O verdadeiro poeta!!!!!!!

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Fedidovisk
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Registrado em: 02 Mar 2007, 17:46

O verdadeiro poeta!!!!!!!

Mensagem por Fedidovisk »

Os Rubaiyat de Omar Khayyam

1



Nunca murmurei uma prece,

nem escondi os meus pecados.

Ignoro se existe uma Justiça, ou Misericórdia;

mas não desespero: sou um homem sincero.





2



O que vale mais? Meditar numa taverna,

ou prosternado na mesquita implorar o Céu?

Não sei se temos um Senhor,

nem que destino me reservou.





3



Olha com indulgência aqueles que se embriagam;

os teus defeitos não são menores.

Se queres paz e serenidade, lembra-te

da dor de tantos outros, e te julgarás feliz.





4



Que o teu saber não humilhe o teu próximo.

Cuidado, não deixes que a ira te domine.

Se esperas a paz, sorri ao destino que te fere;

não firas ninguém.





5



Busca a felicidade agora, não sabes de amanhã.

Apanha um grande copo cheio de vinho,

senta-te ao luar, e pensa:

Talvez amanhã a lua me procure em vão.





6



Não procures muitos amigos, nem busques prolongar

a simpatia que alguém te inspirou;

antes de apertares a mão que te estendem,

considera se um dia ela não se erguerá contra ti.





7



Alcorão, o livro supremo, pode ser lido às vezes,

mas ninguém se deleita sempre em suas páginas.

No copo de vinho está gravado um texto de adorável

sabedoria que a boca lê, a cada vez com mais delícia.





8



Há muito tempo, esta ânfora foi um amante,

como eu: sofria com a indiferença de uma mulher;

a asa curva no gargalo é o braço que enlaçava

os ombros lisos da bem amada.





9



Que pobre o coração que não sabe amar

e não conhece o delírio da paixão.

Se não amas, que sol pode te aquecer,

ou que lua te consolar?





10



Hoje os meus anos reflorescem.

Quero o vinho que me dá calor.

Dizes que é amargo? Vinho!

Que seja amargo, como a vida.





11



É inútil a tua aflição;

nada podes sobre o teu destino.

Se és prudente, toma o que tens à mão.

Amanhã... que sabes do amanhã?





12



Além da Terra, pelo Infinito,

procurei, em vão, o Céu e o Inferno.

Depois uma voz me disse:

Céu e Inferno estão em ti.





13



Não vamos falar agora, dá-me vinho. Nesta noite

a tua boca é a mais linda rosa, e me basta.

Dá-me vinho, e que seja vermelho como os teus lábios;

o meu remorso será leve como os teus cabelos.





14



Tenho igual desprezo por libertinos ou devotos.

Quem irá dizer se terão o Céu ou o Inferno?

Conheces alguém que visitou esses lugares?

E ainda queres encher o mar com pedras?





15



Na sombra azulada do jardim

o ar da primavera renova as rosas

e ilumina os meigos olhos da minha amada.

Ontem, amanhã... é tão grande o prazer agora.





16



Bebo, mas não sei quem te fez, ó grande ânfora;

podes conter três medidas de vinho, mas um dia

a Morte te quebrará. Numa outra hora perguntarei

como foste criada, se foste feliz, ou por que serás pó.





17



Como o rio, ou como o vento,

vão passando os dias.

Há dois dias que me são indiferentes:

O que foi ontem, o que virá amanhã.





18



Não me lembro do dia em que nasci;

não sei em que dia morrerei.

Vem, minha doce amiga, vamos beber desta taça

e esquecer a nossa incurável ignorância.





19



Khayyam, enquanto erguias a tenda da Sabedoria,

caíste na fogueira da dor; agora és cinzas.

O Anjo Azrail cortou as cordas da tua tenda

e a Morte vendeu-a por uma ninharia.





20



É inútil te afligires por teres pecado;

também é inútil a tua contrição:

além da morte estará o Nada,

ou a Misericórdia.





21



Cristãos, judeus, muçulmanos, rezam,

com medo do inferno; mas se realmente soubessem

dos segredos de Deus, não iam plantar

as mesquinhas sementes do medo e da súplica.





22



Na estação das rosas procuro um campo florido

e sento-me à sombra com uma linda mulher;

não cuido da minha salvação: tomo o vinho

que ela me oferece; senão, o que valeria eu?





23



O vasto mundo: um grão de areia no espaço.

A ciência dos homens: palavras. Os povos,

os animais, as flores dos sete climas: sombras.

O profundo resultado da tua meditação: nada.





24



Eu estava com sono e a Sabedoria me disse:

A rosa da felicidade não se abre para quem dorme;

por quê te entregares a esse irmão da morte?

Bebe vinho; tens tantos séculos para dormir.





25



Admito que já resolveste o enigma da Criação;

e o teu destino? Aceito que desvendaste a Verdade;

e o teu destino? Está bem, viveste cem anos felizes

e ainda tens muitos para viver; e o teu destino?





26



Ninguém desvendará o Mistério. Nunca saberemos

o que se oculta por trás das aparências.

As nossas moradas são provisórias, menos aquela última.

Não vamos falar, toma o teu vinho.





27



Olha, um dia a alma deixará o teu corpo

e ficarás por trás do véu, entre o Universo

e o desconhecido. Enquanto não chega a hora,

procura ser feliz. Para onde irás depois?





28



Os sábios mais ilustres caminharam nas trevas da ignorância,

e eram os luminares do seu tempo.

O que fizeram? Balbuciaram algumas frases confusas,

e depois adormeceram, cansados.





29



A vida é um jogo monótono que dá dois prêmios:

A Dor e a Morte.

Feliz a criança que expirou ao nascer;

mais feliz quem não veio ao mundo.





30



Na feira que atravessas não procures amigos

ou abrigo seguro. Aceita a dor que não tem remédio

e sorri ao infortúnio; não esperes que te sorriam:

Seria tempo perdido.





31



O mundo gira, distraído dos cálculos dos sábios.

Renuncia à vaidade de contar os astros

e lembra-te: vais morrer, não sonharás mais,

e os vermes da terra cuidarão da tua carcaça.





32



Aquele que criou o Universo e as estrelas

exagerou quando inventou a dor.

Lábios vermelhos como rubis, cabelos perfumados,

quantos sois no mundo?





33



Velho mundo sob o passo do cavalo branco e negro

dos dias e das noites, és o palácio triste onde mil Djenchids

sonharam com a glória e mil Bahrams com o amor,

e a cada manhã acordavam chorando.





34



Sono sobre a terra, sono debaixo da terra.

Sobre a terra, sob a terra: homens deitados.

Nada em toda a parte. Deserto.

Homens chegam, outros partem.

...

http://www.alfredo-braga.pro.br/poesia/rubaiyat.html
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Gosto tanto desse kra que tenho dois livros do Rubaiyat, cada um com uma tradução... pretendo assim que tiver saco colocar o prefácio, que é um soco no estômago dos que acham que sabem sobre coisa alguma. :emoticon45:

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Fedidovisk
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Registrado em: 02 Mar 2007, 17:46

Re: O verdadeiro poeta!!!!!!!

Mensagem por Fedidovisk »

Omar Khayyám se materializa no programa do jô

http://www.youtube.com/watch?v=9BhS9gTw ... re=related

:emoticon12:

Trancado