberto. Penso em continuar fazendo minha parte para ajudar o país. Só tem duas coisas que faço hoje na vida. Trabalho na Globo e no meu projeto social. Esse é meu foco. Quero viver neste país, que eu adoro. Claro que tenho condições de, se quiser, ir morar em Miami, com minha família. Mas não quero. Meu lugar é aqui.
Veja – E qual é o caminho, por exemplo, para melhorar a segurança pública?
Huck – Não sei, nem tenho credenciais para discutir segurança pública. Só não gostaria de ficar sendo assaltado na rua. O que sei é que o sujeito só vai parar de assaltar se tiver oportunidade. Vou dar um exemplo. No AfroReggae (projeto social na Favela de Vigário Geral, no Rio de Janeiro) tem o Feijão, que é um dos coordenadores. Trabalha lá honestamente. Só que um ano atrás ele era bandido. Não era um qualquer. Era líder de facção. Um dia disse que queria largar aquela vida e o AfroReggae ofereceu uma chance. Ele pegou e não largou mais. Da mesma forma, há muita gente nessa situação. Se a gente começar agora, um dia o filho daquele sujeito que me assaltou vai poder se formar. Pode ser um engenheiro, levando a vida honestamente. Se a gente não fizer nada, vai ficar difícil mudar esse panorama. Tem de ser educação pública de qualidade. Não adianta termos escolas públicas de baixíssimo nível e escolas particulares de Primeiro Mundo. O sujeito só entra na Universidade de São Paulo, a USP, se tiver muito dinheiro para pagar os melhores colégios. O sistema de cotas não resolve. O negócio é ensino fundamental e médio de qualidade para todos.
Veja – Mas também é fundamental que se tenha uma polícia eficiente...
Huck – Claro que sim. Basta ver que durante o Pan-Americano o Rio parecia a cidade de Genebra, na Suíça. Temos de ter inteligência policial, equipamentos e informação. Mas só a polícia não resolve. O controle da violência não é o estado penal, em que você se limita a gerir por meio da prisão, do Judiciário e da polícia. Isso não vai funcionar nunca. O caminho trilhado pelo ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani (que implantou a política de tolerância zero) é o fim da história. É fácil parar de ter assalto nos Jardins. Basta colocar policiais lá. Mas isso não vai reduzir a criminalidade em São Paulo. A solução passa pela educação. E não me refiro apenas à escola. Falo do sujeito que joga papel na rua, que joga lata de dentro do ônibus. As pessoas têm de vaiar quem joga lixo na rua, quem avança o sinal. Temos de cobrar educação uns dos outros também. Quando ando por aí, nas comunidades carentes, vejo que o lugar mais bonito é sempre a igreja ou a ONG. Nas cidades do interior, os mais bonitos são a igreja, a prefeitura e a delegacia. Está errado. O lugar mais bonito tem de ser a escola. Ela tem de ser sedutora para as crianças.
Veja – Muitos criticam a televisão por incitar a violência e a sexualização precoce. Qual sua opinião?
Huck – Não concordo. Os críticos podem dar um ou dois exemplos de coisas em que a TV não contribui para o país, mas eu dou vinte exemplos de como ela é importante. O que faz com que o Brasil tenha uma noção de país, uma unidade, é a televisão. Estou na Globo há oito anos e tenho absoluta noção de como esse assunto é tratado de maneira séria. Tudo o que vai ao ar é visto antes por alguém com essa preocupação. Não acho que as cenas da novela, do sujeito beijando a mulher, vão despertar a sexualidade. A internet é um caminho muito mais aberto para o menino ou a menina que quiser ter acesso a qualquer conteúdo sexual. Na minha época, a gente tinha de fazer operações de guerra para comprar uma revista de mulher pelada. E ficava dois anos com a mesma revista. Hoje, a internet é uma estrada escancarada para isso. É injusto atribuir essa culpa à televisão. Além do mais, quem manda na televisão é o telespectador.
Veja – O que você faria diferente se tivesse poder?
Huck – Falta projeto. Cadê o projeto para a educação? Por que ela não é tão competente quanto outras áreas? Fico vendo a pujança com que o investimento estrangeiro tem entrado aqui. Vejo a bolsa atingindo índices nunca antes alcançados. Fizemos o câmbio flutuante, um instrumento fabuloso. O controle da inflação. Temos intelectuais de primeira, esportistas que estão nos primeiros lugares no mundo. O Brasil tem uma imagem no exterior hoje que nunca teve. E, no entanto, apesar de todas essas conquistas, há problemas básicos com os quais não conseguimos lidar. O direito de ir e vir, que é vedado em extensas áreas das grandes cidades, é um exemplo. Isso é vergonhoso, perto de tudo o que está acontecendo no país.
Veja – Em seu artigo, você se referiu ao presidente ao dizer que gostaria de saber no que ele está pensando. O que quis dizer exatamente?
Huck – Eu não estava falando do Lula em si, nem de qualquer governante. Acho muito bonito o programa Bolsa Família, acho legal distribuir leite, mas não é o que vai resolver. Isso é apenas um agrado. Não é assim que se distribui renda. Como disse, o Brasil estará melhor no dia em que o filho daquele sujeito que me assaltou estiver na faculdade, preparando-se para ajudar a fazer do Brasil um lugar melhor para ele e para os outros.
http://veja.abril.com.br/101007/entrevista.shtml
O apresentador Luciano Huck diz que as reações negativas a seu desabafo depois de um assalto partiram de quem não conhece a periferia

"Se chegarmos ao nível em que se tenha de andar de carro blindado para ir à padaria, alguma coisa está errada. Resolvi não me esconder mais"
O apresentador Luciano Huck foi vítima de dois ataques em menos de uma semana. O primeiro, um assalto em São Paulo, no qual dois bandidos levaram seu relógio. O segundo golpe deu-se em seguida à publicação de um artigo, na Folha de S.Paulo, em que procurou fazer um desabafo sobre a violência que sofrera. As seções de cartas dos jornais e comentários postados nos blogs receberam, nos dias subseqüentes, insultos e críticas coléricas ao apresentador. O tom geral das manifestações era o de que, rico e famoso, Huck tinha mais é que se resignar em ser vítima de bandidos. Ora, isso é uma distorção mental típica da burguesia pseudo-esquerdista brasileira. Como é sobejamente sabido, os pobres abominam ladrões e assaltantes. "Vou à periferia toda semana. No país inteiro. Conheço muito melhor a realidade brasileira do que os que me criticaram", diz Huck, 36 anos, um dos profissionais de televisão mais bem-sucedidos do país.
Veja – Como disseram nas cartas aos jornais e nos blogs, gente da elite assaltada tem mesmo é que sofrer calada?
Huck – No Brasil parece que virou crime você trabalhar honestamente, ganhar dinheiro e gastar como quiser. Não sofro preconceito. Acho que é porque sou a mesma pessoa na minha casa, na Globo, no Complexo do Alemão. Falo igual e me visto igual. Não troco de roupa para ir a favelas. Mas deixa eu dizer o que penso da elite. Nela tem gente de todos os tipos. Tem pessoas ótimas, que passam seus dias tentando ajudar os outros. Mas também tem gente que não faz nada para ninguém, que só vê o seu lado. Tem de tudo. Não dá para rotular e dizer que se é elite é bom ou é ruim. É como na polícia. Tem um enorme contingente de policiais bons. E garanto que eles são muitíssimo mais numerosos. Agora, tem gente ruim, e não são poucos. O problema é que o que eles fazem aparece mais.
Veja – Como foi exatamente o assalto?
Huck – Foi um assalto-padrão, que ocorre nas esquinas de São Paulo todos os dias. Durou no máximo quinze segundos. Eu saía de um restaurante com um amigo. Estava no banco do carona. Os bandidos chegaram de moto e bateram no vidro com o revólver. Abri a janela uns 15 centímetros. Eles pediram o relógio. Eu entreguei. Depois, pediram o do meu amigo, que também entregou. Eles foram embora. Não deu para ver como eram, porque estavam de capacete. Provavelmente me seguiram desde o restaurante, porque sabiam que eu estava com um Rolex. Só pediram isso. Tem uma máfia especializada em roubo de relógio em São Paulo. São profissionais.
Veja – O que você sentiu depois do assalto?
Huck – As pernas começaram a tremer e fiquei muito nervoso. Depois, veio a raiva e, por fim, o sentimento de impotência. A sensação é a de que não há nada que se possa fazer. Eu os vi indo embora e pensei: não é possível que ninguém vá fazer nada. Não acho que a polícia de São Paulo tenha de se mobilizar para ir atrás do meu relógio. Ela tem preocupações mais importantes. O que se tem de fazer é trabalhar para não deixar isso acontecer. Mas isso já passou. Não foi nada tão extraordinário, nem a primeira vez que fui assaltado.
Veja – Não? Já passou por isso antes?
Huck – Muitas vezes. Um dia estava com minha mãe dentro de uma sapataria e fomos assaltados. Eu tinha 12 anos. Já roubaram minha casa duas vezes em São Paulo. Também entraram na minha casa de praia, em Angra dos Reis. Fui vítima de um seqüestro-relâmpago. Então, está claro que esse assalto não foi um trauma especial na minha vida. Nada proporcional à repercussão que meu artigo provocou. Como os nervos estão à flor da pele, meu artigo foi como pingar uma gota de limão em uma ferida. Arde o corpo inteiro.
Veja – O que mais o incomodou no que leu nas cartas publicadas pelos jornais e nos comentários dos blogs?
Huck – Vou lhe falar uma coisa: as críticas não me incomodaram nem um pouco. A crítica fundamentada faz refletir. O que se fez, no entanto, foi a crítica gratuita. Falaram de burguesia, que é um discurso velho, de trinta anos atrás. Chegaram a falar em "elite branca". Quem criticou perdeu tempo com uma bobagem. Não escrevi motivado pela perda de um relógio. Escrevi como cidadão. As pessoas perderam o direito de ir e vir. Não estou nem aí para as bobagens que falaram.
Veja – Você foi acusado de só ter acordado agora para a realidade, para os problemas do país...
Huck – Quem pegar as cartas dos leitores ou os blogs e artigos em jornais verá um monte de manés que escreveram. Garanto que já fui à periferia milhares de vezes mais do que eles. Vou toda semana. No domingo, antes de viajar para Nova York, onde fui gravar um quadro do Caldeirão, andei no Complexo do Alemão, uma das áreas mais violentas do Rio de Janeiro. Vou, entro, saio, converso com todo mundo. Meu maior ativo na vida é ouvir as pessoas. Ouço muito. Vejo o que acontece no país. Sei que meu bem-estar pessoal passa pelo bem-estar coletivo. Nos últimos cinco anos tenho me dedicado a entender por onde eu poderia entrar nessa questão e fazer minha parte. Foquei meu trabalho na educação e profissionalização de jovens e na inserção deles no mercado de trabalho por meio do audiovisual. Criei uma ONG, o Instituto Criar. Todo ano recebemos 200 jovens, que vêm indicados por intermédio de um processo rigoroso, bem amarrado. Eles são escolhidos por sessenta ONGs e dez escolas públicas. Todos recebem meio salário mínimo, para evitar que os pais os obriguem a sair de lá para trabalhar. O índice de aproveitamento no mercado de trabalho tem sido de 70%, com um salário médio de 800 reais.
Veja – A visão geral de seus críticos leva a um caminho perigoso. É como se os Jardins, uma das regiões mais ricas de São Paulo, tivessem de virar o Jardim Ângela, um dos bairros mais pobres do país. O correto é que o Jardim Ângela vire uma região mais aprazível, não acha?
Huck – Ando por todos os lugares. Posso garantir que, em certo sentido, o Capão Redondo e o Jardim Ângela estão melhores do que os Jardins. Deixe-me explicar o que quero dizer: tem um trabalho incrível lá de organizações sociais que está fazendo a diferença. Não acredito que os Jardins vão um dia virar o Jardim Ângela. Acho que todas as áreas da cidade merecem o mesmo tratamento. Não estou dizendo com isso que este ou aquele governo seja omisso. Só que tem uma série de projetos sociais nas periferias que estão dando certo, e esse é o caminho que temos de seguir.
Veja – Você escreveu que tinha carro blindado e que desistiu dele, porque não queria assumir que a cidade em que vivia era Bogotá. Adianta o gesto individual?
Huck – Se chegarmos ao nível em que se tenha de andar de carro blindado para ir à padaria, é porque alguma coisa está errada. Pouquíssimos podem comprar um carro blindado. Resolvi que não iria me dobrar à lógica de me esconder cada vez mais. Lembro que, na minha adolescência, Bogotá era sinônimo do que havia de mais violento no mundo. A gente ficava assustado só de ver aqueles filmes em que de repente apareciam vários sujeitos armados, de cima dos prédios, que vinham e seqüestravam alguém. Levavam as pessoas para dentro da mata e elas nunca mais apareciam. Hoje, Bogotá é outra cidade, muitas vezes melhor. O que aconteceu ali? Foi um investimento pesado em educação, em organização social. Eles focaram em quatro ou cinco coisas e foram em frente. Esse é o caminho. Não quero ficar andando de carro blindado em uma cidade cada vez pior. Quero trabalhar para que meu filho, o Joaquim, quando tiver a minha idade, possa andar pelas ruas sem medo.
Veja – E agora, depois do que aconteceu, pensa em comprar um carro blindado novamente?
Huck – De forma alguma. No Rio, canso de ir para a Zona Sul passando pelo meio da Rocinha. Vou com o vidro aberto. Penso em continuar fazendo minha parte para ajudar o país. Só tem duas coisas que faço hoje na vida. Trabalho na Globo e no meu projeto social. Esse é meu foco. Quero viver neste país, que eu adoro. Claro que tenho condições de, se quiser, ir morar em Miami, com minha família. Mas não quero. Meu lugar é aqui.
Veja – E qual é o caminho, por exemplo, para melhorar a segurança pública?
Huck – Não sei, nem tenho credenciais para discutir segurança pública. Só não gostaria de ficar sendo assaltado na rua. O que sei é que o sujeito só vai parar de assaltar se tiver oportunidade. Vou dar um exemplo. No AfroReggae (projeto social na Favela de Vigário Geral, no Rio de Janeiro) tem o Feijão, que é um dos coordenadores. Trabalha lá honestamente. Só que um ano atrás ele era bandido. Não era um qualquer. Era líder de facção. Um dia disse que queria largar aquela vida e o AfroReggae ofereceu uma chance. Ele pegou e não largou mais. Da mesma forma, há muita gente nessa situação. Se a gente começar agora, um dia o filho daquele sujeito que me assaltou vai poder se formar. Pode ser um engenheiro, levando a vida honestamente. Se a gente não fizer nada, vai ficar difícil mudar esse panorama. Tem de ser educação pública de qualidade. Não adianta termos escolas públicas de baixíssimo nível e escolas particulares de Primeiro Mundo. O sujeito só entra na Universidade de São Paulo, a USP, se tiver muito dinheiro para pagar os melhores colégios. O sistema de cotas não resolve. O negócio é ensino fundamental e médio de qualidade para todos.
Veja – Mas também é fundamental que se tenha uma polícia eficiente...
Huck – Claro que sim. Basta ver que durante o Pan-Americano o Rio parecia a cidade de Genebra, na Suíça. Temos de ter inteligência policial, equipamentos e informação. Mas só a polícia não resolve. O controle da violência não é o estado penal, em que você se limita a gerir por meio da prisão, do Judiciário e da polícia. Isso não vai funcionar nunca. O caminho trilhado pelo ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani (que implantou a política de tolerância zero) é o fim da história. É fácil parar de ter assalto nos Jardins. Basta colocar policiais lá. Mas isso não vai reduzir a criminalidade em São Paulo. A solução passa pela educação. E não me refiro apenas à escola. Falo do sujeito que joga papel na rua, que joga lata de dentro do ônibus. As pessoas têm de vaiar quem joga lixo na rua, quem avança o sinal. Temos de cobrar educação uns dos outros também. Quando ando por aí, nas comunidades carentes, vejo que o lugar mais bonito é sempre a igreja ou a ONG. Nas cidades do interior, os mais bonitos são a igreja, a prefeitura e a delegacia. Está errado. O lugar mais bonito tem de ser a escola. Ela tem de ser sedutora para as crianças.
Veja – Muitos criticam a televisão por incitar a violência e a sexualização precoce. Qual sua opinião?
Huck – Não concordo. Os críticos podem dar um ou dois exemplos de coisas em que a TV não contribui para o país, mas eu dou vinte exemplos de como ela é importante. O que faz com que o Brasil tenha uma noção de país, uma unidade, é a televisão. Estou na Globo há oito anos e tenho absoluta noção de como esse assunto é tratado de maneira séria. Tudo o que vai ao ar é visto antes por alguém com essa preocupação. Não acho que as cenas da novela, do sujeito beijando a mulher, vão despertar a sexualidade. A internet é um caminho muito mais aberto para o menino ou a menina que quiser ter acesso a qualquer conteúdo sexual. Na minha época, a gente tinha de fazer operações de guerra para comprar uma revista de mulher pelada. E ficava dois anos com a mesma revista. Hoje, a internet é uma estrada escancarada para isso. É injusto atribuir essa culpa à televisão. Além do mais, quem manda na televisão é o telespectador.
Veja – O que você faria diferente se tivesse poder?
Huck – Falta projeto. Cadê o projeto para a educação? Por que ela não é tão competente quanto outras áreas? Fico vendo a pujança com que o investimento estrangeiro tem entrado aqui. Vejo a bolsa atingindo índices nunca antes alcançados. Fizemos o câmbio flutuante, um instrumento fabuloso. O controle da inflação. Temos intelectuais de primeira, esportistas que estão nos primeiros lugares no mundo. O Brasil tem uma imagem no exterior hoje que nunca teve. E, no entanto, apesar de todas essas conquistas, há problemas básicos com os quais não conseguimos lidar. O direito de ir e vir, que é vedado em extensas áreas das grandes cidades, é um exemplo. Isso é vergonhoso, perto de tudo o que está acontecendo no país.
Veja – Em seu artigo, você se referiu ao presidente ao dizer que gostaria de saber no que ele está pensando. O que quis dizer exatamente?
Huck – Eu não estava falando do Lula em si, nem de qualquer governante. Acho muito bonito o programa Bolsa Família, acho legal distribuir leite, mas não é o que vai resolver. Isso é apenas um agrado. Não é assim que se distribui renda. Como disse, o Brasil estará melhor no dia em que o filho daquele sujeito que me assaltou estiver na faculdade, preparando-se para ajudar a fazer do Brasil um lugar melhor para ele e para os outros.
http://veja.abril.com.br/101007/entrevista.shtml
- Jeanioz
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- Registrado em: 27 Set 2006, 16:13
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Re: Re.: Repercussão do artigo de Luciano Huck
emmmcri escreveu:Começou a chegar nos Riquinhos,têm repercução .
Até então estava somente entre a gloriosa classe proletariada e os filhos da p*ta da classe média.

"Uma sociedade sem religião é como um navio sem bússola."
Napoleão Bonaparte
"Religião é uma coisa excelente para manter as pessoas comuns quietas."
Napoleão Bonaparte
Napoleão Bonaparte
"Religião é uma coisa excelente para manter as pessoas comuns quietas."
Napoleão Bonaparte
Re.: Repercussão do artigo de Luciano Huck
Tadinha da classe média...
Tem que viajar mais vezes para Europa para descansar da vilolência.
Tem que viajar mais vezes para Europa para descansar da vilolência.
"Assombra-me o universo e eu crer procuro em vão, que haja um tal relógio e um relojoeiro não.
VOLTAIRE
Porque tanto se orgulhar de nossos conhecimentos se os instrumentos para alcançá-los e objetivá-los são limitados e parciais ?
A Guerra faz de heróis corajosos assassinos covardes e de assassinos covardes heróis corajosos .
No fim ela mostra o que somos , apenas medíocres humanos.

VOLTAIRE
Porque tanto se orgulhar de nossos conhecimentos se os instrumentos para alcançá-los e objetivá-los são limitados e parciais ?
A Guerra faz de heróis corajosos assassinos covardes e de assassinos covardes heróis corajosos .
No fim ela mostra o que somos , apenas medíocres humanos.
Jack Torrance escreveu:Opinião: Pensamentos de um "correria"
No final das contas, todos saíram ganhando, o assaltado ficou com o que tinha de mais valioso, que é sua vida, e o correria ficou com o relógio.
Não vejo motivo pra reclamação, afinal, num mundo indefensável, até que o rolo foi justo pra ambas as partes.
ai...
- Jeanioz
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Re: Re.: Repercussão do artigo de Luciano Huck
emmmcri escreveu:Tadinha da classe média...
Tem que viajar mais vezes para Europa para descansar da vilolência.
Caramba! Isso é classe média?
Sinto-me o mais miserável dos homens...

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- Jeanioz
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SickBoy escreveu:Jack Torrance escreveu:Opinião: Pensamentos de um "correria"
No final das contas, todos saíram ganhando, o assaltado ficou com o que tinha de mais valioso, que é sua vida, e o correria ficou com o relógio.
Não vejo motivo pra reclamação, afinal, num mundo indefensável, até que o rolo foi justo pra ambas as partes.
ai...
Esse "ai" por acaso é a insinuação de um indignação?
Você está indignado com uma situação tão roteineiro? Como assim???!!!
Você NÃO PODE ficar indignado!!!

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