Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

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Samael
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por Samael »

E, parafraseando alguém, uma proposição só pode ser auto-evidente se todos que a analisarem chegarem a mesma conclusão. Daí, essa questão da individualidade não é auto-evidente em lugar algum.

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Ilovefoxes
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por Ilovefoxes »

Samael escreveu:E, parafraseando alguém, uma proposição só pode ser auto-evidente se todos que a analisarem chegarem a mesma conclusão. Daí, essa questão da individualidade não é auto-evidente em lugar algum.
Quanto a evolução também, já que os crentes preferem o design-inteligente.

darkshi
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por darkshi »

Apo escreveu:A Lei pode ser criminosa!
A Lei pode estar errada!
E somos todos cúmplices da barbárie hedionda imposta pela Lei!



Bem vinda a sociedade humana. As leis não são perfeitas, mas são as Leis.

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SickBoy
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por SickBoy »

Ilovefoxes escreveu:
Samael escreveu:E, parafraseando alguém, uma proposição só pode ser auto-evidente se todos que a analisarem chegarem a mesma conclusão. Daí, essa questão da individualidade não é auto-evidente em lugar algum.
Quanto a evolução também, já que os crentes preferem o design-inteligente.


não acho que a evolução é intuitiva. Não estamos acostumados a pensar em processos que se acumulam em milhões de anos, e nem que coisas simples originem coisas altamente complexas.

darkshi
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por darkshi »

Samael escreveu:Aliás, se naqueles dois seres anteriores temos as informações que darão origem, por meio de fecundação, a um ser, em sua individualidade, não entendi ainda qual é a diferença do "crime" de se eliminar tanto os dois anteriores quanto o "único", posterior à fecundação.


Porque os dois anteriores não tem a capacidade de desenvolver sozinho. Já o segundo tudo que precisa é de um ambiente controlado. Teoricamente a mãe poderia ser eliminada desse processo.

Outra coisa, vc é apenas o resultado de um embrião desenvolvido. Porque vc teria mais direitos do que um não desenvolvido?

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Ilovefoxes
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por Ilovefoxes »

darkshi escreveu:Porque os dois anteriores não tem a capacidade de desenvolver sozinho. Já o segundo tudo que precisa é de um ambiente controlado. Teoricamente a mãe poderia ser eliminada desse processo.
Ora essa, bonito jogo de palavras. Basicamente, os dois casos grifados dizem a mesma coisa, mas você seleciona palavras para induzir a outra situação.
Basicamente você descreve o primeiro caso como meio-vazio, portanto descartável, e o segundo como meio-cheio, e por isso importante.
darkshi escreveu:Outra coisa, vc é apenas o resultado de um embrião desenvolvido. Porque vc teria mais direitos do que um não desenvolvido?
A resposta simplesmente seria "Porque se desenolveu".
Mas a pergunta assume premissas na maneira como é escrita para tentar desqualificar a resposta.

darkshi
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por darkshi »

Da mesma maneira que vc é uma meia-pessoa para mim, já que eu não tenho nenhuma ligação com vc. Então poderia te matar. Como fiz com a Apo, que agora não posta, psicografa no forum.

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Samael
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por Samael »

darkshi escreveu:
Samael escreveu:Aliás, se naqueles dois seres anteriores temos as informações que darão origem, por meio de fecundação, a um ser, em sua individualidade, não entendi ainda qual é a diferença do "crime" de se eliminar tanto os dois anteriores quanto o "único", posterior à fecundação.


Porque os dois anteriores não tem a capacidade de desenvolver sozinho. Já o segundo tudo que precisa é de um ambiente controlado. Teoricamente a mãe poderia ser eliminada desse processo.

Outra coisa, vc é apenas o resultado de um embrião desenvolvido. Porque vc teria mais direitos do que um não desenvolvido?


O posterior TAMBÉM não tem capacidade de se desenvolver sozinho. Como condições normais você pode colocar tanto "fecundação" quanto "recebimento de informação e de nutrientes na fase embrionária". Isso é retórica pura.

Sim, e você é apenas resultado de um espermatozóide mais veloz e um óvulo.

Além do mais, como já dito pelo Manuel diversas vezes, o ambiente dentro do útero é o grande fornecedor das informações e das possibilidades (como prefere colocar o Acauan), ao contrário das tais informações genéticas. Daí, essa idéia teleológica só não é mais maluca por falta de espaço.

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Samael
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por Samael »

Além disso, são os anti-abortistas que estão colocando a capacidade de se "desenvolver sozinho" como justificação para não abortar.

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Ilovefoxes
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por Ilovefoxes »

darkshi escreveu:Da mesma maneira que vc é uma meia-pessoa para mim, já que eu não tenho nenhuma ligação com vc. Então poderia te matar. Como fiz com a Apo, que agora não posta, psicografa no forum.
Ataca o argumentor, não o argumento. Saiu pela culatra.

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Acauan
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por Acauan »

Samael escreveu:
Acauan escreveu:
Samael escreveu:Quanto ao argumento do estágio x processo, mais uma vez, não entendi ainda porque é que se delimita o início do processo na fecundação.


Não entendeu porque aparentemente está restrito à abordagem biológica do problema, como a maioria aqui, pelo que se lê.

Como disse, a questão biológica está contida em uma realidade mais ampla, que é a existencial.

Se há uma razão auto-evidente para se valorizar a vida humana é a individualidade, o fato que nenhum indivíduo é igual a outro, não podendo ser recriado ou substituído.
Esta individualidade é resultado último de uma combinação de possibilidades infinitas, que foram continuamente reduzidas até restar apenas as que produzirão aquele único indivíduo em particular.
É óbvio que a repetição desta combinação de possibilidades infinitas é impossível.

Daí vem a estupidez de comparar o ovo, embrião ou feto com espermatozóides e óvulos.

Um óvulo em particular representa um determinado estágio da cadeia de possibilidades infinitas que resulta no indivíduo.
Só que as possibilidades de um determinado óvulo são ainda praticamente infinitas.
Ele pode ser liberado do ovário e não fecundado ou pode ser liberado e fecundado por qualquer um dos espermatozóides capazes existentes durante o período em que estiver disponível para fecundação.

Se você multiplicar as possibilidades de períodos de fecundação daquele determinado óvulo pela quantidade de espermatozóides capazes existentes, terá a quantidade de possibilidades potenciais de fecundação daquele óvulo, sem considerar os infinitos outros fatores circunstanciais.

Ou seja, aquele determinado óvulo pode se desenvolver em praticamente infinitas possibilidades de indivíduos, dependendo de qual dentre os quintilhões de espermatozóides possíveis faça a fecundação e em quais circunstâncias.

As únicas possibilidades definidas para aquele óvulo em particular são as exclusivamente derivadas da mãe.
Fora isto aquele óvulo pode gerar um homem ou uma mulher, de qualquer etnia ou miscigenação, de quaisquer aparências ou características físicas, saudável ou doente etc.
A estas possibilidades físicas somam-se também potencialmente infinitas possibilidades sociais quanto a nacionalidade, cultura, língua, ambiente familiar, condição financeira etc.

No momento da fecundação tem-se a redução destas infinitas possibilidades para o conjunto delas que só pode gerar um determinado indivíduo, para quem pai e mãe, carga genética, sexo e circunstâncias sociais se estabelecem em definitivo, restando apenas os fatores circunstanciais de influência. (nota: antes que se fale de adoção, esta é uma circunstância social decorrente diretamente daquela determinada gravidez, com aqueles determinados pais).

Ou seja, se a história de qualquer vida humana pode ser regredida ao infinito, a história de todo indivíduo começa com a fecundação.



Então, para você, a individualidade surgida na fecundação se deve ao fato das possibilidades infinitas só serem possíveis a partir da fecundação de dois seres diferentes que, por sua vez, cada um em seu universo, possuem também uma gama imensa de possibilidades?


Claro que não.
De onde tirou isto? Do que escrevi acima é que não pode ser.
A começar da estranha construção "possibilidades só serem possíveis".


Samael escreveu: Aliás, se naqueles dois seres anteriores temos as informações que darão origem, por meio de fecundação, a um ser, em sua individualidade, não entendi ainda qual é a diferença do "crime" de se eliminar tanto os dois anteriores quanto o "único", posterior à fecundação.

Talvez te entenda se você me explicar porque não vê diferença entre atuar sobre um objeto e atuar sobre uma possibilidade.

Samael escreveu: E, parafraseando alguém, uma proposição só pode ser auto-evidente se todos que a analisarem chegarem a mesma conclusão.


Sei lá quem você está parafraseando.
Para mim, uma proposição auto-evidente é aquela em que a evidência está contida na proposição.
Pelo jeito o cara que você parafraseou defende que a auto-evidência de uma proposição está contida fora dela, ou seja, na unanimidade da conclusão dos que a analisarem.


Samael escreveu: Daí, essa questão da individualidade não é auto-evidente em lugar algum.


Acho que deve existir algum lugar onde é auto-evidente que "uma razão para se valorizar a vida humana é a individualidade, o fato que nenhum indivíduo é igual a outro, não podendo ser recriado ou substituído".
Note que não disse que nesta proposição estão contidas todas as razões, mas UMA delas.
Mesmo assim, você acha que não.
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Mucuna
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por Mucuna »

[crente]
e autoria do ex-deputado Eduardo Jorge e da ex-deputada Sandra Starling, o Projeto de Lei 1.135/91 tramita na Câmara dos Deputados e tem por objetivo discriminalizar a interrupção da gravidez até os três primeiros meses de gestação (12 primeiras semanas)


Sandra Starling... Só podia ser mesmo parente daquele líder ateu comunista-soviete-sem-deus-no-coração! [/crente]


:emoticon12: :emoticon12: :emoticon12:
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darkshi
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por darkshi »

Ilovefoxes escreveu:
darkshi escreveu:Da mesma maneira que vc é uma meia-pessoa para mim, já que eu não tenho nenhuma ligação com vc. Então poderia te matar. Como fiz com a Apo, que agora não posta, psicografa no forum.
Ataca o argumentor, não o argumento. Saiu pela culatra.


Não to te atacando, to te matando. É diferente.

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Apo
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por Apo »

darkshi escreveu:
Apo escreveu:A Lei pode ser criminosa!
A Lei pode estar errada!
E somos todos cúmplices da barbárie hedionda imposta pela Lei!



Bem vinda a sociedade humana. As leis não são perfeitas, mas são as Leis.


Não vi novidade alguma na sua colocação, visto que convivo com ela e à ela me submeto há décadas.
A questão é que códigos não devem existir se não forem úteis, ou se estiverem defasados em relação à coletividade a que servem. Se a lei está desatualizada, não devemos apenas usar o argumento de que é lei é pronto. Ela deve ser discutida e moldada à nova realidade.
Se lei fosse universal e imutável, seria idêntica em todos os países, valeria desde tempos remotos e nem estaríamos aqui discutindo.

Arranje outro argumento.
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por Apo »

darkshi escreveu:Da mesma maneira que vc é uma meia-pessoa para mim, já que eu não tenho nenhuma ligação com vc. Então poderia te matar. Como fiz com a Apo, que agora não posta, psicografa no forum.


Eu não posto? Psicografo? :emoticon12:

De onde você tirou isto?

Só porque você teria me matado, acredita que agora sou um espírito? :emoticon12:
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Apo
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por Apo »

Teoricamente a mãe poderia ser eliminada desse processo.


Excelente argumento para imaginarmos que um ser humano pode se desenvolver INCLUSIVE sem mãe.
Quando o tema envolve preconceitos pessoais, muitas vezes arraigados por cultura, religião, desconhecimento ou medo de se arrepender depois, dá-se voltas no biológico, na moral e na ética, no imponderável, na filosofia. Projetar fora o que é questão interna é muito comum.
Embora não leve a lugar algum.

Assumamos que uns teriam coragem de colocar os desejos pessoais ou sua incapacidade acima da lei, mas hipocritamente e por causa dela, abdicamos e nos submetemos, justificando nossa condescendência à ela com preceitos morais, éticos, biológicos e quaisquer discursos que caibam, mesmo que grosseiramente.
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por zumbi filosófico »

darkshi escreveu:
Samael escreveu:Aliás, se naqueles dois seres anteriores temos as informações que darão origem, por meio de fecundação, a um ser, em sua individualidade, não entendi ainda qual é a diferença do "crime" de se eliminar tanto os dois anteriores quanto o "único", posterior à fecundação.


Porque os dois anteriores não tem a capacidade de desenvolver sozinho. Já o segundo tudo que precisa é de um ambiente controlado. Teoricamente a mãe poderia ser eliminada desse processo.


O óvulo também só precisa de um "ambiente controlado", no qual simplesmente se controle basicamente por situações não anti-fecundantes.


Outra coisa, vc é apenas o resultado de um embrião desenvolvido. Porque vc teria mais direitos do que um não desenvolvido?


Você é apenas um cadáver que ainda não morreu. Por que você deveria ter mais direitos que um cadáver?

Ou, você é apenas um óvulo fecundado desenvolvido. Por que você deveria ter mais direitos do que um óvulo não-fecundado?
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros

Mensagem por zumbi filosófico »

Acauan escreveu:
Apo escreveu:
Hospitais públicos atendem 400 mulheres por mês devido a abortos clandestinos[/b]

24/02/2008 (23:48)


Seixas, do A TARDE On Line
Leia também:

>>Projeto libera interrupção da gravidez nos três primeiros meses

Enquanto o projeto de lei que discriminaliza o aborto tramita na Câmara dos Deputados e a Constituição e a Igreja proíbem a interrupção da gravidez, nas três unidades dirigidas pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), em Salvador: Maternidade Tyscila Balbino, Instituto de Perinatologia da Bahia (Iperba) e Maternidade Albert Sabin, cerca de 400 mulheres são atendidas por mês devido a conseqüências de abortos clandestinos.

As três maternidades receberam quase quatro mil mulheres em 2007. Nessas unidades, os casos de aborto ilegal perdem apenas para os partos. O alto índice coloca a capital baiana no topo do ranking nacional, ao lado de outras cidades nordestinas, revela o último relatório da Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF, na siga em inglês), entidade que atua em 150 países.


Como sempre estes números vem desacompanhados de qualquer informação mais detalhada que permita pesquisa às fontes primárias.

Como este Índio Velho já fez isto, levantou que segundo dados do dataSUS, entre 2002 e 2004 foram registradas 24 mortes de mulheres por aborto clandestino.
ISTO NO BRASIL TODO!

A mágica que transforma duas dúzias de casos em milhares ou milhões é realmente um mistério.

[/quote]

A notícia comentada não falou em mortes. Não é porque, teoricamente teriam ocorrido apenas 24 mortes por aborto clandestino que esse seria o número total de atendimentos médicos por conseqüências de abortos clandestinos.
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros

Mensagem por Acauan »

zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu:
Apo escreveu:Hospitais públicos atendem 400 mulheres por mês devido a abortos clandestinos

24/02/2008 (23:48)


Seixas, do A TARDE On Line
Leia também:

>>Projeto libera interrupção da gravidez nos três primeiros meses

Enquanto o projeto de lei que discriminaliza o aborto tramita na Câmara dos Deputados e a Constituição e a Igreja proíbem a interrupção da gravidez, nas três unidades dirigidas pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), em Salvador: Maternidade Tyscila Balbino, Instituto de Perinatologia da Bahia (Iperba) e Maternidade Albert Sabin, cerca de 400 mulheres são atendidas por mês devido a conseqüências de abortos clandestinos.

As três maternidades receberam quase quatro mil mulheres em 2007. Nessas unidades, os casos de aborto ilegal perdem apenas para os partos. O alto índice coloca a capital baiana no topo do ranking nacional, ao lado de outras cidades nordestinas, revela o último relatório da Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF, na siga em inglês), entidade que atua em 150 países.


Como sempre estes números vem desacompanhados de qualquer informação mais detalhada que permita pesquisa às fontes primárias.

Como este Índio Velho já fez isto, levantou que segundo dados do dataSUS, entre 2002 e 2004 foram registradas 24 mortes de mulheres por aborto clandestino.
ISTO NO BRASIL TODO!

A mágica que transforma duas dúzias de casos em milhares ou milhões é realmente um mistério.


A notícia comentada não falou em mortes. Não é porque, teoricamente teriam ocorrido apenas 24 mortes por aborto clandestino que esse seria o número total de atendimentos médicos por conseqüências de abortos clandestinos.


Devo ter repetido meia dúzia de vezes nos posts anteriores que não fiz julgamento de mérito dos números do DataSUS.
Se checar os links que forneci verá que embora eu tenha destacado os números sobre mortes, há informação detalhada e segmentada sobre TODAS as ocorrências médicas registradas pelo SUS.

A questão posta e reposta é que abortistas estão sempre soltando números sem citar fontes primárias documentadas acessíveis e quando recorremos a fontes primárias documentadas acessíveis para verificar números sobre aborto, estes são sempre de uma magnitude muito inferior à pregada pelos pró.

No mais, se apenas duas maternidades de Salvador atendem a centenas de casos de complicações por aborto clandestino por mês e mesmo assim o DataSUS só registra meia dúzia de mortes por ano, as conclusões possíveis são as seguintes:

1. Apesar do elevadíssimo número de casos de abortos clandestinos, a mortalidade decorrente é baixíssima;
2. O DataSUS é um sistema de informações incompetente ao extremo;
3. O DataSUS é mentiroso;
4. As mulheres pobres que sofrem complicações por aborto não recorrem ao SUS;
5. Os números sobre abortos citados na matéria foram, de novo, exagerados.

Cada qual analise.
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por zumbi filosófico »

Acauan escreveu:
Samael escreveu:Quanto ao argumento do estágio x processo, mais uma vez, não entendi ainda porque é que se delimita o início do processo na fecundação.



Esta individualidade é resultado último de uma combinação de possibilidades infinitas, que foram continuamente reduzidas até restar apenas as que produzirão aquele único indivíduo em particular.
É óbvio que a repetição desta combinação de possibilidades infinitas é impossível.

Daí vem a estupidez de comparar o ovo, embrião ou feto com espermatozóides e óvulos.


Não é uma estupidez, é igualmente válido. Você só pode defender que o zigoto é "melhor" que o óvulo não fecundado se inconsistentemente reduzir como insignificante a individualidade proveniente "apenas da mãe":

As únicas possibilidades definidas para aquele óvulo em particular são as exclusivamente derivadas da mãe.


Ou seja, individualidade, pura e simples, não é verdadeiramente o caso. Tem que ser a MINHA individualidade ideal, que não existe sem o complemento dos genes do pai, ou do que mais eu quiser.

Aí sim, passa a ser gente mesmo; antes é só uma célula desprezível que pode ser morta, porque toda individualidade é meramente de origem materna, de um reles incubador biológico.



Um óvulo em particular representa um determinado estágio da cadeia de possibilidades infinitas que resulta no indivíduo.
Só que as possibilidades de um determinado óvulo são ainda praticamente infinitas.


E daí? Qual é a importância das possibilidades de rumos de vida de um indivíduo serem vastas, inumeráveis? Um bebê em uma família rica, que tem mais oportunidades e mais possibilidades então é "menos individuo" do que um bebê de uma família pobre que tem suas opções mais restritas?

Só se é indivíduo "mesmo" quando já se determinou o idioma, país natal e outros valores arbitrários?





Fora isto aquele óvulo pode gerar um homem ou uma mulher, de qualquer etnia ou miscigenação, de quaisquer aparências ou características físicas, saudável ou doente etc.
A estas possibilidades físicas somam-se também potencialmente infinitas possibilidades sociais quanto a nacionalidade, cultura, língua, ambiente familiar, condição financeira etc.


Novamente, as possibilidades em aberto que as pessoas tem na vida não as tornam as pessoas inferiores, ou "menos pessoas". Esse argumento da determinação ideal da individualidade é totalmente arbitrário.

Se fosse para ser seguido consistentemente, só se teria direito a proteção à vida no instante da morte, quando todas as possibilidades de vida já foram determinadas; mas claro, pode-se sempre fazer uma delimitação arbitrária, como, genótipo diplóide, ou já ter adquirido o idioma da sua terra natal. Se os pais estão em mudança de país durante a gestação, mas não sabe em qual país irão morar talvez possa se argumentar pela possibilidade de aborto, já que cria-se indeterminação para o embrião ou feto.

E sempre falando-se de zigotos produzidos pela sacrossanta fecundação e se esquecendo dos pobrezinhos clonados, biologicamente idênticos, individuais, mas inferiores e que podem ser mortos à vontade.
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Acauan
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por Acauan »

Probleminha ético para abortistas:

Na média, abortistas defendem que um feto humano só tem direitos a partir do desenvolvimento ou funcionamento do sistema nervoso central, mais ou menos lá pelo terceiro mês da gravidez.
Antes disto o embrião ou feto seria apenas um ser humano potencial, não de fato e, portanto, não teria direito algum e qualquer coisa pode ser feita com ele.

O probleminha é, gerações futuras são grupos de seres humanos potenciais, que ainda não existem no presente.
Podemos concluir então que as gerações humanas futuras não têm direito algum e, portanto, a geração atualmente viva não tem nenhuma responsabilidade ética sobre o impacto futuro de seus atos sobre estas gerações?
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por zumbi filosófico »

darkshi escreveu:Poupar em viver em más condições? Então podemos matar qualquer presidiário? Interno do Caje? Pacientes de institutos mentais?

E eu diria que é uma espécie de espantalho querer defender o caso generalizado, aborto legal em qualquer caso, com citações a casos específicos, como acefalia ou estupro.


Um problema freqüente dessa discussão toda é isso de quem não é contra o aborto "esquecer" que os contrários podem ver desde espermatozóides até todos os estágios de desenvolvimento mais consensuais como indivíduos humanos, e os pró-vida também esquecerem que os pró-escolha não vêem exatamente da mesma forma, mas que a fecundação, o arranjo de ácidos nucléicos e outros níveis de organização dos tecidos antes do desenvolvimento do sistema nervoso, não são importantes como um ser humano, apesar de serem "vida" e ser vida biologicamente humana.

Eu acho que praticamente ninguém defende aborto irrestrito em termos de desenvolvimento. Dessa forma a analogia em matar à vontade como for conveniente por qualquer motivo não é válida, do ponto de vista de quem não é contra o aborto.

E quanto ao caso de estupro, pelo que me lembro, o único que defendia isso por aqui era ironicamente pró-vida, o Poindexter.
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Acauan
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por Acauan »

zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu:
Samael escreveu:Quanto ao argumento do estágio x processo, mais uma vez, não entendi ainda porque é que se delimita o início do processo na fecundação.


Esta individualidade é resultado último de uma combinação de possibilidades infinitas, que foram continuamente reduzidas até restar apenas as que produzirão aquele único indivíduo em particular.
É óbvio que a repetição desta combinação de possibilidades infinitas é impossível.

Daí vem a estupidez de comparar o ovo, embrião ou feto com espermatozóides e óvulos.


Não é uma estupidez, é igualmente válido. Você só pode defender que o zigoto é "melhor" que o óvulo não fecundado se inconsistentemente reduzir como insignificante a individualidade proveniente "apenas da mãe":


Qual individualidade provém apenas da mãe?
Exclusivamente da mãe provém um grupo de características e não uma individualidade.

E quem falou em zigotos serem melhores ou piores do que outras coisas?
Foi exposta uma cadeia de eventos que para resultar no indivíduo requer que infinitas possibilidades se reduzam continuamente até chegar a ele. Se apenas uma destas possibilidades for suprimida o resultado não se completa, logo, em tese, são igualmente importantes do ponto de vista da necessidade para obtenção do resultado final.

Só que não era disto que eu falava, como se pode verificar.
Parece ainda haver confusão entre minha abordagem das possibilidades existenciais e a abordagem padrão exclusivamente biológica.


zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu: As únicas possibilidades definidas para aquele óvulo em particular são as exclusivamente derivadas da mãe.


Ou seja, individualidade, pura e simples, não é verdadeiramente o caso. Tem que ser a MINHA individualidade ideal, que não existe sem o complemento dos genes do pai, ou do que mais eu quiser.
Aí sim, passa a ser gente mesmo; antes é só uma célula desprezível que pode ser morta, porque toda individualidade é meramente de origem materna, de um reles incubador biológico.


De novo tentei encontrar um nexo entre o que escrevi e você respondeu e não encontrei.
Alguém aqui sequer insinuou alguma coisa sobre ser ou deixar de ser um reles incubador biológico?
Eu não fui.


zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu: Um óvulo em particular representa um determinado estágio da cadeia de possibilidades infinitas que resulta no indivíduo.
Só que as possibilidades de um determinado óvulo são ainda praticamente infinitas.


E daí? Qual é a importância das possibilidades de rumos de vida de um indivíduo serem vastas, inumeráveis? Um bebê em uma família rica, que tem mais oportunidades e mais possibilidades então é "menos individuo" do que um bebê de uma família pobre que tem suas opções mais restritas?


Continuo não sabendo onde você leu isto.

zumbi filosófico escreveu: Só se é indivíduo "mesmo" quando já se determinou o idioma, país natal e outros valores arbitrários?


Finalmente algo...

Só se é "indivíduo mesmo" quando o conjunto de suas características o distingue de modo único dos outros membros do mesmo gênero ou espécie.
Se estamos distinguindo individualidade humana, é necessário considerar o conjunto de características humanas que distinguem um indivíduo humano do outro de modo único.
As possibilidades existentes antes da fecundação são incapazes de definir tal conjunto de características, dado que elas podem ser quaisquer. Se são quaisquer não há definição, distinção e, por definição, não há individualidade.


zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu: Fora isto aquele óvulo pode gerar um homem ou uma mulher, de qualquer etnia ou miscigenação, de quaisquer aparências ou características físicas, saudável ou doente etc.
A estas possibilidades físicas somam-se também potencialmente infinitas possibilidades sociais quanto a nacionalidade, cultura, língua, ambiente familiar, condição financeira etc.


Novamente, as possibilidades em aberto que as pessoas tem na vida não as tornam as pessoas inferiores, ou "menos pessoas". Esse argumento da determinação ideal da individualidade é totalmente arbitrário.


Sei lá que afasia ocorre aqui.

O que foi escrito acima fala de definição e indefinição de características dentro do campo das possibilidades, sendo claro que quando as possibilidades de definição das características são infinitas então não há definição alguma. É preciso que haja uma redução suficiente destas possibilidades para que possamos identificar um indivíduo pela identificação destas características, mesmo que ainda no campo das possibilidades.


zumbi filosófico escreveu:Se fosse para ser seguido consistentemente, só se teria direito a proteção à vida no instante da morte, quando todas as possibilidades de vida já foram determinadas; mas claro, pode-se sempre fazer uma delimitação arbitrária, como, genótipo diplóide, ou já ter adquirido o idioma da sua terra natal. Se os pais estão em mudança de país durante a gestação, mas não sabe em qual país irão morar talvez possa se argumentar pela possibilidade de aborto, já que cria-se indeterminação para o embrião ou feto.


Não sei como chegou a estas conclusões.
A partir do momento que têm-se um número de características suficientes para distinguir um indivíduo, o fato de que novas características podem lhes ser agregadas pode, no máximo, enriquecer sua individualidade, mas o requisito para defini-la já se consolidou antes disto.


zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu: E sempre falando-se de zigotos produzidos pela sacrossanta fecundação e se esquecendo dos pobrezinhos clonados, biologicamente idênticos, individuais, mas inferiores e que podem ser mortos à vontade.


Isto seria tema para outro texto, com outras intermináveis discussões.
Toda vez que discorro um assunto alguém o estende para além do posto e se me atento a extensão alguém a leva para ainda além.
Uma hora é preciso parar.
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por zumbi filosófico »

Acauan escreveu:Probleminha ético para abortistas:

Na média, abortistas defendem que um feto humano só tem direitos a partir do desenvolvimento ou funcionamento do sistema nervoso central, mais ou menos lá pelo terceiro mês da gravidez.
Antes disto o embrião ou feto seria apenas um ser humano potencial, não de fato e, portanto, não teria direito algum e qualquer coisa pode ser feita com ele.

O probleminha é, gerações futuras são grupos de seres humanos potenciais, que ainda não existem no presente.
Podemos concluir então que as gerações humanas futuras não têm direito algum e, portanto, a geração atualmente viva não tem nenhuma responsabilidade ética sobre o impacto futuro de seus atos sobre estas gerações?


Eu penso que freqüentemente pode-se exigir demais de proposições lógicas para algum tipo de problema, um tipo de literalismo/reducionismo que leva a esse tipo de redução ao absurdo.

A idéia da analogia é mostrar que, como é bastante provável que a humanidade continue a se reproduzir, temos responsabilidade para com as gerações que ainda são apenas potenciais; logo existência apenas potencial acarreta em responsabilidade praticamente igual à existência factual, e então não se pode abortar porque o óvulo fecundado é um ser humano potencial.

Só que esse reductio ad absurdum é uma faca de dois gumes, afeta aos dois lados. Poderia se continuar com um óvulo sendo um indivíduo potencial, qualquer que venha a ser o seu futuro genótipo - também não sabemos quais serão as freqüências genotípicas das populações fururas - ou até mesmo que, tesão e ovulação ocorrendo juntas são sexo-e-logo-fedundação potencial, e então as pessoas são obrigadas a terem uma relação sexual e terem um filho já que "potencialmente" o tiveram; se for tesão unilateral, então é um estupro potencial, e pode ser julgado como estupro de verdade.

Numa análise mais realista, não-caricata das coisas, é ridículo sugerir que não devessemos ter a possibilidade de decidir, tanto não engravidar, seja por abstinência ou por uso de contraceptivos - não precisando se usar de algum anti-viagra ou anti-ovulação, ainda que talvez até esses fossem questionáveis pela lógica do potencial em caso de não-intervenção - quanto interromper a gravidez num estágio que se considere ético, análogo ao mesmo tempo a uma menstruação, aborto espontâneo, remoção de teratoma ou aborto de feto anencefálico, no sentido do estado presente de tecidos ou seres cuja morte não é vista como um problema ético ou moral; e análogo também de certa forma a abstinência sexual ou uso de contraceptivos, no sentido da interrupção do potencial.

De forma parecida, se mantemos que os indivíduos devem ter os seus direitos de acordo com o seu potencial futuro, no que implica a certeza absoluta de que todos os indivíduos que hoje estão vivos eventualmente irão morrer? Devemos ter o direito de matar qualquer um, porque todos "estão" mortos, já que certamente morrerão no futuro? Um morto pode ser culpado, ou pode ter algum direito? Não, na verdade o que importa são os indivíduos vivos, e vivos dentro de certos parâmetros "razoáveis", e não simplesmente como indivíduos "materiais"; tem que se fazer adendos mais "humanos" à proposições lógicas simples que poderiam ser escritas e entendidas meio que em "linguagem de máquina" para dar esses "bugs" ridículos.
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Re: Projeto libera interrupção da gravidez até 3 primeiros meses

Mensagem por Acauan »

zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu:Probleminha ético para abortistas:

Na média, abortistas defendem que um feto humano só tem direitos a partir do desenvolvimento ou funcionamento do sistema nervoso central, mais ou menos lá pelo terceiro mês da gravidez.
Antes disto o embrião ou feto seria apenas um ser humano potencial, não de fato e, portanto, não teria direito algum e qualquer coisa pode ser feita com ele.

O probleminha é, gerações futuras são grupos de seres humanos potenciais, que ainda não existem no presente.
Podemos concluir então que as gerações humanas futuras não têm direito algum e, portanto, a geração atualmente viva não tem nenhuma responsabilidade ética sobre o impacto futuro de seus atos sobre estas gerações?


Eu penso que freqüentemente pode-se exigir demais de proposições lógicas para algum tipo de problema, um tipo de literalismo/reducionismo que leva a esse tipo de redução ao absurdo.

A idéia da analogia é mostrar que, como é bastante provável que a humanidade continue a se reproduzir, temos responsabilidade para com as gerações que ainda são apenas potenciais; logo existência apenas potencial acarreta em responsabilidade praticamente igual à existência factual, e então não se pode abortar porque o óvulo fecundado é um ser humano potencial.

Só que esse reductio ad absurdum é uma faca de dois gumes, afeta aos dois lados. Poderia se continuar com um óvulo sendo um indivíduo potencial, qualquer que venha a ser o seu futuro genótipo - também não sabemos quais serão as freqüências genotípicas das populações fururas - ou até mesmo que, tesão e ovulação ocorrendo juntas são sexo-e-logo-fedundação potencial, e então as pessoas são obrigadas a terem uma relação sexual e terem um filho já que "potencialmente" o tiveram; se for tesão unilateral, então é um estupro potencial, e pode ser julgado como estupro de verdade.

Numa análise mais realista, não-caricata das coisas, é ridículo sugerir que não devessemos ter a possibilidade de decidir, tanto não engravidar, seja por abstinência ou por uso de contraceptivos - não precisando se usar de algum anti-viagra ou anti-ovulação, ainda que talvez até esses fossem questionáveis pela lógica do potencial em caso de não-intervenção - quanto interromper a gravidez num estágio que se considere ético, análogo ao mesmo tempo a uma menstruação, aborto espontâneo, remoção de teratoma ou aborto de feto anencefálico, no sentido do estado presente de tecidos ou seres cuja morte não é vista como um problema ético ou moral; e análogo também de certa forma a abstinência sexual ou uso de contraceptivos, no sentido da interrupção do potencial.

De forma parecida, se mantemos que os indivíduos devem ter os seus direitos de acordo com o seu potencial futuro, no que implica a certeza absoluta de que todos os indivíduos que hoje estão vivos eventualmente irão morrer? Devemos ter o direito de matar qualquer um, porque todos "estão" mortos, já que certamente morrerão no futuro? Um morto pode ser culpado, ou pode ter algum direito? Não, na verdade o que importa são os indivíduos vivos, e vivos dentro de certos parâmetros "razoáveis", e não simplesmente como indivíduos "materiais"; tem que se fazer adendos mais "humanos" à proposições lógicas simples que poderiam ser escritas e entendidas meio que em "linguagem de máquina" para dar esses "bugs" ridículos.


Impressão minha ou você enrolou e não respondeu?

Temos ou não responsabilidades éticas com as gerações futuras? - independente, por enquanto, de qualquer analogia ou desdobramento com a discussão sobre aborto.
Nós, Índios.

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