Missão cumprida

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Alter-ego
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Missão cumprida

Mensagem por Alter-ego »

Terroristas se dão mal no Iraque
Mario Vargas Llosa

Alguém se atreveria a afirmar, hoje, contra a impressão generalizada, que a intervenção militar no Iraque, em vez de um fracasso catastrófico, vai cumprindo seus objetivos e já alcançou um ponto de não retorno? Bartle Bull, especialista inglês no Oriente Médio, no último número de Prospect, a prestigiosa revista londrina dirigida por David Goodhart, publica um ensaio defendendo essa tese, intitulado Missão cumprida. Seus argumentos são polêmicos, mas nada propagandísticos, nem demagógicos.

Bull deixa de lado a questão de se foi errônea ou acertada a decisão de intervir no Iraque - algo que os historiadores decidirão no futuro - e limita-se a cotejar a situação atual do país e a que reinava quase quatro anos e meio atrás. No seu entendimento, as metas estratégicas da intervenção foram alcançadas. O Iraque não se desintegrou e sua unidade territorial e política parece agora mais firme do que outrora, pois o sistema descentralizado em marcha conta até com o apoio dos curdos, cuja vocação separatista diminuiu de
maneira radical.

Em vez de uma ditadura, o país é uma democracia na qual, em todas as eleições realizadas, a participação popular foi enorme, superior à que caracteriza as sociedades abertas do Ocidente, de modo que seu governo tem uma legitimidade jurídica e política indiscutível. O país já se deu uma Constituição que garante uma independência institucional e liberdades públicas que nem o Iraque nem nenhum de seus vizinhos conheceram em sua história.

Não eclodiu uma guerra civil e o Irã não ocupou o Iraque nem tutela sua vida política. O país deixou de ser um perigo para a paz mundial e, embora muito lentamente, vai se convertendo na primeira sociedade árabe com eleições livres, liberdade de imprensa, partidos políticos diversos e direitos civis reconhecidos.

A violência, é claro, continua causando sofrimentos terríveis. Mas, embora seja obscena a comparação, o número de mortos dessa guerra e do terrorismo resultante - os cálculos variam de 80 mil a 200 mil - está longe de alcançar o 1,5 milhão de mortos resultante das guerras, genocídios e repressões do
regime baathista de Saddam Hussein. A imensa maioria dessas mortes foi obra das matanças cegas e indiscriminadas contra a população civil cometidas pelos terroristas estrangeiros da Al-Qaeda ou os de organizações sunitas e xiitas que guerreavam entre si e procuravam neutralizar a população civil pelo pânico.
Bartle Bull assinala que a aliança entre a Al-Qaeda e outras seitas terroristas fundamentalistas (todas mais ou menos identificadas com um wahabismo radical) empenhadas em ressuscitar a pureza de costumes e a ortodoxia doutrinária "do tempo do Profeta", de um lado, e os sunitas do Baath (um partido inspirado no nacional-socialismo de Hitler, não se deve
esquecer) ansiosos para restaurar os privilégios de que gozavam no tempo de Saddam Hussein estava condenada à divisão.

O mal-estar cresceu quando os fanáticos wahabistas estrangeiros, em sua fúria puritana, começaram a impor sua rígida moral nas zonas por eles dominadas, proibindo o cigarro, assassinando os vendedores de álcool e os xeques das tribos, além de casar jovens à força com os "emires" do grupo denominado "Estado Islâmico do Iraque".

A ruptura se consumou quando os sunitas compreenderam que podiam encontrar uma forma de acomodação e convivência no novo Iraque onde a maioria xiita - três vezes mais numerosa que a minoria sunita - terá as rédeas do poder.

Bull assinala que a nova política pragmática dos sunitas tornou possível, por exemplo, a notável transformação da Província de Anbar, durante bom tempo uma cidadela da resistência e do terrorismo, e agora a mais pacífica de todo o país. Nas 18 províncias iraquianas, a violência se reduziu a níveis mínimos ou desapareceu na metade delas.

Bull destaca alguns marcos nesse desenvolvimento. Um deles foi a batalha entre sunitas e xiitas desencadeada com a destruição, por aqueles, da mesquita de Samarra. Foi o momento em que parecia inevitável uma guerra civil generalizada. Mas os sunitas, cedendo ao realismo, recuaram quando se viram derrotados. A partir daí, eles começaram, no início discretamente e agora de maneira explícita, a pactuar com os Estados Unidos e o governo de Nuri al-Maliki.

Um dos efeitos desses acordos foi o número crescente de sunitas incorporados ao Exército e às forças policiais iraquianas nos últimos meses. Nas últimas semanas, foram 5 mil.

Ao mesmo tempo, num gesto de reciprocidade, o governo iraquiano deu emprego no serviço público a outros 7 mil sunitas e reconheceu o direito a vencimentos plenos de todos os ex-oficiais e soldados baathistas reformados, com exceção dos 1.500 vinculados a crimes e torturas - a maioria dos quais,
ademais, já está presa, morta ou fugiu para a Síria, a Jordânia e a Arábia Saudita.

Esse é um resumo muito sucinto do ensaio de Bartle Bull.

Somente o ódio tão amplo aos Estados Unidos explica o consenso, entre comentaristas e políticos ocidentais e terceiro-mundistas, de que, assim como no Vietnã, as tropas americanas acabarão partido às pressas, expulsas do Iraque pelos "resistentes" e pela repulsa da opinião pública internacional. Por sangrenta e dolorosa que seja a situação no local, o certo é que agora no Iraque não são os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, mas sim os bandos terroristas que estão levando a pior. A última contra-ofensiva dirigida pelo general americano David Petraeus obteve maior sucesso que o esperado e, até agora, não houve o menor retrocesso. E está claro que se iludiam os que achavam que, com um triunfo
democrata nas próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos, viria a debandada. Hillary Clinton e Rudolph Giuliani, os dois prováveis candidatos, deixaram bem claro que, a esse respeito, sua posição é semelhante: a retirada das tropas será feita na medida em que o governo iraquiano esteja em condições de substituí-las tanto na batalha contra o terror como na manutenção da ordem pública.
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Samael
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Re.: Missão cumprida

Mensagem por Samael »

E o que anda nascendo e ainda vai nascer de iraquianozinho loirinho, com cara de chicano ou de cabelo carapinha...

Trancado