Adeus Social-democracia

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RicardoVitor
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Adeus Social-democracia

Mensagem por RicardoVitor »

Adeus Social-democracia
por João Luiz Mauad em 27 de junho de 2007

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Resumo: Um dos primeiros próceres do modelo a entender que as políticas da social-democracia precisavam ser revistas foi Tony Blair, que compreendeu a natureza daquela armadilha econômica em seus dois aspectos principais.

O visionário Aléxis de Toqueville foi talvez quem melhor definiu o que viria a ser, mais tarde, a "social-democracia", ainda que não tenha vivido para testemunhá-la. Em sua imortal obra "A democracia na América", ao imaginar sob quê possíveis novas características poderia reaparecer no mundo a tirania que tanto desprezava, ele anteviu uma espécie de "escravidão disciplinada, moderada e serena", a qual, sob a égide da igualdade, seria aceita e até mesmo desejada.

Segundo Toqueville, os futuros tiranos, movidos pela compaixão a seus súditos, tratariam de "prover sua segurança, antecipar e satisfazer suas necessidades, dar gosto a seus prazeres, resolver suas principais inquietudes, dirigir seu trabalho". O tirano moderno, continua o mestre, controla "toda a vida social através de uma rede de normas secundárias e complexas, minuciosas e uniformes... Não anula a vontade das pessoas, mas a refreia, a inclina e a dirige; raramente ordena atuar, mas freqüentemente inibe as iniciativas; não destrói nada, mas impede que se criem muitas coisas; não é em absoluto despótico, mas obstrui, reprime, debilita, sufoca e embrutece, a ponto de transformar os povos num mero rebanho de animais medrosos..."

Malgrado sua concepção eminentemente socialista e inibidora da liberdade, a experiência social-democrata que floresceu na Europa Ocidental após a Segunda Guerra manteve o modelo econômico capitalista, pelo menos no sentido de que a propriedade privada dos meios de produção era permitida, ainda que altamente concentrada nas mãos de uns poucos. O arquétipo do "capitalismo selvagem" foi substituído por um sistema híbrido, que combinava grandes conglomerados industriais e financeiros, freqüentemente patrocinados pelo Estado, uma agricultura altamente subsidiada, além de empresas miúdas - quase sempre comerciais ou de prestação de serviços. Fora isso, a hipertrofia dos governos formou um enorme contingente de funcionários públicos, que em alguns países chegou perto de 50% da população economicamente ativa.

Seu advento ocorreu em meio à Guerra Fria, num período marcado pela limitação à livre movimentação de capitais e produtos, quase sempre mediante controles burocráticos e imposição de barreiras tarifárias. Com a queda do muro de Berlin e, principalmente, a aceleração do processo de globalização, conseqüência direta da profusão de novas tecnologias, que permitiram a movimentação muito mais dinâmica da informação, dos capitais, dos produtos e do próprio trabalho, as sociedades européias se viram, da noite para o dia, obrigadas a promover uma reavaliação profunda de seu festejado modelo, algo até então impensável.

A recente eleição de Nicolas Sarkozy, na França, é mais um (enorme) passo na caminhada - iniciada há tempos por Margareth Thatcher - de volta ao livre mercado. Esta mudança de rumo, que para muitos não deixa de ser traumática, notadamente para aqueles que se acostumaram a ter e almejar benefícios "sociais" espúrios à custa do trabalho alheio, ocorre muito mais por falta de opção do que propriamente por escolha. E não é para menos: enquanto a taxa de natalidade não pára de cair e os velhos vivem cada vez mais, os gastos com saúde ficam cada vez mais caros. Por outro lado, a relação entre trabalhadores ativos e aposentados segue diminuindo rapidamente, tudo isso em meio à estagnação econômica que já dura décadas.

Um dos primeiros próceres do modelo a entender que as políticas da social-democracia precisavam ser revistas foi Tony Blair, que compreendeu a natureza daquela armadilha econômica em seus dois aspectos principais. Em primeiro lugar, não era possível manter um mercado de trabalho baseado na instituição da estabilidade do emprego, num mundo onde a evolução tecnológica cria e destrói tipos de ocupação numa velocidade tremenda. Em segundo lugar, as instituições de proteção social, concebidas fundamentalmente para compensar o fracasso individual, ao mesmo tempo em que castigam o êxito, eram particularmente pouco efetivas num mundo globalizado cada vez mais competitivo.

O esquerdista Blair concluiu, há mais de dez anos, que as premissas do "marco social" - que imperou a partir da 2ª Guerra - haviam sido derrubadas e, a menos que a social-democracia se transformasse profunda e rapidamente, seria varrida pelo furacão da globalização. As mudanças, no entanto, não são simples nem se operam sem resistência, cujo espectro é especialmente visível no âmbito da intelligentsia esquerdista - preocupada, como sempre, não com os baixos índices de crescimento ou os elevados níveis de desemprego, mais em evitar a quebra do consenso ideológico anti-liberal.

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Re: Adeus Social-democracia

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Cadê o André de Toqueville?

:emoticon12:
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RicardoVitor
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Re: Adeus Social-democracia

Mensagem por RicardoVitor »

Apo escreveu:Cadê o André de Toqueville?

:emoticon12:


Ele e a turminha da esquerda nunca entram nesses tópicos... Fogem da realidade como crente foge do diabo :emoticon12:
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Re: Adeus Social-democracia

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viewtopic.php?f=1&t=15314&p=323641&hilit=o+fracasso+do+neoliberalismo#p323641

Diferentemente deste tópico wannabe, que não embasa sua ideologia em números, apelando a assertivas vazias, Huxley demonstrou toda essa farsa nesse tópico.

Mas, incrivelmente, não foi respondido em números e fatos, como era de se esperar (se falamos de economia, é claro).

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Re: Adeus Social-democracia

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Sama de Toqueville respondeu por todos eles... :emoticon12:
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Huxley
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Re: Adeus Social-democracia

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Fonte: “Income Distribution and Poverty in OECD Countries in the Second Half of the 1990’s”, Forster, M., d´Ercole, M, OECD Social, Employment and Migration Working Paper (março/2005). Obs. Gastos sociais são definidos neste trabalho excluindo os gastos com saúde e previdência. A linha de pobreza relativa está definida como a metade da renda disponível mediana das famílias.

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http://en.wikipedia.org/wiki/Image:HDI_welfare.png#file

Correlação entre índice de desenvolvimento humano e gasto social como percentual do produto.




"A recente eleição de Nicolas Sarkozy, na França, é mais um (enorme) passo na caminhada - iniciada há tempos por Margareth Thatcher - de volta ao livre mercado."

"As mudanças, no entanto, não são simples nem se operam sem resistência, cujo espectro é especialmente visível no âmbito da intelligentsia esquerdista - preocupada, como sempre, não com os baixos índices de crescimento ou os elevados níveis de desemprego, mais em evitar a quebra do consenso ideológico anti-liberal."

Não é só a esquerda fundamentalista que adora idolatrar a mediocridade. A direita também. Thatcher dobrou a taxa de pobreza no Reino Unido. Um coisa registrada no The Wall Street Journal: http://online.wsj.com/article_email/SB1 ... DI4Wj.html

E o desemprego continuou alto no finzinho de seu governo. Era de 8,1% em 1988. (ver: Lars Calmsfors e John Drifill, "Bargaining Structure, Corporatism and Economic Performance". Economic Policy, abril de 1988.In: Sachs e Larrain:Macroeconomia:Edição Atualizada e Revisada-Makroon Books). E o "esquerdista" Blair reestabelesceu o salário mínimo e o desemprego no fim de seu governo era 5,4%: http://portalexame.abril.com.br/revista ... 52273.html

O governo de Ronald Reagan é idolatrado pela direita. Ele foi o "governo do crescimento econômico"???? Um dado de Alberto Alesina no NBER Macroeconomics Annual (ver também o manual de Blanchard que já citei no tópico "O fracasso do neoliberalismo",p.543) mostra que o crescimento econômico médio anual na sua gestão foi de apenas 2,7%, contra 3,1% do governo anterior (o do demonizado governo de Jimmy Carter).
“A boa sociedade é aquela em que o número de oportunidades de qualquer pessoa aleatoriamente escolhida tenha probabilidade de ser a maior possível”

Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)

"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."

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Re: Adeus Social-democracia

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Apo escreveu:Sama de Toqueville respondeu por todos eles... :emoticon12:


Eu não respondo por uma suposta "esquerda". Só que o "bosta e foge" enche o saco de vez em quando.

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RicardoVitor
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Re: Adeus Social-democracia

Mensagem por RicardoVitor »

Uau, poderia explicar como chegou na brilhante conclusão expressa nesse gráfico? Não seria melhor colocar como rótulos "direita nazista" e "esquerda democrata", azul e vermelho, respectivamente? E, pra variar, além de omitir quaisquer outros dados, cita uma fonte que em nada tem a ver com a sua conclusão. Para começar, o que você quis dizer com o "sem Governo" / "com Governo"?

Quanto a Thatcher, omitir outros dados (como o fato de que no período de seu governo ocorreu uma explosão no fluxo de imigração) auxilia na tentativa de culpar o "néuliberalismo" por todas as mazelas do período. Tal conclusão é tão rasa quanto a ideologia por trás do autor.

De resto, continua chutando cachorro morto, manipulando estatísticas, falando abobrinhas e vomitando conclusões baseadas em "análises" (?) rasas. Nada que mereça maior atenção, por enquanto.
Editado pela última vez por RicardoVitor em 02 Mar 2008, 23:05, em um total de 4 vezes.
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RicardoVitor
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Re: Adeus Social-democracia

Mensagem por RicardoVitor »

Engraçado, o Orbe/Samael entrou no tópico duas vezes, mas em ambas ignorou (conveniente, não?) o texto por completo. Samael, o que você acha das recorrentes falências das social-democracias pelo mundo? Você considera tal modelo sustentável? De que forma?
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Re: Adeus Social-democracia

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Samael escreveu:
Apo escreveu:Sama de Toqueville respondeu por todos eles... :emoticon12:


Eu não respondo por uma suposta "esquerda". Só que o "bosta e foge" enche o saco de vez em quando.


Por que sempre este negócio de "posta-foge"? Isto também enche o saco de vez em quando...
Faz alguma diferença postar números e estatísticas, caso elas não satisfaçam o pensamento discordante da teoria? Nenhuma. Já se postou trezentas vezes aqui números a respeito das duas vertentes ideológico - econômicas. Há quem veja flores em latas de lixo e há quem veja lixo em vasos de flores.
Bom, todo mundo aqui sabe o que eu penso de números e a que eles servem ( ou se prestam, o que é pior ainda).
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Re: Adeus Social-democracia

Mensagem por Samael »

RicardoVitor escreveu:Engraçado, o Orbe/Samael entrou no tópico duas vezes, mas em ambas ignorou (conveniente, não?) o texto por completo. Samael, o que você acha das recorrentes falências das social-democracias pelo mundo? Você considera tal modelo sustentável? De que forma?


Eu não levaria a sério um texto que legitima uma determinada vertente economicista e não se justifica em números. É só alarde espalhafatoso.

O que voce chama de "falencias"? Poderia exemplificá-las?

Considero sim.

Da forma capitalista.

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Re: Adeus Social-democracia

Mensagem por Samael »

Apo escreveu:
Samael escreveu:
Apo escreveu:Sama de Toqueville respondeu por todos eles... :emoticon12:


Eu não respondo por uma suposta "esquerda". Só que o "bosta e foge" enche o saco de vez em quando.


Por que sempre este negócio de "posta-foge"? Isto também enche o saco de vez em quando...
Faz alguma diferença postar números e estatísticas, caso elas não satisfaçam o pensamento discordante da teoria? Nenhuma. Já se postou trezentas vezes aqui números a respeito das duas vertentes ideológico - econômicas. Há quem veja flores em latas de lixo e há quem veja lixo em vasos de flores.
Bom, todo mundo aqui sabe o que eu penso de números e a que eles servem ( ou se prestam, o que é pior ainda).


Tudo enche o saco de vez em quando. E fazem sim, pois, neste caso em específico, elas legitimam a teoria. Meu problema não é com o liberalismo economico, mas com o fato de que o Liquid não tenha postado nada que se embasasse em porcaria nenhuma. Apenas um texto panfletário. Nada que vislumbrasse crescimento economico, nada que provasse na prática que a existencia de empresas menores é diretamente afetada pelo estabelecimento de um salário mínimo, nada que demonstrasse o número crescente de empresas sob o jugo de um Estado Mínimo, e nem mesmo a definição do que seria um Estado Mínimo e onde o mesmo existe, atualmente. Nada.

Só panfleto. Ou fuga pela tangente.

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Huxley
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Re: Adeus Social-democracia

Mensagem por Huxley »

RicardoVitor escreveu:Uau, poderia explicar como chegou na brilhante conclusão expressa nesse gráfico? Não seria melhor colocar como rótulos "direita nazista" e "esquerda democrata", azul e vermelho, respectivamente? E, pra variar, além de omitir quaisquer outros dados, cita uma fonte que em nada tem a ver com a sua conclusão. Para começar, o que você quis dizer com o "sem Governo" / "com Governo"?

Quanto a Thatcher, omitir outros dados (como o fato de que no período de seu governo ocorreu uma explosão no fluxo de imigração) auxilia na tentativa de culpar o "néuliberalismo" por todas as mazelas do período. Tal conclusão é tão rasa quanto a ideologia por trás do autor.

De resto, continua chutando cachorro morto, manipulando estatísticas, falando abobrinhas e vomitando conclusões baseadas em "análises" (?) rasas. Nada que mereça maior atenção, por enquanto.


Pobreza sem governo significa "pobreza que haveria sem transferências do governo" e pobreza com governo "pobreza que há efetivamente (com os impostos e as transferências do governo)".

Vejam só. A taxa de pobreza DOBROU no Reino Unido de Thatcher (1979-1990) POR CAUSA principalmente do aumento na imigração. Já que omitir esse último dado afeta gravemente a minha conclusão anterior.

A porcentagem da população dos EUA nascida no exterior aumentou de 6,2% em 1980 para 9,3% em 1996:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S01 ... ci_arttext

Mas não tenho notícia que a taxa de pobreza sequer tenha aumentado significativamente nesse período nos EUA.

Isso é que é gostar de se humilhar tentando tapar o Sol com a peneirinha, hehehe. Eu não tenho nada contra alguém defender governos de direita. Só não venha o sr. Mauad dizer que Thatcher foi um "enorme passo" de uma caminhada.
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Re: Adeus Social-democracia

Mensagem por Claudio Loredo »

Breve história da idiotice alheia

Fonte: Resistir.info

Por por Jorge Majfud

Esta semana o biólogo James Watson tornou a insistir na antiga teoria da inferioridade intelectual dos negros. Esta antiga teoria foi apoiada no anos 90 por um estudo de Charles Murray e Herrnstein sobre "ethnic differences in cognitive ability" que mostravam gráficos de coeficientes intelectuais claramente desfavoráveis à raça negra. Agora Watson, en passant, propôs a manipulação genética para curar a estupidez, mas não diz se é conveniente curar a estupidez antes de realizar qualquer manipulação genética. Também os nazis — e talvez Michael Jackson — tinham a mesma ideia que Watson. Nem Hitler nem os nazis careciam de inteligência nem de uma alta moral de criminosos. Como recordava um personagem do escritor Érico Veríssimo, "durante a era hitleriana os humanistas alemães emigraram. Os tecnocratas ficaram com as mãos e as patas livres".

Vejamos duas breves aproximações ao mesmo problema, uma filológica e outra biológica. Ambas ideológicas.

Pelas suas denúncias da opressão dos indígenas americanos, Bartolomé de las Casas foi acusado de doente mental e os seus índios de idiotas que mereciam a escravidão. É certo que as suas crónicas e denúncias foram aproveitadas para acusar um império em decadência por parte da maquinaria publicitária de outro império em ascensão, o britânico. Mas isto é tema para outra reflexão.

Em 1895 o erudito espanhol Marcelino Menéndez Pelayo qualificou Las Casas de "fanático e intolerante" e a Brevíssima História de "monstruoso delírio". Seu aluno mais célebre, e membro da Real Academia Espanhola, Ramón Menéndez Pidal, foi da mesma opinião. No seu publicitado e extenso livro, El padre Las Casas (1963), desenvolveu a tese da enfermidade mental do sacerdote denunciante ao mesmo tempo que justificou a acção dos conquistadores, como a morte de três mil índios em Cholula a mãos de Hernán Cortés, porque era uma "matança necessária a fim de desbaratar uma perigosíssima conjura que Moctezuma tramava para acabar com espanhóis". Segundo Menéndez Pidal, Bartolomé de las Casas "era uma vítima inconsciente do seu delírio incriminatório, da sua regra de depravação inexceptuável". Mas ao regressar a Espanha para denunciar as supostas injustiças contra os índios, "deparou-se com a gravíssima surpresa de que a sua opinião extrema sobre a evangelização do Novo Mundo defrontava-se com outra opinião, também extrema, em defesa da escravidão e da encomienda . Essa opinião era sustentada muito sabiamente pelo Doutor Juan Ginés de Sepúlveda num opúsculo escrito em latim elegante e intitulado Democrates alter, sirve de justis belli causis apud Indos. Uma nota ao pé diz: "Publicado com uma formosa tradução por Menéndez Pelayo em Boletín de la Real Acad. De la Historia, XXX, 1891". Ginés de Sepúlveda, baseando-se na Bíblia (Provérbios), afirmava que "a guerra justa é causa de justa escravidão [...] sendo este princípio e concentrando-se no caso do Novo Mundo, os índios "são inferiores aos espanhóis como as crianças são aos adultos, as mulheres aos homens, os feros e cruéis aos clementes, [...] e por fim quase diria como os símios aos homens". Com frequência Pidal confunde a sua voz narrativa com a de Sepúlveda. "Bem podemos crer que Deus deu claríssimos indícios para o extermínio destes bárbaros, e não faltam doutíssimos teólogos que trazem para comparação os idólatras Cananeus e Amorreus, exterminados pelo povo de Israel". Segundo o frade Domingo de Soto, teólogo imperial, "pela rudeza dos seus engenhos, gente servil e bárbara está obrigada a servir aos de engenho mais elegante". Menéndez Pidal insistia na sua tese da incapacidade mental daqueles que criticavam os conquistadores, como "o índio Poma da Ayala olha com olhos maliciosos dominicanos, agostinianos e mercenários, enquanto percebe que franciscanos, jesuítas e ermitões fazem muito bem e não tomam esmola de prata". Segundo Pidal, isto devia-se ao facto de que "a esses índios pre-históricos, vindos da idade neolítica, não era possível não era possível atraí-los com a Suma Teológica de S. Tomás de Aquino e sim com Florinhas Espirituais do Santo de Assis".

Na sua intenção de demonstrar a enfermidade mental do denunciante, Pidal depara-se com indícios contrários e resolve, pelo seu lado, uma regra psicológica que arruma tudo; "o paranóico, quando sai do tema dos seus delírios, é um homem extremamente normal". A seguir; "Las Casas é um paranóico, não um demente ou louco em estado de inconsciência. Sua lucidez habitual faz com que a sua anormalidade seja caso difícil de estabelecer e graduar". O que equivale a dizer que era tão inteligente que não podia raciocinar correctamente, ou por sua lucidez via ilusões. Bartolomé de las Casas "vive tão ensimesmado num mundo imaginário que se torna incapaz de perceber a realidade externa, que é a transbordante energia desenvolvida pela Espanha nos descobrimentos geográficos". Uma confissão significativa: "Las Casas teria sido, dada a sua extraordinária actividade, um excelente bispo em qualquer diocese da Espanha, mas a sua condição mental impedia-o de desempenhar correctamente um bispado na Índias". Daqui deduzem-se duas possibilidade: (1) a América tinha um efeito mágico-narcótico em algumas pessoas ou (2) os bispos da Espanha eram paranóicos como de las Casas mas por serem maioria eram tidos como normais.

Esta ideia de atribuir deficiências mentais ao adversário dialéctico renova-se e estende-se em livros sobre a América Latina publicitados maciçamente, como o Manual del perfecto idiota latinoamericano (1996) e El regreso del idiota (2007). Um dos livros objecto de suas zombarias, Para leer al pato Donald (1972) de Ariel Dorman e Armand Mattelart, parece contestar esta posição a partir do passado. O discurso das historietas infantis de Disney consistem em que, "não havendo concedido aos bons selvagens o privilégio do futuro e do conhecimento, todo saqueio não parece como tal uma vez que extirpa o que é supérfluo". O roubo é duplo, quase sempre coroado por um happy ending: "Pobres nativos. Como são ingénuos. Mas se eles não utilizam o seu ouro, é melhor levá-lo. Em outra parte servirá para algo".

Sócrates ou Galileu puderam fazer-se passar nos néscios, mas nenhum daqueles néscios que os condenaram puderam fingir inteligência. Isso na teoria, porque como dizia Demócrito, "o que admoesta um homem que se crê inteligente trabalha em vão".

Em Examen de ingenios para las ciencias (1575), o médico Juan Huarte compartilhava a convicção científica da época segundo a qual o cabelo louro — como o do seu rei, Felipe II — era produto de um vapor grosso que se levantava pela força da inteligência. Contudo, afirmava Huarte, não era o caso dos alemães e ingleses porque o seu cabelo louro nasce da queima do excesso de frio. A beleza é sinal de inteligência, porque é o corpo a sua residência. "Os pais que quiserem gozar de filhos sábios e de grande habilidade para as letras hão de procurar que nasçam varões". A ciência da época sabia que para engendrar varão devia-se procurar que o sémen saísse do testículo direito e entrasse no lado direito do útero. A seguir Huarte dá fórmulas precisas para engendrar filhos de bom entendimento "que é o engenho mais ordinário na Espanha".

Na Grécia antiga, como diz Aristóteles, dava-se como assentado que os povos que viviam mais ao sul, como o egípcio, eram naturalmente mais sábios e engenhosos que os bárbaros que habitavam nas regiões frias. Houve época em que os louros germânicos foram considerados bárbaros, atrasados e incapazes de civilização. E foram tratados como tais pelos impérios mais avançados de pele escurecida pelos sois do Sul. O que demonstra que a estupidez não é propriedade de nenhuma raça.

[*] Da Universidade da Georgia, EUA.

O original encontra-se em http://alainet.org/active/20263&lang=es

Este artigo encontra-se em http://resistir.info

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André
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Re: Adeus Social-democracia

Mensagem por André »

RicardoVitor escreveu:
Apo escreveu:Cadê o André de Toqueville?

:emoticon12:


Ele e a turminha da esquerda nunca entram nesses tópicos... Fogem da realidade como crente foge do diabo :emoticon12:



Eu tenho mais o que fazer. O mestrado começou, e não vi aonde eu assinei compromisso de ficar postando aqui. Posto se quiser, quando quiser, o que eu quiser (dentro das regras é claro).

Hoje vim dar uma olhada e vejo como se referem a mim na minha ausência, em geral com escárnio. É uma coisa tão pequena, fazer isso.

Sobre o texto o Huxley respondeu melhor que eu, nas questões econômicas sem dúvida.

Porém o que vcs não entendem, e não querem entender, é que não sou social-democrata. Apenas se forçado a escolher entre social democracia, e um liberalismo estilo americano, que leva 2 milhões de pessoas por ano a falência devido a contas médicas, entre esses dois, a social democracia européia é menos pior (obviamente). Porém tem seus problemas e limites. O Estado para mim tem que ser mais democrático, o poder mais descentralizado, a garantia de direito sociais uma prioridade, se para isso o Estado tiver que diminuir, e deve em vários setores, isso deve ser feito. Cargos por indicação devem ser quase que abolidos, setores do Estado não essenciais, como Cultura, devem ter orçamento limitado, e a exigência de resultados para justificar o gasto deve ser grande, e por ai vai. Muitas dessas idéias os social democratas rejeitam, sou favorável a privatização parcial da previdência, de forma voluntaria, mantendo uma rede de proteção de menor custo, para evitar falência familiar. No fundo combino diversas idéias de diferentes matizes, independente da origem ideológica, o único critério que uso é, é melhor? Se entendo como melhor, e viável, defendo, simples.

O texto fala do trabalhismo inglês, e de Blair, como se ele tivesse rejeitado a social democracia, mas não vejo a privatização do NHS. E esse sim seria um passo decisivo para uma perspectiva liberal, do livre mercado. E isso, ele, nem nenhum político, têm coragem, pois as massas se insurgiriam contra, e iram depor quem quer que fosse, que tentasse desmantelar o sistema público de saúde da Inglaterra. Esse é apenas um dos exemplos, esse um central.
Visite a pagina do meu primeiro livro "A Nova Máquina do Tempo." http://www.andreteixeirajacobina.com.br/

Ou na Saraiva. Disponivel para todo Brasil.

http://www.livrariasaraiva.com.br/produ ... 0C1C301196


O herói é um cientista cético, um pensador político. O livro debate filosofia, política, questões ambientais, sociais, bioética, cosmologia, e muito mais, no contexto de uma aventura de ficção científica.

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RicardoVitor
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Re: Adeus Social-democracia

Mensagem por RicardoVitor »

Huxley escreveu:
RicardoVitor escreveu:Uau, poderia explicar como chegou na brilhante conclusão expressa nesse gráfico? Não seria melhor colocar como rótulos "direita nazista" e "esquerda democrata", azul e vermelho, respectivamente? E, pra variar, além de omitir quaisquer outros dados, cita uma fonte que em nada tem a ver com a sua conclusão. Para começar, o que você quis dizer com o "sem Governo" / "com Governo"?

Quanto a Thatcher, omitir outros dados (como o fato de que no período de seu governo ocorreu uma explosão no fluxo de imigração) auxilia na tentativa de culpar o "néuliberalismo" por todas as mazelas do período. Tal conclusão é tão rasa quanto a ideologia por trás do autor.

De resto, continua chutando cachorro morto, manipulando estatísticas, falando abobrinhas e vomitando conclusões baseadas em "análises" (?) rasas. Nada que mereça maior atenção, por enquanto.


Pobreza sem governo significa "pobreza que haveria sem transferências do governo" e pobreza com governo "pobreza que há efetivamente (com os impostos e as transferências do governo)".


E o que isso tem a ver com o "néuliberalismo"? Poderia explicar como chegou na brilhante conclusão expressa nesse gráfico?

Huxley escreveu:Vejam só. A taxa de pobreza DOBROU no Reino Unido de Thatcher (1979-1990) POR CAUSA principalmente do aumento na imigração. Já que omitir esse último dado afeta gravemente a minha conclusão anterior.


Eu não disse isso. Disse que você fez uma correlação rasa entre pobreza e "néuliberalismo", omitindo quaisquer outros dados (entre eles, o aumento na imigração) como forma de tentar dar algum fundamento a suas baboseiras.

Huxley escreveu:A porcentagem da população dos EUA nascida no exterior aumentou de 6,2% em 1980 para 9,3% em 1996:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S01 ... ci_arttext

Mas não tenho notícia que a taxa de pobreza sequer tenha aumentado significativamente nesse período nos EUA.


Eu não compartilho do seu simplismo economicista, de acreditar que um fator somente por si é capaz de determinar os números de uma sociedade. Quem gosta de correlações superficiais aqui é você, amigo, não eu.

Huxley escreveu:Isso é que é gostar de se humilhar tentando tapar o Sol com a peneirinha, hehehe. Eu não tenho nada contra alguém defender governos de direita. Só não venha o sr. Mauad dizer que Thatcher foi um "enorme passo" de uma caminhada.


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RicardoVitor
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Re: Adeus Social-democracia

Mensagem por RicardoVitor »

Samael escreveu:O que voce chama de "falencias"? Poderia exemplificá-las?


Falências, quebras, como a Suécia nos anos 90.

Samael escreveu:Considero sim.

Da forma capitalista.


Logo, você considera que aqueles que produzem devem sustentar os recursos destinados àqueles que pouco / nada produzem. Qual o mecanismo que garante que a maioria não acabe se juntando aos que nada produzem, absorvendo os recursos gerados por uma minoria? Riquezas não caem do céu, de onde viriam tantos recursos para sustentar tanta gente?
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Huxley
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Re: Adeus Social-democracia

Mensagem por Huxley »

RicardoVitor escreveu:
Huxley escreveu:
RicardoVitor escreveu:Uau, poderia explicar como chegou na brilhante conclusão expressa nesse gráfico? Não seria melhor colocar como rótulos "direita nazista" e "esquerda democrata", azul e vermelho, respectivamente? E, pra variar, além de omitir quaisquer outros dados, cita uma fonte que em nada tem a ver com a sua conclusão. Para começar, o que você quis dizer com o "sem Governo" / "com Governo"?

Quanto a Thatcher, omitir outros dados (como o fato de que no período de seu governo ocorreu uma explosão no fluxo de imigração) auxilia na tentativa de culpar o "néuliberalismo" por todas as mazelas do período. Tal conclusão é tão rasa quanto a ideologia por trás do autor.

De resto, continua chutando cachorro morto, manipulando estatísticas, falando abobrinhas e vomitando conclusões baseadas em "análises" (?) rasas. Nada que mereça maior atenção, por enquanto.


Pobreza sem governo significa "pobreza que haveria sem transferências do governo" e pobreza com governo "pobreza que há efetivamente (com os impostos e as transferências do governo)".


E o que isso tem a ver com o "néuliberalismo"? Poderia explicar como chegou na brilhante conclusão expressa nesse gráfico?

Huxley escreveu:Vejam só. A taxa de pobreza DOBROU no Reino Unido de Thatcher (1979-1990) POR CAUSA principalmente do aumento na imigração. Já que omitir esse último dado afeta gravemente a minha conclusão anterior.


Eu não disse isso. Disse que você fez uma correlação rasa entre pobreza e "néuliberalismo", omitindo quaisquer outros dados (entre eles, o aumento na imigração) como forma de tentar dar algum fundamento a suas baboseiras.

Huxley escreveu:A porcentagem da população dos EUA nascida no exterior aumentou de 6,2% em 1980 para 9,3% em 1996:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S01 ... ci_arttext

Mas não tenho notícia que a taxa de pobreza sequer tenha aumentado significativamente nesse período nos EUA.


Eu não compartilho do seu simplismo economicista, de acreditar que um fator somente por si é capaz de determinar os números de uma sociedade. Quem gosta de correlações superficiais aqui é você, amigo, não eu.

Huxley escreveu:Isso é que é gostar de se humilhar tentando tapar o Sol com a peneirinha, hehehe. Eu não tenho nada contra alguém defender governos de direita. Só não venha o sr. Mauad dizer que Thatcher foi um "enorme passo" de uma caminhada.


A tiazinha foi foda.


Nossa, fiquei convencido que Thatcher fez um governo “foda”. Ainda mais depois da última frase deste seu último post, que foca tanto nos ARGUMENTOS...
“A boa sociedade é aquela em que o número de oportunidades de qualquer pessoa aleatoriamente escolhida tenha probabilidade de ser a maior possível”

Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)

"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."

John Maynard Keynes

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Re: Adeus Social-democracia

Mensagem por Samael »

RicardoVitor escreveu:Falências, quebras, como a Suécia nos anos 90.


Números? E uma bela correlação deles com os causas dessa "falência", caso a mesma exista. Assim como você pediu ao Huxley.

RicardoVitor escreveu:Logo, você considera que aqueles que produzem devem sustentar os recursos destinados àqueles que pouco / nada produzem.


Não. Até porque isso é uma generalização absurda, dado o fato de boa parte das pessoas (tanto físicas quanto jurídicas) no capitalismo contemporâneo não produzirem e viverem sobre a produção alheia. Independente de terem valor ou não dentro do sistema.

RicardoVitor escreveu:Qual o mecanismo que garante que a maioria não acabe se juntando aos que nada produzem, absorvendo os recursos gerados por uma minoria? Riquezas não caem do céu, de onde viriam tantos recursos para sustentar tanta gente?


Fiscalização estatal, cessação de benefícios para aqueles que não "desejarem trabalhar e tentarem se manter às custas do Estado", ambição pessoal, etc. O de sempre.

Trancado