Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Fórum de discussão de assuntos relevantes para o ateísmo, agnosticismo, humanismo e ceticismo. Defesa da razão e do Método Científico. Combate ao fanatismo e ao fundamentalismo religioso.
Avatar do usuário
Joe
Mensagens: 1524
Registrado em: 16 Fev 2007, 23:33
Gênero: Masculino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por Joe »

Acauan escreveu:
Joe escreveu:Não vou mais insistir, você já passou mais de troscentas vezes validando esse argumento, leia O arborto e sua ética


Leio o que quero e não o que você manda.

Um pouquinho mais de simancol e teria cogitado a possibilidade de que já li muito, mas muito mesmo a respeito do tema antes de formar minha opinião para precisar das suas sugestões.


Cara, você é agressivo demais, se eu insisti é porque estou pedindo.

Avatar do usuário
mig l
Mensagens: 80
Registrado em: 29 Mar 2008, 17:09
Gênero: Masculino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por mig l »

Boa Joe. Agora vai...

Avatar do usuário
Acauan
Moderador
Mensagens: 12929
Registrado em: 16 Out 2005, 18:15
Gênero: Masculino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por Acauan »

Joe escreveu:
Acauan escreveu:
Joe escreveu:Não vou mais insistir, você já passou mais de troscentas vezes validando esse argumento, leia O arborto e sua ética


Leio o que quero e não o que você manda.

Um pouquinho mais de simancol e teria cogitado a possibilidade de que já li muito, mas muito mesmo a respeito do tema antes de formar minha opinião para precisar das suas sugestões.


Cara, você é agressivo demais, se eu insisti é porque estou pedindo.


Desculpe!
Às vezes erro na mão ao dosar a ênfase.
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

Avatar do usuário
Suyndara
Mensagens: 1987
Registrado em: 14 Fev 2007, 13:17
Gênero: Feminino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por Suyndara »

mig l escreveu:Voces olham mesmo uma mulher que aborta da mesma forma que olham um assassino?

Para vcs a frase acima é pleonasmo?


:emoticon28:

Ei, mas aí você com certeza está querendo tocar no lado emocional :emoticon4:

Pelo que acompanhei, o Acauã já colocou o ponto de vista dele e de forma bem racional :emoticon4:

Quanto a pergunta, a mãe que aborta o filho pq simplesmente não o quer é tão fdp quanto aquele pai que jogou a filha pela janela :emoticon45: (e sim, estou sendo emocional agora :emoticon33: )

[]s
"Deus empurra para a morte tudo o que lhe resiste. Em primeiro lugar a razão, depois a inteligência e o espírito crítico" (Onfray)

"Your God is dead and no one cares" (Sartre)

Avatar do usuário
Acauan
Moderador
Mensagens: 12929
Registrado em: 16 Out 2005, 18:15
Gênero: Masculino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por Acauan »

mig l escreveu:Como sou incapaz de condenar uma mulher que aborta, então acho que deve haver uma lei qualquer que não mande essas mulheres para a cadeia caso abortem. Nos debates em Portugal havia uma coisa muito estranha com os pró vida. Não queriam descriminalizar o aborto... porque seria o mesmo que descriminalizar o assassinato. Mas também não queriam que a mulher fosse punida. Não entendo...


Não há nada de estranho ou contraditório em anti-abortistas serem contrários a se aplicar a mulher que aborta as mesmas punições infligidas a criminosos comuns. A base racional do argumento anti-abortista é, na dúvida, evite decisões extremas, seja para um lado ou outro da questão.
Ao contrário do que prega a propaganda abortista standard, opositores do aborto enxergam claramente a diferença entre uma mulher que aborta e um homicida comum, mesmo aqueles que consideram moralmente o aborto como um tipo de homicídio.

Do ponto de vista do direito, a diferenciação pode ser feita pela caracterização do homicídio como ato que provoca o fim de uma vida humana, independente das circunstâncias, enquanto no julgamento de quem pratica este ato as circunstâncias são decisivas.
Assim, o aborto poderia ser comparado ao homicídio, por destruir o que é considerado uma vida humana, o que não implica que o grau de responsabilidade da mulher que aborta deva ser o mesmo de um assaltante a mão armada, pela óbvia diferença de natureza e grau do ato em si, mesmo que a consequência do ato seja a mesma.

Particularmente tendo a ser muito mais tolerante com a mulher grávida que viola a lei que proibe o aborto, pelos motivos típicos frequentemente alegados pelos abortistas (embora outros motivos, bem mais fúteis, sejam comuns), do que com médicos e clínicas clandestinas de aborto que violam a lei para obtenção de lucros e só.
Se tivesse que escolher quem prender, escolheria estes antes daquela.
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

Avatar do usuário
mig l
Mensagens: 80
Registrado em: 29 Mar 2008, 17:09
Gênero: Masculino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por mig l »

Suyndara escreveu:
mig l escreveu:Voces olham mesmo uma mulher que aborta da mesma forma que olham um assassino?

Para vcs a frase acima é pleonasmo?


:emoticon28:

Ei, mas aí você com certeza está querendo tocar no lado emocional :emoticon4:

Pelo que acompanhei, o Acauã já colocou o ponto de vista dele e de forma bem racional :emoticon4:

Quanto a pergunta, a mãe que aborta o filho pq simplesmente não o quer é tão fdp quanto aquele pai que jogou a filha pela janela :emoticon45: (e sim, estou sendo emocional agora :emoticon33: )

[]s


Não é apelar ao lado emocional. É ir além dos argumentos. meio Zen :emoticon16:
Então uma adolescente assustada que aborta é tão fdp como a mesma adolescente que atira a filha de 2 anos pela janela?

Avatar do usuário
Suyndara
Mensagens: 1987
Registrado em: 14 Fev 2007, 13:17
Gênero: Feminino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por Suyndara »

Mig,

Muito Zen.

As duas estariam surtadas não? De qualquer forma é um ato de extrema falta de controle de si mesmo :emoticon4:

O interessante é que todas as adolescentes sabem sobre sexo e como evitar gravidez :emoticon26:

Não é uma questão de julgar, qdo digo que um pai homicida foi tão fdp qto uma mãe que aborta me refiro ao fato de nenhum dos dois assumirem a responsabilidade pelos seus atos :emoticon45:

Claro que há casos e casos e nada pode ser generalizado.
"Deus empurra para a morte tudo o que lhe resiste. Em primeiro lugar a razão, depois a inteligência e o espírito crítico" (Onfray)

"Your God is dead and no one cares" (Sartre)

Avatar do usuário
Ilovefoxes
Mensagens: 1802
Registrado em: 20 Fev 2007, 15:44
Gênero: Masculino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por Ilovefoxes »

Não é a mesma coisa, um está mentindo, o outro está deixando de cuidar de seu corpo.
Se não há vida no embrião, a responsabilidade está só sobre o cuidado de seu próprio corpo. Se é por isso, o Ápate então...

Avatar do usuário
chagas
Mensagens: 613
Registrado em: 01 Nov 2007, 21:02
Gênero: Masculino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por chagas »

Suyndara escreveu:O interessante é que todas as adolescentes sabem sobre sexo e como evitar gravidez :emoticon26:


Este é um ponto extremamente relevante. Boa observação.

Avatar do usuário
Fenrir
Mensagens: 1107
Registrado em: 01 Fev 2008, 22:38
Gênero: Masculino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por Fenrir »

Minha opinião é que não há resposta única para todos
os casos, como querem muitos que defendem tanto a posição
pró-aborto quanto aqueles que sáo contrários ao aborto.

Vejamos alguns exemplos:

A não quer ter filhos, mas não se precaveu e engravidou.

B não quer ter filhos, usou de métodos contraceptivos
mas a gravidez veio mesmo assim.

C foi violentada e engravidou.

Os exames pré-natais de D revelaram sérias deficiências
no feto com boa possibilidade da gravidez não seguir
adiante, ou caso vingar, da crianca viver para sempre
em total dependência.

A gravidez de E é de altíssimo risco e existe a
possibilidade de E ou do bebê morrer durante o trabalho
de parto.

F não tem condições econômicas e/ou psicológicas de
criar um filho e engravidou mesmo assim.


Acho que o aborto seria permitido, porém não compulsório,
nos casos C,D e E.

Para os casos A e F, vale o que muitos já disseram:
Naqueles casos, há como evitar uma gravidez indesejada
e tal não foi feito por negligência. Não seria justo
interromper a gravidez por causa de um erro banal e
facilmente evitável cometido pelos pais.
Se o aborto for feito, os pais deveriam ser punidos
de alguma forma.

Já o caso B é mais complicado...
"Man is the measure of all gods"
(Fenrígoras, o sofista pós-socrático)

"The things are what they are and are not what they are not"
(Fenrígoras, o sofista pós-socrático)

"As mentes mentem"
(Fenrir, o mentiroso)

Avatar do usuário
Fenrir
Mensagens: 1107
Registrado em: 01 Fev 2008, 22:38
Gênero: Masculino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por Fenrir »

Fenrir escreveu:Minha opinião é que não há resposta única para todos
os casos, como querem muitos que defendem tanto a posição
pró-aborto quanto aqueles que sáo contrários ao aborto.

Vejamos alguns exemplos:

A não quer ter filhos, mas não se precaveu e engravidou.

B não quer ter filhos, usou de métodos contraceptivos
mas a gravidez veio mesmo assim.

C foi violentada e engravidou.

Os exames pré-natais de D revelaram sérias deficiências
no feto com boa possibilidade da gravidez não seguir
adiante, ou caso vingar, da crianca viver para sempre
em total dependência.

A gravidez de E é de altíssimo risco e existe a
possibilidade de E ou do bebê morrer durante o trabalho
de parto.

F não tem condições econômicas e/ou psicológicas de
criar um filho e engravidou mesmo assim.


Acho que o aborto seria permitido, porém não compulsório,
nos casos C,D e E.

Para os casos A e F, vale o que muitos já disseram:
Naqueles casos, há como evitar uma gravidez indesejada
e tal não foi feito por negligência. Não seria justo
interromper a gravidez por causa de um erro banal e
facilmente evitável cometido pelos pais.
Se o aborto for feito, os pais deveriam ser punidos
de alguma forma.

Já o caso B é mais complicado...


Sem contar que poderiam haver inúmeras outras situações ou combinação de situações.

Acho que em assuntos altamente polêmicos como o aborto seria salutar ater-se, ao menos em um primeiro momento, a um espírito mais pragmático.
Ou temporariamente suspender o juízo (epokhé), para proceder a uma análise cuidadosa da situação e em seguida pronunciar-se ou decidir-se contra ou a favor, de forma racional. O que deve dar no mesmo.
"Man is the measure of all gods"
(Fenrígoras, o sofista pós-socrático)

"The things are what they are and are not what they are not"
(Fenrígoras, o sofista pós-socrático)

"As mentes mentem"
(Fenrir, o mentiroso)

Avatar do usuário
Acauan
Moderador
Mensagens: 12929
Registrado em: 16 Out 2005, 18:15
Gênero: Masculino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por Acauan »

zumbi filosófico escreveu:A analogia com a morte do outro lado não é necessária.


Não é necessária, mas é uma regra:

Revista VEJA, edição 2050, 5 de março de 2008

Entrevista com a bióloga Mayana Zatz especialista em células-tronco

Veja – Afinal, quando começa a vida? Do ponto de vista da ciência, o embrião é um ser humano?
Mayana – Não existe um consenso sobre quando começa a vida. Cada pessoa, cada religião tem um entendimento diferente. Mas existe, sim, um consenso de que a vida termina quando cessa a atividade do sistema nervoso. Quando o cérebro pára, a pessoa é declarada morta. Pelo mesmo raciocínio, se não existe vida sem um cérebro funcionando, um embrião de até catorze dias, sem nenhum indício de células nervosas, não pode ser considerado um ser vivo. Pelo menos não da forma que entendemos a vida.


zumbi filosófico escreveu:Por exemplo, pode inverter, pensar em algo real ou hipotético análogo para o seu conceito, e ainda manter que a fecundação seja o critério para início da humanidade. Por exemplo, se houvesse a possibilidade do zigoto se "desfecundar", desfazer a junção dos genes acrescentados pelo espermatozóide, dando fim a "humanidade" da célula, que volta a ser um óvulo (ou uma porção deles, caso já tenha havido reprodução).

Se, por qualquer motivo que seja, a fecundação é o que marca o início da vida humana para você, o que te importaria que essa "desfecundação" pudesse ser revertida? Por que de repente teria que ser outra coisa que marca o início da humanidade?


A utilização da analogia reversa é um recurso tipicamente abortista (o que não implica que a dra. Mayana Zatz o seja por citá-lo em outro contexto). Anti-abortistas não se utilizam deste recurso, logo é indiferente como sua hipotética aplicação afetaria seus argumentos.

zumbi filosófico escreveu:A similaridade é o fato de que ambos estágios não apresentam atividade cerebral. Similaridade não implica em serem exatamente iguais, mas esse é um ponto comum que muitos consideram fundamental.


A similaridade reivindicada com a analogia reversa entre pré e pós atividade cerebral não se refere à biologia e sim ao direito. Querem igualar o status legal de um cadáver com o de um embrião por ambos não apresentarem atividade cerebral mensurável, pautando-se por uma potencial semelhança enquanto ignoram que tudo o mais entre os comparados é diferente ou mesmo oposto entre si.

zumbi filosófico escreveu:Para mim, o "ainda" anterior ao início da atividade cerebral é mais ou menos equivalente ao "ainda" anterior à fecundação ao qual você não dá importância "humana".


Incorreto. Uma citação correta seria "no qual não identifica individualidade específica dentre as infinitas possibilidades contidas".

zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu:O melhor que sua linha de raciocínio pode defender é que a pessoa se torna humana a partir do momento em que nossos meios instrumentais e técnicos permitem identificar um determinado estágio de formação ou atividade de um conjunto específico de tecidos, o que reduz a humanidade à capacidade da tecnologia humana em detectá-la, o que é absurdo e, obviamente, imoral.


Não é absurdo, é a realidade. Inclusive para a sua posição. As mulheres não estão conscientes de estarem grávidas, não sentem a fecundação, precisam de tecnologia para detectá-la e poderiam deixar passar, até com maior risco de falha do que se tem em não identificar se um embrião está em um ou outro estágio.

Talvez soe como um tipo de tu quoque misturado com redução ao absurdo, mas se a vida começa na fecundação e é tão imoral e absurda a possibilidade de matá-la por falhar em detectá-la, acho que as mulheres de vida sexual ativa deveriam ser hiper-zelosas, muito mais do que são, sobre a possibilidade de engravidarem. Deviam passar uma boa parte do tempo fazendo testes para saber que não tem nenhum zigoto nem nada parecido lá, para então não tomarem mais café, pararem de fumar, de beber e etc, quaisquer que sejam as recomendações para minimizar as chances da criança morrer - que normalmente, são altíssimas, talvez em virtude de um relativo descaso, de falta desse zelo.


Você confundiu os conceitos.

É inegavelmente absurdo afirmar que a humanidade de um ente se define pela capacidade da tecnologia em detectá-la.

Seu exemplo hipotético se refere às responsabilidades decorrentes da incapacidade de detecção, o que não muda o fato de que algo existente não deixa de existir por não ser detectável.


zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu:Se teu critério de humanidade é a consciência evidenciada (não digo que seja),...[/color]


Mas eu nunca fiz nada disso, não sei de onde tirou essa história. Talvez seja uma confusão com os termos dos outros (ainda que talvez eu mesmo possa ter usado vez ou outra). Usam muito "consciência", o que eu acho errado porque é um termo bem vago, pode ter muitos sentidos. Não sei se as pessoas em coma todas (ao menos algumas disseram estar) estão "conscientes", mas o coma, o sono, pessoas desmaiadas, têm atividade cerebral humana e normal mesmo assim.


Atente ao "não digo que seja".

zumbi filosófico escreveu:E como disse antes, mesmo que não tivessem, mas fosse reversível, isso não implica em não podermos julgar que seja o começo da humanidade tal como a possibilidade de restaurar uma condiçao diplóide/genotípica eventualmente desfeita no zigoto não implicaria que o a fecundação não pudesse ser o critério para o "início da vida".


Podemos julgar qualquer coisa. O problema é garantir que o julgamento seja verdadeiro e justo.

zumbi filosófico escreveu:Lei de Godwin, talvez possa ser usada numa acepção mais abrangente onde a outra pessoa ou o que defende são colocados como nazistóides, sem necessáriamente que isso seja explícito, do tipo "isso é algo digno da mente de Hitler". Acho por exemplo, a proposição de que "abortistas" realmente pensariam algo como "matem logo este embrião antes que ele forme um sistema nervoso e aí não teremos mais desculpas para matá-lo" bastante enquadrável nessa acepção.


O modo como esticou a definição da tal Lei de Godwin resulta em poder reclamar ser vítima dela toda vez que se apontar algo como mau, bastando correlacionar este mal ao nazismo, o que é sempre fácil.

zumbi filosófico escreveu:É claro que se você considera que o óvulo obviamente não é algo que deva ter dignidade humana e que um instante depois da fecundação é humano, então aborto e menstruação são fundamentalmente diferentes, por definição.

É apenas uma ilustração de como conceitos/perspectivas diferentes podem fazer de praticamente qualquer um indicável ao prêmio Hitler de abominação.

Tal como você acha grotesca a idéia de aborto voluntário, pró-óvulos - lembrando: que diferentemente de você acreditariam piamente que os óvulos já são humanos e portanto que menstruação é assassinato - ridicularizariam/monstrificariam essa "naturalidade" da menstruação comparando-a a deixar bebês recém-nascidos morrerem de inanição (pois para eles óvulos são bebês, e a menstruação é deixá-los morrer). Também é "natural" a morte por inanição, é apenas um "ato voluntário" da ex-gestante não alimentá-los, com seria não fecundá-los.

Isso é sim análogo, apesar de todas as diferenças que podemos ficar listando, e por mais importantes que realmente possam ser - o que não quer dizer que seja "verdade", e que você tenha que concordar com que menstruação é assassinato.


Vou deixar estes parágrafos prá lá.

zumbi filosófico escreveu:Tinha aí o objetivo de mostrar que diferentes posições podem ter visões que são monstruosas por outras perspectivas, mas não significa que sejam todos uns neonazistas ou algo do tipo.


Nunca disse que fossem.

zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu:E este "não ver" é a falha central de seu argumento, que acima se manifesta claramente como apelo a ignorância.


Não é apelo à ignorância, é "apelo a não ver sentido algum que essas difernças bioquímicas façam com que uma célula já tenha tanto valor quanto uma pessoa vivinha e andando por aí".

Meio coo se você dissesse não ver sentido algum nas pessoas não poderem fazer sexo por prazer, e um ateu-new-ager-abstêmico contrário ao sexo por prazer te dissesse que isso é "apelo à ignorância".


O apelo a ignorância é propor que o que não se sabe não é, se você diz que por "não ver" algo este algo deve ser considerado inexistente, comete apelo a ignorância.

zumbi filosófico escreveu:A "igualdade" não é proposta como sendo nem necessariamente "exata", apenas igual no sentido de não serem ainda "humanos". Como um braço solto de um corpo não é, ou como um corpo desprovido de cabeça não é.

Não importa que qualquer um desses não seja exatamente igual a um óvulo ou outros estágios. Simplesmente não conseguimos ver "humanidade" simplesmente em níveis citológicos e histológicos meramente, mesmo levando em consideração que já teriam pais e mães e características sócio-culturais implícitas (como teria um óvulo em menor grau, diga-se de passagem - ao menos é assim que vejo, ainda que você não consiga enxergar assim)


Suas analogias são inaplicáveis, pois o embrião e o feto não são partes desprendidas de um todo, como o braço separado do corpo.

Da mesma forma, dizer que no "nível citológico ou histológico" não há humanidade apenas reflete uma definição de humanidade que não pode existir nestes níveis, sem qualquer demonstração de porque esta definição seria correta e verdadeira.

O que é certo e inegável é que o embrião é um ser humano em desenvolvimento – como você próprio concordou, dentro de suas próprias premissas.

Algo em desenvolvimento é necessariamente diferente de um não-algo, por mais que a ausência de determinadas características o distanciem da forma desenvolvida.


zumbi filosófico escreveu:Bem, isso é a sua opinião, e eu acho que não só é inconsistente, que no fundo você também acha que pessoas com cérebro são "mais" humanas, com acho que a sua é mais arbitrária - e não nego a arbitrariedade da minha, a arbitrariedade é inescapável a menos que se julgue ter conhecimentos absolutos de um tipo de realidade ideal que é perfeitamente descrita pela linguagem livre de nuances e possibilidades de diferentes classificações defensáveis.

Acho que já devo ter dito diversas vezes o porque é mais arbitrário e porque penso que as pessoas na verdade consideram mesmo pessoas que andam (ou engatinham) por aí como pessoas mesmo, e células especiais não, ou nem tanto. Acho que escolheria uma pessoa e não dez embriões se tivesse que escolher uma das duas opções para salvar.

O provavelmente não implica para você de qualquer forma deixar morrer os embriões seja "bom", é apenas mal menor, mas revela que talvez não seja exatamente uma questão exatamente de dez pessoas versus uma pessoa.

Claro, posso estar errado, talvez você escolhesse os embriões. Talvez seja até meio provável se os vir como bebês; na questão de onde me inspirei nisso a proposição é de dez pessoas versus um bebê mesmo, nascido e etc, alguém tem que morrer para que os outros vivam. Enquanto as outras decisões que envolviam apenas a morte de adultos são mais consideravelmente mais fáceis, essa é mais bem difícil, apesar do número elevados de mortos para salvar o bebê acho que eram praticamente nulas as respostas "sim, com certeza, o bebê deve morrer para salvar os dez". Geralmente as respostas iam do positivo mas próximo ao neutro, ao totalmente contrário - que inclusive implicava na morte também do bebê, apenas não provocada por nós ou com nossa conivência.


Ou seja, você quer quantificar a dignidade humana dentro de uma escala numérica comparativa, algo do tipo determinados entes humanos tem dignidade 1, logo uma dezena deles equivale em dignidade a um determinado ente humano com dignidade 10.

Obviamente, isto é nonsense.

Admitido este critério, absolutamente nada impede de quantificar a dignidade de doentes mentais graves como menor que a do homem de inteligência mediana e a dos reconhecidos como gênios em um nível acima.

Dignidade humana é por definição qualitativa e irredutível, cada ser humano a possui.

Jogos de possibilidades do tipo se "você deixaria de salvar tantos X para salvar quantos Y", podem ser aplicados a qualquer diferenciação, como o hipotético médico, que só tem condições de salvar um paciente, ter que escolher entre um idoso, reconhecido como grande benemérito da humanidade, que tem menos chances de sobreviver que o outro paciente, um jovem viciado em drogas com histórico anti-social.

A inutilidade destas propostas é que o dilema está na situação, não nos personagens, assim, qualquer que seja o escolhido para ser salvo, isto não implica que seja de alguma forma melhor que o preterido, apenas que aquelas circunstâncias específicas ao extremo favoreciam aquela decisão, segundo algum critério de julgamento aplicado.


zumbi filosófico escreveu:Todo óvulo tem "mãe", e qualquer que fosse o pai que viesse a ter, o óvulo seria gente. Se pais abandonam as mães e as crianças, ou morrem, não se pode matar as crianças.


Parece que você ainda não entendeu que em momento algum coloquei esta questão em termos de ser gente ou não, o fato é que ter um pai e uma mãe define características específicas de individualidade, enquanto ter um possível e potencial pai não define coisa alguma.

zumbi filosófico escreveu:Ter um pai não dá "humanidade", ainda que nesse estágio seja biologicamente necessário, tal como é a alimentação por toda a vida. Não dizemos que tudo bem se alguém morre de fome, porque a alimentação é necessária para o sustento da humanidade, e se alguém morreu de fome, perdeu a humanidade.


Vide acima.

zumbi filosófico escreveu:Sim, alimentação e o crossover genético são coisas bioquímicamente diferentes, o óvulo não "come" os genes; mas eu pessoalmente não dou um valor "humanizador" diferente, não acho que sejam cruciais, a não ser de maneira incidental, tal como é, por enquanto, os humanos serem terrestres.


Continua rodando em torno do que você vê ou dá valor, preferências pessoais e só.

zumbi filosófico escreveu: (sempre lembrando que isso seria SE eu de fato defendesse o óvulo, que julgo poder ser razoavelmente bem feito por muitos dos critérios pelos quais defendem o zigoto; não é algo que eu mesmo defenda)

Isso é um estágio natural da vida de todo mundo; hermafroditas são humanos, etc. A definição genética do sexo é só mais uma das diferenças que se pega do zigoto e do óvulo como se fosse "evidentemente" humanizadora, mas é tão arbitrário quanto dizer que antes de haver atividade cerebral não há atividade cerebral, ou que antes de haver síntese de queratina, não há queratina.


Não tenho intenção de repetir minha longa e detalhada explanação sobre individualidade conduzida em outro tópico. Se checar, verá que parto da definição e a partir de seus desdobramentos estabeleço como a individualidade diferencia o óvulo do embrião. Questões como "hermafroditas são humanos" passam tão longe dos objetivos e métodos do que foi proposto que não há como fazer qualquer comentário a respeito.

zumbi filosófico escreveu:Um bebê alimentado tem o seu período normal de desenvolvimento, um bebê não alimentado não, morre.


E me diga no que alimentar ou não um bebê afeta sua individualidade, que no caso de uma criança já nascida é auto-evidente, sendo portanto simplesmente tolo montar inferências a respeito? Repetindo, minha explanação sobre a individualidade ser fator de diferenciação entre óvulo e embrião não foi compreendida e todas estas questões desdobradas deste não entendimento são inúteis e absurdas.

zumbi filosófico escreveu:Não se pode esperar que não é natural do estágio. O natural do óvulo é que seja fecundado - contracepção e abstinência são intervenções no processo natural.


Pelo contrário. O natural do óvulo é que não seja fecundado, já que uma ínfima minoria dos óvulos humanos existentes o serão.

Eles são produzidos em número muito superior que o necessário para garantir a procriação e perpetuação da espécie, conforme a lógica natural de todos os sistemas reprodutivos biológicos.


zumbi filosófico escreveu:O mesmo se aplica ao óvulo ovulado se entendemos não o zigoto como outra coisa completamente diferente mas a continuidade de sua vida, depois que a outra célula entra nele. Estão lá, futuros pais, a mãe ovulando, e estão para fazer sexo ou fazendo. Basta o esperma estar no corpo da mulher que o óvulo já tem grandes possibilidades de ter definido o local de nascimento; dali a bem pouco tempo, deverá inclusive ser um zigoto.


Dentre os fatos que você não vê, continua não vendo que todas estes fatores formadores da individualidade são reais e definidos para o embrião, que já possui um corpo em desenvolvimento que será dentro de determinado tempo a pessoa portadora desta individualidade.

Todas as suas analogias com óvulo se reduzem ao potencial, sendo que as probabilidades naturais sempre apontam mais para o óvulo ser descartado e não fecundado, o que implica que você quer igualar uma realidade com uma baixa probabilidade.


zumbi filosófico escreveu:E pessoas cujo local de nascimento seja absolutamente ignorado, continuam sendo pessoas.


Nem consigo imaginar com você pode ter associado qualquer trecho de minhas explanações à possibilidade de que pessoas de local de nascimento ignorado não serem pessoas.

zumbi filosófico escreveu:Você pode tentar continuar a minimizar as similaridades ou irrelevâncias das diferenças que eu apontei, mas continuam sendo suas opiniões pessoais.


Não são não.

Como disse, no tópico em que iniciei minha explanação sobre fatores determinantes de individualidade parti de uma definição universalmente aceita, tanto que ao solicitar ao meu interlocutor que postasse a dele, foi pinçada do dicionário uma muito equivalente.

Todas as inferências que faço são desdobramentos lógicos válidos daquela definição, logo, minha opinião é irrelevante na análise da validade de minhas conclusões.


zumbi filosófico escreveu:Casais tentando engravidar podem inclusive fantasiar sobre o filho ou filha muito antes da fecundação e da ovulação; o fato de estarem juntos, já "dá" o tão necessário pai ao óvulo-filho e etc.[/color]

Quem está fantasiando é você, querendo igualar um embrião que existe física e biologicamente e com pais de fato definidos, com uma possibilidade estabelecida apenas nos sonhos de alguém.

zumbi filosófico escreveu:Nunca ouvi falar de certidão de nascimento pré-natal, ou em casos de aborto espontâneo.


Nem eu. E daí? Disse que havia isto?

O que eu disse é que pais definidos, sexo, período de nascimento definem uma individualidade de modo suficiente a ponto de ser os dados exigidos pela certidão de nascimento.

Tudo além que imaginou sobre este fato é por tua conta.


zumbi filosófico escreveu:Não que ter essas coisas, ou certidão de nascimento, ou qualquer requerimento para uma, seja o que eu creio que determine a humanidade, de qualquer forma...


De novo nem consigo imaginar de onde você tirou a idéia de que eu teria defendido que certidão de nascimento define humanidade.

zumbi filosófico escreveu:Será mesmo? Então porque será que a imensa maioria, suspeito que a totalidade, dos abortos espontâneos não seja considerado como um tipo de falecimento de verdade, e que provavelmente também não hajam essas certidões de nascimento pré-natais? E tem também praticamente total descaso com todas essas mortes, também. Ninguém pensa em resolver a questão, minimizar os abortos espontâneos significativamente (ainda que por outro lado eu não me surpreenderia totalmente com isso como campanha de algum político de partido religioso, ao lado de manter o aborto ilegal)


Quanto mais te leio, mas percebo que você está completamente perdido nesta discussão.

Eu disse que as características de individualidade já definidas no embrião – pais, sexo, período de nascimento – são reconhecidas pela lei como suficientes para lavrar um documento identificador de uma pessoa, ou seja, um reconhecimento legal do valor destas características.

Por que cargas d'água o fato cotidiano sabido por todos que a certidão de nascimento registra legalmente características que o embrião já tem definidas teria algo a ver com certidões de nascimento pré-natais?


zumbi filosófico escreveu:Inclusive, se vamos aos "apelos legais", o crime de aborto não é homicídio, mas crime de aborto mesmo.


E daí? Isto apenas indica que este crime tem uma definição legal específica, o que a priori não implica que seja melhor ou pior do que se enquadrado na outra definição.

zumbi filosófico escreveu:Como disse, desconheço isso de certidão de nascimento pré-natal, talvez por ignorância do processo mesmo, que talvez possa ser adiantado conforme a gestante está no hospital e etc. De qualquer forma, não acho que a certidão de nascimento seja o critério para vida humana; as pessoas podem não ter certidão de nascimento (nem seus requerimentos e outras quesitos listados) e ainda serem pessoas, mesmo antes de nascer.


Vide acima.

zumbi filosófico escreveu:Bem, eu não sei exatamente como seria "demonstrar" que a sua opinião que está dando aqui é uma opinião pessoal.


Simples, identifique minhas premissas e analise se elas se ancoram em algum conceito universalmente aceito, logicamente demonstrável ou evidenciado nos fatos. Caso contrário é opinião pessoal.

zumbi filosófico escreveu:Acho que, como não existem verdades absolutas nesse campo (diferentemente de você, se não me engano, que já disse uma vez que é meio como matemática),...


Você se engana. Na postagem anterior eu disse:

Sua comparação é simplesmente absurda, não por algum critério arbitrário meu, mas porque você adotou uma analogia matemática sem pé nem cabeça, segundo a qual se a célula-ovo = óvulo + espermatozóide , então o óvulo = célula ovo – espermatozóide. Como o espermatozóide seria desprezível na sua idéia, então poderia-se concluir que célula ovo e óvulo são iguais.
O absurdo do raciocínio salta aos olhos de qualquer pessoa de inteligência normal e, possivelmente, até de muitos um tanto abaixo disto, tanto pela analogia matemática ser completamente inaplicável à questão de vida ou morte humana, quanto pela conclusão tirada sabe-se lá de onde de que a contribuição do espermatozóide é desprezível, tanto quanto as mudanças no óvulo ocorridas na fecundação, que obviamente não é apenas uma soma.


Logo...


zumbi filosófico escreveu:...então tanto a sua como a minha são necessariamente opiniões pessoais, e não tenho como demonstrar "matematicamente" que isso que disse "não é verdade", como que colocando numa equação ou algo do tipo.

Na sua "matemática moral", diz que

óvulo + determinações genéticas, sócio-econômicas e etc que vêm com o espermatozóide = gente

Para mim simplesmente, "não", coloco um "diferente" em vez do "igual" ou melhor, um sinal "<", que gente é mais do que simplesmente isso.

Não tenho como reorganizar esses elementos e ter resultados diferentes com os quais você concorde se você mantém os mesmos "valores". Foi essencialmente o que eu fiz e você chamou o tempo todo de "opinião pessoal".


Eu sinceramente não sei quantas vezes tenho que repetir o que disse no início desta discussão: "não sei o que nos faz humanos".

Daí concluir que eu defina humanidade por meio de equações é forçar a barra além dos limites do tolerável.


zumbi filosófico escreveu:É que eu penso que provavelmente deve ser algo praticamente característico da espécie humana ou de indivíduos no nosso contexto sócio-cultural que os humanos mais prontos sejam mais importantes que células, mesmo que as "especiais".

Acho que você não se importa tanto com abortos espontâneos como se fossem morte de milhões de crianças, também acho que não considera corpos sem cérebro vivo como pessoas (onde concordamos), fora na possibilidade de virem a desenvolver um (onde vejo como "igual" a um óvulo). Não acho que esteja achando nada demais.


Células especiais é como você vê e chama os entes em questão.

De resto, meus sentimentos pessoais não alteram veracidades.

Caso eu não passe os dias chorando pelas crianças que morrem de fome na África, isto apenas diz algo sobre mim, não sobre aquelas crianças.


zumbi filosófico escreveu:Eu não vejo problema algum com o exemplo, por mais improváveis que sejam as circunstâncias. Talvez porque eu realmente não veja nessas determinações algo que realmente "traz" a humanidade, não sei.

Como imagino que na verdade as pessoas muitas vezes devem pensar de forma mais parecida com a minha mas resistem a aceitar por um tipo de "reflexo", por dissonância cognitiva, achei que criando essa situação te mostaria que os teus critérios de humanidade na verdade não são os que você mesmo considera essenciais porque alguém pode ser 100% humano sem que os satisfaça, ou que satisfaça com adendos e "variáveis de valor nulo".


Considere a possibilidade de haver pretensão demais em sua idéia de que se as pessoas não concordam com você isto se deve a dissonância cognitiva e não ao fato de elas preferirem alternativas melhores.

zumbi filosófico escreveu:Mas eu não estou defendendo o óvulo "de verdade". Por isso eu posso fazer isso; o ponto é exatamente ilustrar que potencialidade não importa, porque por potencial também o óvulo deveria ser salvo, é praticamente indistinto do zigoto se consideramos ambos como "a mesma coisa", tal como é a entidade em desenvolvimento em todos estágios, como uma continuidade, e não como um óvulo mágico que deveria ter pai e diploma de faculdade para ser digno de viver.


Não importa que não seja isto que está defendendo. O fato é que se foi demonstrada incoerência em sua ilustração ela se torna inválida como argumento.
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

Avatar do usuário
RicardoVitor
Mensagens: 2597
Registrado em: 07 Set 2006, 20:04
Localização: Esquerdolândia

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por RicardoVitor »

-=|†¡xä|=- escreveu:Talvez achem o que vou dizer um tanto cruel, ou algo do género, e talvez não compreendam, mas eu penso que, a partir do momento em que uma criança não é desejada pelos seus progenitores, então que seja feito o aborto; tenha a "criança" 2 dias ou 8 meses.

Curto e simples: não é desejada, não nasce.


Exactly my thoughts.
Logical, responsible, practical.
Clinical, intellectual, cynical.
Liberal, fanatical, criminal.
Acceptable, respectable, presentable, a vegetable!

Avatar do usuário
RicardoVitor
Mensagens: 2597
Registrado em: 07 Set 2006, 20:04
Localização: Esquerdolândia

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por RicardoVitor »

Uma questão que me intriga em relação ao aborto: Se, por exemplo, fosse legalizado até alguns meses de gestação, e uma pessoa propositalmente atacasse a gestante dentro desse período sem feri-la fisicamente, mas de modo que provocasse um aborto, isso seria considerado um assassinato ou teria aval da Lei?
Logical, responsible, practical.
Clinical, intellectual, cynical.
Liberal, fanatical, criminal.
Acceptable, respectable, presentable, a vegetable!

Avatar do usuário
chagas
Mensagens: 613
Registrado em: 01 Nov 2007, 21:02
Gênero: Masculino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por chagas »

Dignidade humana é por definição qualitativa e irredutível, cada ser humano a possui.
Acauan.

Avatar do usuário
chagas
Mensagens: 613
Registrado em: 01 Nov 2007, 21:02
Gênero: Masculino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por chagas »

Acauan escreveu:Considere a possibilidade de haver pretensão demais em sua idéia de que se as pessoas não concordam com você isto se deve a dissonância cognitiva e não ao fato de elas preferirem alternativas melhores.


Não poderíamos ter definição melhor do que esta quanto aos argumentos da pessoa em questão. Acho realmente que já vi o suficiente.
Grato.

Avatar do usuário
chagas
Mensagens: 613
Registrado em: 01 Nov 2007, 21:02
Gênero: Masculino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por chagas »

RicardoVitor escreveu:Uma questão que me intriga em relação ao aborto: Se, por exemplo, fosse legalizado até alguns meses de gestação, e uma pessoa propositalmente atacasse a gestante dentro desse período sem feri-la fisicamente, mas de modo que provocasse um aborto, isso seria considerado um assassinato ou teria aval da Lei?


Muito bom para refletir.

Avatar do usuário
Acauan
Moderador
Mensagens: 12929
Registrado em: 16 Out 2005, 18:15
Gênero: Masculino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por Acauan »

chagas escreveu:
RicardoVitor escreveu:Uma questão que me intriga em relação ao aborto: Se, por exemplo, fosse legalizado até alguns meses de gestação, e uma pessoa propositalmente atacasse a gestante dentro desse período sem feri-la fisicamente, mas de modo que provocasse um aborto, isso seria considerado um assassinato ou teria aval da Lei?


Muito bom para refletir.


Muito possivelmente a agressão seria enquadrada como lesão corporal dolosa.
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

Avatar do usuário
RicardoVitor
Mensagens: 2597
Registrado em: 07 Set 2006, 20:04
Localização: Esquerdolândia

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por RicardoVitor »

Acauan escreveu:
chagas escreveu:
RicardoVitor escreveu:Uma questão que me intriga em relação ao aborto: Se, por exemplo, fosse legalizado até alguns meses de gestação, e uma pessoa propositalmente atacasse a gestante dentro desse período sem feri-la fisicamente, mas de modo que provocasse um aborto, isso seria considerado um assassinato ou teria aval da Lei?


Muito bom para refletir.


Muito possivelmente a agressão seria enquadrada como lesão corporal dolosa.


Exatamente, e isso me intriga ainda mais. Imaginem a brecha legal nisso, um sujeito tem que responder apenas por lesão corporal dolosa (ou não, dependendo da situação), onde a pena é de no máximo 1 ano, por matar o filho (desejado) de outra pessoa. Sou a favor do aborto, mas considero a questão extremamente problemática, em diversas situações. Essa é uma delas.
Logical, responsible, practical.
Clinical, intellectual, cynical.
Liberal, fanatical, criminal.
Acceptable, respectable, presentable, a vegetable!

Avatar do usuário
RicardoVitor
Mensagens: 2597
Registrado em: 07 Set 2006, 20:04
Localização: Esquerdolândia

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por RicardoVitor »

OBS: Sem querer cliquei em "Notificar" na msg acima, acredito que não foi completada a notificação, mas caso positivo favor ignorar, moderadores.
Logical, responsible, practical.
Clinical, intellectual, cynical.
Liberal, fanatical, criminal.
Acceptable, respectable, presentable, a vegetable!

Avatar do usuário
Joe
Mensagens: 1524
Registrado em: 16 Fev 2007, 23:33
Gênero: Masculino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por Joe »

Acauan escreveu:
zumbi filosófico escreveu:A analogia com a morte do outro lado não é necessária.


Não é necessária, mas é uma regra:

Revista VEJA, edição 2050, 5 de março de 2008

Entrevista com a bióloga Mayana Zatz especialista em células-tronco

Veja – Afinal, quando começa a vida? Do ponto de vista da ciência, o embrião é um ser humano?
Mayana – Não existe um consenso sobre quando começa a vida. Cada pessoa, cada religião tem um entendimento diferente. Mas existe, sim, um consenso de que a vida termina quando cessa a atividade do sistema nervoso. Quando o cérebro pára, a pessoa é declarada morta. Pelo mesmo raciocínio, se não existe vida sem um cérebro funcionando, um embrião de até catorze dias, sem nenhum indício de células nervosas, não pode ser considerado um ser vivo. Pelo menos não da forma que entendemos a vida.


O que falar da anencéfala agora?

Avatar do usuário
zumbi filosófico
Mensagens: 2054
Registrado em: 19 Out 2007, 20:01
Gênero: Masculino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por zumbi filosófico »

Acauan escreveu:
zumbi filosófico escreveu:A analogia com a morte do outro lado não é necessária.


Não é necessária, mas é uma regra:

Revista VEJA, edição 2050, 5 de março de 2008

Entrevista com a bióloga Mayana Zatz especialista em células-tronco

Veja – Afinal, quando começa a vida? Do ponto de vista da ciência, o embrião é um ser humano?
Mayana – Não existe um consenso sobre quando começa a vida. Cada pessoa, cada religião tem um entendimento diferente. Mas existe, sim, um consenso de que a vida termina quando cessa a atividade do sistema nervoso. Quando o cérebro pára, a pessoa é declarada morta. Pelo mesmo raciocínio, se não existe vida sem um cérebro funcionando, um embrião de até catorze dias, sem nenhum indício de células nervosas, não pode ser considerado um ser vivo. Pelo menos não da forma que entendemos a vida.



zumbi filosófico escreveu:Por exemplo, pode inverter, pensar em algo real ou hipotético análogo para o seu conceito, e ainda manter que a fecundação seja o critério para início da humanidade. Por exemplo, se houvesse a possibilidade do zigoto se "desfecundar", desfazer a junção dos genes acrescentados pelo espermatozóide, dando fim a "humanidade" da célula, que volta a ser um óvulo (ou uma porção deles, caso já tenha havido reprodução).

Se, por qualquer motivo que seja, a fecundação é o que marca o início da vida humana para você, o que te importaria que essa "desfecundação" pudesse ser revertida? Por que de repente teria que ser outra coisa que marca o início da humanidade?


A utilização da analogia reversa é um recurso tipicamente abortista (o que não implica que a dra. Mayana Zatz o seja por citá-lo em outro contexto). Anti-abortistas não se utilizam deste recurso, logo é indiferente como sua hipotética aplicação afetaria seus argumentos.


Não importa aqui quem é "abortista" e quem não é; o ponto é que se a morte, seja na ótica pró-escolha/morte clínica ou em quase qualquer outra, é de repente descoberta como sendo reversível, isso não tem qualquer relevância quanto a considerar-se se por qualquer motivo o "inverso" desse critério de morte como início da vida. Ele apenas deixa de ser o mesmo critério para um fim absoluto da vida.

A menos que se tenha como um pressuposto de que, qualquer que seja o critério para o "início da vida" ele tem que ser o inverso do que se considera a morte, e que essa por sua vez não pode ser reversível; e não vejo razão para a necessidade disso.





zumbi filosófico escreveu:A similaridade é o fato de que ambos estágios não apresentam atividade cerebral. Similaridade não implica em serem exatamente iguais, mas esse é um ponto comum que muitos consideram fundamental.


A similaridade reivindicada com a analogia reversa entre pré e pós atividade cerebral não se refere à biologia e sim ao direito. Querem igualar o status legal de um cadáver com o de um embrião por ambos não apresentarem atividade cerebral mensurável, pautando-se por uma potencial semelhança enquanto ignoram que tudo o mais entre os comparados é diferente ou mesmo oposto entre si.

zumbi filosófico escreveu:Para mim, o "ainda" anterior ao início da atividade cerebral é mais ou menos equivalente ao "ainda" anterior à fecundação ao qual você não dá importância "humana".


Incorreto. Uma citação correta seria "no qual não identifica individualidade específica dentre as infinitas possibilidades contidas".


Bem, pelo que eu entendi, o momento "no qual é identificada uma individualidade específica dentre as infinitas possibilidades contidas" para você é o momento no qual uma célula passa a ter importância "humana", e então resumi assim.



zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu:O melhor que sua linha de raciocínio pode defender é que a pessoa se torna humana a partir do momento em que nossos meios instrumentais e técnicos permitem identificar um determinado estágio de formação ou atividade de um conjunto específico de tecidos, o que reduz a humanidade à capacidade da tecnologia humana em detectá-la, o que é absurdo e, obviamente, imoral.


Não é absurdo, é a realidade. Inclusive para a sua posição. As mulheres não estão conscientes de estarem grávidas, não sentem a fecundação, precisam de tecnologia para detectá-la e poderiam deixar passar, até com maior risco de falha do que se tem em não identificar se um embrião está em um ou outro estágio.

Talvez soe como um tipo de tu quoque misturado com redução ao absurdo, mas se a vida começa na fecundação e é tão imoral e absurda a possibilidade de matá-la por falhar em detectá-la, acho que as mulheres de vida sexual ativa deveriam ser hiper-zelosas, muito mais do que são, sobre a possibilidade de engravidarem. Deviam passar uma boa parte do tempo fazendo testes para saber que não tem nenhum zigoto nem nada parecido lá, para então não tomarem mais café, pararem de fumar, de beber e etc, quaisquer que sejam as recomendações para minimizar as chances da criança morrer - que normalmente, são altíssimas, talvez em virtude de um relativo descaso, de falta desse zelo.


Você confundiu os conceitos.

É inegavelmente absurdo afirmar que a humanidade de um ente se define pela capacidade da tecnologia em detectá-la.

Seu exemplo hipotético se refere às responsabilidades decorrentes da incapacidade de detecção, o que não muda o fato de que algo existente não deixa de existir por não ser detectável.


Bem, continua sendo a mesma coisa para ambos os critérios, de qualquer forma. Tanto atividade cerebral como fecundação são "estágio de formação ou atividade de um conjunto específico de tecidos" (trocando tecidos por moléculas, no caso "pró-vida"), e ambas as coisas tem suas limitações de detecção e etc, então não vejo porque um critério seria mais ou menos imoral que o outro.




zumbi filosófico escreveu:E como disse antes, mesmo que não tivessem, mas fosse reversível, isso não implica em não podermos julgar que seja o começo da humanidade tal como a possibilidade de restaurar uma condiçao diplóide/genotípica eventualmente desfeita no zigoto não implicaria que o a fecundação não pudesse ser o critério para o "início da vida".


Podemos julgar qualquer coisa. O problema é garantir que o julgamento seja verdadeiro e justo.


O problema é que talvez "não exista" o "verdadeiro" nesse caso. O mais próximo de um conceito absolutamente verdadeiro seria o de que a vida nunca começa, que é um contínuo, porque biologicamente é isso que de fato ocorre.

Quando estamos falando já de valores que atríbuímos à certas formas e estágios de vida, é algo quase que necessariamente arbitrário. Você tem uma opinião, eu outra, os espartanos outra, os nazistas outra, os jainistas outra ainda. Cada uma provavelmente parte de pressupostos diferentes e as outras estão então erradas, a menos que na verdade todas visões (ou algumas delas) partam dos mesmos pressupostos mas se enganem no desenvolvimento das conclusões.


zumbi filosófico escreveu:A "igualdade" não é proposta como sendo nem necessariamente "exata", apenas igual no sentido de não serem ainda "humanos". Como um braço solto de um corpo não é, ou como um corpo desprovido de cabeça não é.

Não importa que qualquer um desses não seja exatamente igual a um óvulo ou outros estágios. Simplesmente não conseguimos ver "humanidade" simplesmente em níveis citológicos e histológicos meramente, mesmo levando em consideração que já teriam pais e mães e características sócio-culturais implícitas (como teria um óvulo em menor grau, diga-se de passagem - ao menos é assim que vejo, ainda que você não consiga enxergar assim)


Suas analogias são inaplicáveis, pois o embrião e o feto não são partes desprendidas de um todo, como o braço separado do corpo.


Eu considero que mesmo que cada um vários estágios do desenvolvimento sejam um "todo", e que um cadáver íntegro pode ser um "todo", ambos tem em comum o fato de não terem atividade cerebral, e isso importa mais do que serem "todos" ou parte.

Se alguém não tem membros ou boa parte do corpo faltando, mas tem atividade cerebral humana, não me importa que ela não seja um "todo" e acho que deve pensar o mesmo; talvez veja que essa questão de todo o u parte também não tem importância supondo que houvesse algum tipo de fecundação meio "incompleta", como só ter um cromossomo X (síndrome existente) - mas se só tiver um de todos os cromossomos, para você ainda não há "humanidade" (ou identificação da identidade individual e etc).




Da mesma forma, dizer que no "nível citológico ou histológico" não há humanidade apenas reflete uma definição de humanidade que não pode existir nestes níveis, sem qualquer demonstração de porque esta definição seria correta e verdadeira.


Vou tentar resumir essa posição mais tarde, em outra mensagem.



O que é certo e inegável é que o embrião é um ser humano em desenvolvimento – como você próprio concordou, dentro de suas próprias premissas.

Algo em desenvolvimento é necessariamente diferente de um não-algo, por mais que a ausência de determinadas características o distanciem da forma desenvolvida.


Eu acho que pode se perder muito tempo discutindo rótulos "lógicos", se X é um "não-Y" ou o que quer que seja. De qualquer forma, considero tanto óvulo, quanto todos estágios embrionários, quanto cadáveres decapitados cujos corpos são mantidos vivos por aparelhos, como humanos, se estivermos falando exclusivamente de humanos, claro. Não os considero como "não-humanos", exceto nesse sentido de "valor" da vida humana.

Como disse anteriormente, não é que considere todos esses estágios como idênticos em todos os pontos, apenas nesse aspecto que considero determinante. Da mesma forma você não considera o óvulo como algo que não existe ou que não tem nada a ver com o que considera a verdadeira "origem" da humanidade, e no entanto não o considera "humano" no sentido que importa para essa discussão toda.

Sei que você tem uma série de motivos para crer que o óvulo é muito mais insignificante nesse sentido que qualquer estágio de desenvolvimento após a fecundação, mas, além de eu não concordar com os motivos, continuo enxergando que mais ou menos a metade do volume dos motivos seria válido para o óvulo.
##


zumbi filosófico escreveu:Bem, isso é a sua opinião, e eu acho que não só é inconsistente, que no fundo você também acha que pessoas com cérebro são "mais" humanas, com acho que a sua é mais arbitrária - e não nego a arbitrariedade da minha, a arbitrariedade é inescapável a menos que se julgue ter conhecimentos absolutos de um tipo de realidade ideal que é perfeitamente descrita pela linguagem livre de nuances e possibilidades de diferentes classificações defensáveis.

Acho que já devo ter dito diversas vezes o porque é mais arbitrário e porque penso que as pessoas na verdade consideram mesmo pessoas que andam (ou engatinham) por aí como pessoas mesmo, e células especiais não, ou nem tanto. Acho que escolheria uma pessoa e não dez embriões se tivesse que escolher uma das duas opções para salvar.

O provavelmente não implica para você de qualquer forma deixar morrer os embriões seja "bom", é apenas mal menor, mas revela que talvez não seja exatamente uma questão exatamente de dez pessoas versus uma pessoa.

Claro, posso estar errado, talvez você escolhesse os embriões. Talvez seja até meio provável se os vir como bebês; na questão de onde me inspirei nisso a proposição é de dez pessoas versus um bebê mesmo, nascido e etc, alguém tem que morrer para que os outros vivam. Enquanto as outras decisões que envolviam apenas a morte de adultos são mais consideravelmente mais fáceis, essa é mais bem difícil, apesar do número elevados de mortos para salvar o bebê acho que eram praticamente nulas as respostas "sim, com certeza, o bebê deve morrer para salvar os dez". Geralmente as respostas iam do positivo mas próximo ao neutro, ao totalmente contrário - que inclusive implicava na morte também do bebê, apenas não provocada por nós ou com nossa conivência.


Ou seja, você quer quantificar a dignidade humana dentro de uma escala numérica comparativa, algo do tipo determinados entes humanos tem dignidade 1, logo uma dezena deles equivale em dignidade a um determinado ente humano com dignidade 10.

Obviamente, isto é nonsense.


Não, eu não quero isso, não me fiz entender. Foi uma digressão, mais ou menos relacionada.

Tirando essa fase do desenvolvimento, acho que minha visão sobre dignidade e etc não deve diferir muito da sua.

Qualquer pessoa no entanto, independentemente dos seus critérios pessoais sobre essa questão de pró-vida e/ou escolha, se vê em problemas o tipo de decisão de testes morais como esse da pesquisa que mencionei. Segundo a pesquisa que mencionei, a imensa maioria das pessoas tem mais ou menos a mesma posição sobre essas questões de moral da vida humana, sendo praticamente irrelevantes idade, sexo, relgião, país, etnia.

O padrão geral, se bem me lembro, é que praticamente todos são mais ou menos equilibrados entre "kantianos" (acho que é o termo para pessoas que consideram certa ou errada uma ação sob um aspecto bem estrito, isolado, sem considerar conseqüências para outros, e geralmente o correto coincide com algo que nos faz sentir bem, com exceção de vinganças violentas e etc) e utilitaristas - favorecem o maior número de pessoas. Exceto quando tem que por a "mão na massa" literalmente para fazer algo que, isoladamente, é ruim.

Colocando isso com os tipos de situação usadas nos testes, as pessoas geralmente vêem como algo próximo de correto (a pesquisa tinha diversos graus de correto/errado, acho que uns cinco o ou sete no total) que se mexa numa alavanca para alterar o rumo de um vagão descontrolado, de forma que mate uma pessoa em vez de cinco. Mas se em vez de mexer numa alavanca, a opção para salvar as cinco pessoas fosse empurar antes dos trilhos uma pessoa que se soubesse ser suficientemente pesada para parar o vagão, diminui drásticamente o número o grau em que as pessoas enxergam isso como correto, apesar de numéricamente o número de vidas que se salva em troca de uma inocente ser exatamente igual. Se não me engano, ficava mais ou menos entre os dois a consideração moral se, a situação proposta fosse de jogar um outro peso, que não é uma pessoa, impedindo o vagão, mas que no caminho entre os trilhos, matava a mesma pessoa.

Outro ponto é que enquanto uma decisão de trocar uma pessoa por cinco era geralmente mais "correta", a coisa mudava se a pessoa a ser morta era um bebê, mesmo que fosse o dobro de pessoas a serem salvas, e até mesmo se o bebê fosse morrer de qualquer forma.

Acho tudo isso bem interessante, e acho que esse tipo de constatação tem a ver com essa discussão toda e outras, como ortotanásia; nos EUA, por exemplo, é permitido apenas que uma pessoa em condições terminais morra por não fornecerem algo que mantém sua vida, mas não é permissível que lhe dêem algo para morrer. O tanto o resultado quanto a intenção, no entanto, são os mesmos, mas há esses instintos morais atrapalhando a questão, de forma que pode ser vista como prejudicial sobre uma ótica mais "puramente" lógica; o doente terminal pode sofrer muito mais com cessão da manutenção de vida apenas do que com uma morte induzida.




Admitido este critério, absolutamente nada impede de quantificar a dignidade de doentes mentais graves como menor que a do homem de inteligência mediana e a dos reconhecidos como gênios em um nível acima.

Dignidade humana é por definição qualitativa e irredutível, cada ser humano a possui.

Jogos de possibilidades do tipo se "você deixaria de salvar tantos X para salvar quantos Y", podem ser aplicados a qualquer diferenciação, como o hipotético médico, que só tem condições de salvar um paciente, ter que escolher entre um idoso, reconhecido como grande benemérito da humanidade, que tem menos chances de sobreviver que o outro paciente, um jovem viciado em drogas com histórico anti-social.

A inutilidade destas propostas é que o dilema está na situação, não nos personagens, assim, qualquer que seja o escolhido para ser salvo, isto não implica que seja de alguma forma melhor que o preterido, apenas que aquelas circunstâncias específicas ao extremo favoreciam aquela decisão, segundo algum critério de julgamento aplicado.


Eu não sei, acho que isso é verdade em um bom grau. Não acho que as pessoas valham mais ou menos de acordo com as condições que tem de suas vidas serem salvas, mas acho que esse tipo de experimento mental talvez sirva sim para chegar a algo bem próximo de "verdades" morais, seja pela simples averiguação do que a maioria das pessoas instintivamente julga ser mais moral ou através de uma análise lógica desses resultados que pode ajudar a ver falhas nisso.



zumbi filosófico escreveu:Todo óvulo tem "mãe", e qualquer que fosse o pai que viesse a ter, o óvulo seria gente. Se pais abandonam as mães e as crianças, ou morrem, não se pode matar as crianças.


Parece que você ainda não entendeu que em momento algum coloquei esta questão em termos de ser gente ou não, o fato é que ter um pai e uma mãe define características específicas de individualidade, enquanto ter um possível e potencial pai não define coisa alguma.

[...]

Não tenho intenção de repetir minha longa e detalhada explanação sobre individualidade conduzida em outro tópico. Se checar, verá que parto da definição e a partir de seus desdobramentos estabeleço como a individualidade diferencia o óvulo do embrião. Questões como "hermafroditas são humanos" passam tão longe dos objetivos e métodos do que foi proposto que não há como fazer qualquer comentário a respeito.



Mas por que essas definições de individualidade são importantes para a "humanidade"?

Eu acho que, o tempo todo, qualquer que seja o grau no qual elas possam estar ausentes em uma pessoa com atividade cerebral, você não diria que ha diversos graus de dignidade e que graus baixos de definição fariam das "pessoas" algum tipo de "intocável", uma casta subumana. No entanto, como pode sempre dizer que estão mais e só então suficientemente satisfeitas essas condições depois e não antes da fecundação. Isso simplesmente te serve para "salvar" ao zigoto ao mesmo tempo que não tem relevância real para a "humanidade"/dignidade humana.




zumbi filosófico escreveu:Um bebê alimentado tem o seu período normal de desenvolvimento, um bebê não alimentado não, morre.


E me diga no que alimentar ou não um bebê afeta sua individualidade, que no caso de uma criança já nascida é auto-evidente, sendo portanto simplesmente tolo montar inferências a respeito? Repetindo, minha explanação sobre a individualidade ser fator de diferenciação entre óvulo e embrião não foi compreendida e todas estas questões desdobradas deste não entendimento são inúteis e absurdas.


Então qual é a relevância do óvulo morrer se não fecundado mas como zigoto ter 50-80% a mais de chance de sobrevida? A única coisa crucial é que ele não tem o nível de individualidade que você considera idealmente safisteito apenas após a fecundação, e que é o que dá dignidade à vida humana realmente. O que tem a ver a perspectiva de sobrevivência com individualidade?



zumbi filosófico escreveu:Não se pode esperar que não é natural do estágio. O natural do óvulo é que seja fecundado - contracepção e abstinência são intervenções no processo natural.


Pelo contrário. O natural do óvulo é que não seja fecundado, já que uma ínfima minoria dos óvulos humanos existentes o serão.


Isso é contestável - é o natural do óvulo ovulado que seja fecundado - um só é ovulado por vez, e se fecundado, como ocorreria naturalmente, cessa a ovulação durante toda a gestação, não ocorrendo mais nenhuma morte deles, continuam armazenados vivos.

Fora isso, ainda continua o problema anterior da relevância disso para individualidade e/ou dignidade, com analogias muito esquisitas possíveis, se esse parâmetro é adotado... alta mortalidade em humanos, bebês, adultos ou idosos, não implica que, antes de morrerem, não são humanos. O mesmo não deveria se aplicar a zigotos ou óvulos, se são discutidos como humanos ou possivelmente humanos.


zumbi filosófico escreveu:O mesmo se aplica ao óvulo ovulado se entendemos não o zigoto como outra coisa completamente diferente mas a continuidade de sua vida, depois que a outra célula entra nele. Estão lá, futuros pais, a mãe ovulando, e estão para fazer sexo ou fazendo. Basta o esperma estar no corpo da mulher que o óvulo já tem grandes possibilidades de ter definido o local de nascimento; dali a bem pouco tempo, deverá inclusive ser um zigoto.


Dentre os fatos que você não vê, continua não vendo que todas estes fatores formadores da individualidade são reais e definidos para o embrião, que já possui um corpo em desenvolvimento que será dentro de determinado tempo a pessoa portadora desta individualidade.


Não, eu entendo que uma série de definições individuais passam a ser rigidamente determinadas a partir da fecundação, especialmente se nos atermos ao que é estritamente biológico. Só não vejo por que isso, essa determinação da individualidade cunhada em torno da fecundação é o que importa para a dignidade.





zumbi filosófico escreveu:Você pode tentar continuar a minimizar as similaridades ou irrelevâncias das diferenças que eu apontei, mas continuam sendo suas opiniões pessoais.


[color=yellow]Não são não.

Como disse, no tópico em que iniciei minha explanação sobre fatores determinantes de individualidade parti de uma definição universalmente aceita, tanto que ao solicitar ao meu interlocutor que postasse a dele, foi pinçada do dicionário uma muito equivalente.

Todas as inferências que faço são desdobramentos lógicos válidos daquela definição, logo, minha opinião é irrelevante na análise da validade de minhas conclusões.


Bem, sem nem querer argumentar sobre diversos aspectos de individualidade poderem ser vistos também no óvulo, o problema todo acho que é sobre se a individualidade é o que deve ser o critério para proteção a vida ou não.

Penso que não, acho que há situações em que há individualidade e no entanto a vida não é, senão por motivos bastante questionáveis considerada digna de proteção, e também é hipotetizável (não importa o quão verossímil) que pessoas existissem e devessem ter suas vidas protegidas como humanos mesmo sem terem satisfeitos esses critérios de individualidade. Acho que a individualidade e a "humanidade" podem até ser em muito tempo coincidentes, mas uma não "causa" a outra, tal como os tigres geralmente são listrados mas não é tudo que tem listras que é tigre. Listras não são o mais importante para a "tigridade" de um tigre.


zumbi filosófico escreveu:Acho que, como não existem verdades absolutas nesse campo (diferentemente de você, se não me engano, que já disse uma vez que é meio como matemática),...


Você se engana. Na postagem anterior eu disse:

Sua comparação é simplesmente absurda, não por algum critério arbitrário meu, mas porque você adotou uma analogia matemática sem pé nem cabeça, segundo a qual se a célula-ovo = óvulo + espermatozóide , então o óvulo = célula ovo – espermatozóide. Como o espermatozóide seria desprezível na sua idéia, então poderia-se concluir que célula ovo e óvulo são iguais.
O absurdo do raciocínio salta aos olhos de qualquer pessoa de inteligência normal e, possivelmente, até de muitos um tanto abaixo disto, tanto pela analogia matemática ser completamente inaplicável à questão de vida ou morte humana, quanto pela conclusão tirada sabe-se lá de onde de que a contribuição do espermatozóide é desprezível, tanto quanto as mudanças no óvulo ocorridas na fecundação, que obviamente não é apenas uma soma.


Logo...


Não entendi o "logo" nem o seu ponto.

Eu não estou concluindo que "zigoto e óvulo são iguais" de modo geral, eles tem diferenças biológicas essencialmente redutíveis ao acréscimo de um espermatozóide, e todas essas coisas, essas células, me são simplesmente irrelevantes para a questão da "humanidade"/direito a vida. Não acho que seja uma questão citológica (ou de identidade, que por acaso, já poderia ser vista numa célula e não em outra que era um instante antes).

Tal como cabelo. Sei que cabelo é muitíssimo diferente de óvulos e zigotos, mas para mim tem a mesmíssima relevância "humana". É de qualquer forma bem compreensível que as células em questão é que sejam tradicionalmente valorizadas como mais do que células, e não cabelo, já que essas células são realmente causalmente relacionadas à origem da "humanidade". Mas apesar disso, não as considero suficientemente "humanas", distintas de seres unicelulares ou da constituição geral outros seres, apenas em sentidos estritamente biológicos, e assim também é o óvulo. Ou até cabelo.

Isso não é exatamente um simples raciocínio "matemático", eu nem sei exatamente o que seria (anatomia comparativa, talvez, ainda que o ponto-chave, a mente humana, seja teoricamente independente de comparações anatômicas); se trata basicamente de considerar que pessoas são mais do que células e tecidos em nível consideravelmente baixo de organização, por mais "identificáveis" que possam ser essas células ou tecidos. Como todos consideram depois de passada essa fase crítica em discordâncias do desenvolvimento.

Eu me referia a essa mensagem, em outro tópico:

As bases filosóficas da moralidade são auto-evidentes, como as relações da geometria euclidiana.

Moral, como a matemática, é descoberta e não invento.

Não há como fugir a certos axiomas.

É melhor estar vivo que estar morto.
Se o contrário fosse, a maioria das pessoas se mataria, pois pode fazer isto quando quiser e do modo que quiser.
Se estar vivo é melhor para mim, então deve ser melhor para os outros, senão eles se matariam.
Logo, matar não é bom, porque continuar vivo é bom.

Pode-se utilizar esta lógica elementar para todos os fundamentos da moralidade.

O grande problema hoje é o relativismo, aquela bobagem do "o que é bom para um pode não ser para outro", como se todo mundo não tivesse uma certeza intuitiva e clara do que é bom e do que não é.






Eu sinceramente não sei quantas vezes tenho que repetir o que disse no início desta discussão: "não sei o que nos faz humanos".

Daí concluir que eu defina humanidade por meio de equações é forçar a barra além dos limites do tolerável.


Sim, mas ao mesmo tempo, é em torno da "identidade humana" (ou talvez fossemelhor "individualidade") que defende que a vida humana deve ser protegida. Não é "identidade" num sentido mais amplo, no qual todos somos humanos, mas identidade individual, presente num zigoto mas não num óvulo. Esse é o ponto. Eu não vejo relevância nesse conceito de identidade ou individualidade humana para a questão da proteção à vida, acho que podem estar muitas vezes associados incidentalmente, mas não é o crucial.

Para correção da equação, se poderia fazer algo como trocar o "igual" por "pertence" e o "humano" "por direito à vida tal como um humano, o que quer que nos faça humanos", ficando então que "ao (óvulo + espermatozíde), pertence o direito a vida tal como tem um humano".



zumbi filosófico escreveu:É que eu penso que provavelmente deve ser algo praticamente característico da espécie humana ou de indivíduos no nosso contexto sócio-cultural que os humanos mais prontos sejam mais importantes que células, mesmo que as "especiais".

Acho que você não se importa tanto com abortos espontâneos como se fossem morte de milhões de crianças, também acho que não considera corpos sem cérebro vivo como pessoas (onde concordamos), fora na possibilidade de virem a desenvolver um (onde vejo como "igual" a um óvulo). Não acho que esteja achando nada demais.


Células especiais é como você vê e chama os entes em questão.

De resto, meus sentimentos pessoais não alteram veracidades.


São "especiais" no mínimo no sentido de que são as únicas que naturalmente produzem, ou podem até ser, como você aparentemente as considera, outros seres humanos; as outras todas, individualmente ou em pequenos grups, exceto se especialmente preparadas para tal, não.




zumbi filosófico escreveu:Eu não vejo problema algum com o exemplo, por mais improváveis que sejam as circunstâncias. Talvez porque eu realmente não veja nessas determinações algo que realmente "traz" a humanidade, não sei.

Como imagino que na verdade as pessoas muitas vezes devem pensar de forma mais parecida com a minha mas resistem a aceitar por um tipo de "reflexo", por dissonância cognitiva, achei que criando essa situação te mostaria que os teus critérios de humanidade na verdade não são os que você mesmo considera essenciais porque alguém pode ser 100% humano sem que os satisfaça, ou que satisfaça com adendos e "variáveis de valor nulo".


Considere a possibilidade de haver pretensão demais em sua idéia de que se as pessoas não concordam com você isto se deve a dissonância cognitiva e não ao fato de elas preferirem alternativas melhores.


Não é só comigo, acho que é natural que os dois lados considerem isso. Você considera estar certo, não?


zumbi filosófico escreveu:Mas eu não estou defendendo o óvulo "de verdade". Por isso eu posso fazer isso; o ponto é exatamente ilustrar que potencialidade não importa, porque por potencial também o óvulo deveria ser salvo, é praticamente indistinto do zigoto se consideramos ambos como "a mesma coisa", tal como é a entidade em desenvolvimento em todos estágios, como uma continuidade, e não como um óvulo mágico que deveria ter pai e diploma de faculdade para ser digno de viver.


Não importa que não seja isto que está defendendo. O fato é que se foi demonstrada incoerência em sua ilustração ela se torna inválida como argumento.


Durante o tempo todo eu não fiz nenhuma afirmação incorreta sobre o óvulo.

O fato é apenas que para você é apenas do zigoto em diante, e não antes, que tem identidade individual "verdadeira", e que isso deve dar dignidade/direito à vida. Se podemos ver no óvulo também parte dessa identidade, de alguma forma essa identidade pode ser sempre descartada, interpretada como "errada"/"falsa" ou insuficiente para os seus critérios.
Imagem

Avatar do usuário
zumbi filosófico
Mensagens: 2054
Registrado em: 19 Out 2007, 20:01
Gênero: Masculino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por zumbi filosófico »

mig l escreveu:O complemento da razão, segundo Adam Smith. Não confundir com sentimentalismo.
.



É? Não sabia. Quero ler mais sobre isso. Também argumenta mais ou menos assim seu conterrâneo Antônio Damásio, já deve ter ouvido falar dele.


hehehe, só agora percebi o nick, Mig-L... falo do seu conterrâneo na Terra, não de seu planeta natal.
Imagem

Avatar do usuário
Acauan
Moderador
Mensagens: 12929
Registrado em: 16 Out 2005, 18:15
Gênero: Masculino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por Acauan »

zumbi filosófico escreveu: Não importa aqui quem é "abortista" e quem não é; o ponto é que se a morte, seja na ótica pró-escolha/morte clínica ou em quase qualquer outra, é de repente descoberta como sendo reversível, isso não tem qualquer relevância quanto a considerar-se se por qualquer motivo o "inverso" desse critério de morte como início da vida. Ele apenas deixa de ser o mesmo critério para um fim absoluto da vida.
A menos que se tenha como um pressuposto de que, qualquer que seja o critério para o "início da vida" ele tem que ser o inverso do que se considera a morte, e que essa por sua vez não pode ser reversível; e não vejo razão para a necessidade disso.


Eu entenderia seu argumento se me fosse clara a diferença entre fim da vida e fim absoluto da vida, o que não me é. Ou determinada condição indica o fim da vida ou não. Se por analogia reversa se diz que o que determina o fim da vida determina o começo, a partir do momento que os critérios para se determinar o fim da vida mudam, deveria mudar também a definição do início. Note que, até aqui, não faço julgamento de mérito sobre o critério, apenas questiono sua coerência intrínseca.
E agora, fazendo julgamento de mérito do critério, trata-se de apenas mais um que reduz a definição de vida humana a uma leitura instrumental, na qual padrões de eletroencefalograma nos dizem que determinadas voltagens e amperagens são mensuráveis no cérebro ativo. Só que ninguém até hoje fez qualquer associação completa entre estas leituras elétricas e o que nos faz humanos, restringindo-se as pesquisas no campo a mapear alguns padrões que correlacionam determinado fenômeno a alguma atividade cerebral específica.


zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu:Incorreto. Uma citação correta seria "no qual não identifica individualidade específica dentre as infinitas possibilidades contidas".


Bem, pelo que eu entendi, o momento "no qual é identificada uma individualidade específica dentre as infinitas possibilidades contidas" para você é o momento no qual uma célula passa a ter importância "humana", e então resumi assim.


Não necessariamente importância humana, pois como repeti dezenas de vezes e o faço de novo não sei quando esta passagem se dá.
O que é certo é que se não há individualidade não há humanidade, pois a dignidade humana é atributo do indivíduo e não de um coletivo de potencialidades como é o óvulo não fecundado.


zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu:Você confundiu os conceitos.
É inegavelmente absurdo afirmar que a humanidade de um ente se define pela capacidade da tecnologia em detectá-la.
Seu exemplo hipotético se refere às responsabilidades decorrentes da incapacidade de detecção, o que não muda o fato de que algo existente não deixa de existir por não ser detectável.


Bem, continua sendo a mesma coisa para ambos os critérios, de qualquer forma. Tanto atividade cerebral como fecundação são "estágio de formação ou atividade de um conjunto específico de tecidos" (trocando tecidos por moléculas, no caso "pró-vida"), e ambas as coisas tem suas limitações de detecção e etc, então não vejo porque um critério seria mais ou menos imoral que o outro.


A incorreção ou imoralidade não está na comparação entre critérios, mas em definir humanidade com base em leituras instrumentais.
Falar em conjuntos de tecidos fazendo isto ou aquilo apenas confirma a limitação deste critério, uma vez que acharemos os mesmos conjuntos de tecidos fazendo as mesmas coisas nos sapos ou nas taturanas, com algumas mínimas diferenças bioquímicas a nível molecular e nem por isto alguém alegará que estas poucas diferenças seriam insuficientes para distinguir o embrião que um dia seria Mozart de outro que um dia coaxaria na lagoa.


zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu:Podemos julgar qualquer coisa. O problema é garantir que o julgamento seja verdadeiro e justo.


O problema é que talvez "não exista" o "verdadeiro" nesse caso. O mais próximo de um conceito absolutamente verdadeiro seria o de que a vida nunca começa, que é um contínuo, porque biologicamente é isso que de fato ocorre.


Agora você chegou realmente ao ponto de impasse moral desta questão.
O que diferencia essencialmente abortistas e anti-abortistas não é que os contra se apegam a supersticiosas e ultrapassadas idéias de origem religiosa ou mística, como os querem os defensores, que reservam a si o auto-julgamento da vanguarda libertadora das idéias.

O que há é um confronto de crenças fundamentais, com um dos lados defendendo que a moral se manifesta no que é necessariamente verdadeiro (dentre outros atributos necessários), logo é necessário que a verdade exista para que haja moral, enquanto o outro lado admite uma moral desvinculada da verdade.

Quanto ao conceito utilizado por Carl Sagan de que a vida nunca começa, isto só faz sentido se adotarmos uma definição de vida que independe dos seres vivos, o que me parece impossível sem alguma concepção mística.
Se a vida só existe nos seres vivos, então cada vida se inicia e se encerra com a existência daquele determinado ser no qual aquela vida específica se manifesta.
Do contrário temos que entender vida como algum tipo de força ou energia vital indefinida, transferível de um ser vivo para outro, e não apenas como atividade biológica de organismos individuais.

Ironicamente, a idéia de que a vida nunca começa é mais útil à oposição ao aborto do que à sua defesa, uma vez que por mais certo que esta não fosse a intenção de Sagan, dá ao conceito de vida um caráter transcendente que extrapola o biológico.


zumbi filosófico escreveu: Quando estamos falando já de valores que atríbuímos à certas formas e estágios de vida, é algo quase que necessariamente arbitrário. Você tem uma opinião, eu outra, os espartanos outra, os nazistas outra, os jainistas outra ainda. Cada uma provavelmente parte de pressupostos diferentes e as outras estão então erradas, a menos que na verdade todas visões (ou algumas delas) partam dos mesmos pressupostos mas se enganem no desenvolvimento das conclusões.


Opiniões pode haver infinitas e por isto mesmo os julgamentos morais devem se pautar por uma verdade que esteja acima delas.
Se negarmos esta verdade possível, falar em julgamento moral se torna mera retórica para dar poder de vida e morte às opiniões de quem deseja impô-las assim.


zumbi filosófico escreveu: Eu considero que mesmo que cada um vários estágios do desenvolvimento sejam um "todo", e que um cadáver íntegro pode ser um "todo", ambos tem em comum o fato de não terem atividade cerebral, e isso importa mais do que serem "todos" ou parte.


Importa mais a partir do momento que se confere importância decisiva à atividade cerebral. Se conferir importância decisiva ao desenvolvimento, e não a um estágio do desenvolvimento, então a coisa muda. De novo, tudo é uma questão de premissas.

zumbi filosófico escreveu: Se alguém não tem membros ou boa parte do corpo faltando, mas tem atividade cerebral humana, não me importa que ela não seja um "todo" e acho que deve pensar o mesmo; talvez veja que essa questão de todo ou parte também não tem importância supondo que houvesse algum tipo de fecundação meio "incompleta", como só ter um cromossomo X (síndrome existente) - mas se só tiver um de todos os cromossomos, para você ainda não há "humanidade" (ou identificação da identidade individual e etc).


Quem colocou esta questão de todo ou parte foi você e minha resposta foi clara de que a analogia não se aplicava ao embrião, que não é um ser incompleto, mas um ser em desenvolvimento, o que é diferente.
Note que a atividade cerebral não falta ao embrião como faltam braços a alguém que por algum motivo não os tenha, pelo fato óbvio que alguém com tal deficiência pode ser identificado por ela no que se refere à sua condição física. No embrião a atividade cerebral está em desenvolvimento, logo ele não pode ser identificado por uma condição constantemente mutável, cujo desfecho normal e esperado é que resulte em atividade cerebral dentro de determinado período de tempo.


zumbi filosófico escreveu: Sei que você tem uma série de motivos para crer que o óvulo é muito mais insignificante nesse sentido que qualquer estágio de desenvolvimento após a fecundação, mas, além de eu não concordar com os motivos, continuo enxergando que mais ou menos a metade do volume dos motivos seria válido para o óvulo.


O problema está em sua concepção de vida como algo que flui ao longo das eras passando de ser em ser, algo estranhamente parecido com a reencarnação espírita.
Se assim for, de fato o óvulo é um receptáculo natural desta vida etérea que existe independente dos seres que a manifestam.

A partir do momento que o conceito de vida é associado necessariamente ao ser vivo individual que a manifesta, não há no óvulo a manifestação desta individualidade, pelos motivos já exaustivamente demonstrados.


zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu:Ou seja, você quer quantificar a dignidade humana dentro de uma escala numérica comparativa, algo do tipo determinados entes humanos tem dignidade 1, logo uma dezena deles equivale em dignidade a um determinado ente humano com dignidade 10.
Obviamente, isto é nonsense.


Não, eu não quero isso, não me fiz entender. Foi uma digressão, mais ou menos relacionada. Tirando essa fase do desenvolvimento, acho que minha visão sobre dignidade e etc não deve diferir muito da sua.

Qualquer pessoa no entanto, independentemente dos seus critérios pessoais sobre essa questão de pró-vida e/ou escolha, se vê em problemas o tipo de decisão de testes morais como esse da pesquisa que mencionei. Segundo a pesquisa que mencionei, a imensa maioria das pessoas tem mais ou menos a mesma posição sobre essas questões de moral da vida humana, sendo praticamente irrelevantes idade, sexo, relgião, país, etnia.

O padrão geral, se bem me lembro, é que praticamente todos são mais ou menos equilibrados entre "kantianos" (acho que é o termo para pessoas que consideram certa ou errada uma ação sob um aspecto bem estrito, isolado, sem considerar conseqüências para outros, e geralmente o correto coincide com algo que nos faz sentir bem, com exceção de vinganças violentas e etc) e utilitaristas - favorecem o maior número de pessoas. Exceto quando tem que por a "mão na massa" literalmente para fazer algo que, isoladamente, é ruim.

Colocando isso com os tipos de situação usadas nos testes, as pessoas geralmente vêem como algo próximo de correto (a pesquisa tinha diversos graus de correto/errado, acho que uns cinco o ou sete no total) que se mexa numa alavanca para alterar o rumo de um vagão descontrolado, de forma que mate uma pessoa em vez de cinco. Mas se em vez de mexer numa alavanca, a opção para salvar as cinco pessoas fosse empurar antes dos trilhos uma pessoa que se soubesse ser suficientemente pesada para parar o vagão, diminui drásticamente o número o grau em que as pessoas enxergam isso como correto, apesar de numéricamente o número de vidas que se salva em troca de uma inocente ser exatamente igual. Se não me engano, ficava mais ou menos entre os dois a consideração moral se, a situação proposta fosse de jogar um outro peso, que não é uma pessoa, impedindo o vagão, mas que no caminho entre os trilhos, matava a mesma pessoa.

Outro ponto é que enquanto uma decisão de trocar uma pessoa por cinco era geralmente mais "correta", a coisa mudava se a pessoa a ser morta era um bebê, mesmo que fosse o dobro de pessoas a serem salvas, e até mesmo se o bebê fosse morrer de qualquer forma.

Acho tudo isso bem interessante, e acho que esse tipo de constatação tem a ver com essa discussão toda e outras, como ortotanásia; nos EUA, por exemplo, é permitido apenas que uma pessoa em condições terminais morra por não fornecerem algo que mantém sua vida, mas não é permissível que lhe dêem algo para morrer. O tanto o resultado quanto a intenção, no entanto, são os mesmos, mas há esses instintos morais atrapalhando a questão, de forma que pode ser vista como prejudicial sobre uma ótica mais "puramente" lógica; o doente terminal pode sofrer muito mais com cessão da manutenção de vida apenas do que com uma morte induzida.


Todos estes problemas morais teóricos perdem o sentido se partirmos do princípio de que a moral se fundamenta no BEM, que se manifesta no que é verdadeiro, bom, justo e/ ou belo.
Em uma realidade imperfeita como é a condição humana, o BEM é muitas vezes um ideal inatingível, mas não necessariamente imperceptível.
Não é preciso muito raciocínio para ter certeza que matar um inocente para salvar quatro não é um bem, e nem podemos ter certeza de que é uma opção por um mal menor, até onde a salvação de quatro é produto de uma opção consciente pelo mal e a morte dos cinco não.
A solução moral deste problema está no sacrifício voluntário de um dos cinco para salvar os demais, a superação humana que se mostra superior às suas próprias imperfeições e assim nos coloca acima delas, fornecendo a única autoridade moral verdadeira.


zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu: Dignidade humana é por definição qualitativa e irredutível, cada ser humano a possui.


Eu não sei, acho que isso é verdade em um bom grau. Não acho que as pessoas valham mais ou menos de acordo com as condições que tem de suas vidas serem salvas, mas acho que esse tipo de experimento mental talvez sirva sim para chegar a algo bem próximo de "verdades" morais, seja pela simples averiguação do que a maioria das pessoas instintivamente julga ser mais moral ou através de uma análise lógica desses resultados que pode ajudar a ver falhas nisso.


Se verdades morais nada mais é do que a verdade em si, então não existe o "mais moral" tanto quanto não existe o "mais verdadeiro". O verdadeiro dilema é como, dentro de nossas limitações, minimizar os danos morais sempre que a desejada superação não ocorre – o que é o mais comum e esperado, situação em que a oposição ao aborto se enquadra.

zumbi filosófico escreveu: Mas por que essas definições de individualidade são importantes para a "humanidade"?
Eu acho que, o tempo todo, qualquer que seja o grau no qual elas possam estar ausentes em uma pessoa com atividade cerebral, você não diria que ha diversos graus de dignidade e que graus baixos de definição fariam das "pessoas" algum tipo de "intocável", uma casta subumana. No entanto, como pode sempre dizer que estão mais e só então suficientemente satisfeitas essas condições depois e não antes da fecundação. Isso simplesmente te serve para "salvar" ao zigoto ao mesmo tempo que não tem relevância real para a "humanidade"/dignidade humana.


A individualidade estabelece uma diferenciação essencial entre seres humanos e outras formas de vida conhecidas. Por mais que espécimes animais possam ter comportamentos que lhe são peculiares ou mesmo únicos, especialmente grandes primatas, o fato é que o mais sábio e nobre dos gorilas talvez aprenda a pedir banana com alguns gestos e a dividi-la com outros macacos, enquanto o melhor dos sapos talvez coaxe mais alto, coma mais moscas e conquiste mais fêmeas.

A individualidade humana se manifesta na capacidade de cada um de apreender o universo dentro de si e tentar entendê-lo para situar-se e interagir nele. A partir daí surgirá um Jesus de Nazaré ou um Adolf Hitler, cuja diferença nas definições de pessoa se dá em um nível inaplicável a qualquer outra forma de vida ou individualidade conhecida.

Mesmo os seres humanos acossados pela loucura ou deficiência mental ainda são capazes de abstrações e fantasias nas quais criam para si um mundo tão completo quanto o nosso e, independente de o quanto isto os impeça de interagir produtivamente em nosso mundo real, continuam sendo tão únicos em suas próprias existências quanto somente seres humanos podem ser.


zumbi filosófico escreveu: Então qual é a relevância do óvulo morrer se não fecundado mas como zigoto ter 50-80% a mais de chance de sobrevida? A única coisa crucial é que ele não tem o nível de individualidade que você considera idealmente safisteito apenas após a fecundação, e que é o que dá dignidade à vida humana realmente. O que tem a ver a perspectiva de sobrevivência com individualidade?


Como valor de uma vida não se mede pelas sua chances de sobrevida, logo não vem de mim esta idéia de que a perspectiva de sobrevivência tenha alguma coisa a ver com a individualidade, mesmo porque nem entendi como ou porque a primeira correlação leva à segunda.

zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu: Pelo contrário. O natural do óvulo é que não seja fecundado, já que uma ínfima minoria dos óvulos humanos existentes o serão.


Isso é contestável - é o natural do óvulo ovulado que seja fecundado - um só é ovulado por vez, e se fecundado, como ocorreria naturalmente, cessa a ovulação durante toda a gestação, não ocorrendo mais nenhuma morte deles, continuam armazenados vivos.


O que é natural é que o óvulo seja disponibilizado para a fecundação, o que é muito diferente de dizer que o natural é o óvulo ser fecundado.

zumbi filosófico escreveu: Fora isso, ainda continua o problema anterior da relevância disso para individualidade e/ou dignidade, com analogias muito esquisitas possíveis, se esse parâmetro é adotado... alta mortalidade em humanos, bebês, adultos ou idosos, não implica que, antes de morrerem, não são humanos. O mesmo não deveria se aplicar a zigotos ou óvulos, se são discutidos como humanos ou possivelmente humanos.


Quem levantou o problema da mortalidade dos óvulos foi você. Nenhum de meus argumentos depende de quantos óvulos morrem ou vivem.

zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu: Dentre os fatos que você não vê, continua não vendo que todas estes fatores formadores da individualidade são reais e definidos para o embrião, que já possui um corpo em desenvolvimento que será dentro de determinado tempo a pessoa portadora desta individualidade.


Não, eu entendo que uma série de definições individuais passam a ser rigidamente determinadas a partir da fecundação, especialmente se nos atermos ao que é estritamente biológico. Só não vejo por que isso, essa determinação da individualidade cunhada em torno da fecundação é o que importa para a dignidade.


Não é o que importa e sim uma das que importam.
E muito.


zumbi filosófico escreveu: Bem, sem nem querer argumentar sobre diversos aspectos de individualidade poderem ser vistos também no óvulo, o problema todo acho que é sobre se a individualidade é o que deve ser o critério para proteção a vida ou não.


Na verdade o problema é diferenciar individualidade humana de individualidade do óvulo ou de qualquer outra célula, além de entender que individualidade humana e dignidade humana são conceitos inseparáveis entre si.

zumbi filosófico escreveu: Penso que não, acho que há situações em que há individualidade e no entanto a vida não é, senão por motivos bastante questionáveis considerada digna de proteção, e também é hipotetizável (não importa o quão verossímil) que pessoas existissem e devessem ter suas vidas protegidas como humanos mesmo sem terem satisfeitos esses critérios de individualidade. Acho que a individualidade e a "humanidade" podem até ser em muito tempo coincidentes, mas uma não "causa" a outra, tal como os tigres geralmente são listrados mas não é tudo que tem listras que é tigre. Listras não são o mais importante para a "tigridade" de um tigre.


Vou me preocupar com isto o dia em que escrever algo sobre a individualidade dos tigres.
Como até agora, nesta discussão, repeti dezenas de vezes que falo de individualidade humana, vou deixar este parágrafo prá lá.


zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu:
zumbi filosófico escreveu:Acho que, como não existem verdades absolutas nesse campo (diferentemente de você, se não me engano, que já disse uma vez que é meio como matemática),...


Você se engana. Na postagem anterior eu disse:

Sua comparação é simplesmente absurda, não por algum critério arbitrário meu, mas porque você adotou uma analogia matemática sem pé nem cabeça, segundo a qual se a célula-ovo = óvulo + espermatozóide , então o óvulo = célula ovo – espermatozóide. Como o espermatozóide seria desprezível na sua idéia, então poderia-se concluir que célula ovo e óvulo são iguais.
O absurdo do raciocínio salta aos olhos de qualquer pessoa de inteligência normal e, possivelmente, até de muitos um tanto abaixo disto, tanto pela analogia matemática ser completamente inaplicável à questão de vida ou morte humana, quanto pela conclusão tirada sabe-se lá de onde de que a contribuição do espermatozóide é desprezível, tanto quanto as mudanças no óvulo ocorridas na fecundação, que obviamente não é apenas uma soma.


Logo...


Não entendi o "logo" nem o seu ponto.


Logo, meu modo de julgar esta questão não é "meio como matemática", como sugeriu no post anterior. Vou explicar melhor adiante.

zumbi filosófico escreveu: Eu não estou concluindo que "zigoto e óvulo são iguais" de modo geral, eles tem diferenças biológicas essencialmente redutíveis ao acréscimo de um espermatozóide, e todas essas coisas, essas células, me são simplesmente irrelevantes para a questão da "humanidade"/direito a vida. Não acho que seja uma questão citológica (ou de identidade, que por acaso, já poderia ser vista numa célula e não em outra que era um instante antes).


Me corrija se não entendi, mas se entendi você está confirmando que acredita nas equações célula-ovo = óvulo + espermatozóide , então o óvulo = célula ovo – espermatozóide, tomando o espermatozóide como desprezível então célula-ovo = óvulo.

zumbi filosófico escreveu: Tal como cabelo. Sei que cabelo é muitíssimo diferente de óvulos e zigotos, mas para mim tem a mesmíssima relevância "humana". É de qualquer forma bem compreensível que as células em questão é que sejam tradicionalmente valorizadas como mais do que células, e não cabelo, já que essas células são realmente causalmente relacionadas à origem da "humanidade". Mas apesar disso, não as considero suficientemente "humanas", distintas de seres unicelulares ou da constituição geral outros seres, apenas em sentidos estritamente biológicos, e assim também é o óvulo. Ou até cabelo.


Já que você próprio reconheceu que igualou o que é muitíssimo diferente, tudo a seguir reflete sua vontade pessoal de que sejam iguais.

zumbi filosófico escreveu: Isso não é exatamente um simples raciocínio "matemático", eu nem sei exatamente o que seria (anatomia comparativa, talvez, ainda que o ponto-chave, a mente humana, seja teoricamente independente de comparações anatômicas); se trata basicamente de considerar que pessoas são mais do que células e tecidos em nível consideravelmente baixo de organização, por mais "identificáveis" que possam ser essas células ou tecidos. Como todos consideram depois de passada essa fase crítica em discordâncias do desenvolvimento.


Ou podemos ir além e considerar que pessoas são mais do que aquilo que podemos decretar que sejam.

zumbi filosófico escreveu: Eu me referia a essa mensagem, em outro tópico:

As bases filosóficas da moralidade são auto-evidentes, como as relações da geometria euclidiana. Moral, como a matemática, é descoberta e não invento. Não há como fugir a certos axiomas.

É melhor estar vivo que estar morto.
Se o contrário fosse, a maioria das pessoas se mataria, pois pode fazer isto quando quiser e do modo que quiser.
Se estar vivo é melhor para mim, então deve ser melhor para os outros, senão eles se matariam. Logo, matar não é bom, porque continuar vivo é bom.

Pode-se utilizar esta lógica elementar para todos os fundamentos da moralidade.

O grande problema hoje é o relativismo, aquela bobagem do "o que é bom para um pode não ser para outro", como se todo mundo não tivesse uma certeza intuitiva e clara do que é bom e do que não é.


Legal quando você procura meu texto e o reproduz para termos uma discussão mais produtiva, no lugar de se apegar a fragmentos de lembranças dele.

No caso acima eu comparei moral e matemática em seu atributo de serem ambas auto-evidentes em suas verdades, que são descobertas e não inventadas.
O que não significa que as verdades morais e as verdades matemáticas sejam da mesma natureza, apenas que, como dito anteriormente, elas tem um ponto comum de se manifestarem no que é verdadeiro, sendo que a percepção deste verdadeiro é sempre objetiva para a matemática e nem sempre para a moral.


zumbi filosófico escreveu: Sim, mas ao mesmo tempo, é em torno da "identidade humana" (ou talvez fossemelhor "individualidade") que defende que a vida humana deve ser protegida. Não é "identidade" num sentido mais amplo, no qual todos somos humanos, mas identidade individual, presente num zigoto mas não num óvulo. Esse é o ponto. Eu não vejo relevância nesse conceito de identidade ou individualidade humana para a questão da proteção à vida, acho que podem estar muitas vezes associados incidentalmente, mas não é o crucial.


Bem, não há mais nada que possa dizer a respeito que já não tenha dito, logo, se você não vê não será qualquer a mais que eu diga a respeito que fará que veja.

zumbi filosófico escreveu: Para correção da equação, se poderia fazer algo como trocar o "igual" por "pertence" e o "humano" "por direito à vida tal como um humano, o que quer que nos faça humanos", ficando então que "ao (óvulo + espermatozíde), pertence o direito a vida tal como tem um humano".


E o melhor que fazemos é expressar uma tese em linguagem matemática.

zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu:Células especiais é como você vê e chama os entes em questão.
De resto, meus sentimentos pessoais não alteram veracidades.


São "especiais" no mínimo no sentido de que são as únicas que naturalmente produzem, ou podem até ser, como você aparentemente as considera, outros seres humanos; as outras todas, individualmente ou em pequenos grups, exceto se especialmente preparadas para tal, não.


Não deve ser só eu que acha que zigotos são as únicas células que se desenvolvem naturalmente em seres humanos.

zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu:Considere a possibilidade de haver pretensão demais em sua idéia de que se as pessoas não concordam com você isto se deve a dissonância cognitiva e não ao fato de elas preferirem alternativas melhores.


Não é só comigo, acho que é natural que os dois lados considerem isso. Você considera estar certo, não?


Considerar estar certo significa ter opinião, o que de fato tenho e o que não implica que eu considere as opiniões diferentes como dissonância cognitiva.

zumbi filosófico escreveu:
Acauan escreveu: Não importa que não seja isto que está defendendo. O fato é que se foi demonstrada incoerência em sua ilustração ela se torna inválida como argumento.


Durante o tempo todo eu não fiz nenhuma afirmação incorreta sobre o óvulo.

O fato é apenas que para você é apenas do zigoto em diante, e não antes, que tem identidade individual "verdadeira", e que isso deve dar dignidade/direito à vida. Se podemos ver no óvulo também parte dessa identidade, de alguma forma essa identidade pode ser sempre descartada, interpretada como "errada"/"falsa" ou insuficiente para os seus critérios.


Não se trata do que "é para mim" e sim do que foi demonstrado.
Quando falo de individualidade humana recorro a atributos universalmente aceitos que permitem distinguir um ser humano em particular de todos os seus semelhantes.
Tais atributos já podem ser identificados no embrião, mas não podem ser identificados no óvulo não fecundado.
Simples assim.
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

Avatar do usuário
chagas
Mensagens: 613
Registrado em: 01 Nov 2007, 21:02
Gênero: Masculino

Re: Por que e quando o aborto é moralmente aceitável - o tópico

Mensagem por chagas »

Quando falo de individualidade humana recorro a atributos universalmente aceitos que permitem distinguir um ser humano em particular de todos os seus semelhantes.
Tais atributos já podem ser identificados no embrião, mas não podem ser identificados no óvulo não fecundado.Simples assim.

Acauan.

Trancado