No bazar das armas - Opinião (Estadão)

Fórum de discussão de assuntos relevantes para o ateísmo, agnosticismo, humanismo e ceticismo. Defesa da razão e do Método Científico. Combate ao fanatismo e ao fundamentalismo religioso.
Avatar do usuário
Apo
Mensagens: 25468
Registrado em: 27 Jul 2007, 00:00
Gênero: Feminino
Localização: Capital do Sul do Sul

No bazar das armas - Opinião (Estadão)

Mensagem por Apo »

Quinta-Feira, 31 de Janeiro de 2008


No bazar das armas


Há mais de uma maneira de ir-se às compras no bazar das armas. Há governos, por exemplo, que simplesmente anunciam que precisam reequipar suas Forças Armadas. Outros, como o da Venezuela de Hugo Chávez, alegam que estão se armando até os dentes para enfrentar um inimigo externo - no caso, a ameaça imaginária da invasão pelo Império. Há, ainda, aqueles que douram a pílula, apresentando o que não passa de uma transação comercial como um ato de transcendental importância que dará ao país que representam uma nova e maior dimensão no concerto das nações.

É o que está fazendo o ministro Nelson Jobim, em sua visita a vendedores de armamentos na França e na Rússia. ''''Não estamos aqui para comprar, mas para estabelecer uma relação maior que a de comprador e vendedor'''', afirmou ele em Paris. ''''Queremos uma aliança estratégica para remodelar o Plano Estratégico Nacional de Defesa.''''

Em que consiste essa ''''aliança estratégica'''' ninguém sabe - nem o ministro, que não foi capaz de detalhar um acordo bilateral que prevê a livre circulação de militares entre os dois países. Mas os membros do governo Lula gostam da expressão, que usam a granel. Aproveitando esse viés, o ministro da Defesa da França - que é um bom vendedor dos produtos bélicos de seu país - foi na onda. ''''Queremos que o Brasil seja o maior parceiro estratégico da França na América Latina, assim como queremos que a França seja o parceiro estratégico do Brasil na Europa.'''' São palavras agradáveis de ouvir e, por incrível que pareça, há quem acredite nesse tipo de conversa. Há alguns anos, por exemplo, o presidente Carlos Menem acreditou - ledo engano! - que o título de ''''aliado estratégico'''' da Otan colocaria a Argentina no convívio íntimo dos grandes deste mundo. :emoticon17:


O Brasil precisa substituir os equipamentos de suas Forças Armadas, que estão sucateados. E faz bem o ministro da Defesa em procurar no mercado as melhores armas, nas melhores condições de aquisição. Mas é preciso ter os pés no chão. O presidente Nicolas Sarkozy não abriu espaço em sua agenda para receber o ministro Nelson Jobim porque haverá uma ''''aliança estratégica'''', mas porque o Brasil pode voltar a ser um bom freguês da indústria bélica francesa, porque em breve haverá um encontro presidencial e porque estão sendo preparadas as comemorações do ''''Ano da França no Brasil'''', que certamente serão marcadas pela assinatura de acordos de cooperação em várias áreas.


E ter os pé no chão significa não alimentar ilusões sobre o alcance das transações que poderão ser feitas. O ministro da Defesa deixou-se convencer por certos setores militares de que o Brasil só deve comprar equipamento se este vier acompanhado de transferência de tecnologia. No plano teórico, essa é uma boa orientação. No campo prático, essa condição inviabiliza negócios.

''''Não havendo transferência de tecnologia, o negócio não nos interessa'''', afirmou o ministro Jobim a respeito da possível compra de caças franceses de última geração. O projeto desses aviões custou alguns bilhões de euros à Dassault e ao governo francês que, obviamente, não transferirão essa cara tecnologia em troca da venda de duas dúzias de caças.

O ministro também espera receber a tecnologia de construção de submarinos nucleares, como compensação pela compra de um número ainda não definido de submarinos convencionais franceses. Nas atuais circunstâncias, o estaleiro DCNS ficaria muito satisfeito com a venda de dois desses submarinos e até poderia construí-los no Brasil. Mas de maneira alguma - nem por isso nem por negócio de vulto muitíssimo maior - o governo francês passaria ao brasileiro tecnologia sensível, protegida por normas internas severas e por regimes internacionais de não-proliferação.

Há mais de duas décadas a Marinha iniciou um projeto de construção de um submarino de propulsão nuclear. Mas os recursos, que no início eram suficientes para o desenvolvimento de algumas etapas do projeto, foram escasseando. Isso ocorreu porque o governo jamais considerou que a construção de submarinos nucleares fosse essencial à defesa nacional. Houve mesmo quem considerasse que o projeto não passava de um capricho de certos setores da oficialidade naval. O governo Lula anunciou a retomada do projeto. Mas ficou no anúncio. É o que torna bombástico o tom das declarações do ministro da Defesa.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje ... 7863,0.php
Imagem

Avatar do usuário
Claudio Loredo
Mensagens: 3343
Registrado em: 20 Out 2005, 13:33
Localização: Palmas - TO
Contato:

Re.: No bazar das armas - Opinião (Estadão)

Mensagem por Claudio Loredo »

Imagem

Trancado