Outro problema da crença religiosa moderada é que ela não é apenas inconsistente do ponto de vista intelectual, mas também do ponto de vista teológico. É que os fundamentalistas leram os respectivos livros sagrados, e estão certos a seu respeito: eles são tão intolerantes, divisivos, como os Osamas deste mundo sugerem.
Uma vez dignificada a alegação de que a Bíblia ou o Corão são fundamentalmente diferentes de outros livros - sejam as peças de Shakespeare, seja a Ilíada - que estes livros não são literatura, são os melhores livros de que dispomos em termos morais; uma vez dignificada tal alegação, ficamos reféns do conteúdo de tais livros.
O criador do Universo realmente odeia homossexuais.
Se lerem a Bíblia, lerão que, no mínimo, o sexo homossexual é uma abominação aos olhos de Deus - é dito com todas as letras em Levítico, é rectificado em Romanos.
Muitos cristãos imaginam que o Novo Testamento fundamentalmente repudia toda a barbárie que pode ser encontrada no Antigo Testamento: livros como Levítico, Deuteronimo, Samuel II, Éxodo, etc. Isso não é verdade. Podemos apanhar Jesus em metade das suas disposições e podemos deparar com belas palavras e conselhos eticamente válidos, como a regra de ouro.
Mas o mesmo Jesus também disse coisas como, em Lucas 19, 'Tragam aqui os meus inimigos, que não aceitam minha autoridade, e matem-nos à minha frente'.
Eu garanto-vos que os inquisidores da idade média, que quiemaram hereges vivos ao longo de 5 séculos, tinham lido todo o Novo Testamento - leram o sermão da montanha - eles encontraram uma forma de enquadrar o seu comportamento com o exemplo de Jesus.
Não é acidental que as referências teológicas da Igreja, S. Tomás de Aquino, S. Agostinho [...] fossem a favor da morte e tortura de hereges. [...]
Nós olhamos para trás, pessoas a serem queimadas vivas, académicos a serem torturados até à loucura por especularem acerca da natureza das estrelas, da nossa perspectiva enviesada do XXI século e pensamos 'eram lunáticos'.
Não é verdade. Este era um comportamento perfeitamente razoável, tendo em conta aquilo em que se acreditava.
[...]
Outro problema com a crença religiosa moderada é que estes crentes tendem a ser cegados pela sua própria moderação.
É muito difícil para os moderados acreditar que as pessoas acreditam realmente nestas coisas. Quando vemos nas notícias um Jihadista a dizer coisas como 'amamos mais a morte que o infiel ama a vida' e então rebenta consigo, os religiosos moderados (não os fundamentalistas) tendem a não acreditar que a crença foi a razão pela qual ele se fez rebentar. 'Não tem nada a ver com religião: há causas económicas e sociais, a questão da educação, ...'
Não sei quantos engenheiros e arquitectos têm de se fazer rebentar para nós entendermos que as causas não são só económicos-sociais. É muito mais sinistro.
É realmente possível ser tão instruído que se saiba fabricar uma bomba nuclear, e ainda assim acreditar nas 72 virgens.
Nós não respeitamos as crenças de outros. Em todos os assuntos nós avaliamos as suas razões. Se eu chegasse aqui e dissesse 'o holocausto nunca existiu', vocês não teriam qualquer obrigação de respeitar a minha crença a respeito da história da Europa.
Nós não respeitamos os negacionistas do holocausto, os negacionistas não se tornam reitores de universidades; as pessoas que acreditam que o Elvis está vivo não se tornam senadores. Nós não aprovamos leis contra a adoração do Elvis ou a negação do holocausto, mas marginalizamos com sucesso tais pontos de vista.
Em qualquer aspecto da nossa vida, estar muito certo de algo com um número reduzido de provas ou indícios, ou em contradição com um enorme número de provas ou indícios é sinal que algo está errado com essa mente, é sinal de que não se pode confiar nessa pessoa.
E no entanto, no que respeita à Fé, nós adulteramos as regras completamente. [...]
Quando acreditamos que algo é verdadeiro, estamos a esforçarmo-nos por representar a realidade nos nossos pensamentos. É a diferença entre crença e desejo [...] E ou temos boas razões para as nossas crenças, ou não temos.
Em todas as áreas da nossa vida, nós exigimos boas razões e desconfiamos de quem não tem boas razões para as suas crenças fundamentais.
Realmente existe um conflito entre religião e ciência.
Tem havido muita produção académica a respeito de tal conflito. Realmente existe um conflito aqui. Porque em última análise o que está em jogo é ter boas razões ou más razões. Todas as religiões fazem alegações a respeito de como o mundo funciona, todas elas descrevem como é que a realidade funciona.
Ou Jesus vai voltar, ou não. Se ele voltar, vindo das nuvens, o critianismo perdurará revelado enquanto ciência. Será a ciência do cristianismo. E qualquer cristão que quiser poderá dizer 'bem te avisei - aqui está ele, olha para os seus poderes mágicos', e qualquer cientista mentalmente são será convencido por uma demonstração suficiente de poderes mágicos. Estas alegações parecem ser factuais.