darkshi escreveu:Agora serio. Sem essa historia de poder matar quem eu quiser. =)
Quantos de vcs conhecem suas historia de como foram concebidos? Quantos de vcs não foram filhos mal planejados? Quantas pessoas que vcs conhecem não nasceram numa época ruim para a vida da mãe? Quantos de vcs não atrapalharam os estudos de suas respectivas mães? Quantos de vcs não entrariam na lista de candidatos a aborto? Já pensaram nisso?
Conheço, por que não conheceria?
E conheço a do meu abortado futuro segundo irmão caçula.
Depois de nos contar que estava grávida, minha mãe entrou em parafuso e meu pai com ela ( por várias questões pessoais que conheço também). Um belo dia, depois do anúncio ( e de eu ter espalhado na escola para as amiguinhas que ~ia ganhar mais um irmão), minha mãe ( sem aviso prévio e em decisão com meu pai), aparece deitada na cama se recuperando do aborto.
Aos 10 anos e na década de 70, achei a coisa estranha, mas definitiva. Respeitei os motivos deles ( que os estavam fazendo sofrer muito ) e segui a minha vida. Vou acusá-la de ter matado o meu ( potencial ) irmão? Eu, não. A vida é uma caixinha de surpresas, nem todas agradáveis.
Ao contrário de mim, a irmã do meu pai ( solteira, moralista e religiosa - até hoje e para todo o sempre), quando soube do acontecido, correu numa revista da época e recortou uma foto de página inteira e colorida com a foto de um embrião dentro de um útero, foi até a nossa casa e esfregou a foto na cara da minha mãe dizendo: " Olha bem com o que você acabou!"
Este tipo de dedo moralista é lamentável. Jamais penso no ato de meus pais como um crime ou não poderia conviver com eles. Tive para mim, que se um disse tivesse um filho por acidente, incidente ou agressão, abortaria ( eu já contei aqui neste tópico e em outros, que sempre neguei instintos maternos em mim e sempre odiei crianças choronas e remelentas por perto).
Engravidei sob o diagnóstico de esterilidade, num momento nada aprazível para se ter um filho, pensei no que fazer durante 2 dias apenas. E optei por ter o filho. Tive e respondo por esta circunstância. Foi o que aconteceu naquele contexto.
Isto não pode se aplicar a outras pessoas, outros contextos e outras realidades e vidas diferentes da minha. Há que se sair um pouco do próprio mundinho e enxergar o antes de você, depois de você, aquém e além.
Ficar batendo na tecla do " se eu agüentei, todo mundo agüenta", " se deu certo comigo, se eu consegui, todo mundo consegue". Para algumas coisas individuais ou transitórias, nossas experiências podem servir de exemplo. Mas coisas extremas, em que há muita coisa e de outras pessoas envolvidas, onde o futuro é previsto como uma cruz maior do que podemos carregar, ou as dúvidas não se respondem com respostas reducionistas, há que ponderar muito.
Se eu estivesse acabando com os planos de meus pais, paciência. Eles teriam o direito, por mime por eles, de tomar a decisão que tomassem. Assim é quando precisa-se decidir , num parto complicado, quem deve sobreviver em detrimento do outro: se a mãe ou o filho, se um gêmeo ou outro. Alguém está em sofrimento ( e ele é genuíno e real ).
No meu entender ( e parece que no da maioria das pessoas e médicos), a mãe geralmente é quem recebe o direito à vida ( porque é mais saudável, porque "existe" primeiro, porque tem outros filhos dependendo dela, porque pode ter mais filhos além deste, porque o marido prefere a mulher ao filho na barriga, etc) .
Alguém é considerado criminoso aqui? Não.
Vão apontar o dedo para esta mulher e o homem e outros envolvidos na decisão? Não vejo que apontar seja algo construtivo ou mude a realidade.